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sexta-feira, 13 de maio de 2011

Esperar não é saber

"Uma das mais famosas e eficazes canções criadas e cantadas no Brasil durante a ditadura militar era do cantautor Geraldo Vandré e tinha como título irónico e inteligente 'Para Não Dizer Que Não Falei de Flores'. Tornou-se um poderoso hino da luta pelas liberdades e pela Democracia naquele país, tendo sido também muitas vezes entoado pelos estudantes portugueses antes do 25 de Abril, quando ainda não havia 'Deolindas' nem 'Homens da Luta', estes a fazerem a caricatura festivaleira do que nessa época era mesmo a doer e não fingimento de protesto. Depois de ter escrito sobre a final de Dublin, sem saber quem lá ia estar, não posso vir dizer nesta crónica que não falei de flores. Falei, sim senhor, e só tenho pena que o meu Benfica mesmo com o tónus muscular e anímico em baixo, não possa ser candidato à coroa de louros da vitória. Só não digo paciência, pois esse é o apelido de um treinador pelo qual confesso que não nutro particular simpatia. Paciência, de qualquer modo, porque não me ocorre de momento outra palavra com virtudes apaziguadoras.

E, dito isto, volto à já clássica e hoje praticamente esquecida canção de Geraldo Vandré e ao seu notável refrão, com as seguintes palavras:

'Vem, vamos embora

que esperar não é saber

quem sabe faz a hora

não espera acontecer'.

Algo me diz que, por razões geracionais, os jogadores brasileiros do Benfica nunca ouviram esta canção nem sequer ouviram falar nela. Pela ordem natural das coisas, já nasceram depois. Se houvesse algum desse tempo, já tinha - pelo menos - idade para ser treinador.

Seja como for, o que se aplica neste final de época ao Benfica é o melhor do refrão de Geraldo Vandré:

'Vem, vamos embora

que esperar não é saber'.

Resta-nos pois, o que está para vir e não lágrimas caídas sobre leite derramado. Um verdadeiro Campeão não deixa de o ser só por não ter revalidado o título. Por isso, vamos embora, que esperar não é saber, e temos o futuro inteiro à nossa espera. E mais não digo."


José Jorge Letria, in O Benfica


O Regabofe...

"Eis que então, no seu linguajar tacanho, o Palhaço ordenou:

-'Idem e divertem-se!'

E eles foram. Esfregaram-se com giz, como se isso servisse para branquear a sua escura podridão, e saltaram grotescamente como orangotangos paraplégicos, estranhando não haver ninguém para insultar ou espancar.

O Palhaço, agarrado, à barriga de tanta galhofa, voltou a rosnar:

-'Apaguem as luzes!'

Sim. E as luzes foram apagadas. E tudo ficou na escuridão da qual o Palhaço tanto gosta, brilhando apenas as cabeças de giz como se carregadas de bolor.

-'Não esqueçais as criancinhas', disse o Palhaço.

Confusos, entreolharam-se. «São, portanto, estas criancinhas diferentes das outras às quais não podemos dar a mão?», terão pensado. E o Palhaço ensinou-lhes que há crianças que nascem dos ovos das serpentes; crescem a saber odiar e a recitar insultos como quem recita a tabela dos logaritmos. E então eles perceberam. E esfregaram as cabeças das criancinhas com o giz bolorento até que elas se parecessem com fungos e, hílares, atiraram-nas para o centro do regabofe.

-'Não deixeis de fora as meretrizes, como eu nunca deixo as minhas!', roncou o Palhaço.

E as meretrizes também tiveram o seu lugar no sórdido bacanal em que todo aquele carrossel simiesco se ia transformando, como princesas da Babilónia carregando o furdão dos seus vícios. A grande exaltação da fraude, do embuste, da corrupção e do logro. Festejavam-se os mais baixos instintos da condição humana e tudo aquilo que acabrunha os homens sérios e da espinha direita. Feliz, o Palhaço contemplava a sua obra pérfida.

E enquanto os infelizes joguetes da sua peça de teatro se esfregavam uns nos outros, soltando impropérios e sons animalescos, transformando-se aos poucos numa pasta fétida de suor e giz, o Palhaço saiu pé ante pé. Um pobre infeliz, de cócoras, esperava-o para jantar."


Afonso de Melo, in O Benfica

José Mourinho e o Benfica

"Na passada terça à noite, no aniversário do Rio Ave, fui abordado por um adepto do Benfica que muito simpaticamente me dizia: «No Benfica não têm de rolar cabeças, têm é de levantar a cabeça». Mote simples e directo no qual vale a pena reflectir.

