Últimas indefectivações

domingo, 16 de junho de 2019

Reforços para o SL Benfica de Lage

"No meu último artigo concluí que o plantel do SL Benfica não necessita de uma grande quantidade de reforços para ter um Benfica poderoso e europeu. As maiores carências da equipa são a nível defensivo e, antes de se olhar ao mercado, as prioridades deverão ser:
– Vender/emprestar jogadores sem lugar na equipa de Lage;
– Manter os craques e as jovens pérolas que despontaram no decorrer da última época;
– Olhar para o Seixal.
A reforçar o plantel principal apontaria as seguintes posições:
– Guarda-Redes para dono da baliza;
– Lateral direito para sentar André Almeida (caso Ebuehi não tenha qualidade para tal);
– Lateral esquerdo para dar cobertura a Grimaldo;
– Um patrão para a defesa em caso de venda de Rúben Dias;
– Um enorme médio que junte qualidade posicional ao talento no passe (nada prioritário);
– Um avançado de grande qualidade técnica caso Jonas não esteja apto para outra época.
Portanto a prioridade seria um Guarda-Redes, um Defesa Direito e um Defesa Esquerdo que desse qualidade às opções no banco.
Os primeiros nomes que quero ressalvar são os de Carrillo e Ferreyra. O extremo peruano tem mercado na Arábia mas também se fala no regresso após final de contracto. Contudo é uma ideia que para mim não faz sentido tendo em conta a riqueza que já existe para esta posição no plantel encarnado. Já o avançado argentino, de quem se diz que o Espanyol quer terminar já o empréstimo, pode muito bem vir a ser o avançado de qualidade que, com uma boa pré-época às mãos de Lage, pode substituir Jonas e combinar com Félix.
Apesar de estarmos ainda em meados de Junho já são muitos os nomes lançados para se apresentarem no Seixal em Julho.
Até ao momento já foram confirmados dois jogadores para o ataque: o avançado venezuelano Cádiz e o extremo brasileiro Caio Lucas. A meu ver, dois reforços desnecessários. Um porque além de não ser melhor que os habituais titulares vem para uma posição onde não são necessários reforços, e outro porque não é o estilo de avançado que a equipa necessita – joga mais em profundidade favorecendo um jogo de contra-ataque – não podendo nunca ser um substituto ao Jonas.
Falou-se na possibilidade de o SL Benfica ir contratar Herrera e Slimani. Já desmentido. Duas contratações que não fariam qualquer sentido. Slimani não é avançado para substituir Jonas e Herrera – o capitão portista – apesar da muita qualidade táctica peca em demasia nas falhas de concentração e incompetência no momento da decisão.
Ainda para o ataque tem-se falado de Quevedo e Pedro Neto para as alas e também de Gaich, Pinamonti e Raúl de Tomás como avançados. Quevedo e Neto, tal como Caio, parecem-me contratações desnecessárias. Apesar de todo o potencial que Neto possa ter, o avultado valor que terá de ser investido será melhor aplicado no reforço de outras posições.
Para o ataque tanto Pinamonti como Raúl de Tomás me parecem muito melhor opções que Cádiz. O italiano parece-me uma impossibilidade mas o avançado do Rayo (emprestado pelo Real) seria uma excelente alternativa a Jonas.
Quanto aos reforços para a baliza fala-se de Cillessen e Keylor Navas. Ambas seriam excelentes contratações e provavelmente arrumariam de vez com os problemas que o SL Benfica tem tido na baliza. Os reflexos e agilidade de Navas são de top mundial. Já o holandês com a escola que teve de Barcelona até poderia vir a ser a melhor opção para o futebol de Bruno Lage. Contudo nenhuma destas opções me parece possível.
Para a lateral esquerda já se falou em Federico Dimarco e em Mário Rui. O italiano parecia-me uma excelente opção mas só se fosse para colmatar a venda de Grimaldo. Já o português seria uma boa opção como alternativa a Grimaldo mas duvido que fosse contratado para vir para o banco. Como titular, Mário Rui parece-me muito curto para o futebol encarnado.
Na posição de defesa central, o SL Benfica só tem necessidade de contratar em caso de venda de Rúben Dias. Nesse caso era importante encontrar um novo Luisão, um central que liderasse a defesa cobrindo devidamente as costas de Ferro. Tem-se falado em Marcos Senesi e em Marco Ferrari. Ambos parecem-me excelentes centrais contudo têm um jogo mais à imagem de Ferro e até actuam principalmente pelo lado esquerdo. Apesar da qualidade só seriam boas contratações em caso de saída de Ferro.
Por fim também se tem falado de dois médios. Um deles é o jogador do Santa Clara – Rashid. Um jogador desnecessário no plantel do Benfica. Seria a quinta opção para um meio-campo a dois e assim taparia a promoção de maiores talentos que existem no Seixal.
Já Chiquinho é outra história. Neste caso provavelmente seria um médio a actuar como ala, um substituto natural de Pizzi na direita. Excelente pé direito, técnica, visão de jogo, capacidade de decisão e ainda qualidade em zonas de finalização. A sua contratação tornaria a de Caio Lucas obsoleta, retiraria definitivamente espaço a Zivkovic e ainda faria Salvio repensar a sua situação actual.
De tudo o que se tem falado só Chiquinho e Raúl de Tomás me parecem casos sérios para integrar o plantel encarnado. Os restantes ou são desnecessários ou são impossibilidades. Infelizmente ainda não se ouve falar no interesse em algum lateral direito."

