"Mil, festejaram eles. Mil enganos. Mil cenas macabras. Mil histórias tristes. A memória já não abarca todas, tantas que são. Jornalistas espancados, quantos foram? Uns à porta de casa outro à saída do Estádio Mário Duarte, em Aveiro (e era o mestre dos mestres!); outro no Estádio do Restelo; ainda mais um em directo na TV, em pleno relvado das Antas... E mais?
Um fotógrafo atropelado! Até as fotografias incomodam quem gosta de viver na escuridão, não é? Viagens oferecidas a árbitros com destino de Brasil. Um árbitro perseguido por uma equipa quase inteira para vergonha de quem ainda hoje assiste àquelas imagens sinistras. Árbitros intimidados, agredidos à força de peitadas por jogadores inimputáveis.
Árbitros escolhidos a dedo com o compadrio dos patrões da arbitragem para forjarem vitórias bufas, resultados martelados, conquistas sem valor...
Um árbitro convidado para um café e um envelopezinho recheado numa casa obscura da Madalena na véspera do jogo no qual deveria ser absolutamente imparcial. E quantos mais por lá passaram, com café e envelope? Tantos certamente... Jogadores insubmissos ameaçados com tiros nos joelhos. Treinadores insultados e com os seus carros destruídos. Prostitutas entregues a domicílio, em quartos de hotéis nos quais pernoitam juízes de linha. Quem as paga? A conta apresenta-se lá no alto da torre e arquiva-se como despesa de refeição. Árbitros estrangeiros refastelam-se nas marisqueiras de Matosinhos garantido finais europeias. Mais envelopes. Mais trabalho para a contabilidade da torre das Antas...
Do alto dos viadutos chovem sacos com pedras de calçada sobre viaturas inocentes. Tentativas de homicídio também valem. Das bancadas chovem pedras e bolas de golfe. Ninguém liga. É assim a vida e a lei a oeste de Pecos: não há vida nem lei. Ufa! Tanta porcaria também cansa!"
Afonso de Melo, in O Benfica