Promete ser espetacularmente de gritos o próximo campeonato de futebol. Agora é que é mesmo: Benfica, FC Porto e Sporting (mera ordem de classificação na anterior Liga) precisam de ser campeões. Precisam! Os três arriscam imenso! Quiçá mais do que nunca. E, no final, inevitável, haverá dois perdedores...
Todos na zona vermelha do conta rotações (e desta feita, também mais do que nunca, incluindo os três treinadores...), quem arrisca ainda acima do risco dos outros? Luís Filipe Vieira e Rui Vitória? Pinto da Costa e Julen Lopetegui? Bruno de Carvalho e Jorge Jesus?
Adeptos do Benfica, regressados ao hábito de vencer, reclamam 3.º título consecutivo (aí, sim, haveria retorno da longínqua hegemonia benfiquista). Se esse objetivo falhar, cabo das tormentas para Luís Filipe Vieira que, provocando quase generalizada estupefação, empurrou Jorge Jesus para a porta de saída (enorme maioria de adeptos, de qualquer dos gigantes, está-se nas tintas para restrições financeiras e projetos a médio prazo; quer é títulos; sobretudo na massa de adeptos nos quais se enraizou esse ótimo sabor...).
Ainda assim, Vieira poderá contrapor, a par da necessidade de vacas magras nas finanças, o trunfo dos dois últimos títulos. E do regresso de Benfica campeão também em quase todas as outras modalidades. Chegará para anular eventual fiasco no futebol? Depende do nível do fiasco. Muito dificilmente se equipa em reconstrução com escassez de meios for atirada para regresso aos consecutivos anos de Benfica limitado ao 3.º lugar.
Rui Vitória arrisca, mas bem menos. Se acontecer flagrante dissonância de meios face aos que teve o seu antecessor (embora o último título tenha sido grande proeza de Jorge Jesus, após perder, de rajada, 8 campeões!, e perante o luxo do plantel portista). Que plantel Vieira irá dar ao novo líder técnico? Rui Vitória, pressionado pelo novo projeto de aposta em jovens vindos da formação, logo frisou: «Sim mas não sou tolinho...».
FC Porto não pode perder 3 campeonatos a fio... E agora, subitamente, vê forte hipótese de novo Sporting ampliar o habitual palco de duelo com o Benfica.
Pinto da Costa decidiu manter Lopetegui. Ambos pressionados ao máximo. Por isso, já se percebeu: o FC Porto perde Danilo, Casemiro e Jackson, mas encaixa milhões de euros à escala de dezenas e não irá desinvestir. Pelas contratações já feitas e pelas que parecem a caminho, com base no Dragão estará outro plantel de luxo. Ou como Lopetegui estará proibídissimo de voltar a falhar... Se isso acontecesse, o pedestal de Pinto da Costa muito abanaria.
Jorge Jesus assume a responsabilidade de intenso foco como protagonista de revolução à vista. No entanto, é de Bruno de Carvalho o máximo risco. Na grande cartada de contratar o treinador bicampeão apostou tudo. Dificílimo meio termo entre estrondoso êxito e início de desmoronamento. Bruno de Carvalho acerta em cheio nos treinadores: Leonardo Jardim, Marco Silva, Jorge Jesus. Contraponto: com o primeiro, desafinou-se na ponta final (mau grado o 2.º lugar); com o segundo, criou verdadeira borrasca logo a meio da época e teceu indigno final (apesar da conquista da Taça de Portugal). Agora, tendo arriscado enorme salto em frente Bruno de Carvalho enfrenta enorme diferença: está absolutamente dependente de Jorge Jesus (êxito ou fracasso).
Por isso, ao presidente do Sporting não bastará o enorme e tão inesperado, investimento financeiro neste treinador. Terá de prossegui-lo no plantel. Nas receitas não concretizadas por veto de Jorge Jesus às saídas dos mais valiosos jogadores. E na aquisição dos reforços a sério que Jorge Jesus reclama e lhe terão sido prometidos. Reviravolta na política de treinador e plantel com baixos custos. E rápido acentuar de aposta em recrutamento na formação fica adiado. Porque, se Rui Vitória já frisou não ser tolinho, Jorge Jesus é... raposa velha.
Conclusão: as duplas responsáveis no FC Porto e no Sporting arriscam ainda mais do que a do Benfica, apesar de tudo...
Santos Neves, in jornal A Bola