David Banda e outras notas soltas

"Proença sabe, como bem percebeu nas presenças e, acima de tudo, nas ausências, que o caminho está cheio de degraus

1. Pela Europa, e só por este continente, e em termos de futebol, é tempo de férias. De férias e de casamentos pomposos. Daí que quase estejam definidos os potes da próxima edição da Liga dos Campeões. O Benfica sabe que só pode chegar ao simpático pote 2 se ou o Futebol Clube do Porto ou o Ajax não chegarem ao sorteio dessa fase. E ficar no pote 3 significa defrontar, nessa fase, os grandes nomes do futebol europeu: Liverpool, Barcelona, Juventus, Bayern de Munique, PSG, Zenit, Manchester City e Chelsea no pote 1. Mais o Real Madrid, Atlético, Dortmund, Nápoles, Shakhtar e Tottenham, por ora, certo no pote 2. E a anunciada reconquista europeia depois da extraordinária reconquista nacional é um legítimo desígnio directivo e uma permanente ambição da fiel e dedicada massa associativa do Benfica. Tendo a Academia do Seixal, e bem - como o João Fonseca da Rádio Renascença, e da sua Bola Branca, bem retratou esta semana -, como essência e como referência. Com múltiplos exemplos que se afirmam no futebol europeu - como Bernardo Silva ou Gonçalo Guedes, Semedo e Candelo - e outros que atraem, em razão do seu indiscutível talento, as gandes marcas do futebol europeu, como é o exemplo concreto do João Félix. Sei bem que eu gostaria que ficasse mais tempo por cá. Mas os meus desejos são, tão só, os de um visiense que sabe que só no mesmo berço se nasce e se morre. No mais vivemos no mundo. E o mundo do futebol é cada vez mais atractivo e bem sugestivo!

2. Por cá resta-nos hoje a final do futsal. Num pavilhão do Estádio da Luz totalmente esgotado, Benfica e Sporting lutam pela conquista do título nacional. E numa época em que o Sporting já conquistou o título europeu. O que sabemos é que o futsal tem cada vez mais praticantes - no feminino e no masculino! - e atrai cada vez maior número de telespectadores. Ou seja tem compromisso, paixão e qualidade!

3. Também no basquetebol há disputa acesa pelo título de campeão nacional. Amanhã, também num Pavilhão do Estádio da Luz, Benfica e Oliveirense disputam o quarto jogo e o Benfica sabe que tem de ganhar para lutar na próxima quinta-feira, em Oliveira de Azeméis, pela reconquista e impedindo que a forte e solidária equipa da Oliveirense se sabre bicampeã nacional. Acredito que amanhã o Pavilhão do Estádio da Luz também estará esgotado e largas dezenas de oliveirenses não deixarão de acompanhar, com verdadeiro sentido de Família, a equipa de uma cidade que se afirma nos moldes, nos sapatos e... no desporto. Do hóquei ao basquetebol e com um esforço notável das suas gentes e uma paixão que, de verdade, contagia e apaixona!

4. Arrancou no Brasil mais uma edição - a 46.ª - da Copa América, a mais antiga competição de selecções. E já com o VAR a ter protagonismo! No jogo inaugural e, também, ontem no Perú - Venezuela! A primeira edição oficial da competição teve lugar em 1917 no Uruguai. E desde 1993 são convidadas a participar em cada edição duas selecções que não pertencem à Confederação Sul-Americana de Futebol. Nesta edição a convidadas são as selecções do Qatar e do Japão. O Brasil sem Neymar tentará conquistar a nona Taça e, assim, regressar ao sucesso nesta competição, o que não ocorre desde 2007! A argentina de Messi procura erguer pela décima quinta vez o troféu. O Uruguai de Coates procura a décima sexta. O Chile de Alexis Sánchez procura o tri. E a Colômbia, agora liderada por Carlos Queiroz, ambiciona conquistar pela segunda vez este troféu de uma competição emblemática. E que recebeu grandes nomes da história do futebol, como Pelé e Bebeto, Batistuta e Roberto Dinamite, Aguillea e Burruchaga que foram, mesmo em diferentes edições, os melhores marcadores! Agora até ao doa 7 de Julho a Copa América vai prender a nossa atenção e a de largas dezenas de olheiros! E com jogadores que bem conhecemos dos nossos relvados, como Acuña e Borja, Osorio e Murillo, sem esquecermos Éder Militão.

