"O SL Benfica consagrou-se, no passado dia 10/06, o novo campeão nacional de basquetebol. Posto isto, os encarnados derrotaram o FC Porto no Dragão Arena (3-1) e levaram para casa o 28.º campeonato de basquetebol cinco anos depois da última conquista.
Relativamente à série (porque a análise irá se cingir no global dos quatro jogos), podemos descreve-la com o poder, astúcia, domínio e controlo total de uma equipa (SL Benfica) perante outra (FC Porto), que se revelou limitada, sem poder de fogo e com pouco engenho para dar a volta ao rumo dos acontecimentos.
Em suma, quatro jogos das duas melhores equipas do campeonato, não obstante tenha sido uma série recheada de jogos de pouca emoção, baixa competitividade, margens de diferença muito grandes (excetuando no jogo dois, onde a diferença foi, ainda assim, de oito pontos) e baixas percentagens de lançamento.
Apesar deste prefácio pouco sorridente e algo «frio» sobre os quatro jogos das finais, estas, tiveram vários aspetos bem interessantes de ressalvar (também não estivéssemos a falar de duas equipas com dois enormes treinadores), pelo que na análise irei objetivamente centrar-me no primeiro jogo, fazendo a ponte de análise para todos os restantes.
Pressão e Classe
O jogo um sintetiza e abre as hostes para o que seriam os próximos jogos: domínio acentuado do SL Benfica nos dois lados do campo e um FC Porto com muitas dificuldades em transição, em encontrar vantagens, e com o ataque estagnado e pouco fluído.
Obviamente, importa sublinhar que as variações defensivas do SL Benfica (reação forte após cesto, defesa homem a campo todo, zona 1-3-1/2-3) são coniventes desta dificuldade azul e branca, ao passo que Moncho López não conseguiu adaptar-se à adversidade provocada pelos encarnados. Em cima disso, o FC Porto não conseguiu equiparar o talento individual do SL Benfica nem a profundidade em termos de plantel. Não é que o FC Porto tenha «saltado» menos homens do banco que o SL Benfica – por exemplo, nos primeiros dois jogos os portistas saltaram seis jogadores, enquanto os encarnados apenas conseguiram fazer saltar quatro – o problema é que a qualidade/experiência dos homens que o SL Benfica tinha no banco não se aproxima dos homens do FC Porto.
Em termos individuais destaco Makram Ben Romdhane e José Barbosa como os principais elementos do SL Benfica fora do cinco inicial, pela inteligência e maturidade em todas as ações, sendo Makram um jogador claramente diferenciado do ponto de vista da LPB.
No vídeo abaixo será demonstrado algumas ações que, ao longo dos quatro jogos, considerei que tiveram impacto e que traduzissem bem a diferença entre ambos os conjuntos. Por exemplo, a diferença de atuação no 2×2 a meio campo, o modus operandis do SL Benfica em ataque posicional, a compreensão de jogo de algumas individualidades e ainda a forma de atacar do FC Porto.
Os azuis e brancos apenas conseguiram criar perigo, no 2×2, com Max Landís ou Francisco Amarante, pelo que a ameaça ao nível do tiro exterior de ambos acabou por obrigar os defensores do SL Benfica a não saltar por cima do bloqueio direto, ao contrário do que aconteceu com Kloof, que basicamente foi solicitado/desafiado pelos homens do SL Benfica para lançar. Para se entender a dificuldade do neerlandês em marcar triplos, o base marcou 2/11 do tiro exterior, sendo que muitos não foram contestados. Com toda a certeza que Norberto Alves «viveu bem» com os lançamentos de fora de Kloof…
Norberto e Broussard
Tocando em Norberto Alves (o obreiro desta conquista), este impôs uma faceta diferente no SL Benfica: mais versátil, forte defensivamente e, acima de tudo, coletiva. Antes, com Carlos Lisboa, observamos um SL Benfica menos senhor do seu destino, mais apostado na aleatoriedade dos jogadores e da sua destreza individual. Umas vezes teve sucesso…contudo, nem sempre foi do agrado da massa adepta encarnada.
Agora, com Norberto, temos um SL Benfica orientado para ações que potenciem as maiores qualidades dos jogadores, sendo que, por exemplo, o ataque losango liberta os lançadores e, no 2×2, o SL Benfica apresenta jogadores de grandes recursos na tomada de decisão, nomeadamente com Gaines, Broussard e Barbosa, que apesar de não aparecer no vídeo, foi fundamental no pick and roll no jogo 4. Em adição, o SL Benfica conseguiu sempre afrontar o forte jogo interior do FC Porto (a maior valência do jogo portista) e teve em Ivan Almeida, Betinho, Lewis jogadores de alta dimensão para conquistar ressaltos.
Por fim, sem esquecer Aaron Broussard – o MVP da final – ao passo que o norte americano foi sinónimo de classe e contribui de forma decisiva no jogo 4 (18 pontos, três ressaltos, seis assistências, um ressalto), sendo o cerne do ataque encarnado e o principal jogador ao nível da tomada de decisão (lançamento e passe).
Em suma, o SL Benfica, em contraste com o FC Porto, teve sempre em maior proeminência os melhores decisores da equipa – Broussard, Betinho, Gaines – ao contrário do FC Porto que ressalvou um ataque em montanha russa e uma defesa muito pouco característica dos 12 anos de Moncho López."