"Parece que em Espanha estão atentos ao fenómeno. Javier Tebas, presidente da Liga Profissional, afirmou nesta semana que os resultados de vários jogos são “manipulados” nas competições principais e que a “manipulação” tem de ser identificada, investigada e afastados os responsáveis.
Se assim não se erradicar, Tebas defende que o futebol se transformará num “faroeste”, onde “não há leis nem controlo”. Ou seja, num mundo à parte, com regras próprias, com consciências de ilicitude singulares, ou meramente residuais, e impunidade generalizada, com medalhas para os mais diligentes e espertos e, se apanhados, logo refugiados no dogma da “perseguição”; um mundo em que são “punidos” – por fugirem aos “costumes” adoptados e proliferados sem censura – aqueles que não alinham nos esquemas, que são insensíveis ou imunes às influenciações, que não se permutam em autores e receptores de transferências e associações de interesses. Tebas, eleito em 2013 e logo protagonista deste discurso, não vai fazer com certeza muitos amigos com esta convicção, como também ninguém conquistaria muitas empatias se tal fosse avançado cá no burgo.
Na verdade, medra entre nós algo de estranho sobre a matéria da “manipulação”, avivada (?!) ainda há pouco tempo com a mais recente alegação e suspeita de “compra para facilitar” de jogadores em 2011 ter tido arquivamento na justiça desportiva e ainda se desenvolver na justiça criminal. Existirão ou não actos generalizados de aliciamento de atletas e de treinadores das equipas adversárias e de árbitros para adulterar os resultados dos jogos? Proliferam ou não as influências e as ameaças sobre dirigentes, com o fim de se obter a alteração de procedimentos e os critérios de nomeações? Promovem-se ou não temores (reverenciais e outros) para falsear, deturpar ou omitir os relatos dos boletins oficiais dos jogos? Utilizam-se ou não os “empréstimos” de jogadores para deturpar o rigor ético dos jogos? Constituem-se ou não “testas-de-ferro” para garantir a actuação encoberta dos verdadeiros agentes da corrupção, da coacção e das práticas comissionistas? A tudo isto se referirá Tebas para o futebol espanhol e, para afirmar o que afirmou, algo deve saber sobre o que se estará a investigar no vizinho ibérico. Por cá, empurra-se para o futuro e logra-se, como objectivo último, a reconstituição dos sobreviventes. E o aparecimento dos “novos” que nasceram para ser como os “velhos”.
PS – Estes últimos dias foram desastrosos para os méritos da profissionalização dos árbitros de futebol; um compêndio de tudo aquilo que não deve ser feito cresceu na informação e contra-informação. Seguem-se os próximos capítulos."