5. No próximo dia 21 arranca no Egipto a 31.ª edição da Taça Africana das Nações ou, na sua designação em língua francesa, a CAN. Os Camarões perderam a organização e, num ápice, o Egipto irá acolher as vinte e quatro selecções que vão disputar uma prova em que marcam presença 28 jogadores que actuaram, quase que exclusivamente, na época que agora termina nas duas competições profissionais portuguesas. São dezanove os clubes representados, como o Sporting e o Futebol Clube do Porto, o Rio Ave e o Moreirense,  Académico de Viseu e o Mafra, o Fabril e o Tondela, o Braga e o Santa Clara, o Boavista e o Amora, entre outros. É claro que esta Taça acompanha o arranque da independência de inúmeros Estados africanos e na primeira edição já não marcou presença - ao contrário do que inicialmente fora anunciado -, por razões óbvias, a África do Sul. A primeira edição ficou restringida a três selecções, o Egipto (ganhou a final por 4-0 à Etiópia), o Sudão e a Etiópia. Também importa acompanhar as selecções lusófonas, como Angola (com Bruno Gaspar e Mateus, entre outros) e a Guiné-Bissau (com Mama Baldé e Bura). E lá também estarão muitos olhos a acompanhar, até 19 de Julgo, esta CAN!

6. Pedro Proença foi reeleito, com uma quase que unanimidade, como Presidente da Liga de clubes. É uma quase que unanimidade que deve suscitar uma sério alerta do homem do desporto - e da gestão! - Pedro Proença. Sabe, como bem percebeu nas presenças e, acima de tudo, nas ausências significantes, que o caminho que vai percorrer está cheio de degraus e de múltiplas pedras. Sabe que tem de ser o denominador comum e não, apenas, o mínimo divisor comum. Sabe que desde hoje tem de conquistar - e de reconquistar - a generalidade dos clubes (diria em rigor das SAD's) e, com eles, procurar as causas comuns que os unam. Com a consciência que os tempos que se aproximam serão complexos, exigirão paciência e argúcia, determinarão alianças difíceis e rupturas inequívocas. É que o futebol português vai atravessar momentos europeus de decisões e instantes internos de certas convulsões.

7. A Ucrânia conquistou o Mundial de sub-20 na Polónia. É uma grande vitória e evidencia um trabalho de base que importa conhecer e reconhecer. E para a afirmação ucraniana foi um sábado histórico e para ficar na sua história. Com a Rússia, ao lado a ver, e a assistir, à bonita festa azul e amarela!

8. Nas últimas semanas, e pelo que leio - e escuto em diferentes e temáticos programas -, já mais de quarenta jogadores estarão à porta do Seixal e na antecâmara do Estádio da Luz. Estou como o extraordinário Camilo Castelo Branco: «A paciência é a riqueza dos infelizes!»

9. Cheguemos a David Banda. Um dos filhos de Madonna. E que leva a Mãe a «não deixar Lisboa»! E a nós a chamá-lo para o título deste artigo! É que o David joga futebol no Benfica! Centrado e concentrado, assim, na Academia do Seixal. Sabendo que ela, como lemos na última edição da Visão, vive «na TAP Air Portugal»! E com a nossa companhia a descobrir novas rotas americanas. Coincidências. Mas como escreveu o Marquês de Maricá «as circunstâncias ordinariamente nos dominam, poucas vezes nos obedecem»!"

Fernando Seara, in A Bola

Uma história sobre o racismo

"Até que um dia de manhã todos os jogadores apareceram pintados de negro, eram «os matraquilhos mais africanos do mundo»

O dia
1. O racismo na cidade e no desporto. Tantas abordagens. Olhemos para a história de Mia Couto de que tinha prometido falar em tempos. Sim, é sobre matrecos. Sim, é sobre o racismo.
Matrecos: modalidade para futebolistas imóveis dos pés; futebolistas dos pulsos, concentrando habilidades imaginárias no campo mínimo por via de músculos também mínimos que torcem e deslocam bonecos apenas para a esquerda ou para a direita, ligeiramente para a frente ou para trás; poucas possibilidades, portanto. Sem a possibilidade de grandes recuos, avanços ou saltos.
Os bonecos são colocados em linha, unidos por uma barra de ferro que os atravessa ao meio - e, descrevendo desta maneira, quase parece estarmos a falar de filme de terror e não de um jogo divertido.
Sim, é um conto sobre matrecos; o conto de Mia chama-se: O dia em que fuzilaram o guarda-redes da minha equipa.
Um título nada manso.

Um golo que cai
2. É um jogo quase simbólico, mas mesmo assim intenso, excitante. O narrador do conto fala dessa vibração de multidões imaginárias quando a bola de madeira «escorrecaía» no buraco da baliza.
Um verbo novo - «escorrecaía» - que é mesmo necessário: o golo em matraquilhos mistura o golo da modalidade bem conhecida - que ultrapassa a linha na horizontal - e uma pura queda abrupta. É um golo horizontal e vertical: ultrapassa o guarda-redes e cai. E uma bola que cai e desaparece no exacto momento do golo é um dos mistérios que encanta os meninos no jogo de matraquilhos. Uma espécie de magia. Mas há outros mistérios.

