"Como me confidenciava um amigo no fim do Benfica-Nacional, houve um certo regresso ao tempo dos nossos pais e avós nesse último jogo. Jogar bem, ganhar de forma clara e ouvir assobios porque se quer mais, é o Benfica mais fabuloso da década de sessenta de volta. O meu avô sempre me contou que quando demos 5-1 ao Real Madrid os adeptos saíram a cometar que se falhou um golo fácil e deviam ter sido seis... Devemos agradecer a Jesus o regresso do melhor Benfica, até os adeptos já estão ao nível dos melhores tempos.
O verdadeiro benfiquista não justifica derrotas, nem explica desaires, pelo contrário, a especialidade é mostrar moderação e até enfado pelas vitórias repetidas. O peso da camisola é isto mesmo, há colinho dos adeptos, mas também há exigência, por vezes muito além do racional, até porque no Benfica, e na imensa paixão que o move, o racional é muitas vezes marginal.
Contra a Académica espero uma vitória clara, uma exibição de gala e uma assobiadela pela forma escandalosa como o Lima vai falhar o quarto golo... Assim, ficará tudo em sintonia. A equipa com a história do clube e os resultados em linha com os adeptos.
O jogo com a Académica tem o perigo de não ser perigoso. Por não ser teoricamente um dos desafios mais difíceis, poderá levar a algum relaxamento, o que seria fatal. A Académica de Coimbra tem feito uma sucessão de jogos incrível, sempre sem perder, recuperou imenso nos últimos oito jogos e tem já uma posição tranquila na classificação.
Acresce também que foi a única equipa além do FC Porto a vencer o Benfica de Jorge Jesus, em seis anos, no Estádio da Luz, para o campeonato. Há portanto riscos estatísticos a ter em conta. Faltam sete jogos (oito com a final da Taça da Liga) e teremos de os vencer à Benfica."
Sílvio Cervan, in A Bola