"O VAR veio para ficar, mas o 'corporativismo arbitral' que 'não autoriza' uma estrutura própria para juízes VAR tem os 'dias contados'
1. (...)
2. O futebol português não pode ser nem um festival de vaidades nem um espaço de muitas e diferenciadas formas de comunicação e de intermediação. Vivemos uma semana dominada pela Taça da Liga e, apesar de muitas importantes e impressionantes presenças - incluindo presenças de vedetas espanholas, o que pressupõe, estou certo, reciprocidade, a curto prazo, do lado de terras do Rei Filipe VI -, foi o VAR que dominou as atenções. E por razões que levam a perceber que o futebol, e as suas diferenças análises, está sujeito a múltiplas variações. E despesas interessantes. Basta elrmos, ou escutarmos, com toda a atenção as reflexões de ex-árbitros para percebermos, se dúvida tivéssemos, que os lances mais controversos, mesmo com imagens, são vistos de várias formas. Para uns é falta, para outros não o é. Para uns aquele lance é fora de jogo, para outros, mesmo com linha, não é fora de jogo. E, assim, o VAR é sujeito a variações. Tem, afinal, que ver com as cores dos olhos. E, em Portugal - e parece que também em Espanha com o Real Madrid a queixar-se que o VAR parece ter o seu centro de análise em Barcelona -, o VAR, que é um instrumento útil, foi, nesta semana, questionado, e bem questionado. E nem a operação de relações públicas desencadeada, na passada sexta-feira, pelo Conselho de Arbitragem atenua a dor que atingiu Benfica e Sporting de Braga nos jogos das meias finais da Taça da Liga. O que fica é a sensação da injustiça do VAR. Mesmo que tenhamos a consciência das variações que a análise dos lances controversos suscita. E o que é interessante é que a Federação Portuguesa de Futebol não deixou de dar uma mão à Liga quando proporcionou, ontem, um duplo VAR para a final da Taça que atribuiu, no marketing, o título de campeão de inverno. A Federação tudo fez, acredito, para credibilizar do duplo VAR! Estou convicto que o VAR veio para ficar. Mas também estou certo que o corporativismo arbitral que não autoriza uma estrutura própria para juízes VAR tem os dias contados. Assuma-se que o VAR, entre nós, não pode ser uma forma de protecção ou de compensação dos árbitros de primeira. E ou a Federação - sim a Federação, esta Federação, e não este Conselho de Arbitragem - o assume e impõe ou, então, o VAR; entre nós, estará sujeito a muitas variações! E, neste caso, não haverá comunicação, por mais competente que seja a agência - e é-o! - que salve as variações que se multiplicarão e ampliarão. Tendo a consciência que o clima do futebol português implica, e determina, acrescidas cautelas. E daí que se em Braga houve momentos de festa também é inequívoco que, a partir de Braga, houve muito desassossego. Diria que até em Braga houve necessidade de ter muito cuidado. E variações de itinerários! Até por que «até a virtude precisa de limites»!
3. O nosso calendário atribui à Taça da Liga uma verdadeira e completa semana de festa. É bom para os patrocinadores e para a diversificada intermediação televisiva. Mas se ontem ocorreu a final hoje poderiam realizar-se muitos jogos das competições profissionais que estão marcados para os primeiros dias da semana que vai iniciar-se. Não se compreende que haja jogos marcados para o comum horário de trabalho. Jogos à segunda-feira às três ou às cinco horas da tarde é uma variação de horário que não tem em conta os comuns horários de trabalho nem a atractividade televisiva. E é bom que se diga isto. Não há verdadeira indústria do futebol que não respeite o adepto/cliente/consumidor. E não há comunicação, por mais insistente ou persistente que seja - ou mesmo, por vezes, limitadora ou condicionante -, que destrua a essência do futebol. Adeptos, antes de mais. E ir de Coimbra a Paços de Ferreira - bonita terra de gente amiga - às cinco da tarde de uma segunda feita é uma violência. É mesmo uma incrível variação! Para não dizer uma violência sem sentido! É caso para perguntar: Por que não neste domingo estes jogos? Uma explicação razoável, por favor. Incluindo a todos aqueles que aprovaram, porventura sem cuidado, este planeamento de jogos. Tanta variação para quê? Porquê?
4. Há vinte e cinco anos - tanto, tanto tempo! - publiquei um livro a que dei o sugestivo título Memórias de um espectador atento. Uma das reflexões do livro dizia respeito aos apitos limpos. Em 1994! Quase bodas de prata! A minha memória leva-me a múltiplos casos e diferentes deliberações. E a luta por esses apitos limpos era uma luta justa que deve motivar a colaboração imediata de todos aqueles que amam o futebol. É que os outros fazem do futebol uma mama! Uma mama! Vinte e cinco anos depois, muitos casos depois, essa busca é um permanente desejo, diria quase que uma ardente quimera. E, direi, com idênticas mamas! Mas também, aqui, e apesar dos novos constrangimentos - e dos donos disto tudo que o futebol criou, sedimentou e continua a alimentar - a diversificada opinião pública - diria que, em rigor, as coloridas opiniões públicas - não aceitam omissões investigatórias nem sequer impunidades e imunidades desportivas. E o que fica são, tão só, algumas variações. Poucas, muito poucas direi. Até o Conselho de Justiça da Federação continua a dar razão, ontem como hoje, a árbitros desclassificados, como é o recente caso do Jorge Ferreira. Mas, ontem como hoje, «a bajulação é a moeda falsa que só circula por causa da vaidade humana»! Afinal tão só variações!"
Fernando Seara, in A Bola