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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Nada mais sem ser Eusébio: «Eu era o Pelé!»

"Sempre gostaram de comprar Eusébio a Pelé. Todos menos Eusébio. A auto estima não o deixava. Com razão. À sua maneira ele era único! Mais único que nem um outro.

Peço desculpa se vos maço, se nos aborreço. Mas Eusébio é Eusébio e eu vou voltar a falar de Eusébio.
Eusébio nunca gostou que o comparassem com Pelé.
Dizia:
- Mas porquê?, perguntava.
- Por que insistem em querer comparar-nos? Eusébio é Eusébio; Pelé é Pelé. Somos duas pessoas distintas. Por que hei-de ser eu o Pelé da Europa e não há-de ser ele o Eusébio das Américas?
E ia por aí fora, como se tivesse a bola colada aos pés e adversários para ir tirando da frente da baliza:
- Não é que eu fique inferiorizado pelo facto de me comparem com o Pelé. Claro que não! Ele é «O Rei», «O Maior», o mais categorizado jogador de todo o mundo. Para ser como Pelé, ainda tenho de aprender muito, muitíssimo. E talvez nem chegue nunca a ser como ele. Mas eu tenho um nome! Eu sou Eusébio! Não me chamo Pelé, nem quero que me chamem de Pelé. Bem sei que a comparação só me deve orgulhar, sinto-me honrado, mas prefiro que me tratem pelo nome e não passem a vida a chamar-me Pelé da Europa como ainda agora fizeram os jornais brasileiros e venezuelanos. Bem sei que querem dizer com isso que sou o melhor jogador da Europa mas, sinceramente, não me considero o melhor jogador da Europa nem sequer o melhor jogador do Benfica. O melhor de todos é o Coluna.
- Atrás do tempo, tempo vem...
- No dia 29 de Junho de 1958, o Brasil venceu a Suécia, no Estádio Raasunda, em Estocolmo por 5-2. Pela primeira vez uma selecção vencia um Campeonato do Mundo num continente que não o seu; pela primeira vez uma selecção vencia uma final de um Campeonato do Mundo de goleada. Pelé tinha somente dezassete anos. «Pelé é um menor total, irremediável», gritava Nelson Rodrigues nas páginas da 'Manchete Desportiva'. «Não pode nem assistir a um filme da Brigitte Bardot. Ao receber o ordenado, o bicho, é o pai que tem de representá-lo. Pois bem: - Pelé assombrou o mundo! Não se limitou a fazer os gols. Tratava de enfeitá-los, de lustrá-los. (...) Ninguém é melhor do que ele. Tivesse jogado contra  Inglaterra e creiam: - havia de driblar até a rainha Vitória».
- Eusébio é apenas um pouco mais novo do que Pelé. Pelé nasceu no dia 23 de Outubro de 1940, em Três Corações. Nasceu Edson Arantes do Nascimento e só mais tarde foi Pelé. Chegou ao mundo antes de Eusébio e chegou ao Futebol também antes de Eusébio. Eusébio foi sempre Eusébio. Mas precisou de esperar para ser o Eusébio do povo, o esplendor de Portugal. Em Portugal a burocracia não se compadece nem com Eusébios.
- Afirma Eusébio: «Não se falava noutra coisa. Brasil, campeão do Mundo, o Futebol fantástico, os dribles, os golos. Além disso, tinham sido equipas brasileiras a deixar mais cartel em Lourenço Marques, nas poucas vezes que éramos visitados por clubes estrangeiros. Por isso baptizámos o nosso clube de FC Os Brasileiros. E cada um de nós tinha o seu nome de guerra correspondendo aos grandes craques. Um era o Didi, outro o Garrincha, outro o Zagalo, e por aí fora. E eu? Tenho de contar tudo, não é? Então não faz mal dizer que eu era o Pelé...».
- Eusébio, Pelé; Pelé, Eusébio: os dois nomes parecem ligados por um hífen. Às vezes, Eusébio levava a mal a comparação, irritava-se, desabafa: «Chamam-me o Pelé da Europa? Porquê? Por que não chamam ao Pelé o Eusébio da América do Sul?» Mas uma saudável amizade os uniu desde que se encontraram pela primeira vez, em Paris, no Parque dos Príncipes, num extraordinário Benfica-Santos que marcou a estreia internacional do menino de Mafalala.
Benfica-Santos! O Parque dos Príncipes entra em delírio. De dentes cerrados, absorto na bola, no jogo, nos movimentos próprios e alheios, Eusébio é maior do que Pelé, rouba-lhe o protagonismo, força-o a um papel secundário, subalterno. Milhares de pessoas, encantadas, enfeitiçadas, gritam o seu nome. Ele não as ouve. A sua obra está ainda incompleta. O seu esforço é monstruoso: por si só, reconstrói um conjunto em seu redor, carrega-o consigo no trilho de uma recuperação espectacular. A luta pode ser desigual, mas ele ignora-o. É um vendaval de músculos, tendões, ossos e cartilagens que desaba sobre um opositor entontecido. O seu entusiasmo desperta a rebeldia dos companheiros. O Benfica domina, agora, os acontecimentos. Eusébio marca mais um golo, faltam dez minutos para o final do jogo, há quem acredite ainda no impossível. Dez minutos não chegam. Pelé é Pelé e teima em recordá-lo àqueles que, por momentos, o esqueceram: faz o 6-3 final.
- Dia 15 de Junho de 1961: o Benfica-Santos ficará riscado a giz na lousa dos acontecimentos inesquecíveis.
- «Eu respeitava-os, mas não lhes tinha medo», disse Eusébio, mais tarde. «Eram bons, eram fantásticos, mas também era homens como nós. Além disso, entrei com a equipa a perder por 0-4. Deu-me uma certa tranquilidade: vendo bem, não poderia fazer muito pior nem estragar o conjunto. E estava alegre por ir defrontar o Pelé, o mestre do Futebol. Contaram-me que o público gritava o meu nome. Não dei por nada. Estava entretido com a bola. Acho que Paris me deu sorte».
- Sorte? Para Eusébio não existia. Era Eusébio e mais nada.
- Nada mais sem ser Eusébio..."

