Últimas indefectivações

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Bem-vindo, Jorge Jesus

"Está de volta o treinador que mais jogos (325) e vitórias (229) tem ao serviço do Benfica, números alcançados em seis temporadas notabilizadas pelos títulos conquistados e pelo reconhecimento generalizado da qualidade do futebol apresentado.
Todos nos recordamos da sua chegada ao Clube e das suas declarações, logo na apresentação, em que não se coibiu de afirmar que iria conquistar títulos e que, consigo, a equipa jogaria o dobro.
De facto, foi isso mesmo que aconteceu, ao revalidarmos o título da Taça da Liga e ao sagrarmo-nos campeões nacionais logo na sua primeira época à frente da nossa equipa. Na retina ficaram as grandes exibições, as muitas goleadas (quatro ou mais golos obtidos em 14 dos 51 jogos nessa época e, por exemplo, os inéditos cinco golos marcados a uma equipa inglesa ou os oito conseguidos ante o V. Setúbal, uma marca que, no Campeonato Nacional, fugia desde 1994).
Recordista de triunfos na Taça da Liga, ao vencer cinco dos sete títulos conquistados pelo Benfica nesta competição, contribuiu ainda para o sucesso numa Taça de Portugal, numa Supertaça e ainda mais dois Campeonatos Nacionais, os primeiros do inédito Tetra, perfazendo um total de três de águia ao peito, um feito apenas superado por Otto Glória e somente igualado por Janos Biri, Jimmy Hagan e Sven-Göran Eriksson.
Ao todo são dez títulos e troféus (três Campeonatos Nacionais, uma Taça de Portugal, cinco Taças da Liga e uma Supertaça), o que faz de Jorge Jesus um dos técnicos mais titulados ao serviço do Benfica.
O Bicampeonato conseguido em 2015 tratou-se de um feito que o Benfica já perseguia desde 1984 (31 anos) e a dobradinha (campeão e vencedor da Taça de Portugal na mesma temporada) alcançada na época anterior já não era celebrada desde 1987 (27 anos).
Também na Europa o Benfica deu cartas com Jorge Jesus. A disputa dos quartos de final da Liga dos Campeões, em 2011/12, aconteceu seis anos depois da última presença nessa fase da prova. Nas duas épocas seguintes, o Benfica foi finalista da Liga Europa, sendo que se encontrava arredado da disputa de uma final europeia desde 1990. Em 2012/13 perdemos com o Chelsea no tempo adicional. Em 2013/14 saímos derrotados pelo Sevilha no desempate por pontapés da marca de grande penalidade, vítimas de uma péssima arbitragem, conforme até a comunicação social espanhola reconheceu. 
Bem-vindo de volta, Jorge Jesus! Boa sorte e desejamos-lhe que contribua para que sejam acrescentados muitos mais troféus ao nosso magnífico Museu Benfica – Cosme Damião! 
#PeloBenfica"

Recordações: António Tavares...

Recordações: Alexandre Pires...

Antevisão...

