"Pena que o FC Porto não tenha aderido ao futsal. O entusiasmo seria ainda maior na hoje segunda modalidade a seguir ao futebol.
Tempos gloriosos
Tempos gloriosos para o Portugal desportivo. Depois de quebrarmos o enguiço contra uma França que sempre nos cortava o sonho, sendo campeões europeus no seu próprio reduto, eis que no futsal finalmente derrotámos os espanhóis numa final europeia e num belíssimo país, como é a Eslovénia. Se a estes dois feitos, juntarmos, a nível de selecções, as camadas mais jovens que têm alcançado excelentes classificações, a nossa presença nas Olimpíadas, a primeira vez que em futebol feminino se foi a uma fase final de um Europeu, as vitórias no futebol de praia e as expectativas para o Mundial da Rússia deste ano, constamos a excelência do trabalho institucional, organizativo, técnico e desportivo da Federação Portuguesa de Futebol. A que, evidentemente, não é alheia a boa conjugação, nas nossas selecções, entre individualidades e colectivos fortes.
Teremos, assim, ultrapassando o trauma idiossincrático do quase que sempre nos tem acompanhado no desporto. Teremos superado o tempo das vitórias morais que falsamente nos pretendiam consolar na desventura. Passámos a ser respeitados e considerados nas organizações europeias e mundiais e a ser temidos como adversários nas competições.
Só é lastimável que este tempo vitorioso e sustentado seja acompanhado, a nível interno, por uma necrose desportiva e uma patologia destrutiva. Por isso, não é surpreendente que a nível de selecções estejamos por cima e a nível do ranking das equipas estejamos no plano descendente e a cavar o fosso para as principais ligas (ainda que aqui haja outras razões poderosas e financeiras que muito explicam).
Nas horas e dias seguintes à vitória europeia no futsal o que continuámos a ver? Em progressão logarítmica, o efeito nocivo de alguns programas em alguns canais televisivos de notícias. É até confrangedor ver pessoas respeitáveis no meio de touradas de sangue onde só falta o bicho. Ali, com mais ou menos desrespeito ou fanfarronice, o que importa é excitar a discussão pela discussão, dar argumentos de ódio para ouvintes mais propensos à acefalia, repetir imagens de «enorme importância» vezes sem conta até se ficar nauseado. Os oráculos que se lêem debaixo de ecrãs, divididos aparvalhadamente em 3 ou 4 partes, são um pré-incitamento à violência. Propaga-se incontroladamente o mau exemplo, o rastilho do ódio, a acendalha lançada para cima do fogo tão artificial, quanto teatral. Pedagogia do bom exemplo é coisa rara, com direito, quando muito, a rodapés e fugidios momentos de ecrã.
Em suma, a vitória europeia esfuma-se a discussão doentia volta a instalar-se dominante.
Voltando ao futsal, a modalidade tem muito beneficiado pelo facto de o Sporting e o Benfica o praticarem, como, aliás, o Sporting de Braga, o Belenenses e o Rio Ave. Pena que o FC Porto não o tenha feito, porque, creio, que o entusiasmo seria ainda maior na hoje segunda modalidade a seguir ao futebol.
Só um ponto me desconforta: a menor atenção que se vem dando ao hóquei em patins, apesar de ser agora mais televisionado. É um desporto no qual temos largas credenciais, é bonito de se ver jogar, e o campeonato entre os habituais três grandes a que acresce a Oliveirense e um campeão improvável há poucos anos (Valongo) é a melhor liga mundial de hóquei. E, no entanto, é relativamente mais secundarizado, mesmo até nos festejos políticos-mediáticos. Em 2016, voltámos, finalmente, a recuperar o título de campeão na Europa e o assunto quase passou despercebido.
Na frente tudo na mesma
Mais uma jornada, onde com maior ou menor facilidade, os sempiternos candidatos venceram. Começa a ser regra os jogos teoricamente mais complicados serem bem mais fáceis e, ao mesmo tempo, se perderem pontos em encontros encarados como acessíveis, com equipas do fundo do tabela. O Porto com o Moreirense e Aves e, até ao intervalo, com o Estoril, O Sporting com o Estoril, Vitória de Setúbal e o Moreirense. O Benfica empatou recentemente com o Belenenses (logo a seguir derrotado copiosamente com o Aves) e perdeu no Bessa (com um Boavista agora em melhor posição na tabela). Aquelas bolinhas tipo semáforo com que os jornais costumam classificar as jornadas que faltam estão a ser trocadas nas cores depois dos jogos efectuados.
