Últimas indefectivações
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Esta Selecção
"O adversário do sorteio do play-off para o Euro 2012 é satisfatório: a Bósnia-Herzegovina. Partindo do principio que, em circunstâncias normais, ultrapassaremos este último (e escusado) obstáculo, a verdadeira questão da nossa Selecção será posta à prova no próximo Verão.
Para tal é necessário perceber - sem nacionalismo bacocos - que o conjunto dos prováveis seleccionados está visivelmente abaixo da média das últimas competições. Por exemplo, comparando 2004 em 2012, deixámos de ter Rui Costa, Figo, Simão, Pauleta, Fernando Couto, Ricardo Carvalho, Nuno Gomes. Hoje, para além de Cristiano Ronaldo (apesar da palidez do desempenho na Selecção), Nani e Coentrão, os restantes jogadores são de boa cepa, é certo, mas não fazem a diferença nem desequilibram.
Deixámos de ter pontas-de-lança letais, a defesa está uns furos abaixo das de anos anteriores (cenário agravado pela inusitada atitude de Ricardo Carvalho) e não temos um guarda-redes de excepção.
No fundo, estamos a pagar a factura do estrangeirismo quase totalizante dos nossos principais clubes.
Por outro lado, mais de metade dos convocados não é titular nos seus clubes ou foram até dispensados. O expediente pseudo português brasileiro não foi um bom caminho. Não se percebe como há jogadores que ficam de fora (Bosingwa é o mais flagrante exemplo). E o swing convocatório não é um bom método. O sai-e-entra não favorece a estabilidade. Por exemplo, por que razão foi Quim convocado antes do início da temporada depois de um ano parado e, agora que joga, foi desconvocado?
E melhor será que Paulo Bento não fale sempre com um ar abespinhado ou amuado! E que se deixe de falar de Mourinho sempre que Portugal perde um jogo!"
Bagão Félix, in A Bola
Semana de risco
"Porque será que o matutino generalista mais lido pelos portugueses é um quotidiano que se ocupa preferencialmente, para não dizer exclusivamente, ou quase, de futebol (muito futebol e, sobretudo, muito de um só clube), de crónica negra e de crónica rosa e que chama à primeira página, com títulos sensacionalistas e nem sempre fidedignos, notícias de interesse mais do que discutível? Porque será que um jornal assim merece a primazia de tanta gente? Eu digo qual é a razão, para mim a única: é porque o índice de cultura, de literacia, de exigência moral e de esclarecimento da realidade política, económica e social do país é ainda assustadoramente baixo. Com esta carência de qualificação humana, como será possível invertermos o rumo da crise em que estamos profundamente atolados?
Para a Liga dos Campeões, o Benfica joga hoje em Basileia e o FC Porto recebe amanhã o Apoel, que são tão-só os primeiros classificados dos respectivos grupos! Quem diria? Quando se realizou o sorteio, todos pensaram e alegaram que tanto o Basileia como o Apoel seriam as equipas a descartar e que o perigo viria, para um, do Manchester United e, para o outro, do Zenit e Shakhtar. A verdade, porém, é que, decorridas duas jornadas, suíços e cipriotas comandam as classificações. É um sintoma de que alguma coisa está a mudar no futebol europeu e de que hoje a música é outra. O Trabzonspor é outro caso. Reparem: o Basileia foi empatar a Old Trafford, consentido a igualdade mesmo ao cair do pano e o Apoel depois de bater o Zenit também foi empatar ao campo do Shakhtar. Que mais será preciso para se perceber que também eles estão na luta por um lugar nos oitavos e que os dois jogos que aí vêm serão decisivos para o futuro europeu do Benfica e do FC Porto?"
Manuel Martins de Sá, in A Bola
Língua e golos
"Em cada português há um perito de futebol e um linguista do futebolês. Por exemplo, ao contrário da maior parte dos cidadões que não gostam de futebol, todos já sabemos que Kiev se diz, na Ucrânia, Kiiv, que Witsel se lê Uitsél, na Bélgica, e que o Benfica tem um goleador chamado Cárdosso, que é, pelos vistos, bem melhor que Franco Rará.
Enquanto nos orgulhamos de dizer Rámes Rodrigués e de aprender em apenas dia e meio a dizer, sem gaguejar, Gençlerbirligi - os turcos que há uns anos jogaram com o Sporting -, nem reparamos que na língua somos de facto dos maiores craques de todo o Mundo. Olhamos para Falcao e conseguimos dizer Falcáu mas se fosse preciso diríamos Falcão. Num campeonato mundial da oralidade seríamos sempre candidatos ao título, tal a facilidade com que vamos a cada um dos sons.
Não será só por uma predisposição de alma que somos povo de dar mundos ao Mundo. E que os nossos melhores brilham em quase todo o lado. Com a crise de golos que aí anda vale a pena começarmos a olhar para um miúdo que vai conquistando o seu lugar na liga inglesa. É o número 9 do Fulham e o nome é fácil de dizer, até para um inglês: Orlando Sá.
Poucos se lembram como se diz goleador em português. Há que estar atento aos valores.
..."
Nuno Perestrelo, in A Bola
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