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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Sobre os bons artistas e os artistas assim-assim

"Foi uma única temporada de Ronaldo no Sporting que conferiu à questão com Eusébio dimensão clubista festejada em Alvalade no momento em que o CR7 pulverizou a marca do antigo jogador

CRISTIANO RONALDO galopa para se consagrar como o melhor marcador de todo o sempre da selecção nacional. Na sexta-feira passada, com um soberbo hat-trick na Irlanda do Norte e com uma exibição notável de autoridade e de querer, Cristiano Ronaldo ultrapassou Eusébio no top dos goleadores de quinas ao peito e está agora a 4 golos de igualar o registo de Pauleta.
Pauleta e Cristiano Ronaldo têm sobre Eusébio uma vantagem importante nestas contas dos golos. Pertencem a uma geração que teve e tem o mérito de ser qualificar sistematicamente para as fases finais dos grandes eventos internacionais. A geração de Eusébio, pelo contrário, habituou-se a falhar todos esses compromissos, excepção feita à fase Mundial de 1966 que foi a glória do moçambicano do Benfica dando origem a uma lenda a nível global que ainda hoje perdura.
No mano-a-mano entre Cristiano Ronaldo e Eusébio esta realidade salta à vista. O fabuloso madeirense precisou de 106 jogos para fazer 43 golos e ao fenomenal moçambicano bastaram 64 jogos para fazer 41 golos. Quer Eusébio quer Pauleta mostraram grande fair-play e simpatia face a este último sucesso de Cristiano Ronaldo. Nem uma ponta de azedume nem qualquer tipo de desconsideração pelo feito notável do jogador do Real Madrid.
Ambos não perderam tempo a dar os parabéns a Cristiano Ronaldo. Eusébio confessou-se «muito satisfeito» por ter sido ultrapassado pelo madeirense e apenas lamentou ter perdido uma aposta. «Apostei que o Cristiano marcava 2 golos aos irlandeses e acabou por marcar 3», disse. Já Pauleta, a próxima vítima do temível goleador em actividade, espera com entusiasmo pelos próximos golos de Cristiano Ronaldo na selecção. «Agora é comigo», disse o açoriano.
Gente boa, esta do futebol. Refiro-me aos artistas.
O despique Cristiano Ronaldo-Pedro Pauleta não vai ter, no entanto, à sua volta a carga simbólica do já extinto despique. Cristiano Ronaldo-Eusébio por uma razão bem simples de explicar. Hoje retirado, Pauleta, tal como Cristiano Ronaldo, fez quase toda a sua carreira no estrangeiro mas, ao contrário do actual jogador do Real Madrid, nunca em Portugal jogou por nenhum dos considerados grandes.
O açoriano nunca jogou na I Liga portuguesa, já o madeirense apenas cumpriu uma época na I Liga portuguesa. Pauleta jogou em 1995/96 pelo Estoril-Praia, mas na II liga, seguindo logo para Salamanca e Ronaldo fez apenas uma época como sénior no Sporting, a de 2002/2003, seguindo logo para Manchester.
Foi esta única temporada de Cristiano Ronaldo no Sporting A que conferiu à questão com Eusébio, no que diz respeito a golos ao serviço da equipa nacional, uma dimensão clubística intensamente festejada em Alvalade no momento em que o CR7 pulverizou a marca do antigo jogador do Benfica.
Será tanta exaltação? Consideremos que sim se contarmos com os anos de formação do jovem portento nas escolas de futebol do Sporting, onde chegou depois de ter sido a maior relevação de todos os tempos do futebol madeirense com a camisola do Nacional.
Ao contrário de Eusébio que, por ser um rei sabe que não há nada de mais natural neste mundo do que a sucessão, há benfiquistas a quem magoou a festa dos sportinguistas por Cristiano Ronaldo, apresentado como símbolo do Sporting, ter ultrapassado Eusébio, apresentado como símbolo do Benfica, em matéria de golos ao serviço das quinas.
Francamente, não compreendo como se deixam enredar nessa falsa questão. Tudo é comparável, é certo, podemos comprar os golos do moçambicano com os golos do madeirense, os seus estilos de jogo, as respectivas capacidades atléticas e artísticas e até e até os tempos que jogaram e viveram e vivem.
Mas em termos de emblemas, em termos de derby, é incomparável a temporada solitária em que Cristiano Ronaldo representou o Sporting com a carreira de uma vida de Eusébio ao serviço do Benfica onde ganhou tudo o que havia para ganhar em Portugal e na Europa.
Por tudo isto, desejo muito que quando Cristiano Ronaldo ultrapassar Pauleta e chegar à posição número 1 da tabela em causa, não fiquem tristes nem acabrunhados os adeptos do Estoril-Praia, emblema que Pauleta defendeu durante uma única temporada antes de emigrar com o sucesso que todos reconhecemos.
É que não faz sentido.


