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quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Puro-sangue com magia nas botas

"Aos 22 anos, Franco Cervi não é um projecto acabado, quando conjugar todas as peças e completar o puzzle que ele próprio já antecipou - e esta é a grande conclusão da meia dúzia de aparições pelo Benfica -, vai ser um fenómeno.

Tem cara de jogador de póquer: não sabe o que está a pensar muito menos o que vai fazer. Prova também que o génio se avalia com independência da fita métrica (tem 1,69m), apesar de haver opiniões contrárias. Conta Jorge Valdano que, na elaboração do plantel como treinador do Valência (1996/97), um dirigente lhe leu a sentença para o ataque ao mercado: 'Ande ou não ande, cavalo grande'. Porque ainda há escolas espalhadas pelo Mundo que medem os seus futebolistas pela qualidade, não é por falta de centímetros que Franco Cervi deixará de atingir o topo do Mundo, confirmando de resto a profecia de quem o acompanha desde as ruas de San Lorenzo, onde começou a exercitar as habilidades que foram deslumbrando sucessivas plateias - ele, Gaitán, Salvio, Zivkovic, Gelson, Matheus Pereira, Carlos Mané, Corona, Brahimi e Rafa desempenham funções semelhantes, são jogadores de excepção e nenhum excede os 1,75m.

O talento expressar-se maioritariamente pelo engano e pelo domínio dos segredos da velocidade - aceleração, travagem e saída para onde o instinto indicar. Jogadores como Cervi põem em causa o futebol metalúrgico que tritura a imaginação e os impulsos das grandes estrelas. A questão é que essa revolta contra o senso comum, sendo potencial fonte de benefícios, também pode criar problemas graves. Sendo assim, e de modo a evitar riscos desnecessários, é imperioso que continue a esforçar-se para consolidar a integração e aprimorar o cumprimento das tarefas básicas no colectivo, atitude sem a qual não confirmará os dotes que o tornam raro e valioso. Se a simplicidade é a velocidade de ponta da eficácia, ser prático é o objectivo principal de qualquer jogador - mesmo havendo quem consiga ser eficaz a partir da complicação.

É um puro-sangue em permanente estado de exaltação, com magia nos pés, que se avalia e projecta a ele próprio como simples milagre genético e deve entender que prolongar essa visão egoísta só vai atrasar a consolidação da maturidade. Cervi tem ainda uma capacidade extraordinária para resolver situações delicadas que ele próprio cria. Pode tomar decisões desequadas mas, por ser tão bom e ter tantos argumentos, estala os dedos, promove um golpe de magia e o estádio vem abaixo. Debate-se, por isso, com o problema de muito jogadores caracterizados pela fantasia e liberdade: a falta de continuidade nos fluxos exuberantes de talento que lhe permitem invenções inconcebíveis, mesmo para quem já viu muitos artistas excepcionais. Jogadores como ele geram às vezes a convicção automática de que são fogo de artifício que abrilhanta e espectáculo mas não altera o rumo dos acontecimentos; não interferem como deviam no fim da história e acabam por ter passagem transitória nos nossos corações. É nesse desperdício que tem de evitar. Ouvir e aceitar os conselhos de Rui Vitória é sempre um bom início de conversa.

Cervi é uma peça solta da engrenagem, como são quase todos aqueles que se expressam infringindo as regras do colectivo em que estão inseridos. O mago costuma ser corpo estranho na grande fábrica que é uma equipa, razão pela qual é preciso explicar-lhe como pode contribuir para o melhor funcionamento da máquina. Mas também é fundamental convencer o exército das vantagens que podem advir das extravagâncias de um homem singular. Aos 22 anos, Cervi não é um projecto acabado. Pela frente tem agora um processo de adaptação aos padrões tácticos e técnicos do futebol europeu; a imperiosa necessidade de moderar os ímpetos mais excêntricos e de acrescentar simplicidade, inteligência e poder de síntese à tendência para adorno, demagogia e brilho pessoal. Quando conjugar todas as peças e completar o puzzle que ele próprio já antecipou - e esta é a grande conclusão da meia dúzia de aparições pelo Benfica -, vai ser um fenómeno.
(...)"