Afonso de Melo, in O Benfica 

O ketchup do Benfica

"Recordar-se-ão da metáfora de Cristiano Ronaldo, usada há uns anos, perante uma breve e incomum crise de golos na Selecção. Dizia o jogador do Real que "os golos são como o ketchup. Quando aparece, aparece tudo de uma vez". A metáfora pode bem servir para o Benfica deste ano, não em relação aos golos (que não têm faltado desde o inicio da temporada), mas quanto às exibições.
As boas exibições do Benfica são como o ketchup: demoraram a aparecer, mas quando apareceram foi em catadupa. Claro está que não se começa a jogar bom futebol por obra do acaso. Há sempre razões para isso. Podemos pensar que o Benfica melhorou e muito - porque se foi adaptando, finalmente, às ideias de Rui Vitória. Em parte é verdade. Mas as explicações talvez sejam mais simples.
O Benfica começou a jogar um futebol convincente a partir do momento em que estabilizou o onze titular e, no essencial, quando ganhou um novo equilíbrio no meio-campo. A entrada de rompante de Renato Sanches ofereceu intensidade e metros de profundidade ao corredor central, enquanto Fejsa contribuiu para compensar defensivamente a equipa. Mas a grande surpresa é, talvez, a forma como Pizzi, partindo do corredor, consegue criar movimentos pendulares para o centro, colocando o Benfica em superioridade numérica a atacar.
Assim se explica o bom momento do Benfica. Mas para que o ketchup atacante continue a aparecer, faltam laterais que garantam profundidade nos corredores e, acima de tudo, o regresso do talento superlativo de Gaitán."

A interminável viagem de 'uma valorosa automobilista nortenha'

"Era 1950 e o emblema do Benfica ostentava-se altaneiro no seu Lancia triunfante, numa época em que poucas mulheres guiavam.

Na madrugada de 18 de Maio de 1950, em 12 cidades europeias, deu-se o sinal de partida para o 4.º Rally Internacional de Lisboa e entre os concorrentes estava a benfiquista D. Laura de Magalhães, 'o que, convenhamos, não é caso vulgar'. Foi a única a sair do Porto, pronta a cumprir o desafio que lhe avizinhava, apesar de só ter a carta há um ano e meio: três noites e dois dias, 3000 Km e 60 horas consecutivas de condução. Sempre acompanhada pela sua mãe (que não sabia conduzir), guiou até ficar com as mãos calejadas, parando várias vezes para beber café, não tanto pelo sono mas pelo cansaço de 'tanto fixar as estradas, horas e horas a fio...'.
À medida que percorria as  estradas lisboetas, ladeadas por bastante público, D. Laura foi alvo de grandes ovações. Tinha sido a única portuguesa a concluir o percurso! Todavia, esta aventura não terminava por aqui. Apesar de tanto os carros como os condutores mostrarem sinais desta extenuante prova, ainda faltavam a de velocidade até ao Estoril e, no dia seguinte, 21 de Maio, as complementares. A atleta 'tornou a comportar-se muito bem', mas a vitória em senhoras foi para Joy Cook, inglesa.