BRUNO CORTEZ, o lateral-esquerdo que chegou ao Benfica emprestado pelo São Paulo, foi quase sempre titular na pré-temporada e foi sempre titular nos primeiros jogos a sérios desta nova época. Não agradou à torcida, esse é um facto.
Aparentemente também não terá agradado à equipa técnica. No espaço de 24 horas, na semana passada, ficou Cortez a saber que o seu nome não constava da lista dos inscritos para a Liga dos Campeões e, pior ainda, ficou a saber que o Benfica contratou um novo defesa-esquerdo chamado Siqueira, brasileiro, com provas dadas no Granada.
Desejam muito os benfiquistas que Siqueira seja o “tal”. Isto é, o lateral-esquerdo de raiz que o Benfica não tem desde que Leo se zangou com Quique Flores e regressou ao seu Santos.
A não-inscrição de Bruno Cortez na UEFA deu algum brado, o que se compreende. Enganos, enfim, toda a gente tem, mas os enganos do Benfica para aquela posição começam já a ser lendários, para não dizer anedóticos, com o devido respeito por Emerson e pelo próprio Cortez.
Por estas razões, a contratação de Siqueira foi bem recebida pelos adeptos. O noticiado interesse do Real Madrid pelo jogador também deu um forte ânimo aos benfiquistas. Esta coisa de ganhar um jogador em despique com o Real Madrid faz sempre bem à auto-estima, que é uma coisa que na Luz anda muito por baixo desde o último mês de Maio.
No entanto, mais surpreendente do que a exclusão de Cortez da lista para a Liga dos Campeões, terá sido a exclusão de Kelvin da lista de portistas para a mesma competição. Deve estar banzado Kelvin, o mesmo Kelvin que deu o título ao FC Porto e obrigou Jorge Jesus a ajoelhar-se no Dragão foi preterido por Paulo Fonseca. E não há qualquer espécie de razão para duvidar de que Fonseca sabe o que está a fazer.
Do lado do Sporting a situação foi mais preocupante. Nenhum jogador foi inscrito na UEFA. Nem Montero, a estrela deste arranque de temporada em Alvalade.

NO sábado, o Benfica recebe o Paços de Ferreira, a equipa-sensação da última temporada e que na actual continua a ser sensação mas por motivos diferentes. O Paços de Ferreira de Costinha ainda não fez 1 ponto nesta Liga. Ao cabo de três jornadas soma três derrotas o que o torna um adversário incómodo e perigoso. No play-off de acesso à Liga dos Campeões, dois jogos feitos e outras duas derrotas ainda que contra o poderoso Zenit de São Petersburgo, que é de outro campeonato.
Não se pode perder sempre, não é? E o Paços de Ferreira, neste capítulo, está a exagerar. Cinco jogos oficiais, cinco derrotas é muita infelicidade.
Para o jogo com o Paços, Jorge Jesus não pode contar com Sílvio, Sálvio, Gaitán e Sulejmani. Este último foi albarroado no Sérvia-Croácia por um adversário de nome Simunic e ficou de tal forma em mau estado que nem conseguiu regressar a Lisboa com os seus compatriotas, companheiros de selecção e de Benfica, tendo ficado mais uns dias a desinchar do hematoma em Belgrado.
A boa notícia é que se provou que Sulejmani é rijo. perante a dimensão da entrada de Simunic, podia-se prever que o extremo sérvio tinha acabado naquele momento a sua carreira de futebolista profissional. Dizem que não. E que até já poderá jogar com o Anderlecht na próxima terça-feira.
A outra boa notícia é que a Sérvia foi eliminada do Mundial de 2014 pelo que os nossos jogadores sérvios podem concentrar-se à vontade nos objectivos benfiquistas para a temporada de 2013/14. Porquê? Porque tão cedo não vão ter outra montra. E no futebol moderno ao mais alto nível, a montra é tudo."