A (Re)volta de Jesus

"Está tudo mais calmo?
Já é seguro dar a minha opinião sobre o regresso de Jorge Jesus?
Vamos lá analisar isto com calma e por partes.
Primeiro só eu é que reparei que ao nível do timing o Benfica esmerou-se?
Anunciar uma “bomba” destas dias depois do fracasso e derrota no campeonato é uma operação de marketing fantástica.
De repente ninguém fala do Porto campeão.
Ninguém esmiuça as virtudes do Porto.
Ou escrutina as debilidades do Benfica.
Os sete pontos perdidos.
Os oito de vantagem.
Tudo esquecido pelo anúncio da contratação de Jorge Jesus.
Pessoalmente não sou amante de Jorge Jesus.
Nem amante, nem marido, nem namorado.
Não simpatizo com o estilo.
Quem me conhece sabe que preconizo outras posturas.
São vários os episódios onde não me revejo e não gosto.
Estão à espera do “Mas”, né?
Aguentem mais um bocado.
São vários os comportamentos censuráveis de Jesus.
Pelo diálogo e pela falta dele.
Pela arrogância e sobranceria.
Isto tudo ainda no Benfica.
Depois vem o Sporting.
Onde curiosamente Jorge Jesus foi igual a si mesmo.
Onde fez precisamente o mesmo que fazia no Benfica.
Ofendeu colegas de profissão.
Dirigentes.
Terminou conferências quando não lhe convinha.
A minha pergunta é:
Todos se lembram que a decisão de sair do Benfica não foi de Jesus?
Todos sabem da história em que ele foi “empurrado”?
Que por sua vontade ainda hoje lá estaria caso os resultados o permitissem.
Não havia Sporting, nem Arábias, nem Flamengos.
Pronto.
É que às vezes parece que Jorge Jesus quis sair do Benfica para o Sporting.
Agora sim vem aí os “Mas”.
Jesus é a meu ver um dos melhores treinadores do Mundo.
Um criador.
Para o bem e para o mal.
Quem não se lembra da criação de David Luiz a defesa esquerdo nos 5x0 do Dragão.
Mas se é para contratar um técnico que não invente.
Deixem ficar os que por lá estavam.
Não inventavam muito.
Mas quando o modelo ou as estratégias ficavam “gastas”.
Perdiam e perdiam-se.
Jesus é muito bom naquilo que domina.
No futebol.
E muito mau naquilo que não é para ele dominar.
Comunicação.
Acredito que essa será uma das aprendizagens que o estrangeiro trouxe ao técnico da Amadora.
Mas alguém duvida que o Benfica vai jogar o triplo?
Que para o que vimos este ano até nem é muito.
Que vai valorizar jogadores e fazer vendas astronómicas.
Neste momento o cozinheiro e o roupeiro já valem 10 milhões de euros.
Ninguém valoriza ou tira rendimento de jogadores como ele.
Tem erros de casting.
Claro que sim.
Mas são mais as vezes que acerta.
Entendo e respeito a contestação.
Malta que preferia um homem menos controverso e mais cordial.
Que apostasse mais na formação.
Tipo Rui Vitória ou Bruno Lage.
Para se poder maltratar à vontade.
E gritar aos sete ventos que falta alguém com “pulso forte nos jogadores”.
Porque amigos com Jesus “ninguém brinca”.
Nem árbitros.
Nem jogadores.
Nem adeptos.
E ninguém defende mais a sua profissão e o seu clube que ele.
Com ele não existe formação.
Existe qualidade.
Com ele não existe Seixal. Existe Aimar e Saviola.
Ficará sempre ligado a Bernardo Silva como lateral esquerdo.
Mas também a Fabio Coentrão.
E com ele não existem aquelas conferências insossas e amorfas que mesmo depois de ser ofendido “responder a quem quero quando quero”.
Jorge Jesus cospe a pastilha e responde a quem nada lhe pergunta.
Ele não compra guerras.
Ele é a guerra.
Eu não sou fã do estilo volto a dizer.
Mas reconheço o maior mérito ao conteúdo.
Arriscado era contratar alguém sem créditos.
Sem provas dadas.
E sem competência.
E repito.
Compreendo a contestação.
Jesus na minha opinião não fez nada de mal.
Mas disse muitas coisas de mal.
No entanto e no fim se ganhar.
Todos vão festejar, mesmo sem o perdoar.
Até os que rasgam o cartão de sócio.
Para vencer Jesus não precisa de bons adeptos.
Precisa de bons jogadores.
O resto ele resolve.
Para finalizar.
Claro que não vale tudo para ganhar.
Mas felizmente ainda vale contratar o Campeão da Libertadores e do Brasileirão.
Há dias ouvi algo que me fez muito sentido.
Os clubes são sempre maiores que os treinadores e que os jogadores.
E dão sempre mais a ganhar a uns e a outros.
Quando isso não acontece.
Faz-se uma estátua.
Por isso é que no Estádio da Luz só existe uma."