Mourinho consegue proezas não só quando ganha mas também quando perde. Depois de não conquistar o título e de não chegar à final da Liga de Campeões, quando o normal seria a desmotivação e os desaires, Mourinho consegue um Real Madrid a golear e um Cristiano Ronaldo a lutar e, provavelmente, a ganhar, o prémio de melhor marcador a Messi. Será seguramente pouco, mas esta ambição permanente, esta capacidade de recriar objectivos e de os alcançar mantém viva a chama de um clube imenso como o Real Madrid. Gostava que o Benfica, mesmo quando não consegue os objectivos prioritários, conseguisse esta atitude, em vez do descalabro de ânimo e resultados. Esta é também uma prova da excelência, na derrota como na vitória poderemos ser mais exigentes.

O Paços de Ferreira, mesmo reduzido a dez jogadores, manteve o feito de Jimmy Hagan inalcançavel. Não reduz o mérito da época de Villas Boas este ano, mas aumenta e do Benfica de 72. O resultado é nosso e inigualável.

Este fim-de-semana, expectativas sobre uma despedida positiva nos seniores e sobretudo uns juvenis campeões.

O Benfica atingiu quatro meias-finais europeias (futebol, hóquei, futsal e andebol) mas deve querer ganhar ainda mais, mesmo sabendo que tanta ilusão, por vezes, pode redundar em grande desilusão.

É um preço de uma grandeza que devemos querer pagar. Depois da conquista de uma Taça CERS, duas décadas passadas sobre a primeira, temos no domingo a nossa primeira final europeia no andebol.

Parabéns ao hóquei e boa sorte ao andebol. Reconhecimento ao mérito e apoio ao esforço."


Sílvio Cervan, in A Bola

Que não se calem!

"Terminada a meia-final da Liga Europa, o senhor Costa não resistiu à “fina ironia” e, pormenor que parece ter escapado à maioria, perdeu a compostura enquanto levantava a voz para exigir que os benfiquistas que, semanalmente, participam em debates televisivos se calassem. “Que se calem!”, vociferou por duas vezes o senhor Costa.

Compreendo o aborrecimento. O clube do senhor Costa ganhou com mérito, mas também ganhou de forma suja. Semanalmente, alguns dos benfiquistas recordaram essa mesma sujidade. Para o senhor Costa eram mais fáceis os tempos em que a docilidade de alguns comentadores e as pressões de alguns canais televisivos faziam com que essa sujidade se pudesse varrer para baixo do tapete, enquanto assobiavam para o ar. Agora não. Além da Benfica TV, há outros canais e outros comentadores que, sem medo, recordam a forma suja com que se alcançaram algumas vitórias. De entre as vozes que merecem o nosso apoio, destaco a de Manuel dos Santos (em debates radiofónicos) e a de Rui Gomes da Silva (em debates televisivos). É importante que sejam os benfiquistas e o Benfica os primeiros a defenderem quem nos defende de forma convicta e que, sem pejos e colocando em risco a própria integridade física, recorda as verdades que tanto incomodam o senhor Costa.

No entanto, as pressões que os amigos do senhor Costa fazem para silenciar essas e outras vozes começam a medrar. Vejo, com um misto de estupefacção e incredulidade, que há quem prefira, em nome de um silêncio ensurdecedor, que essas verdades incómodas não sejam recordadas. Foram demasiados anos a “comer e calar”. Foram demasiados anos a sujeitarmo-nos à ordem “Que se calem!”. Agora não se pode permitir que essa ordem volte a silenciar os benfiquistas. Ceder a essa renovada retórica do politicamente correcto é ceder à ordem do senhor Costa, é deixar de o incomodar com a verdade, e isso já não é admissível. Não é admissível em lado algum e muito menos dentro da nossa casa."


Pedro F. Ferreira, in O Benfica

Muito mau...







...a continuar assim, sem atitude defensiva, e sem organização ofensiva, não vamos ganhar um único jogo. Desta vez nem foram os triplos, com 13 lances livres falhados, e menos 10 ressaltos do que o adversário, não se pode ambicionar vencer...

A pedagogia do erro

"Na entrevista de 2.ª-feira, o presidente do Benfica reconheceu erros e equívocos que conduziram a uma época mais decepcionante e apontou alguns caminhos para o futuro.

Concordo com a essência do que de expressou, aliás, de um modo bem sincero.

O pecado original começou com a Supertaça, em ambiente excursionista de veraneio. Ali jogavam-se não só um troféu e prestígio, como o primeiro embate com o principal adversário com um novel treinador.

Houve erros na gestão desportiva, dando uma ideia de precariedade e de instabilidade.