Leonor Pinhão, in A Bola

A verdade e o verdadeiro

"Recuso entrar na comparação para ter de concluir quem foi melhor, se Eusébio ou Cristiano Ronaldo. Só a distância (temporal) a que a história obriga nos mostrará quem chegou mais alto. O maior elogio a fazer já ao CR7 é o de nos deixar na dúvida sobre se o trono ainda é do King, questão que tantos julgavam nunca se colocar. São épocas diferentes, tempos tácticos diversos, preparação distinta, bolas, equipamentos e relvados incomparáveis, alterações de lei, equipas de clube e selecções como antes não havia. Nuns casos a evolução favorece um, noutros o outro.
Claro que a memória colectiva favorece os jogadores mais recentes, Lionel Messi face a Diego Maradona, Zinedine Zidane a Michel Platini, Cristiano Ronaldo a Eusébio. Filmados melhor, de vários ângulos e vistos a fazer magia em semanas consecutivas, ganham facilmente vantagem nas nossas análises. Terá Johan Cruijff sido melhor do que Di Stéfano? Muitos juram que não, mas na televisão parece, que é mais agradável rever a laranja mecânica a cores do que ir buscar os vídeos que o tempo fez mais pretos do que brancos do tempo do hispano-argentino. Há uma injustiça, essa objetiva, cometida com Eusébio, que foi também um erro do jornalismo desportivo, acabando por ter de ser o próprio a lembrar, no que espero não origine um dispensável atrito com Ronaldo.
Como não basta dizer que a economia está a crescer sem comparar com anos anteriores, ou que agora se vendem mais carros do que no ano passado quando não se vendia nada, também não chega dizer que Ronaldo tem mais dois golos do que Eusébio na selecção. É obrigatório referir também que o CR7 fez mais 42 jogos do que Eusébio. Nem é uma questão de respeito por Eusébio apenas, mas de respeito pela verdade, que é o primeiro dever de um jornalista. E aprendi cedo que neste ofício das notícias não basta contar os factos com verdade, deve procurar-se a verdade dos factos.
Quem foi melhor, quem é melhor hoje, Ronaldo outra vez no debate, frente a Messi? A cada um sua verdade, mas com uma premissa indiscutível: Portugal tem actualmente, e já vai para dez anos, um jogador estratosférico. Vi todos os grandes jogadores dos últimos 40 anos, Luís Figo, Rui Costa, João Pinto, ainda Paulo Futre e Fernando Chalana. Português, não vi nenhum como Cristiano Ronaldo, este, o verdadeiro. E estrangeiros só dois ou três, incluindo Zidane. E o outro Ronaldo, o primeiro."

Houve mais culpados...

"1. O último número do nosso Jornal trazia uma desenvolvida notícia de nova acusação contra Vale e Azevedo, que terá lesado o Clube em mais 1,3 milhões de euros. Infelizmente, nada que espante. O que me espanta (e lamento) é que tenha havido - em especial na Direcção e no Conselho Fiscal da altura - quem tinha obrigação de estar atento e nada fez para evitar estas (e outras) tristes situações. Tanto mais que, bem cedo, houve na Direcção quem saísse por não tolerar o que se passava e todo o Conselho Fiscal se demitiu ao fim de poucos meses de mandato, pois o presidente fugia a mostrar as contas. Quem lá ficou e quem para lá foi estava 'avisado' e nada fez. E o grande prejudicado foi o Benfica.