A história
3. Na história de Mia é dito que a mesa de matraquilhos «dormia fora do bar, ao dispor do luar que tombava no pátio». No enfanto, os ladrões não a cobiçavam: o seu peso era excessivo para larápios rudimentares. O que é pesado, como todos sabem, só pode ser roubado por via de uma qualquer grande empresa multinacional.
O narrador conta, então, que «nós, sem idade e com as raças todas à mistura, só podíamos frequentar o imaginário relvado no intervalo dos outros». O «nós» era crianças; e os outros eram os militares, os que ocupavam o campo com a sua autoridade e com tudo o resto: a mesa da matraquilhos era nossa só quase às vezes.
Uma disputa não física entre crianças e soldados. De quem é o campo? O campo é nosso (das crianças) «só quase às vezes» - uma bela síntese.
Mas o terrível do conto aparece depois.

A noite
4. Numa noite, algo aconteceu. Na manhã seguinte, um dos jogadores apareceu pintado de preto. As pessoas em volta, claro, chamaram ao novo jogador daquela mesa de matraquilhos: Eusébio.
«Depois», escreve Mia Couto, «apareceram mais três avançados, subitamente transcoloridos. Ainda encontraram piada, anedotaram. Distribuíram mais nomes: Coluna, Vicente, Mataeu». Até que um dia de manhã todos os jogadores apareceram pintados de negro, eram «os matraquilhos mais africanos do mundo». Desde o guarda-redes até ao avançado.
Na história de Mia Couto narra-se que um dos soldados, ao ver aquilo, ficou doido de irritação - e ninguém o foi capaz de segurar. Diante da mesa de matraquilhos, puxou da arma e apontou, diz a criança que narra o conto, para o «guarda-redes da minha equipa».
A descrição é terrível: «o tiro soou e o pequeno boneco esvoou, salpicando estilhaços, mais súbitos que o sangue».
O narrador de Mia termina dizendo: «Ainda hoje aquele tiro continua ressoando em minha vida, junto com esse outro grito que, por engano de um relâmpago, me pareceu sair do bonequinho alvejado».
Este terrível grito imaginário do guarda-redes de matrecos fuzilado: um grito simbólico, mas que ainda ressoa - o grito da vítima violenta do racismo."

Gonçalo M. Tavares, in A Bola

Scolari e Jesus, cultura e técnica

"Luiz Felipe Scolari, brasileiro, veio treinar a Selecção em 2003 e um ano depois, aquando do Euro que Portugal acolheu, reclamou dos portugueses que estendessem bandeiras, daí resultando uma histórica vaidade. Agora, Jorge Jesus, português, vai chefiar o maior clube do Brasil, o Flamengo. Dir-se-á que uma coisa é conduzir a grande equipa nacional e outra uma grande equipa nacional, mas lembrando que há 10 milhões de portugueses e 40 milhões de adeptos do Flamengo a perspectiva muda.
Comparando a experiência de Scolari por cá com a que se aguarda de Jesus por lá parece-me que as estratégias dos treinadores irão revelar-se distintas. Scolari quis lembrar aos portugueses que eram portugueses e ganhou com isso, mas Jesus não pode recordar aos brasileiros que são brasileiros porque dessa forma se submeterá a que eles, inteirados da historia de futebol com que encantaram o mundo, desatem a pergunta o que raio anda afinal um português a fazer à frente do Flamengo. O caminho de Jesus, então, terá de ser eminentemente técnico, o que para o caso o favorece, pois é nisso que ele se evidencia.
Scolari em 2003 beneficiou de uma acostagem notadamente cultural ao novo cargo, pois em Portugal não encontrou nem orgulho nem tampouco preconceito para com a chegada de treinadores forasteiros. Assim, nem precisou de ser perito, vertente na qual, reconheçamos, nunca surpreendeu por cá (ou em qualquer lado). Já Jesus preferirá sê-lo, sim, técnico, especialista, porque no Brasil enfrentará tanto de orgulho como de preconceito para com estrangeiros no futebol. Não precisará de ser cultural ou pretensamente ideólogo, óptica na qual também dificilmente poderá impressionar por lá (ou em qualquer lado)."

