"O desporto é de todos. É verdade, mas a sua prática é quase sempre escalonada e setorizada, seja por género, seja por idade ou robustez física, por exemplo. Mas se isto é assim por imperativos de equidade nas práticas federadas e competitivas, não tem necessariamente de ser assim na prática informal e nos projetos sociodesportivos em que há mais objetivos em causa para lá dos resultados que são sempre o sal que motiva os atletas e as equipas. Ora, se existe domínio em que a experiência de uma prática desportiva inclusiva é fortemente compensadora, esse domínio é sem dúvida o da interação em equipa de atletas com e sem deficiências ou limitações. A riqueza desafiante das interações entre estes dois públicos é transformadora na medida em que se estabelecem níveis de compromisso mútuo e de comunicação raramente ou mesmo impossíveis de estabelecer doutro modo. Na verdade, quando um atleta sem limitações, em cooperação com outro que as tem, partilha um objetivo comum e interage de forma que o resultado seja construído em conjunto, como é numa equipa, então sente igualmente o peso dessas limitações sobre o desempenho da equipa. Sente e compreende como nunca o que é estar num mundo que só superficialmente conhecia. Uma experiência assim enriquece os dois lados, humaniza-os e transforma-os, para melhor. É um dos muitos e grandes impactos que o desporto é capaz de produzir sobre a nossa vida em sociedade!"
Jorge Miranda, in O Benfica
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