"Não se defende a arbitragem defendendo, em todas as circunstâncias, os árbitros. Quem o fizer estará muito enganado
O futebol português tem laborado num erro a que já me referi noutras alturas, mas a que vale a pena retornar. A páginas tantas, entendeu-se que haveria toda a vantagem em que o presidente do Conselho de Arbitragem (CA) da FPF fosse recrutado na APAF, órgão de classe dos árbitros. Percebe-se a bondade do raciocínio e a lógica de entregar as decisões a quem conhece por dentro o fenómeno, juntado-se a isto uma presunção de unidade dos árbitros em torno do seu Conselho.
O tempo tem-se encarregado de demonstrar que mesmo uma via seguida na melhor das intenções pode conduzir ao desastre.
Porquê, se estavam, em tese, reunidas todas as premissas para que a nau chegasse a bom porto?
Porque houve um pecado original que redundou em fracasso: vindos da APAF, os sucessivos presidentes do CA da FPF fizeram uma confusão trágica ao pensarem que ao defenderem corporativamente os árbitros, algo perfeitamente legítimo na associação de classe de que proviam, estavam a defender a arbitragem. Ora, os árbitros - a parte - e arbitragem - o todo - não são confundíveis e o bem dos primeiros não significa, automaticamente, a vitória da segunda.
Movidos por lógicas corporativas, os Conselhos de Arbitragem permitiram que se instalasse uma cultura de pouca exigência que manteve no activo elementos medíocres e impediu a progressão na carreira a candidatos promissores.
Hoje, e nem o presidente do CA da FPF se atreverá a desmenti-lo, temos um quadro de árbitros de qualidade mais do que duvidosa. Há alguns anos, até ao Apito Dourado, poder-se-iam imputar a lógicas corruptas os males da arbitragem. Nos dias de hoje, creio, estamos apenas perante incompetência pura e dura, fruto de uma geração que cresceu em regime de aviário, sem perceber o jogo e as suas motivações. Há uns anos havia uma expressão simples, «pisa mal» que se aplica que nem uma luva a uma série de árbitros-proveta que não têm a mínima noção do que é o jogo. Pedro Proença, hoje presidente da Liga, herdeiro do talento de Carlos Canuto, Joaquim Campos, António Garrido, Carlos Valente e Vítor Pereira, não poderá ter uma visão diferente desta. E será preciso que quem detém o poder arrepie caminho e assuma de uma vez por todas que defender os árbitros e defender a arbitragem são coisas muito diferentes...
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O VAR na berlinda por acção e por omissão
Um golo marcado (de forma escandalosa) com o braço, esteve na eliminação do Everton de Marco Silva da Taça de Inglaterra. De imediato soaram gritos de revolta por não haver ainda VAR no melhor futebol do mundo (só chega em 2019/2020). Por acção ou omissão, o VAR está na berlinda, sem fronteiras...
As contradições de Sérgio
Sérgio Conceição mantém, como treinador, a matriz dos dias de jogador. De personalidade telúrica, é um daqueles casos em que é amado pelos seus e odiado pelos outros, defendendo a causa em que limita até à enésima potência. Por tudo isto, Sérgio nunca foi visto como exemplo de 'fair play', mantendo-se mais perto do guerreiro sempre disponível para dar o peito às balas em cada batalha. Nos últimos dias, relativamente ao treinador do FC Porto, a única coisa estranha foi o apelo que fez à paz e à concórdia e, até, ao respeito pelos árbitros (basta conferir o número de vezes que ele e o director de futebol dos dragões já foram expulsos por desavenças com os juízes de campo na corrente temporada). Só por isso se tornou mais contraditória a forma com o FC Porto reagiu à derrota na final da Taça da Liga, com incidentes na bancada e a ausência (tão justamente criticada ao Benfica na final de Taça com o V. Guimarães) no momento de consagração dos leões. Sérgio Conceição é um treinador de futebol de grande qualidade, disso ninguém tenha dúvidas. Mas não é, nem nunca foi, um modelo de 'fair play'. E, ao serviço do FC Porto ou em qualquer outro destacamento, assim continuará a ser. Sinceramente, do ponto de vista de adepto (e Sérgio já disse publicamente que o seu clube do coração é a Académica), antes alguém que 'morra' pelo clube que representa num determinado momento, que muitos que juram fidelidade eterna a um só clube e por lá permanecem mais para serem servidos do que para servir..."
José Manuel Delgado, in A Bola