Últimas indefectivações

sábado, 26 de março de 2022

Coincidências da bola


"Aqueles segundos em que há uma pretensa indefinição de uma possível expulsão de um jogador do FC Porto são o tempo mais inútil de jogo no futebol português. Parto sempre do princípio de que nada acontecerá e invariavelmente acerto, não por capacidades premonitórias dignas de realce, mas por experiência acumulada.
É impressionante a facilidade com que são expulsos adversários do FC Porto.
No jogo da semana passada dos portistas, no qual, surpresa das surpresas, o Tondela se viu reduzido a dez unidades, perguntei-me, como se não adivinhasse facilmente a resposta, qual seria o clube que mais vezes já beneficiara, no campeonato do seu país durante a presente época, de mais expulsões de adversários. Mesmo estando plenamente convicto da resposta, quis confirmar.
Então fiz o levantamento para os três primeiros classificados de cada um dos 19 países mais bem posicionados no ranking europeu de clubes e... nem vale a pena tentar criar suspense, é o FC Porto, quem mais?
Diria um alienado ou um incauto que tal se poderia dever ao acaso, afinal teria de haver sempre um clube qualquer a liderar esta contagem. Mas atende-se ao seguinte:
- Os 57 clubes analisados tinham disputado, em média, 25,9 jornadas (FC Porto, 26);
- Cada clube, em média, beneficiara de 3,3 expulsões de adversários nos jogos disputados;
- A mediana situava-se nas 3 expulsões. Ou seja, metade dos clubes viram até três expulsões de adversários (foram 62,3%);
- O Benfica era um dos 11 clubes que viram 4 adversários e receberem o cartão vermelho;
- No top 10, havia dois com 5 (Konyaspor e Marselha), 6 (Anderlecht e Sporting( e 8 (Dínamo Moscovo e Slavia Praga), três com 7 (Basileia, Milan e Nápoles);
- E, finalmente, o destacado líder, o FC Porto, que, de acaso em acaso, chegou aos 11, Onze!!! (e só considerando as que ocorreram durante os jogos - confusões após partidas é outra história). Mesmo com o Sporting no top 10, com 6, e o Benfica acima da média, com 4, juntos não chegam ao FC Porto.
É obra! E tem obreiros muito bem identificados.

P.S.: Ainda estou a recuperar o fôlego por ter visto ao vivo, durante onze segundos, o Rafa a correr com a bola e a marcar um golo estupendo. Neste estádio da Luz, o meu favorito continua a ser o do Lima ao Sporting em 2013, mais pela jogada ao Gaitán, mas este entra directamente para uma das posições cimeiras."

João Tomaz, in O Benfica

Isto vai dar filme


"O argumento é digno dos maiores estúdios de Hollywood. Uma das equipas mais históricas da Europa teve a sua primeira conquista continental (no futebol) há exactamente 60 anos e quer repetir a dose. Em 1962, uma vitória épica sobre o Real Madrid CF (5-3) deu o primeiro título europeu ao Sport Lisboa e Benfica. Seis décadas depois, a equipa portuguesa está nos quartos de final da Liga dos Campeões e tem pela frente o Liverpool depois de já ter enfrentado Ajax, Bayern Munique (que ainda vai sair novamente na rifa), Barcelona, Dínamo de Kiev e PSV. O enredo escreve-se sozinho: o clube mais importante de Portugal (mais títulos, mais adeptos, mais tudo) luta contra o passado e contra petrodólares e oligarcodólares para chegar ao topo da Europa, já que em Portugal as contas têm sido marcadas pela falta de 'Vardade' e descarados favores aos rivais.
Na Europa, o Glorioso tem pela frente os melhores entre os melhores e, em campo, coloca um misto de veterania com novos valores, de Otamendi a Darwin, de Vertonghen a Gonçalo Ramos, passando pela qualidade de um alemão (Weigl) e de um brasileiro (Gilberto), que passaram de mal-amados a heróis da bancada. Todos eles - e mais - treinados por um perfeito desconhecido a nível europeu e liderados por um presidente-maestro, que já foi estrela mundial e que agora procura concretizar o sonho de milhões de adeptos em todo o planeta.
Diferenças gritantes de orçamentos, fãs apaixonados, um estádio que é Catedral, raça, ambição, tudo faz parte desta narrativa. Há mais um capítulo para ser desvendado já em 5 de Abril, com os ensaios e decorrerem durante os jogos da malfadada Liga Portugal, onde tudo é permitido, desde que isso prejudique o Benfica.
O filme vai ser um sucesso, e o argumento escreve-se todos os dias."

