"Anda por aí a teoria, válida como outra qualquer, de que Jorge Jesus só teve êxito no Benfica porque, ao longo destes seis anos, teve muitos e grandes jogadores. É, em parte, verdade. Sim: teve grandes jogadores: Cardozo, Saviola, Nuno Gomes, Di María, Aimar, Ramires, Javi Garcia, Fábio Coentrão, David Luiz, Luisão, Maxi, Salvio, Gaitán, Garay, Matic, Witsel, Enzo Pérez, Rodrigo, Ola John, André Gomes, Jonas, Lima, Siqueira, Oblak, Markovic ou Talisca. Mas conhece algum treinador que, sem grandes ovos, tenha feito grandes omeletas? Sim: veja o final deste texto.
Vejamos os jogadores que tinha o inglês Jimmy Hagan quando, entre 1971 e 1973, ganhou três campeonatos para o Benfica e um deles sem sofrer qualquer derrota: Artur Jorge, Humberto Coelho, José Henrique, Eusébio, Nené, Jaime Graça, Simões, Vítor Martins, Toni, José Torres, Artur Correia, Rui Jordão, Rui Rodrigues, Vítor Baptista, Shéu ou Bento. Cansa, não é, de tantos e tão bons. E Eriksson em 1983, 1984 e, depois, 1991, quando ganhou três campeonatos: Carlos Manuel, Humberto Coelho, Diamantino, Chalana, Bento, Nené, Pietra, Filipovic, João Alves, Shéu, Veloso, Álvaro, Stromberg, Manniche, Silvino, Magnusson, Pacheco, Paneira, Valdo, Aldair, Thern, Ricardo Gomes, Ademir, Fernando Mendes, Paulo Sousa, Rui Águas, William, Isaías, Neno, Sanchez, Schwarz, Iuran, Rui Costa ou Kulkov. Uf.
E o FC Porto de Artur Jorge, campeão em 1985, 1986 e 1990? Eis os jogadores: Futre, Eurico, João Pinto, Quim, Gomes, Inácio, Zé Beto, Jaime Magalhães, Vermelhinho, Lima Pereira, Frasco, André, Quinito, Semedo, Eduardo Luís, Walsh, Costa, Juary, Celso, Madjer, Mlynarczik, Vítor Baía, Demol, Rui Águas, Branco, Geraldão ou Domingos. Até dói.
O primeiro passo para se ser um grande treinador de futebol é, como diria La Palisse, perceber de bola. O segundo é ter grandes jogadores. Jorge Jesus teve-os. Jimmy Hagan, Sven-Goran Eriksson e Artur Jorge também. Há depois os treinadores que, sem ovos, fazem omeletas especiais. É o caso de Giovanni Trapattoni, campeão pelo Benfica em 2004/05. Vejamos quem, por entre Luisão, Petit, Zahovic, Quim, Geovanni, Simão, Miguel e Nuno Gomes, ajudou o italiano naquela histórica temporada: Amoreirinha, Argel, Alcides, Fyssas, Manuel dos Santos, André Luiz, Paulo Almeida, Everson, Carlitos, Bruno Aguiar ou Delibasic. Até dói, não é? É. Mas ao contrário. Se Jorge Jesus, Jimmy Hagan ou Sven-Goran Eriksson merecem uma estátua na Luz, Giovanni Trapattoni merece uma dúzia.
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Rogério Azevedo, in A Bola