Moniz Pereira

"Quis o destino que Mário Moniz Pereira nos deixasse fisicamente nas vésperas dos Jogos Olímpicos que, pela primeira vez, são em terras de língua portuguesa.
Já tudo foi dito e escrito sobre a excelência deste ilustre português, na sua vida de atleta, técnico, dirigente, professor e autor. Nunca tive o privilégio de com ele conviver, mas sempre procurei saborear o que de bom e enriquecedor nos foi legando. Era estimulante ouvi-lo e perceber a sageza e beleza da vida que nos transmitia, sempre nos convidando a casar ética e estética.
Moniz Pereira foi, como poucos, um português profundamente amigo de Portugal. Sempre o vi com esse inabalável orgulho de pertença ao nosso país. Era um líder natural, quer dizer, a sua autoridade advinha da exemplaridade, da sabedoria e da congregação. Fernando Mamede, um atleta invulgar, deu-nos, nos seus depoimentos dolorosos e profundamente sentidos, um retrato humanista de Moniz Pereira: «perdi um pai».
Foi certamente um dos mais lidimos seguidores da ideia construtivista da esperança. Como dizia o filósofo Jean Guitton «a esperança é a predisposição do espírito que leva a acreditar na realização do que se deseja». Uma esperança com abnegação, trabalho, verdade, respeito e autenticidade. Uma esperança que juntava a formação de atleta com o desenvolvimento da pessoa. Uma esperança construída, não na utopia inconsciente e na efémera puerilidade, mas na ponte entre a razão, a consciência, a vontade e a aspiração.
Num país invadido pelo cepticismo, solipsismo e resignação bloqueadora, a vida e o exemplo de Moniz Pereira são para frutificar e jamais esquecer."

Bagão Félix, in A Bola

Benfiquismo (CLXXXI)

Basquetebol 2016/17

Plantel finalmente fechado... a poucos horas do início dos trabalhos.
Antes de discutir as mudanças no plantel, é impossível não falar da questão do treinador. Carlos Lisboa é o melhor jogador português de sempre. Não duvido das suas motivações como funcionário do Benfica... o nível de organização e competência nas modalidades subiu bastante nos últimos anos. Conclusão, tenho o máximo respeito pela pessoa Carlos Lisboa. Agora, como treinador do Benfica é claramente curto... O argumento de se 'poupar' um ordenado (foi utilizado quando o Lisboa acumulou funções), para mim não é suficiente...

Para analisar o plantel, tenho que dividir as 'ambições' em duas partes: competições internas e Europa!
Na Europa, tivemos azar no sorteio... os Italianos do Varese são claramente de outra galáxia. Mas mesmo na FIBA Cup vamos ter muitas dificuldades no jogo 'interior'! O Barber dá garantias, mas o Santos é uma incógnita...
Internamente, o plantel é mais do que suficiente. Temos 'atiradores' em quantidade industrial, como o treinador gosta... Mas mesmo com o nosso 'défice' ao nível da orientação, vamos ver como é que o Hollis e o Raivio se vão adaptar e qual será a atitude geral da equipa, no aspecto defensivo... A atitude competitiva do Cook o ano passado é uma situação a não repetir!!!!

O regresso do Dunn promete, mas muito sinceramente, parece-me que um dos factores mais importantes, vai ser a condição física do Andrade nos jogos decisivos!
Outro 'joker' pode ser o Lonkovic... não aproveitar o nível de conhecimento com o Oliveira, é um absurdo!

Os vários jovens que fazem parte do plantel (Slutej, Silva, Stankovic, Monteiro), vão ter poucos minutos, vão jogar essencialmente na equipa B, na Proliga... estou muito curioso em verificar a evolução dos vários 'emprestados'; Ferreirinho, Gameiro...

Em relação aos rivais, os Corruptos vão manter o nível (vamos ver quem será o substituto do Troy...), a Oliveirense vai continuar competitiva e o CAB Madeira vai estar muito mais forte (vamos ver se o dinheiro não desaparece a meio da época...). A Ovarense está a passar por muitas dificuldades em formar equipa...!

Bases
Derek Raivio
Tomás Barroso
Mário Fernandes
Aljaz Slutej

Base-Extremo
Lace Dunn
Nuno Oliveira
Sérgio Silva

Extremo
João Soares
Carlos Andrade
Velkjo Stankovic

Extremo-Poste
Damian Hollis
Marko Loncovic
Nicolas dos Santos

Poste
Raven Barber
Ricardo Monteiro