Miguel Cardoso Pereira, in A Bola

O TJUE e o Direito do Desporto

"A 13 de Junho foi publicado Acórdão do Tribunal de Justiça da União Europeia no processo C-22/18, que conhece, em sede de reenvio prejudicial - forma de colocar questões ao TJUE relativas à conformidade de determinada situação ao direito da União Europeia - de uma matéria muito relevante.
A questão diz respeito à proibição, estabelecida em Regulamento da Associação Alemã de Atletismo, em 2016, de participação nos campeonatos nacionais de atletismo na categoria de seniores amadores, de nacionais de outros Estados-Membros. Contudo, pode ser atribuído aos atletas em causa, em certos casos e em certas condições, um direito de competir sem classificação.
A Associação alega que o campeão da Alemanha deve ser um atleta de nacionalidade alemã que possa participar em campeonatos internacionais sob a abreviatura GER, ou seja, Alemanha.
Devido a esta alteração, Daniele Biffi, italiano residente na Alemanha, foi excluído de um campeonato e apenas beneficiou do direito a competir num outro campeonato, «sem classificação» e, nos casos que incluem eliminatórias e uma final, sem poder participar, tendo, juntamente com o seu clube, contestado esta situação perante um Tribunal Alemão.
No seu acórdão, o TJUE determina que esta proibição viola o direito da União, a menos que seja justificada por considerações objectivas e proporcionadas, o que cabe ao Tribunal Alemão verificar.
O TJUE sublinha que se afigura legítimo reservar a atribuição do título de campeão nacional numa certa modalidade a um nacional, sendo, todavia, necessário que as restrições impostas respeitem o princípio da proporcionalidade."

Marta Vieira da Cruz, in A Bola

A ideia na caixa de fósforos que resistiu à morte anunciada: como nasceu a Liga das Nações

"No desporto, como em qualquer outra área relevante para as sociedades, há sempre desvantagens que a inovação tem de ser capaz de vencer: o hábito e a compreensão.
A existência prolongada de um contexto fá-lo parecer inquestionável. Mais ainda se esse contexto respira num universo conservador, com líderes tradicionais, como acontece – sem com isto estar a fazer juízo de valor sobre os seus méritos – na maioria das federações de futebol do mundo.
Um dos axiomas com que a Europa viveu (aparentemente sem qualquer dificuldade) nas últimas seis décadas, foi o de que as selecções nacionais fariam jogos particulares ou amigáveis todos os anos. Mesmo em momentos de enorme tensão nas épocas desportivas dos jogadores nos seus clubes, afinal, os responsáveis pela sua formação, desenvolvimento e, digamos sem nenhum receio, pelos seus salários.

Caixa de Fósforos
Porventura, por ter pouca ou nenhuma base de futebol, cedo levantei este tema. Compreendo, no limite da minha absoluta ignorância futebolística, que um seleccionador necessite de jogos de preparação antes de uma grande competição internacional, como um clube deles faz uso antes de cada temporada. Mas achei, sempre achei, indefensável, jogar jogos de treino a meio da época.
Como há dias me dizia um amigo, as boas ideias, para serem boas, devem poder ser escritas numa caixa de fósforos. Em 2014, quando esta “viagem” começou, o pensamento era simples: “acabar com os jogos amigáveis de selecções”. Pensando bem, isto cabe numa caixa de fósforos!

A Lógica
Uma análise mais detalhada ao tal estado da arte, indiciou a conclusão de que as grandes selecções (leiam-se os grandes mercados) da Europa, jogavam muitas vezes entre si esses jogos amigáveis. E porquê? Porque, por incrível que pareça, o modelo de competição desenhado para as provas de selecções, raramente as fazia cruzar a não ser uma vez, eventualmente, numa fase avançada de uma grande competição. Segundo, porque juntar dois grandes mercados daria uma receita comercial e televisiva maior.
Dito de outra forma, o contexto favorece (ou favorecia) mais um Alemanha – Ilhas Faroé, um França – Andorra, um Espanha – San Marino do que um Inglaterra – Holanda ou um Itália – Portugal. 
Convenhamos que isso não tem lógica nenhuma. Ou se tem, porque podemos encontrar alguma “lógica” em tudo, terá muito pouca.
Por isso era entendível que nos ditos amigáveis, dois grandes mercados se juntassem, muitas vezes também com Brasil e Argentina (Portugal jogou nestes últimos anos jogos particulares contra ambos). Se os organizadores de provas não permitem que esses encontros aconteçam oficialmente, teriam de ser oficiosos.
Mas voltemos à caixa de fósforos…
Uma vez o professor Ilídio Vale (na altura coordenador das selecções nacionais da formação e hoje adjunto de Fernando Santos), disse-me uma frase de que não me esqueci: “Não se educam campeões a perder”.
Ele não sabe, mas esta frase foi muito usada para convencer países como o Chipre, Gibraltar, Macedónia, Letónia e outros, a permitirem que se desenhasse uma prova em que eles não podiam cruzar-se com os 12 melhores da Europa.