Se Vieira esperava que contratar Jesus pusesse o benfiquista a dar pulos, a esta hora deve perguntar-se “o que passou-se?”

"Tinha tudo para ser um grande arraial, um festival nesta época sem festivais, com direito a fanfarra e desfile em autocarro aberto pelas ruas da cidade até a apoteose no Estádio da Luz e, no entanto, o regresso de Jorge Jesus sabe a quarta-feira de cinzas. Ou, então, sabe apenas a cinzas, a fim de festa, o slow na discoteca às cinco da manhã quando as luzes se acendem. Não devia ser assim.
E o foguetório? O regresso triunfal do homem que, em dezembro do ano passado, era senhor do mundo (pelo menos do mundo de língua portuguesa)? Nada. Hoje há cinzas e resignação, é o que se arranja. Sobras de um banquete antigo com sabor a renúncia. Renúncia de Jesus. O homem que volta ao lugar onde foi feliz e miserável, ídolo carregado em andor e Belzebu de efígie queimada em praça pública (ou, pelo menos, retirada de um grupo de cartazes sorridentes), desistiu de apontar às estrelas. Convenceu-se, finalmente, de que a oportunidade para treinar um dos grandes da Europa, uma daquelas cinco ou seis equipas que lutam, mas lutam a sério, pela Liga dos Campeões, nunca chegará. E assim volta ao Benfica, com o prestígio técnico reforçado e a firme impressão de que o fim da linha está próximo.
Se Luís Filipe Vieira esperava que a contratação de Jesus pusesse o adepto benfiquista a dar pulos de contentamento, a esta hora deve estar a perguntar-se “o que passou-se?” Uns deixam de pagar quotas, outros declaram publicamente que nunca mais vão ver um jogo do clube, outros não sabem se hão de rir ou chorar com as curvas e contracurvas, os mortais à retaguarda e as guinadas imprevistas do “sólido” projecto de Vieira. Jesus não serve para o projecto, Rui Vitória é para muitos anos, vi uma luz, o Vitória já era, o Lage fica porque o Mourinho não quer, Lage forever, Lage na próxima época dê lá por onde der, enter Jesus.
O problema pode ter sido o timing. Anunciar a contratação de Jesus devia servir de antídoto à azia pela perda do campeonato. Essa deve ter sido a intenção do presidente. Mas o tiro saiu-lhe pela culatra.
A malta está cansada e não é a contratação de um treinador, por brilhante que este seja, que apaga o essencial: ninguém sabe para onde vai o Benfica. Ninguém sabe que Benfica é que Luís Filipe Vieira tem na cabeça. Dizia o poeta que o amor é eterno enquanto dura. No Benfica, os projectos também são eternos enquanto duram, como castelos de areia na praia até vir uma onda ou, às vezes, um murmúrio de água.
A hegemonia interna. O Seixal. A Europa. Não há dinheiro, só prata da casa. Vendem-se as pratas da casa para sustentar o vício da vitória. Depois não há vitórias, só o vício a seco. Vão-se os anéis, os dedos, a mão, primeiro a esquerda, depois a direita. No fim, só resta a lábia. Afinal, já há dinheiro. Volta, Jesus. Cem milhões para reforçar o plantel. Gastar à tripa-forra. Vamos lá que ninguém nos pára. A não ser que o Porto desencante um vítor-pereira da vida para ajoelhar o catedrático. A não ser que o Porto, cujo projecto se chama, há quase quarenta anos, Pinto da Costa, consiga ganhar dois campeonatos em três, mesmo sem dinheiro para mandar cantar um cego, mesmo com jogadores a que ninguém chama coxos só por consideração aos coxos.
Os benfiquistas perderam a esperança. Não a esperança de ganhar – essa está sempre lá e, com a chegada de Jesus, pode até sair reforçada – mas a esperança de que dentro do clube alguém saiba o que anda a fazer. Quando nem um treinador como Jesus devolve a esperança aos adeptos é porque a desilusão vai muito para além do que acontece nas quatro linhas.
Quando Vieira decidiu manter Jesus após o ano do quase, teve o seu momento de génio. Quando Bruno de Carvalho foi buscar Jesus quando ninguém o esperava, teve o seu momento de génio. Ir buscar Jesus agora, ao contrário do que Vieira possa pensar, não é de génio. É uma confissão milionária de impotência."

