"A UEFA é fantástica. E trabalha bem. E depressa. Bastou uma reclamação da Juventus - esse paladino do fair-play - para que em Nyon se antecipasse em uma semana a reunião do Comité Disciplinar para julgar um lance, envolvendo Enzo Pérez, descortinado numa repetição televisiva do recente Benfica-Juventus. Não há memória de tanto zelo por parte da organização presidida por Michel Platini (que bela carreira fez ele pela Juve, 147 jogos, Bolas de Ouro, campeão europeu no Heysel Park...), que concedeu ao Benfica 24 horas para apresentar defesa. Provavelmente, bastaria aos encarnados, se tivessem tempo, mostrar mil lances daqueles que não receberam qualquer reparo a posteriori da UEFA. Em tempo útil, é duvidoso que o consiga...
Sejamos absolutamente claros. À UEFA não basta ser séria. precisa parecê-lo. E esta decisão em cima da hora, que objectivamente pode favorecer a Juventus, que por acaso tem por estádio a sede da final da presente Liga Europa, cheira a esturro à distância. Como se não bastasse terem enviado a Lisboa, para dirigir a primeira mão, um dos árbitros de maior confiança do italiano Pierluigi Collina, surge agora esta tentativa atabalhoada (mas, se calhar, eficaz, porque a justiça de Nyon nunca se prendeu com pormenores como a equidade ou os precedentes...) de tirar Enzo Pérez do jogo de Turim.
A vitória do Benfica sobre a Juventus, na passada quinta-feira, foi mal digerida pelos italianos que pareceram surpreendidos por verem posta em causa uma eliminatória que davam por garantida. Provavelmente por ter uma boa equipa - a caminho do terceiro scudetto consecutivo - que jogou bastante bem em Lisboa, aliás, à Vecchia Signora nunca passou pela cabeça falhar a final marcada para o seu estádio. Porém, esse cenário passou a tomar forma após a desvantagem na Luz, que só não foi pior porque o apito do turco Cuneyt Cakir teve um problema técnico, ficando sem som, quando Cáceres fez uma falta claríssima sobre Enzo Pérez, dentro da área bianconera, num lance que poderia dar o 2-0 para o Benfica. Já alguém imaginou o que seria uma final da Liga Europa, marcada para o estádio da Vecchia Signora, entre o Benfica e o Sevilha ou o Valência?
Do ponto de vista do clube italiano, que depois de ter sido despromovido à Série B em 2006 pelo pior caso de corrupção de que há memória no futebol - o calciocaos - tem vindo a regenerar-se e aponta agora aos holofotes da UEFA, seria uma tragédia. E do ponto de visita da UEFA? Manda o politicamente correcto que se diga que a UEFA não tem, nessa matéria, ponto de visita. Manda o senso comum que se diga que uma final em Turim sem a Juventus seria como ir a Roma e não ver o Papa."
José Manuel Delgado, in A Bola