As Divisões
Este é o momento em que a caixa de fósforos já não chega. Lembro-me de ter feito um documento em 11 pontos, com as vantagens que teríamos em abolir amigáveis e criar divisões. Afinal, o mesmo que todos os países fazem no futebol interno de clubes.
No topo, faríamos com que as selecções maiores pudessem jogar no seu nível. Sim, Portugal acabou de ganhar uma competição em só entraram Alemanha, França, Espanha, Itália, Polónia, Holanda, Bélgica, Islândia, Suiça, Croácia, Inglaterra e… Portugal.
Abaixo deste nível, mais três divisões. Todos em base e equilíbrio competitivo, que é, ou devia ser, o objectivo de qualquer organizador de competições.
De todas as divisões houve subidas e descidas. Uma “heresia”, disseram-me diversas vezes vários líderes de federações quando o defendia sempre com o dito ensinamento do Ilídio Vale.
Claro que, sem surpresa, a primeira vitória de sempre de algumas equipas aconteceu nesta prova: equilibrada e ligada aos Europeus e Mundiais.
Como? Em vez dos 4 lugares finais de acesso a essas provas serem feitos escolhendo melhores terceiros de grupos, com as injustiças naturais que isso origina, daríamos um passe para o play-off às selecções que ganhassem os seus grupos, fosse em que divisão fosse.

Tudo Ligado
Com este detalhe, as provas de selecções da UEFA ficam todas ligadas umas às outras e não houve nenhuma selecção que tivesse feito alinhar equipas secundárias em qualquer das divisões.
Um sinal claro de que a Liga das Nações não vai ficar por aqui.
Em 2014, tirando o meu Presidente, Fernando Gomes, e o então Secretário Geral da UEFA, hoje Presidente da FIFA, Gianni Infantino, creio que havia pouca gente a dar crédito a esta construção. Fosse porque amavam jogos amigáveis, fosse porque era mais fácil deixar tudo como estava. E era.

A Reunião Final
Um dia o Presidente da UEFA da altura, Michel Platini, convocou uma reunião com os presidentes das federações dos cinco maiores mercados europeus – Inglaterra, Itália, Alemanha, França e Espanha, acrescentando a Holanda e Portugal (quanta ironia há em tudo isto), por serem também dois países de futebol com tradição. Platini convidou-me a estar presente e a defender o projecto.
O objectivo, vim a sabê-lo uns dias mais tarde, da boca de vários conselheiros do Presidente, era matar “aquilo” antes de nascer.
Ouvi as piores coisas possíveis depois de falar. Essencialmente dos presidentes das federações da Alemanha e de Espanha. Platini olhava-me em tom neutro.
Apontei os argumentos e tentei rebatê-los um a um e, achei eu, que tinha corrido muito bem. Dizia Angel Maria Villar (ex-presidente da Federação Espanhola): “Achas que alguma vez o Real Madrid e o Barcelona vão permitir que haja mais alguma prova de selecções?”
A minha resposta foi esta:
“Tenho a certeza que sim, especialmente se lhes disseres que não há mais jogos do que agora e que em vez de levares os jogadores para a Guiné Equatorial ou para a África do Sul para amigáveis, eles jogarão perto de casa, em Inglaterra, Portugal ou França!”.
Depois desta resposta, Platini acabou com a reunião. Levantou-se e disse: “Estou esclarecido!”.
Ao passar por mim afirmou alto para que todos na sala ouvissem: “Não vás embora hoje, fica cá e vamos jantar!”. Estava feito. O Fernando Santos e os nossos incríveis atletas trataram do resto!

Nota pessoal: o meu profundo agradecimento e público reconhecimento ao meu amigo e Presidente Fernando Gomes, por ter permitido que em tantos momentos complicados, continuássemos a acreditar que isto era possível."

O desporto e o turismo

"O desporto assume um lugar importante no imaginário das pessoas. Quando se pergunta “o que procura durante as suas férias?”, o desporto tem um lugar de destaque, após o descanso e bem-estar, o descobrir as regiões, o visitar os monumentos e os sítios históricos. O golfe, o ténis, a vela, as actividades de risco são algumas das modalidades desportivas plebiscitadas. As práticas desportivas durante o tempo de férias são apontadas como momentos privilegiados para se fazerem encontros ou de estarem juntos.
Se outrora o desporto, o turismo e as actividades culturais eram sectores distintos, hoje interpenetram-se face ao desejo dos indivíduos. Eles precisam de uns e de outros para continuarem a satisfazer uma clientela cada vez mais exigente.
O turismo tornou-se uma actividade económica. Em muitos países, é até a principal actividade. Sob o efeito conjugado da transformação da oferta e do pós-modernismo da procura, a sua evolução traduz-se por um consumo mais qualitativo, mais exigente e multipolar. Fruto desta mudança, o turismo desportivo tornou-se um mercado “frutuoso”, graças ao potencial de destinos à escala mundial e à capacidade de diversificação dos serviços desportivos. Gerador de divisas, este sector encontra-se em expansão e os actores locais e nacionais começam a explorar esta “fileira”, até porque contribui para o desenvolvimento.
Mas o que se constata é que existe uma desadequação da oferta relativamente à procura extremamente diversificada, quer sobre o plano dos destinos, quer dos produtos oferecidos aos diferentes públicos. A evolução da procura modifica e complexifica profundamente os comportamentos de consumo turístico para responder às necessidades (funcionais) e aos desejos (imaterial e emocional), nem sempre coerentes. Os turistas procuram ocasiões de vibrar interiormente, de ter novas experiências que produzam sensações agradáveis e/ou inéditas, estimulando os cinco sentidos. Esta mutação da procura turística tornou obsoletas as segmentações que serviam, até ao presente e de maneira satisfatória, a explicar e a compreender as condutas dos turistas (critérios sociodemográficos, grupos sociais e de estilos de vida).
O sector do turismo desportivo encontra-se em crescimento, quer ao nível das empresas que se lançam no mercado, quer ao nível dos utilizadores dos seus serviços. Face à pressão concorrencial, um eixo de posicionamento poderia se basear no desenvolvimento de uma real “expertise”. O turismo desportivo de acção caracteriza-se por uma forte mais-valia, concentrados na tecnicidade dos serviços oferecidos (especificidade e atractividade do serviço), na escolha das soluções e das estratégias (condições de realização e de equipamento), sem esquecer a inovação na operacionalização."