Semanada...

"1. Tudo em Cima do Joelho. Nos últimos dias tem-se falado na imprensa que o Benfica vai fazer um grande investimento neste verão. Não sabemos ao certo se a notícia é verdade ou não, mas o Empréstimo Obrigacionista indica que há pelo menos um fundo de verdade, visto que o clube não tem outro motivo para aumentar o EO a não ser que vá de facto investir. Só que há um problema nisto tudo. O Benfica aparentemente só percebeu que era preciso investir no plantel depois da época já estar quase terminada. Para agravar a situação, só percebeu isto em Julho, depois do ano fiscal do clube já ter terminado. Tudo o que o Benfica gastar neste mercado de transferências, vai contar para o ano fiscal de 2020-2021. Isso significa que vamos terminar o ano fiscal 2019-2020 com um lucro quase nos 100 milhões e que o ano fiscal de 2020-2021 vamos ter um prejuízo bastante significativo. Possivelmente na ordem das várias dezenas de milhões de euros. Isto não deverá criar um grande desequilíbrio financeiro nas contas do clube, mas pode vir a criar sérios problemas no que respeita ao Fair-Play Financeiro. Porque na época de 2022-2023, o ano fiscal de 2019-2020 já não vai contar para a regra do FPF e vamos estar obrigados a fazer vendas significativas para balancear e respeitar o FPF devido a este investimento todo. Se não o fizermos, podemos ficar suspensos de participar em competições europeias Vai haver certamente alguns comentários a dizer “criticam por não termos reforços, criticam por termos reforços, criticam por tudo e por nada”. Eu não estou a criticar o facto do Benfica ir ao mercado. Estou a criticar a “Estrutura” por gerir o clube conforme os resultados e não conforme o que se joga. Porque se gerisse conforme o que se joga, tínhamos ido buscar reforços mais cedo. O Benfica deveria ter aproveitado a folga financeira do ano fiscal 2019-2020 para trazer reforços antes de 30 de Junho de 2020 de maneira a que esse investimento não entrasse nas contas do clube no próximo ano. Foi tudo gerido, mais uma vez, em cima do joelho.
2. Scouting. Ganhámos contra o Guimarães, mas mais uma vez não fizemos um jogo digno do futebol que exige ao clube. No outro lado esteve um Guimarães, que mais uma vez demonstrou porque é que é o clube com melhor departamento de scouting do país. Com pouco, o Guimarães lá vai descobrindo verdadeiros craques. Primeiro foi o Tapsoba que já foi para o Leverkusen por 18 milhões. Agora já devem estar a esfregar as mãos com o Marcus Edwards onde também deverão fazer um grande encaixe. Enquanto nós, é o que todos já sabemos. Qualquer reforço que o Benfica faça neste verão, a probabilidade de ainda estar no clube em Janeiro, com base nos últimos dois anos, é inferior a 50%. 
3. Operação Saco Azul. A Operação Saco Azul trata-se de uma investigação da Autoridade Tributária em que o Benfica terá pago 1.9 milhões por um serviço de uma empresa de informática que aparentemente nunca terá usufruído. A AT está investigar questões relacionadas com o IVA e IRC nessa operação. Aparentemente, esse dinheiro terá sido levantado da conta e o seu destino é uma incógnita. Inicialmente só a empresa de informática estava a ser investigada. Agora também está o Benfica e os seus dirigentes, o que possivelmente poderá indicar que o dinheiro terá regressado ao Benfica sob a forma de numerário para servir de “saco azul” - dinheiro solto para fazer pagamentos por debaixo da mesa a alguém. Um “saco azul” não é uma novidade em Portugal, nem sequer no Futebol Português. O Sporting também tinha um. Mas no caso do Sporting era de 60 mil euros. Não há muito a dizer daqui. Já cansa ver o Benfica e seus os dirigentes envolvidos em tantas práticas pelo menos suspeitas. A pergunta que se impõe é mesmo até quando é que os sócios vão aceitar que isto seja normal.
4. Dilema Weigl v. Florentino. Julian Weigl tem sido o nosso melhor jogador desde da retoma da Liga. Por outro lado, Florentino voltou a jogar na terça-feira e as indicações foram muito boas. Imediatamente surgiram as questões nas redes sociais de porque é que Florentino não joga mais. A resposta é fácil. Julian Weigl tem sido o nosso melhor jogador desde da retoma da Liga e a equipa precisa de ter um elemento no meio campo mais ofensivo. É um dilema complicado que Jorge Jesus terá que procurar resolver. O Ajax jogou muita vez este ano com dois médios mais defensivos (Lisandro Martinez e Edson Álvarez). Talvez possa ser uma inspiração. Mas com Jorge Jesus, não acredito muito.
5. Youth League. A Taça de Portugal vai decorrer no início de Agosto. A meio da Agosto vai decorrer a Fase Final da Youth League e pouco depois deverá começar a pré-época. Na Youth League poderão estar jogadores como Tiago Dantas, Nuno Tavares, Tomás Tavares, Morato, Gonçalo Ramos, Leo Kokubo ou Paulo Bernardo que provavelmente teriam algumas hipóteses de ser chamados para fazer a pré-época com a equipa principal e até ficar no plantel. Estou curioso para ver como é que essa gestão irá ser feita. O clube nunca escondeu a ambição de ganhar a Youth League, mas será que os jogadores não irão ter férias?
6. Mexidas Oficiais no Futsal. A saída de André Coelho foi oficializada e entretanto já oficializámos os primeiros dois reforços: o fixo internacional português ex-SC Braga Nílson e o ala internacional brasileiro ex-Barcelona Arthur. Dois bons reforços, a quem se deverão juntar ainda Ivan Chishkala e Hossein Tayebi. O plantel da equipa de Futsal parece estar fechado. Só deverão faltar uns ajustes finais com os jovens que vão estar na equipa. A nível de estrangeiros vamos ter muitos jogadores muito talentosos. Vamos estar um pouco curtos na posição de Fixo, mas parece-me uma grande aposta em Afonso Jesus, visto que Joel Rocha não terá grandes alternativas além de Nílson e o jovem português. O ano passado fizemos uma aposta muito parecida em Rafael Lisboa e os resultados foram manifestamente bons. Se Afonso Jesus confirmar o que se espera dele, esta também vai ser uma boa aposta."