Ricardo Santos, in O Benfica

Rafazaki


"Ninguém teve ainda coragem para falar nisto, mas é também para isso que eu aqui estou. Por este andar, parece-me que o Rafa será mais um infeliz jogador de futebol e chegar ao final da carreira em graves dificuldades financeiras: com o preço atual dos combustíveis, a circular a esta velocidade já não será mau se lhe sobrar dinheiro para alimentar os cães que vivem lá em casa. O Nélson Veríssimo já nem conta com o Rafa nas palestras ao intervalo, porque, mal o árbitro apita, ele vai direto à Repsol reabastecer. No último domingo, quando a bola foi parar aos pés dele, creio que pensámos todos o mesmo: se o gajo tiver combustível, só falta saber se vai ser golo ou pontapé de baliza. Como a velha questão da falta de frieza na finalização já só serve para quem gosta de embirrar (quantos extremos têm uma média superior a 13 golos por época nos últimos 4 anos?), houve mesmo o 1-0 a fazer lembrar a arrancada de Karel Poborsky ao SC Braga.
O Miguel Oliveira ainda estava a festejar a vitória na Indonésia, e o Rafa já estava a lembrar os patrocinadores quem é o melhor português a andar de mota. Provavelmente, o Fernando Santos também estava convencido de que o Rafa ia estar ocupado durante esta semana a treinar para a próxima competição do Moto GP. Se o Rafa for assim tão rápido em todos os momentos da sua vida, então eu tenho ainda mais pena da namorada dele do que dos adversários que levam com o fumo.
Entretanto, ficámos a saber que neste ano o Liverpool já não vai ganhar a Liga dos Campeões. O Luisão e o Simão já cá estão. Se o Miccoli, o Alcides e o Moretto também derem uma perninha, então metade da equipa até já pode ir descansando para estar fresca nas meias-finais."

Pedro Soares, in O Benfica

Bancadolândia


"Amesterdão, 15 de Março de 2022. Mágico, o minuto 77 do embate com o Ajax catapultou o Benfica para os quartos de final da Liga dos Campeões, seis anos depois, e retificou a imposição do goleador Darwin entre os melhores dos melhores. Volvidos apenas cinco dias, o Estádio da Luz aplaudiu outra circunstância radiosa, que teve Rafa como protagonista. Uma gincana a alta velocidade resultou, no relvado, num incrível desenho coberto com as cores próprias dos lances e dos golos memoráveis. Dois instantes mediáticos que nutriram as reações, as análises e as extrapolações, mas que não encobrem o jogador do momento, pelo que trabalha, pelo que corre, pelo que agrega a atacar e pelo que adiciona a defender. Gonçalo Ramos é o nome!
Chamam-lhe dimensão física, eu prefiro a palavra 'oxigénio'. É muito isto, nos dois sentidos do jogo, que o jovem formado no Benfica Campus fornece ao coletivo, numa escalada que as estatísticas testemunham. Frente ao Estoril, registou a 10.ª titularidade seguida nesta temporada, alongando a sua melhor série na equipa A, facto que já o conduziu ao top 10 dos mais utilizados pelo Glorioso na corrente edição da Liga Bwin. O golo que apontou aos estorilistas foi o seu 7.º neste Campeonato e elevou-o ao top 3 das melhores marcadores dos encarnados na competição, ao fim de 27 jornadas.
As leituras táticas simplificadas ressaltam a duplicidade de Gonçalo Ramos, ou seja, 'o médio' quando a equipa, sem bola, aproxima linhas e manobra pela anulação de espaços, e 'o (segundo) avançado' sempre que o conjunto, em posse, se distende no interior das quatro linhas com o propósito de visar a baliza. Inegável, e comum às perspectivas, é que tem um raio de ação enorme, proporcional ao fôlego de maratonista com que brinda e cativa a plateia.
Os números deste Campeonato, não expressando tudo, dizem-nos muito sobre o que Gonçalo Ramos dá à equipa. Olhemos para alguns dados disponibilizados pela plataforma Wyscout: passes certos para a frente - 81,7% (100% com o Estoril); passes certos para o terço final - 86,2%; passes precisos para a grande área - 81%; recuperações no meio-campo no meio-campo ofensivo - 50,8%. Não há marcha-atrás possível: o futuro de Gonçalo Ramos na alta-roda do Benfica já começou."