Nuno Delgado: um desporto de ideias

"Num acendrado culto da ciência, num constante apego ao desporto como pedagogia humanista, numa ânsia de transcendência física, mental, espiritual – é assim que eu conheço o Nuno Delgado, um dos maiores atletas portugueses da sua geração; com a justa auréola de uma das mais destacadas figuras da história do nosso judo; e um desportista que é um acabado exemplo do que, no ser humano, mais deslumbra e encanta.
Praticou, com indiscutível sucesso, um desporto altamente competitivo (campeão nacional, campeão europeu, individual e de clubes, medalha de bronze, nos Jogos Olímpicos, campeão de múltiplos torneios) mas nem por isso perde a serenidade, a compostura, a elegância. E, depois de um desporto de forte pendor individualista, funda a “Escola de Judo Nuno Delgado”, a maior Escola de Judo do País, que diz realizar-se a formar campeões para a vida. Isto é, quem a escolhe escolhe-se, porque nela tudo o que se faz transcende o desporto, não deixando de ser uma Escola de “práxis” profundamente desportiva, uma galáxia onde se movimentam os mais autênticos daqueles valores que o Desporto assume como seus. “Professor (dizia-me, há poucos dias, o Nuno Delgado, sempre de palavras de uma concisão lapidar) acredito na sua frase: não há desporto, há pessoas que fazem desporto. E portanto, para mim, o desporto é o que os desportistas são”. O aspecto axiomático, breve e sentencioso das palavras do Nuno reflecte o muito que, discretamente, estudamos e dialogamos, acerca do fenómeno desportivo. O debate entre o determinismo e o indeterminismo, ou entre a ordem e o caos, para retomar Ilya Prigogine, ou O Acaso e a Necessidade, como escreveu Jacques Monod, continua a ser interrogação fundamental, no conhecimento hodierno. Segundo o pensamento de Prigogine, o Universo é percorrido pela “flecha do tempo” e, assim, “nunca os fenómenos se reproduzem de uma forma idêntica e tornam-se imprevisíveis por definição”.
Embora aduzindo uma série cada vez maior de argumentos, os cientistas já não convencem ninguém de que o progresso tecnocientífico será a causa de um progresso moral autêntico. O ideal positivista, com todas as suas certezas, em grande parte faliu, ou vive hoje o transe de algum descrédito. Às grandes descobertas dos anos 20, como a relatividade e a mecânica quântica, sucedeu a incerteza, na “ciência do caos” de Prigogine (que o René Thom prefere chamar o “caos da ciência”). Beneficiamos da proficiência dos progressos tecnológicos, mas de quase nenhum progresso qualitativo. Continuam atuais as palavras do Padre Manuel Antunes: “O triunfo da ciência é pois ambíguo. Como aliás todos os triunfos. Pode conduzir a uma real promoção da humanidade, nos vários planos em que a sua vida se desenvolve, e é um bem. Pode conduzir à sua total destruição ou, se essa hipótese, menos provável não se der, pode conduzir a um estancamento das suas energias criadoras, a uma atitude de extrapolação, tomando como ciência aquilo que não é ciência, e então é um mal” (Compreender o Mundo e Actualizar a Igreja - Os grandes textos do Padre Manuel Antunes, coordenação de José Eduardo Franco e Luís Machado de Abreu, Gradiva, Lisboa, 2018, p. 284). Aprendi, com Prigogine, que a noção de probabilidade já não deverá considerar-se um sinal certo de ignorância, como no caso da mecânica laplaciana, pois que se trata de uma propriedade intrínseca de qualquer sistema aleatório. De súbito, a ignorância transforma-se e eis que surge uma nova representação da ciência. Numa lógica de desequilíbrio, se bem entendi Prigogine, estabilidade dinâmica e instabilidade estrutural são compatíveis e complementam-se. Edgar Morin (julgo ter estudado as suas obras mais relevantes) considera urgente acrescentar ao pensamento que separa um pensamento que una, que relacione, de acordo com os principais objectivos do pensamento complexo, o qual procura distinguir, sem separar e ligar sem confundir.