Recordações: José Janeiro...

Recordações: Ricardo Silva...

João, Pedro & Miguel... Trio !!!

Comparação dos sistemas desportivos contemporâneos nas suas relações com outros campos e espaços sociais

"Se colocarmos em perspectiva os sistemas desportivos de vários países europeus, verificamos que a sua história não é linear e que é impossível, como gostaria a lógica culturalista, reduzi-los a uns meros princípios estruturantes aplicáveis a todas as épocas e no conjunto da sociedade.
Nos seus primeiros textos, os sociólogos franceses Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron denunciaram os efeitos simplificadores mencionados por alguns burgueses, que viam o “culto aristocrático na proeza”. Podemos procurar as estruturas dos diferentes movimentos desportivos nos inevitáveis compromissos entre as escolhas individuais, resultante da história política e cultural de um país, e as variantes que resultam dos incontornáveis constrangimentos, sobretudo no que diz respeito ao desporto de alto rendimento, das exigências técnicas e das competições internacionais. 
Tomemos aqui, de forma breve, os exemplos da Alemanha, da França e de Portugal. Na Alemanha, o movimento desportivo é uma organização que tem uma autoridade e que regula a prática desportiva, em todas as modalidades e em todos os níveis. Fruto de uma fusão em maio de 2006, entre a União do Desporto Alemão e o Comité Olímpico Nacional, o Deutscher Olympischen Sportbund enquadra todas as instâncias desportivas, que conservam a sua autonomia, e representa-as nas negociações com o Estado Federal (Bund).
O sistema alemão não atribui um estatuto particular aos atletas de alto rendimento. Reconhece-se a herança de uma concepção liberal, segundo a qual o compromisso de alto rendimento é fruto de uma escolha individual. Em França, como em Portugal, o desporto de alto rendimento é uma fonte de enriquecimento e de progresso humano e o atleta assume um papel social, cultural e nacional de primeira importância. O desenvolvimento das actividades físicas e desportivas incumbe ao Estado e ao movimento desportivo, constituído por clubes, associações e federações desportivas, muitas vezes com o apoio das autarquias, das empresas e de instituições sociais. Nesta perspectiva, a lógica é diferente da Alemanha.
As relações são contrastadas entre as organizações desportivas, os Estados e os praticantes. É completamente em vão querer comparar os sistemas desportivos e o seu “grau de autonomia”."

