"Tinham passado uns dias, desde a última conversa com o Detective Colombo, e o Treinador Wooden continuava surpreendido, com as múltiplas aprendizagens que tinha realizado, nas diversas conversas com o Detective Colombo e curioso por conhecer quais seriam os outros vírus da mente, que condicionavam o comportamento e as consequências dele próprio e dos seus atletas.
Podia ter ficado à espera de que o Detective Colombo o abordasse, mas sendo proactivo, decidiu convidá-lo, para tomar um café, no centro de estágio do F.C. os Galácticos, onde se encontravam ambos, naquele momento. Passada a euforia e autógrafos, que os muitos sócios solicitaram ao Treinador Wooden, o café de ambos, teve finalmente lugar.
“Detective Colombo, as nossas últimas conversas (aqui e aqui) foram muito esclarecedoras e despertaram-me a curiosidade, para saber mais. Que outros vírus podem comprometer a forma como pensamos e, por isso, necessitamos de nos proteger?” – começou por perguntar o Treinador Wooden.
A esplanada costumava estar muito agitada, mas passada a euforia, a presença do Treinador Wooden deu lugar a uma acalmia inabitual, até parecia que todos estavam a proporcionar o sossego necessária à conversa de ambos e, ao mesmo tempo, a tentar ouvir um pouco do que conversavam. Enquanto observava quem os circundava, o Detective Colombo viu que estavam três pessoas de alguma idade, na mesa à direita– “deviam ser avôs de alguns dos jogadores” – pensou, na mesa à sua frente, encontravam-se duas senhoras, uma mais velha, com um chapéu verde e outra mais nova – “devem ser mãe e filha” – congeminou e, na mesa à esquerda, estavam dois casais – “devem ser pais de dois jogadores das escolas” – matutou.
“Treinador Wooden, sei que agora treina um grande clube, mas recorda-se quando treinava equipas que lutavam pela sobrevivência, pela manutenção?” – perguntou o Detective Colombo. “Sim” – respondeu o Treinador Wooden. “Lembra-se de algum jogo, contra uma das equipas candidatas, que tenha corrido mal?” – inquiriu o Detective Colombo. O Treinador Wooden lembrou-se de imediato de um, enquanto o Detective Colombo começou a pensar que tinha provocado algum desconforto ao Treinador Wooden e, por isso, perguntou-lhe – “a minha pergunta deixou-o desconfortável?” e o Treinador Wooden acenou positivamente com a cabeça. “Se não quiser, não vamos por este caminho?” – perguntou o Detective Colombo, mas o Treinador Wooden respondeu – “não, é importante aprendermos com os momentos em que as coisas não nos correram bem, vamos a isso”.
O Detective Colombo encostou-se à cadeira, como que a dar espaço e tempo ao Treinador Wooden e este respondeu – “recordo-me de um jogo, em que treinava uma equipa que lutava para não descer, estávamos na recta final do campeonato e a pressão era enorme. Tínhamos preparado o jogo o melhor possível, mas o resultado foi catastrófico, perdemos 5-0, olhe precisamente contra o F.C. os Galácticos”.
“Antes do jogo, aconteceu alguma situação inabitual?” – perguntou o Detective Colombo. “Agora que pergunta” – começou por dizer o Treinador Wooden e continuou – “realmente aconteceu. A caminho do jogo e já no autocarro, o nosso camisola 10 o jogador que organizava e criava o jogo da equipa abordou-me e disse-me algo que me surpreendeu”.
Naquele momento, todas as mesas ficaram em silêncio e as pessoas inclinavam-se ligeiramente na direcção da mesa do Detective Colombo e do Treinador Wooden.
“O que é que lhe disse esse jogador?” – perguntou o Detective Colombo. Depois de hesitar um pouco, o Treinador Wooden partilhou – “o jogador disse-me que não podia jogar, porque se o fizesse, iria lesionar-se e, mesmo depois de lhe dizer que era um disparate o que estava a pensar, não consegui demovê-lo, porque continuou toda a viagem a dizer-me que se jogasse se iria lesionar, acabou por não jogar e as consequências foram desastrosas” – levantou a mão com os 5 dedos abertos, como que a lembrar-se dos 5-0 finais.
Enquanto o Detective e o Treinador fizeram uma pausa, parecia estarem a reflectir sobre a situação, naquele momento e nas mesas circundantes, aconteceram algumas coisas.
Na mesa da direita, dos avôs, um deles disse aos outros – “já me aconteceu uma coisa semelhante com a minha neta. Estava a levá-la para o jogo, eu conduzia e ela estava sentada no banco de trás, nas minhas costas, e estava em silêncio, o que não era habitual e, por isso, perguntei-lhe o que estava a pensar e ela disse-me que o jogo lhe ia correr mal. Embora lhe tivesse dito não penses isso, o certo é que assisti ao jogo e correu-lhe mal”.
Na mesa da frente, a mãe disse à filha – “recordas-te quando fizeste o exame de Matemática, do 12º ano, pela primeira vez, também passaste a véspera a dizer que te ia correr mal e foi isso que aconteceu”.