Se a saída de Ramires era inevitável (embora o Benfica deva evitar ser placa giratória) e a de Di Maria foi um excelente negócio (e veio Gaitán, potencialmente mais completo), é de todo incompreensível a saída de David Luíz em Janeiro (o próprio Chelsea não o podia utilizar na Champions...). Terá sido uma 'imposição' dos fundos financeiros sobre a gestão desportiva. Mas não se pode prescindir de um jogador fundamental a meio da época, quando se estava em todas as frentes, substituindo-o por um esforçado Jardel, alcandorado directamente da 4.ª divisão do Brasil, via Olhanense! O certo é que o SLB sofre golos há 18 jogos consecutivos! Um mau recorde.

Depois, há o caso mal gerido do Roberto, lançado às feras sem adaptação gradual e a demora em substituir os alas (foi o caso do excelente Salvio) quando, há meses, se sabia da saída de Di Maria e Ramires.

Por fim, fazendo fé no que li em A BOLA, não pareceu avisado Luís Filipe Vieira ter ido a Madrid precisamente na semana que antecedeu a meia-final em Braga, negociar (?) um (o) jogador fundamental Fábio Coentrão.

Erros severos que, ao menos, servirão, pedagogicamente, de lição. Ainda bem."


Bagão Félix, in A Bola

Já não há amor à camisola

"SE o Benfica fosse um clube pequeno (ou mesmo médio) teria concluído na última quinta-feira uma época notável: tinha conquistado um título oficial, a Taça da Liga, tinha sido semi-finalista da Taça de Portugal e da Liga Europa e iria acabar o campeonato no lugar de vice-campeão.

Felizmente, o Benfica é um clube grande e não é um clube pequeno ou médio. Portanto concluiu, lamentavelmente, na última quinta-feira uma temporada muito má. E como se não lhe bastassem os resultados desportivos, para piorar as coisas, ainda fez questão de primar por momentos sociais e de comunicação entre o apatetado e patético.

Foi um Luís Filipe Vieira acabrunhado, e isso só lhe fica bem, que falou na noite de segunda-feira aos benfiquistas através da estação de televisão do clube. Fez bem o presidente do Benfica em oferecer a cara ao descontentamento popular, sujeitando-se ao crivo das opiniões a favor e contra as suas palavras. Foi humilde ao reconhecer erros da casa, da estrutura e os seus próprios erros. E ainda foi mais humilde ao prometer que, na Luz, ninguém mais voltará a prometer títulos em tempo de defeso.

Pode ser que fique esta lição, que já é bem importante de aprender.

Por não ser um clube pequeno nem médio, os benfiquistas exigem ao Benfica que reaja como grande Benfica, um clube grande, o maior do país, num momento tão frustrante como este que está a viver. Por essa razão talvez fosse dispensável, até em nome do bom senso, aquela parte do discurso de Luís Filipe Vieira em que o presidente do grande Benfica assegurou 'todos os sacrifícios' para garantir a continuidade de Salvio.

Que o tempo - pois, pois, esse grande escultor...- não venha a reduzir ao estatuto de pequeno Benfica esta garantia de Vieira, é o que se deseja.

De todos os modos, um verdadeiramente grande Benfica, à dimensão do seu poderio histórico e mítico, estaria hoje muito pouco preocupado em fazer 'todos os sacrifícios' por Salvio. Estaria, porventura, mais empenhado em bater os 20 milhões da cláusula de rescisão de Falcao. Isso, sim, é que era grande. Até porque já não há amor à camisola.




DOMINGOS PACIÊNCIA vai estar em Dublin com todo o mérito a dirigir o Sporting de Braga na final da Liga Europa mas os adeptos minhotos já foram informados, com mais de uma semana de avanço, que o próximo clube do seu treinador é outro.

Inácio, que foi treinador campeão em Alvalade, já desejou felicidades a Domingos mas ressalvou um pormenor de grande importância: 'Vamos ver se Domingos tem no Sporting parede para se segurar', disse.

Não haja dúvida de que o futebol português tem muitas metáforas. Agora chegámos às metáforas da construção civil. Mas Inácio deve saber de que 'parede' está a falar porque, certamente, não lhe faltou 'parede' quando foi campeão com o Sporting.




UM rapazinho chamado Pizzi, nascido em Bragança, prestou um belo serviço à memória de Jimmy Hagan e apontando de rajada três golos ao FC Porto conseguiu que o recorde do treinador inglês se mantivesse imbeliscável. Hagan conduziu o Benfica ao título de campeão em 1972/1973, um campeão sem derrotas e apenas com dois empates.

