"Com os três grandes fora das contas, as cadeiras desocupadas nos jogos da I Liga, onde já houve três jogos, esta época, abaixo dos 800 espetadores, são um drama. E os dois últimos da classificação estão logo a seguir a Vitória e Braga, em número de adeptos nos estádios...
Como dizia há uns anos o atual secretário-geral das Nações Unidas, «é só fazer contas.». E, fazendo contas, tem-se noção da irracionalidade do formato das nossas competições profissionais de futebol, quer quanto ao número de clubes, quer quanto ao formato. Ao longo dos anos temos sido bombardeados com propaganda que pretende levar-nos a acreditar que temos uma Liga altamente competitiva, recheada de futebol de primeira água, e espetáculos emocionantes, pela qual se babam os operadores televisivos do mundo inteiro. Infelizmente, não é assim, no plano internacional já fomos ultrapassados pelos Países Baixos e corremos seríssimos riscos de virmos a ser também superados pelos belgas; e a nível nacional, se tirarmos Sporting, Benfica e FC Porto da equação, os resultados são esquálidos, e apontam para a necessidade premente de encontrar uma fórmula que compatibilize a realidade com a competitividade e o sucesso financeiro. A venda centralizada dos direitos televisivos continua atrasada para as calendas (continuo com dúvidas fundadas que veja a luz do dia nos moldes em que está prevista, e se tal vier a acontecer, chegará com pelo menos 15 anos de atraso), e a competição, grandes à parte, atrai muito pouco público. Regressemos a Guterres e às contas: até à 26.ª jornada da Liga, o número médio de espetadores nos estádios dos restantes 15 clubes, expurgando os jogos com os ‘grandes’, era o seguinte;
1 - Vitória Sport Clube, 16.787;
2 – SC Braga, 11.458;
3 – Farense – 5.424;
4 – Boavista – 5.188;
5 – Gil Vicente – 4.022;
6 - Famalicão - 3.384;
7 – Estrela da Amadora – 2.882;
8 – Rio Ave – 2.685;
9 – Santa Clara – 2.128;
10 – D. Aves (AVS SAD) - 1.873;
11 – Nacional – 1.777;
12 – Moreirense, 1.718;
13 – Arouca – 1.653;
14 – Estoril – 1.499;
15 – Casa Pia – 1.236.
A média de ocupação dos estádios é de 38,8 por cento. Deve ser ainda referido que assistiram ao AVS- Gil Vicente, 726 espetadores, ao AVS-Arouca 759, e ao Arouca-Moreirense, 756.
Quem pensar que este nível de interesse dos adeptos pelo espetáculo ao vivo não tem significado, e preferir continuar a fazer o que tem vindo a ser feito desde sempre, que mais não é do que tapar o sol com uma peneira, não só chegámos à beira do abismo, como estamos prontos a dar o passo em frente. Aproximam-se as eleições para a Liga, mas as matérias relevantes, como a remodelação dos quadros competitivos (olhem para a Bélgica!), não entrarão na órbita da discussão, porque terão sempre de passar pelo crivo dos clubes, demasiados interessados no próprio umbigo, e a portarem-se com a orquestra do Titanic relativamente à indústria do futebol. Mas, do debate que se aproxima entre os candidatos à sucessão de Pedro Proença, pelo menos que sejam trazidos para cima da mesa estes temas fraturantes, que afastam, com a frieza dos números, a história da carochinha que nos diz que vivemos, como a Alice, no País das Maravilhas. Não! Há clubes a mais na I Liga, e há demasiados jogos desinteressantes, que contribuem para a mediocridade, e obrigam a que o nível médio da competição seja puxado para baixo."