Tenho para mim que, nos cientistas e literatos, que fizeram História, sobressai sempre um conhecimento comprometido com uma visão do Homem e da Vida, como as figuras de Egas Moniz (figura multifacetada da vida científica e cultural, prémio Nobel da Medicina) e Almeida Garrett (dois exemplos, entre muitos mais) que sempre defenderam uma ciência e uma arte, comprometidas com a acção política. A concepção esteticista da “arte pela arte”, uma ciência que se apresenta num agnosticismo político infuso, difuso e confuso, ambos pretendem impedir o circular das ideias, o diálogo crítico e autocrítico, uma análise concreta da Cultura donde a Literatura e a Ciência nascem. Ninguém de bom senso pode legitimar a vocação para a escrita, ou para uma prática científica, excluindo o pensamento filosófico e político. Ilya Prigogine, na sua conhecida obra La Nouvelle Aliance, afirma que um ser complexo, qualquer que ele seja, é constituído por uma pluralidade de tempos “ramificados uns sobre os outros, segundo articulações subtis e múltiplas. A história, tanto de um ser vivo, como a de uma sociedade nunca mais poderá ser reduzida à simplicidade monótona de um tempo único”. Por isso, a fecundidade das relações entre a ciência, a filosofia (e a própria teologia) é por demais evidente. Só em ambientes de bloqueamento cultural e fundo obscurantismo o fenómeno não se torna visível. Contempla-se o trabalho da “Escola de Judo Nuno Delgado” e saboreia-se com o que nos é dado ver um bálsamo simultaneamente apaziguador e tonificante. Trata-se de uma Escola de Desporto, mas de um Desporto, ao serviço de um certo número de valores. Ao invés de Max Weber, n’A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, onde a origem do Capital se remete, principalmente, para uma ética do trabalho, de matriz evangélico-protestante, Nuno Delgado nega o princípio de uma causalidade única no Desporto, identificando, nele, com igual importância, raízes de várias ordens e condições. Ultrapassando também, dialeticamente, o pessimismo histórico da Teoria Crítica, ele (e os restantes professores que o acompanham) fazem do Desporto uma escola aberta aos outros, ao mundo e à transcendência e portanto uma escola sem a presença, ou a promoção, do “homo mechanicus”, resultado de um positivismo (ou neopositivismo) que tudo reifica e simplifica, em adoração ao deus-lucro.
O século XXI (digo isto discorridamente e sem cuidados de estilo) pode descambar numa inesperada contradição: por um lado, nunca o efémero, o provisório, o superficial, o formalismo sem conteúdo foram tão valorizados; por outro, com a emergência da Quarta Revolução Industrial, sob o império das novas tecnologias e da revolução informática, a vivência e actualização e questionamento da prática desportiva tradicional, é tema a desenvolver, o mais breve possível. Durante 28 anos, vivi intensamente a vida do C.F.”Os Belenenses”, isto é, de 1964 a 1992. E confesso que, hoje, no gigantismo, no economicismo e no jurisdicismo dos maiores clubes desportivos, tudo se encontra matematicamente certo, planeado, normalizado, normatizado – mas pouco desporto há! Não, não sou contra o espectáculo desportivo – sou a favor! Todos os que me conhecem sabem que assim é. Mas não o reduzo à mundialização de um certo mercado, à especulação, ao modelo do valor bolsista. Nem aos caprichos subjectivos dos novos deuses. Eu sei que é mais fácil proclamar princípios do que, no comportamento diário, estar à altura dos princípios proclamados. Mas como é consolador encontrar “agentes do desporto”, como o Nuno Delgado, que sabem encontrar, no Desporto, não só meros factos desportivos, mas também amplos (e humanizantes) fenómenos culturais (que o mesmo é dizer: sociais, políticos, paidêuticos, filosóficos e pedagógicos). Na partilha universal dos conhecimentos, que o mundo actual permite, sem qualquer pessimismo de desistência do trabalho de transformação social e política, é preciso, imperioso e urgente informar as pessoas que o Desporto não se circunscreve ao desporto dos Ronaldos e dos Messis e dos Neymares, nem este desporto alguma vez contribuirá à diminuição do fundo fosso, que separa os países pobres dos países ricos. Sem a generalização de uma educação (onde se integra a educação desportiva) com a lucidez e a energia de uma crítica ao neoliberalismo hodierno, como erradicar a pobreza absoluta, como promover os valores democráticos, como construir sociedades do conhecimento? Que existam os Ronaldos, os Messis e os Neymares, bem é! Mas, como já o escrevi, há mais de 50 anos: que não adormeçam as pessoas à recusa da sociedade injusta estabelecida! Um abraço sobre o coração, Nuno Delgado! Muito obrigado, pelo seu Desporto… com determinadas ideias!"

Benfiquismo (MCCVIII)

Golos...