Fraco consolo este para os jovens benfiquistas do presente. Salvou-se o velho recorde de Jimmy Hagan e ainda bem porque Hagan não merecia ser arrolado como destroço nesta época tão desastrosa do Benfica.

Villas Boas, no 3-3 de domingo com o Paços de Ferreira, também quebrou uma série muito vincadamente sua neste campeonato. Pela primeira vez conseguiu não ser expulso tendo empatado o jogo.

Nos dois empates anteriores, com o Vitória de Guimarães e com o Sporting, Villas Boas viu sempre o cartão vermelho e, inteligentemente, nas semanas que se seguiram a esses únicos contratempos, fez com que o mau tema dos pontos perdidos fosse substituído nas conversas de rua e na comunicação social pelo bom tema da injustiça de que foi alvo o jovem treinador do FC Porto em defesa dos interesses da sua equipa.

Mas ao terceiro empate, com o título ganho, já nem valia a pena dar-se a tal trabalho. E também é verdade que o terceiro golo de Pizzi chegou apenas nos descontos. Já nem deu tempo para pensar no assunto.




O futebol português reuniu-se em congresso na Maia e os árbitros tiveram direito à palavra. Vítor Pereira, o presidente da referida classe, fez uma afirmação interessante e que dá que pensar sobre o estatuto de amadorismo dos árbitros: 'Ninguém é amador a ganhar 40 mil euros por ano, Os árbitros não são o parente pobre do futebol e em alguns casos ganham mais do que alguns jogadores profissionais das competições profissionais.'

Deve ser felicitado Vítor Pereira por revelar sem meias palavras uma realidade de que o adepto comum andava, por certo, distante de imaginar.

Seguindo uma lógica de mercado, os melhores árbitros portugueses são os que apitam mais vezes os jogos mais importantes e, por isso mesmo, são muito bem pagos.

Conclusão: acabou-se o tempo do amor à camisola.

Jorge Sousa, árbitro do Porto, também falou na Maia e escolheu como tema a liderança como requisito fundamental da arte de bem apitar. Para tornar as suas ideias mais claras, Jorge Sousa disponibizou-se para se dar a si próprio como exemplo: 'Se em nossa casa quem manda é a nossa mulher dificilmente num jogo conseguiremos liderar', disse.

Conclusão: ah, valente!




A propósito desta tirada de Jorge Sousa, tão rica de materiais sociológicos, vem-nos à ideia de que seria importante deixar os árbitros falar no fim de todos os jogos. Pois se são eles tão bem ou melhor pagos do que muitos jogadores profissionais, se são parte preponderante nos desafios, porque razão estão impedidos de assumir a sua merecida quota-parte de protagonismo deixando-nos ouvir as suas vozes formulando em voz alta os seus pensamentos?

Muitas vezes, para desculpar más decisões das equipas de arbitragem, se diz que errar é humano e que sendo os juízes humanos também podem errar sem que venha ao mundo maior desgraça do que essa mesmo, a de errar. Mas, precisamente, para lhe conferir perante o adepto comum o estatuto de humanidade era urgente ouvi-los falar todos os fins-de-semana. Ficavam iguais aos demais, a jogadores, a treinadores, a presidentes, a deixavam de ser aquelas figuras misteriosas e silentes que emprestam tão pouco de si próprios à indústria.

No nosso futebol só conhecemos os raciocínios, os dons particulares de expressão, a lógica, as metáforas mais utilizadas, a eloquência, o saber estar dos árbitros quando estes acabam as suas carreiras e passam a comunicar directamente connosco através dos jornais onde escrevem ou das estações de rádio e de televisão com quem colaboram. E aí, sim, finalmente conhecemos de perto essas pessoas que, já não sendo árbitros, estão finalmente autorizadas a revelar quem são, como pensam, como falam.

É, no entando, tarde para o efeito de humanização pretendido. Por já não serem árbitros já não lideram o que importa e já estão, perante a opinião pública, num patamar abaixo do já de si incrivelmente baixo patamar das mulheres que não mandam nas suas casas.

E esta já é uma grande inferioridade."


Leonor Pinhão, in A Bola

"...todos mamavam..." !!! (e continuam a mamar)

Devido à manutenção do Blogger, os meus últimos post's 'desapareceram'!!! Devido à importância do tema, deixo aqui o vídeo da 'confissão' do Jacinto Paixão:




No post original, questionei a relevância que foi dada à decisão do Tribunal Administrativo no dia anterior, e o quase 'esquecimento' que esta confissão teve, por parte dos mesmos avençados.

Os Benfiquistas não podem ignorar que estes métodos continuam a ser utilizados...