Rui Vitória, sem se queixar, lá vai colmatando, com mais ou menos dificuldade, as lesões e ausências de jogadores fundamentais. Agora calhou a vez de Jonas que bem espero recupere depressa porque é absolutamente imprescindível para lutar pelo pentacampeonato, e do infeliz Salvio, de novo operado. Rafa - jogador que tem inegáveis qualidades - continua a desperdiçar oportunidades para se impor e justificar o elevado investimento que o clube fez. Tem de passar da fase prolongada do quase para uma presença completa no campo. Cervi, por sua vez, merece todos os encómios: velocidade, capacidade de desequilibrar, boa reacção defensiva, tudo apesar de ser fisicamente um peso-pluma Zivkovic tem mostrado que é a melhor solução para substituir Krovinovic.
Ainda dois apontamentos: o primeiro para registar a quantidade de golos aéreos que a defesa sofre. E, perante isto, a minha dúvida. Se, por um lado, a defesa ganha velocidade com os actuais titulares e joga mais perto da linha média, por outro Luisão (parabéns pelos 37 anos) assegura aspectos posicionais que não têm sido tão bem preenchidos agora. Difícil escolher, pelo menos para mim, mero treinador de teclado... O segundo ponto relaciona-se com a posição de guarda-redes. Nada tenho contra o jovem Bruno Varela que, neste contexto, deve continuar a ser o titular. Mas costuma dizer-se que as grandes equipas não basta um bom keeper, é preciso que seja excelente. E o Benfica teve ultimamente dois: Oblak e, sobretudo, Ederson. Guarda-redes que dão pontos e títulos. É que na maioria dos jogos, um guardião do SLB só faz duas ou três defesas em que qualquer falha pode ser decisiva. Bruno Varela é um excelente profissional tem evidenciado algumas lacunas sobretudo no jogo aéreo e em certas hesitações fora dos postes.
Contraluz
- VAR: Continua o seu caminho...
... que, apesar de todas as críticas, tem um balanço positivo. Já repôs a verdade desportiva em muitos momentos. Agora o que não pode acontecer é o sucedido no jogo Sporting - Feirense em que árbitros e VAR andaram literalmente aos papéis, quer dizer ao protocolo!
- Frase: «Formar em vez de naturalizar»...
... disse muito bem Fernando Gomes, presidente da FPF. A propósito, Rússia e Cazaquistão tinham uma mão-cheia de... brasileiros.
- Regresso: Manuel Cajuda...
... de novo a treinar em Portugal. Agora no Académico de Viseu. Estreou-se a jogar em casa do Benfica B e de que maneira, vencendo por 5-1! Está em boa posição para subir à divisão principal, 40 anos depois. Bem merece a cidade e o clube.
- (In)coerência: Dos especialistas na contabilidade de penalties...
... por marcar a favor da sua equipa. Para eles, qualquer sopro na área de rigor é logo considerado um erro crasso. Se foi ao contrário, bico calado, não se passa nada. Desde os dois penálties por assinalar no Dragão a favor do Belenenses (havia 0-0) até aos dos do Maxi Pereira em Chaves (havia 0-0).
- Lamento: A quase ausência dos Jogos Olímpicos de Inverno...
... nos meios de comunicação, à excepção da RTP 2 que faz um bom e bem comentado resumo diário. Bem sei que os desportos nele incluídos não fazem parte do nosso panorama de competições e que a nossa representação se limita a dois estrangeirados. Mas mesmo assim merece ser noticiado e acompanhado.
- Mentira: Cazaquistão
País asiático, joga na UEFA por ter uma pequeníssima parte europeia a oeste do rio Ural. Calhou ao Sporting ir à Ásia (Astana) para jogar na Europa. Em 2015/16 foi ao Benfica. Uma aldrabice geográfica..."
Bagão Félix, in A Bola