2. Terminou o período de transferências, este ano sem que possamos lamentar perdas de última hora. Do mal, o menos. Embora não tarde muito que não tenhamos que voltar a ler e a ouvir mais nomes de jogadores que podem entrar ou sair na 'janela de Janeiro', outra infeliz ideia. Nunca gostei de muitas entradas e saídas de jogadores. Tive a sorte de ver sucessivas equipas do Benfica com a mesma estrutura-base ano após ano, aqui e ali reforçadas cirurgicamente. Daí que não me entusiasmem os reforços que vão chegando e cujos nomes só começo a decorar quando se iniciam os jogos a sério e eles entram na equipa. Este último 'defeso' foi farto em novidades. Só espero é que, agora que as coisas estabilizaram, a equipa se reencontre e que o esforço financeiro realizado pelo Clube seja devidamente recompensado... com vitórias.

3. Muitos daqueles que, agora, nos jornais, louvam a 'limpeza' que o presidente do Sporting tem estado a fazer são os mesmos que há dois anos teciam largos elogios à dupla Luís Duque/Carlos Freitas pelos reforços que iam conseguindo. Agora, soube-se que o dirigente da SAD ganhava uma fortuna e foi 'corrido' com uma indemnização milionária, depois de ter gasto o que havia e não havia - e até mais do que o então anunciado - na compra de jogadores, alguns dos quais a 'custo zero'."

Arons de Carvalho, in O Benfica

Ainda a Selecção Nacional

"No jogo com a Irlanda do Norte, dos 14 portugueses que alinharam só 2 jogam no nosso país: Rui Patrício e o suplente Rúben Amorim. No entanto, verifica-se que todos têm origem (directa ou indirecta) nos três principais clubes de Portugal. Do Sporting: Rui Patrício, Cristiano Ronaldo, Nani, João Moutinho, Miguel Veloso. Do Porto: Pepe, Bruno Alves, Raul Meireles, Vieirinha e Hélder Postiga. Do Benfica: João Pereira, Fábio Coentrão, Nelson Oliveira e Rúben Amorim.
Significativamente curioso é que, ao mesmo tempo que neste jogo houve um único benfiquista que jogou uns míseros 4 minutos nos descontos (R. Amorim), pela selecção da Sérvia (à mesma hora) jogaram 5 encarnados: Matic, Feja, Markovic, Sulejmani e Djuricic, o que me tentou a fazer algum zapping entre o ser português e o ser benfiquista...
Se não estou enganado, foi a primeira vez que a selecção nacional jogou sem um único atleta do Porto, que, assim, passou a fazer companhia ao que já acontecera ao Benfica. Ao invés, os dois clubes já jogaram sem qualquer atleta português.
Outra recorrente regra no seleccionador nacional, é a circunstância de um jogador ter de se mudar para um dos grandes (ou Braga) para ter a hinra de ser ou poder vir a ser internacional. Grande época de Josué no Paços de Ferreira, sem ser chamado, mas bastaram uns minutos no FCP para chegar à internacional. O mesmo com Licá antes no Estoril e o Vítor, agora no Sporting, que não perca a esperança. Para já não falar no Fábio Coentrão antes do SLB. Não há wild cards fora dos 4 principais clubes, a não ser que emigrem. É a globalização, dizem os entendidos."

Bagão Félix, in A Bola

PS: Basta recordar o barulho que foi feito, quando a Selecção jogou sem um único jogador do Benfica, e comparar com o silêncio total, que agora foi feito com a ausência de jogadores dos Corruptos (no '11' + suplentes utilizados), num jogo da Selecção para compreender como os avençados jornaleiros estão todos presos com rédea curta!!!