"No último artigo começámos a dissecar uma situação que é digna de uma investigação. Se a denúncia entrar no Ministério Público, face à natureza da mesma, temos que a investigação será remetida para a Direcção Distrital de Finanças do Porto, e não para a Polícia Judiciária.
Mas se essa denúncia for feita bem feita, pode ser remetida pelo Ministério Pública para a Polícia Judiciária, que enviará a parte inerente à determinação de uma eventual avaliação fiscal, na mesma, para a Direcção Distrital de Finanças do Porto.
O factoring não é mais do que um adiantamento feito por uma entidade financeira por conta da emissão de facturas a receber.
Imaginemos que temos uma empresa pequenina, a qual uma factura ao seu único cliente. Esse cliente costuma pagar tarde e a más horas, e nós, se precisamos do dinheiro, vamos ali ao banco da esquina, propormos um factoring, e o banco paga-nos o dinheiro da factura, descontando o preço que o mesmo banco cobra para fazer isso.
(...) do factoring do FC Porto SAD em 30/6/2018.
A operação com uma sociedade denominada Sagasta corresponde ao valor de 100 milhões de euros que foram adiantados e que serão pagos pela FC Porto SAD a Sagasta nas datas em que deveria receber o dinheiro da Altice, de Dezembro de 2018 a Setembro de 2019 e de Maio de 2020 a Junho de 2023.
Ora, conforme já havíamos concluído no último artigo, como é que uma sociedade constituída em 2016, que tem um capital social de 250 000,00€ faz factoring de 100 milhões de euros?
A sociedade foi constituída em 2016 e tem esta história.
A Incus Capital Advisors, fundo ibérico com se de em Madrid que gere activos no valor de 500 milhões de euros, adquiriu em Junho de 2016 uma carteira de crédito hipotecário em Portugal, à GE Capital.
O negócio foi celebrado por pouco mais de 50 milhões de euros.
Para o efeito, a Incus Capital abriu em Portugal uma sociedade de titularização de créditos, a Sagasta STC, SA.
Não vamos identificar quem fez a ponte em 2018 entre o fundo sediado em Madrid e a FC Porto SAD, deixando à curiosidade de cada um descobrir.
(...) mostrarmos a demonstração de resultados por natureza dessa sociedade.
Para o que interessa, releva a seguinte:
- 4 milhões de custos financeiros;
- Prejuízo contabilístico no valor de 43 mil euros;
E o seu balanço em 2017 evidenciava o seguinte capital próprio, (...).
Ou seja, o valor do capital próprio no final de 2017 era de 222 964,14€, inferior ao seu capital social, que era de 250 mil euros.
Mas o indicador mais evidente era o endividamento bancário e similar, que se cifrava nos 34 milhões de euros, sendo que tinha custos diferidos para exercícios futuros na ordem dos 4 milhões de euros.
E foi com esta empresa, com estes indicadores, que a FC Porto SAD foi negociar um factoring de 100 milhões de euros.
É indiscutível que é uma empresa fortemente alavancada. O que é isto quer dizer? Que concede empréstimos através da contratação de empréstimos, algo que ouvimos falar muito quando foi a crise de 2007/2008.
Era antes disto que o senhor Miguel Sousa Tavares devia falar, e não lançar fogo, afirmando que uma empresa que tem 200 milhões de passivo nunca poderia contratar o treinador José Mourinho. Mas sabe porque podia? Porque tem de activo 400 milhões e porque nunca iria contrair um empréstimos bancário para pagar a José Mourinho, o que não é de todo aplicável ao caso que expusemos quanto ao seu clube."
Pragal Colaço, in O Benfica