Na cerimónia de entrega dos prémios, no Casino do Estoril, D. Laura envergava um vestido negro e 'duas lágrimas a bailar nos cantos dos olhos', não por ter ficado em segundo mas por uma questão de justiça: o Ford da inglesa perdera a chapa que a credenciava como concorrente do concurso e, de acordo com o regulamento, isso implicava a sua desclassificação. Mas a sua reclamação, entregue nessa manhã, tinha sido devolvida por já ter sido ultrapassado o prazo... O desalento era total!
Chegara a hora da entrega do troféu de senhoras e uma voz anuncia: '-Primeira classificada: - D. Laura Pinto de Magalhães'! Tinha-se confirmado a infracção e todos acorreram a felicitá-la. Estava radiante, mas fez questão de frisar: '- Mas não julgue que se trata de um caso de vaidade... Trata-se sim de uma questão de brio, tanto mais que eu tinha de dar uma satisfação ao Porto e ao Benfica... Esta foi a primeira prova em que tomei parte depois de ter ingressado no Benfica. De aí a minha maior satisfação'.

Pode conhecer outras vitórias de automobilismo na área 4. Momentos Únicos, no Museu Benfica - Cosme Damião."

Lídia Jorge, in O Benfica

Espaço para crescer

"O quarto título consecutivo do atletismo do Benfica no Campeonato Nacional de Estrada sugere vários motivos para reflexão e a principal nota a reter aponta para o reforço da aposta que foi ganha na formação.
Desta feita, os encarnados não contaram com Manuel Damião e Rui Pedro Silva, lesionados, e ainda viram Rui Pinto abandonar a competição. Dois jovens, Samuel Barata (22 anos) em 7.º lugar e André Pereira (20 anos) na 8.ª posição deram particularmente nas vistas e os lugares alcançados deixam antever que há espaço para crescerem. Ainda é muito cedo para se ter certezas quanto às suas reais capacidades, nestas idades, mas não deixa de ser sintomático que os dois corredores representam uma mensagem de esperança, que há muito não se via.
A evolução destes dois corredores irá depender do seu enquadramento técnico e das condições de apoio. O Benfica fez o trabalho de base e aos poucos está a lançá-los na alta competição. Se a Federação Portuguesa de Atletismo der a devida atenção às suas carreiras pode acontecer uma mudança de paradigma num sector de meio-fundo e fundo que não tem qualquer base de renovação e de sustentação.
Durante duas décadas, o Maratona e a Conforlimpa eram alternativas válidas ao Sporting e Benfica, dominando as provas de corta-mato e estrada, sem qualquer oposição de leões e águias. Agora. o contexto é completamente diferente, mas o Benfica encontra-se em vantagem por estar a obter frutos do trabalho feito na formação. Os tempos mudam."

Redirectas XI - Orgulho Em Ser Benfica


O Benfica tem memória. Os benfiquistas têm memória. Tenho orgulho em ser Benfica também por isso. Quem honra os seus merece ser honrado. E o Benfica honra os seus. Nem sempre foi assim. Lembro-me de vários episódios. Mas esta direcção trouxe o humanismo benfiquista para o primeiro plano. As velhas glórias. Os ex-presidentes e dirigentes. Os símbolos vivos do clube homenageados. 
O Fehér nem era um jogador de excepcional qualidade. Se tivesse sobrevivido teria o mesmo caminho de muitos, mas não foi por isso que foi menos recordado. Era um dos nossos. E se fez a grande passagem com o nosso manto vestido passou a sê-lo para a eternidade. Assim o quis a providência. Por esta altura do ano é esse o sentimento que me fica. O sentimento do jovem que fez a grande viagem e o sentimento da nação benfiquista no acontecido. Nós sempre junto dos nossos. E nisso o nosso presidente foi o primeiro a dar o exemplo e nisso temos todos de reconhecer o mérito. Como é o caso da fundação que tão bem tem feito por esse mundo fora. Estamos contigo Fehér! Viva o Glorioso Sport Lisboa e Benfica! E Pluribus Unum.