Como proteger a mente? O vírus n.º 2 - PN

"Tinham passado uns dias, desde a última conversa com o Detective Colombo, e o Treinador Wooden continuava surpreendido, com as múltiplas aprendizagens que tinha realizado, nas diversas conversas com o Detective Colombo e curioso por conhecer quais seriam os outros vírus da mente, que condicionavam o comportamento e as consequências dele próprio e dos seus atletas.
Podia ter ficado à espera de que o Detective Colombo o abordasse, mas sendo proactivo, decidiu convidá-lo, para tomar um café, no centro de estágio do F.C. os Galácticos, onde se encontravam ambos, naquele momento. Passada a euforia e autógrafos, que os muitos sócios solicitaram ao Treinador Wooden, o café de ambos, teve finalmente lugar.
“Detective Colombo, as nossas últimas conversas (aqui e aqui) foram muito esclarecedoras e despertaram-me a curiosidade, para saber mais. Que outros vírus podem comprometer a forma como pensamos e, por isso, necessitamos de nos proteger?” – começou por perguntar o Treinador Wooden. 
A esplanada costumava estar muito agitada, mas passada a euforia, a presença do Treinador Wooden deu lugar a uma acalmia inabitual, até parecia que todos estavam a proporcionar o sossego necessária à conversa de ambos e, ao mesmo tempo, a tentar ouvir um pouco do que conversavam. Enquanto observava quem os circundava, o Detective Colombo viu que estavam três pessoas de alguma idade, na mesa à direita– “deviam ser avôs de alguns dos jogadores” – pensou, na mesa à sua frente, encontravam-se duas senhoras, uma mais velha, com um chapéu verde e outra mais nova – “devem ser mãe e filha” – congeminou e, na mesa à esquerda, estavam dois casais – “devem ser pais de dois jogadores das escolas” – matutou.
“Treinador Wooden, sei que agora treina um grande clube, mas recorda-se quando treinava equipas que lutavam pela sobrevivência, pela manutenção?” – perguntou o Detective Colombo. “Sim” – respondeu o Treinador Wooden. “Lembra-se de algum jogo, contra uma das equipas candidatas, que tenha corrido mal?” – inquiriu o Detective Colombo. O Treinador Wooden lembrou-se de imediato de um, enquanto o Detective Colombo começou a pensar que tinha provocado algum desconforto ao Treinador Wooden e, por isso, perguntou-lhe – “a minha pergunta deixou-o desconfortável?” e o Treinador Wooden acenou positivamente com a cabeça. “Se não quiser, não vamos por este caminho?” – perguntou o Detective Colombo, mas o Treinador Wooden respondeu – “não, é importante aprendermos com os momentos em que as coisas não nos correram bem, vamos a isso”.
O Detective Colombo encostou-se à cadeira, como que a dar espaço e tempo ao Treinador Wooden e este respondeu – “recordo-me de um jogo, em que treinava uma equipa que lutava para não descer, estávamos na recta final do campeonato e a pressão era enorme. Tínhamos preparado o jogo o melhor possível, mas o resultado foi catastrófico, perdemos 5-0, olhe precisamente contra o F.C. os Galácticos”.
“Antes do jogo, aconteceu alguma situação inabitual?” – perguntou o Detective Colombo. “Agora que pergunta” – começou por dizer o Treinador Wooden e continuou – “realmente aconteceu. A caminho do jogo e já no autocarro, o nosso camisola 10 o jogador que organizava e criava o jogo da equipa abordou-me e disse-me algo que me surpreendeu”.