João Sanches, in O Benfica

Opiniões à medida


"Para quem gosta de futebol e seja intelectualmente honesto, o Liverpool é uma das melhores equipas do mundo.
É possível, porém, que nas próximas semanas, na voz e na pena de alguns comentadores desportivos da nossa praça, o conjunto de Jurgen Klopp não seja afinal assim tão bom, ou tenha fraquezas nunca antes relevadas e só entendíveis ao olho clínico desses finos 'especialista'.
O princípio de análise dessa gente é o seguinte: as melhores equipas são sempre as que jogam contra FC Porto e Sporting, enquanto os adversários do Benfica são frágeis e acessíveis. Assim, explicam-se fracassos de uns e relativizam-se êxitos de outros. Adultera-se o deve e contorce-se o haver.
O Ajax, por exemplo, há uns meses era uma potência capaz de trucidar quem lhe aparecesse pela frente, era candidato a vencer a Champions e totalmente fora do alcance do pobre futebol português. Pouco tempo passou, e o líder do campeonato neerlandês, que se passeou pela fase de grupos goleando aqui e ali, é agora uma equipa banal, com fragilidades várias, tem uma defesa permeável, um ataque ineficaz, um guarda-redes assim e um meio-campo assado.
Já o Barcelona, que acaba de golear o Real Madrid em pleno Bernabéu, não era bem o Barcelona. Estava perdido numa temporada atípica, tinha um plantel de refugo, e ia demorar anos até voltar a reencontrar-se com a sua história. Tem andado ao mesmo ritmo que o Atlético de Madrid, mas este manteve o seu nome na praça. A diferença é simples: um foi goleado na Luz, outro venceu no Dragão.
Enfim, talvez o Benfica que perdeu com Sporting e FC Porto é que não fosse bem o Benfica."

Luís Fialho, in O Benfica

Diversidade e riqueza


"Em semana de mais um festival inclusivo do projeto 'Show Racism the Red Card' vimos brilhar o ouro e a prata, uma vez mais, com genuíno orgulho, à custa do talento e do esforço de mais dois atletas portugueses que nasceram noutras paragens e que viram no nosso país um porto de abrigo, um farol de oportunidades e um futuro. Uso o exemplo destes e de tantos outros atletas naturalizados portugueses que, ano após ano, engrandecem o palmarés nacional e elevam bem alto a bandeira de todos nós fazendo ecoar A Portuguesa pelos quatro cantos do mundo.
Não fora o tema da luta anti-racista, e não lhes comentaria a cor da pele, porque isso nem vem ao caso nem interessa para nada, mas neste contexto não resisto a usar também o seu exemplo e invoco o inesquecível Rei Eusébio à cabeça de todos eles.
Aos mais cépticos deixo uma pergunta: que seria deste pequeno Portugal sem a diversidade e sem a capacidade de acolhimento que mostra ter? Quantos valores, quantos de nós faltariam no topo das realizações nacionais se a origem, género, cor da pele ou religião servissem de medida de exclusão ao país? Saibamos sempre acolher em Portugal como nós sabemos no Benfica!"

Jorge Miranda, in O Benfica