Na mesa da esquerda, a dos dois casais, um dos pais congeminou que já tinha passado por situações idênticas e partilhou a seguinte história – “quando comecei a trabalhar no banco, passados poucos meses, fui confrontado com a situação de ter que apresentar a forma como conseguia bons resultados nos PPR’s, durante 3 minutos, numa reunião a nível nacional, por ser o colaborador com melhores resultados, e embora fosse bom no que fazia, só pensava que aquela apresentação ia correr mal e foi isso que aconteceu.”
Entretanto o Detective Colombo perguntou – “Treinador Wooden preocuparmo-nos com o futuro, pensar que vai correr mal e viver essa preocupação em vez da realidade é um pensamento deliberadamente construtivo, útil, aceitável e agradável, e sensato?”
O Treinador Wooden olhou o Detective Colombo e respondeu – “não”. “Então, Treinador Wooden encontrou mais um vírus da mente, o vírus PN ou Predições Negativas, isto é, quando as pessoas são pessimistas, pensam que alguma coisa no futuro lhes vai correr mal e depois, paradoxalmente, porque não querem que lhes corra mal, ao pensarem que lhes vai correr mal, acabam por desviar a atenção e, ao fazê-lo, alimentam e concretizam, frequentemente, o prognóstico, a predição negativa, e as coisas acabam por correr mal, não por falta de capacidade, mas por não protegerem a mente do vírus PN” – disse o Detective Colombo.
“Agora que colocou as coisas nestes termos” – começou por dizer o Treinador Wooden e prosseguiu – “este vírus já me visitou várias vezes” – e como parecia que o Treinador Wooden queria partilhar mais uma situação, o Detective Colombo ficou calado, à espera e o Treinador Wooden continuou – “a determinada altura, treinava uma equipa pequena e não tinha departamento de scouting. Por isso, tinha de me desdobrar. Como necessitava de observar um jogador que jogava em Ferrol, meti-me no avião e, depois da escala em Madrid, acabei por aterrar em Vigo. Contudo, depois de alugar um carro, quando sai do aeroporto, chovia torrencialmente e estava uma ventania fortíssima. Entrei no carro e comecei a viagem em direcção à Corunha e quando entro na autopista, para além da chuva e do vento, a estrada estava cheia de ramos das árvores. Nessa altura, pensei que podia ter um acidente, que as coisas iam correr mal, que o melhor era voltar para trás e esquecer a observação do jogador”.
“Por que razão pensou isso?” – perguntou o Detective Colombo. O Treinador Wooden olhou para o lado e para o chão, depois para o Detective e disse – “já tinha passado por uma situação idêntica e o resultado foi péssimo, tive um acidente e acabei no hospital”.
“Lamento. O que fez, voltou para trás ou prosseguiu a viagem?” – perguntou o Detective Colombo. “Continuei a viagem” – respondeu o Treinador Wooden. “O que aconteceu, para seguir para a Corunha?” – perguntou o Detective Colombo.
“Recordei a viagem semelhante, em que tive o acidente, e lembrei-me que o acidente aconteceu por conduzir demasiado rápido, para as condições da estrada, embora abaixo do limite de velocidade. Por isso, se conduzisse rápido, embora abaixo do limite, o acidente tinha mais probabilidades de se repetir, mas se conduzisse ainda mais devagar, podia ser bem-sucedido, mesmo demorando mais tempo” – respondeu o Treinador Wooden.
“Qual foi o desfecho dessa viagem a Ferrol?” – perguntou o detective Colombo. “Cheguei ao jogo mesmo no início, observei todos os jogadores, regressei a casa são e salvo e acabei por contratar um jogador que veio a ser decisivo no sucesso da equipa” – disse o Treinador Wooden.
Nas mesas ao lado, começou-se a ouvir as pessoas a falar sobre o vírus PN (predições negativas) e como o jogo da neta, o primeiro exame do 12º ano e a apresentação pública poderiam ter sido diferentes, para melhor, se as pessoas soubessem que o vírus PN nos visita a todos, de quando em vez, e se pensassem que o futuro pode não ser uma repetição do passado, se for planeado, preparado e executado de maneira diferente de quando as coisas correram mal, em função das aprendizagens desses momentos.
Na mesa do Detective Colombo, o Treinador Wooden pensava – “no impacto de nos protegermos das predições negativas e as desfazermos, quando se “instalam” nos jogadores, mas também nos treinadores, nos dirigentes e nos sócios.”
“Detective Colombo, obrigado por me ajudar a conhecer mais um vírus da mente e da necessidade de protegermos a mente, se desejarmos fazer e conseguir o que somos capazes. Tenho muito que reflectir, sobre situações na minha vida pessoal e profissional, como Treinador, em que este vírus influenciou negativamente a minha iniciativa ou falta dela e estou curioso por saber se há mais vírus da mente” – disse o Treinador Wooden.
“Infelizmente, há mais vírus da mente. Por exemplo, ao pensar na nossa conversa, verifique que houve dois vírus da mente que me sequestrou a determinada altura. Um eu consegui desfazer, mas o outro não” – disse o Detective Colombo.
“Que vírus foram esses?” - perguntou o Treinador Wooden. “Um deles, abordamos na nossa última conversa, o outro, podemos deixar esses vírus para a próxima conversa?” – indagou o Detective Colombo.
Embora curioso, o Treinador Wooden acenou que sim e, nas mesas ao lado, cada uma das pessoas pensou - “espero que a conversa tenha lugar nesta esplanada”.