Naquele momento, todas as mesas ficaram em silêncio e as pessoas inclinavam-se ligeiramente na direcção da mesa do Detective Colombo e do Treinador Wooden.
“O que é que lhe disse esse jogador?” – perguntou o Detective Colombo. Depois de hesitar um pouco, o Treinador Wooden partilhou – “o jogador disse-me que não podia jogar, porque se o fizesse, iria lesionar-se e, mesmo depois de lhe dizer que era um disparate o que estava a pensar, não consegui demovê-lo, porque continuou toda a viagem a dizer-me que se jogasse se iria lesionar, acabou por não jogar e as consequências foram desastrosas” – levantou a mão com os 5 dedos abertos, como que a lembrar-se dos 5-0 finais.
Enquanto o Detective e o Treinador fizeram uma pausa, parecia estarem a reflectir sobre a situação, naquele momento e nas mesas circundantes, aconteceram algumas coisas.
Na mesa da direita, dos avôs, um deles disse aos outros – “já me aconteceu uma coisa semelhante com a minha neta. Estava a levá-la para o jogo, eu conduzia e ela estava sentada no banco de trás, nas minhas costas, e estava em silêncio, o que não era habitual e, por isso, perguntei-lhe o que estava a pensar e ela disse-me que o jogo lhe ia correr mal. Embora lhe tivesse dito não penses isso, o certo é que assisti ao jogo e correu-lhe mal”.
Na mesa da frente, a mãe disse à filha – “recordas-te quando fizeste o exame de Matemática, do 12º ano, pela primeira vez, também passaste a véspera a dizer que te ia correr mal e foi isso que aconteceu”.
Na mesa da esquerda, a dos dois casais, um dos pais congeminou que já tinha passado por situações idênticas e partilhou a seguinte história – “quando comecei a trabalhar no banco, passados poucos meses, fui confrontado com a situação de ter que apresentar a forma como conseguia bons resultados nos PPR’s, durante 3 minutos, numa reunião a nível nacional, por ser o colaborador com melhores resultados, e embora fosse bom no que fazia, só pensava que aquela apresentação ia correr mal e foi isso que aconteceu.”
Entretanto o Detective Colombo perguntou – “Treinador Wooden preocuparmo-nos com o futuro, pensar que vai correr mal e viver essa preocupação em vez da realidade é um pensamento deliberadamente construtivo, útil, aceitável e agradável, e sensato?”
O Treinador Wooden olhou o Detective Colombo e respondeu – “não”. “Então, Treinador Wooden encontrou mais um vírus da mente, o vírus PN ou Predições Negativas, isto é, quando as pessoas são pessimistas, pensam que alguma coisa no futuro lhes vai correr mal e depois, paradoxalmente, porque não querem que lhes corra mal, ao pensarem que lhes vai correr mal, acabam por desviar a atenção e, ao fazê-lo, alimentam e concretizam, frequentemente, o prognóstico, a predição negativa, e as coisas acabam por correr mal, não por falta de capacidade, mas por não protegerem a mente do vírus PN” – disse o Detective Colombo.
“Agora que colocou as coisas nestes termos” – começou por dizer o Treinador Wooden e prosseguiu – “este vírus já me visitou várias vezes” – e como parecia que o Treinador Wooden queria partilhar mais uma situação, o Detective Colombo ficou calado, à espera e o Treinador Wooden continuou – “a determinada altura, treinava uma equipa pequena e não tinha departamento de scouting. Por isso, tinha de me desdobrar. Como necessitava de observar um jogador que jogava em Ferrol, meti-me no avião e, depois da escala em Madrid, acabei por aterrar em Vigo. Contudo, depois de alugar um carro, quando sai do aeroporto, chovia torrencialmente e estava uma ventania fortíssima. Entrei no carro e comecei a viagem em direcção à Corunha e quando entro na autopista, para além da chuva e do vento, a estrada estava cheia de ramos das árvores. Nessa altura, pensei que podia ter um acidente, que as coisas iam correr mal, que o melhor era voltar para trás e esquecer a observação do jogador”
“Por que razão pensou isso?” – perguntou o Detective Colombo. O Treinador Wooden olhou para o lado e para o chão, depois para o Detective e disse – “já tinha passado por uma situação idêntica e o resultado foi péssimo, tive um acidente e acabei no hospital”.
“Lamento. O que fez, voltou para trás ou prosseguiu a viagem?” – perguntou o Detective Colombo. “Continuei a viagem” – respondeu o Treinador Wooden. “O que aconteceu, para seguir para a Corunha?” – perguntou o Detective Colombo.
“Recordei a viagem semelhante, em que tive o acidente, e lembrei-me que o acidente aconteceu por conduzir demasiado rápido, para as condições da estrada, embora abaixo do limite de velocidade. Por isso, se conduzisse rápido, embora abaixo do limite, o acidente tinha mais probabilidades de se repetir, mas se conduzisse ainda mais devagar, podia ser bem-sucedido, mesmo demorando mais tempo” – respondeu o Treinador Wooden.
“Qual foi o desfecho dessa viagem a Ferrol?” – perguntou o detective Colombo. “Cheguei ao jogo mesmo no início, observei todos os jogadores, regressei a casa são e salvo e acabei por contratar um jogador que veio a ser decisivo no sucesso da equipa” – disse o Treinador Wooden.
Nas mesas ao lado, começou-se a ouvir as pessoas a falar sobre o vírus PN (predições negativas) e como o jogo da neta, o primeiro exame do 12º ano e a apresentação pública poderiam ter sido diferentes, para melhor, se as pessoas soubessem que o vírus PN nos visita a todos, de quando em vez, e se pensassem que o futuro pode não ser uma repetição do passado, se for planeado, preparado e executado de maneira diferente de quando as coisas correram mal, em função das aprendizagens desses momentos.
Na mesa do Detective Colombo, o Treinador Wooden pensava – “no impacto de nos protegermos das predições negativas e as desfazermos, quando se “instalam” nos jogadores, mas também nos treinadores, nos dirigentes e nos sócios.”
“Detective Colombo, obrigado por me ajudar a conhecer mais um vírus da mente e da necessidade de protegermos a mente, se desejarmos fazer e conseguir o que somos capazes. Tenho muito que reflectir, sobre situações na minha vida pessoal e profissional, como Treinador, em que este vírus influenciou negativamente a minha iniciativa ou falta dela e estou curioso por saber se há mais vírus da mente” – disse o Treinador Wooden.
“Infelizmente, há mais vírus da mente. Por exemplo, ao pensar na nossa conversa, verifique que houve dois vírus da mente que me sequestrou a determinada altura. Um eu consegui desfazer, mas o outro não” – disse o Detective Colombo.
“Que vírus foram esses?” - perguntou o Treinador Wooden. “Um deles, abordamos na nossa última conversa, o outro, podemos deixar esses vírus para a próxima conversa?” – indagou o Detective Colombo.
Embora curioso, o Treinador Wooden acenou que sim e, nas mesas ao lado, cada uma das pessoas pensou - “espero que a conversa tenha lugar nesta esplanada”.