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sábado, 29 de novembro de 2025
Veloso, 3 pontos?!!!
Parece fácil, João Veloso 😎 pic.twitter.com/c3E2f5tzxi
— SL Benfica (@SLBenfica) November 28, 2025
De Queiroz a todos os outros
"De Riade a Doha, de 1989 a 2025: em mais de trinta anos Portugal conheceu um desenvolvimento extraordinário: a arte de formar tornou-se universal neste ecossistema à beira-mar plantado
O Médio Oriente tem qualquer coisa de encantador para o futebol de formação português: em 1989, numa Riade que nada tem a ver com a de hoje, uma seleção vencia pela primeira vez um Mundial sub-20, numa final frente à Nigéria que teve Pelé como testemunha ocular e a quem o lateral-direito Abel prometeu que iria marcar um golo... à Pelé (e assim o fez); 36 anos depois, os portugueses assistiram à conquista do primeiro mundial sub-17 no Qatar, sob a batuta de um filho dessa geração que viria a ser , com justiça, batizada de ouro — porque era tão boa que jogadores como Bino, médio de futebol inteligente e elegante, nem sequer figurava nas primeiras escolhas.
Além da distância temporal, estes dois momentos parecem pertencer não apenas a duas épocas diferentes como a mundos distintos. Porque se no final dos anos 80 e início dos anos 90 do século passado os títulos de juniores (assim se chamava à época) eram vistos como uma verdadeira epopeia (com o toque de Midas de Carlos Queiroz, para quem o futebol português tem uma dívida eterna de gratidão), os bons hábitos de hoje levam o público a olhar para esta conquista como algo relativamente natural, consequência de décadas de desenvolvimento na arte de formar jogadores que faz deste país uma potência mundial.
Só o tempo dirá o que será destes rapazes brilhantes que conseguiram ser campeões da Europa e do Mundo de forma consecutiva, mas eles têm mesmo de ser especiais entre os muitos outros que antes dele estiveram perto de o conseguir. Quem olha para eles (e os escuta), identifica maturidade muito acima da média e é natural que a partir de agora cresça a pressão dos adeptos para que muitos destes pré-adultos tenham mais espaço nas respetivas equipas principais. Especialmente no Benfica, que se apresenta como o clube que mais jogadores forneceu a esta seleção e que não tem apresentado na sua equipa principal, nos últimos anos, potenciais titulares na proporção da quantidade e qualidade que as águias se arrogam de ter no Seixal — depois de António Silva e João Neves, nenhum outro se seguiu.
Mas manda a prudência que na Luz, no Dragão ou em Alvalade não se queimem etapas. E dificilmente isso acontecerá. Porque, apesar das muitas críticas à gestão dos clubes, são estes os principais responsáveis pelo desenvolvimento sustentado de várias gerações de potenciais craques ao longo destas décadas. O conhecimento tornou-se universal neste ecossistema à beira-mar plantado."
Por favor, não esqueçam estes nomes!
"Portugal campeão do Mundo! Em futebol, eis uma frase que não se escrevia há 34 anos. São 21 os heróis que, sob o comando de Bino Maçães, transformaram o sonho em realidade
Bino Maçães: treinador. João Aragão, Duarte Cunha, Steven Manuel, Mateus Mide e Anísio Cabral: avançados. Santiago Verdi, Rafael Quintas, Martim Guedes 'Zeega', Tomás Soares, Bernardo Lima e Miguel Figueiredo: médios. Daniel Banjaqui, Gabriel Dbouk, Yoan Pereira, José Neto, Martim Chelmik, Ricardo Neto e Mauro Furtado: defesas. Romário Cunha, Alex Tverdohlebov e David Rodrigues: guarda-redes.
Com exceção para o treinador, que tem 52 anos, todos os 21 restantes, acima mencionados, têm apenas 17. Mas têm tudo para continuarem a ser recordados quando tiverem 70, 80 ou 90. São os nomes que entraram numa das mais douradas páginas do livro de história do futebol português. Uma geração jovem de ouro que — não duvido — muito em breve estará a brilhar nos mais prestigiados palcos.
Quando tanto se fala dos mercados de transferências que aí vêm, quando se ouve falar de milhões de euros disponíveis para contratações, manda o bom-senso clamar: olhem, por favor, para estes meninos. Se há potencial (e garantimos que há!), então potencie-se ainda mais estas pérolas, nelas apostando nas equipas principais.
Guardem estes nomes, lembrem-se deles, não os deixem cair no esquecimento. Aqui, do lado de fora da indústria do futebol, já nos encheram o coração.
Portugal é campeão do Mundo! Em futebol, esta é uma frase que não era possível escrever há 34 anos, desde Lisboa-1991, quando a Seleção de Figo, Rui Costa, Jorge Costa e João V. Pinto conquistou o Mundial sub-20 pela segunda vez."
Da identidade ao impulso em Liverpool: como explicar a queda de um gigante
"O de Klopp tinha identidade. O de Slot parecia seguir esse caminho. Mas o gasto excessivo, as más escolhas e a perda de referências destruíram o plano que a sustentava
Klopp, ainda no Dortmund, sentava-se à frente de quem queria contratar. Com Watzke ao seu lado, a corporizar o polícia-bom, disparava algo do género: «Comigo, terás de dar 120 por cento, ultrapassar todos os teus limites. Estás preparado? Se não estiveres, é melhor para todos que o digas já.» Com esta energia em bruto, os jogadores que levava para o Ruhr incendiavam a Muralha Amarela, que por sua vez puxava pelas restantes bancadas até transformar o Westfalen num verdadeiro inferno.
Ich will eure Stimmen hoeren (Eu quero ouvir as vossas vozes)/Ich will die Ruhe stoehren (Eu quero romper com o silêncio)/Ich will das ihr mich gut seht (Eu quero que me vejam claramente)/Ich will das ihr mich versteht (Eu quero que me compreendam)
Ich will eure Phantasie (Eu quero a vossa ilusão)/Ich will eure Energie (Eu quero a vossa energia)/Ich will eure Haende sehen (Eu quero ver as vossas mãos)/In Beifall untergehen (Rodeado pelos vossos aplausos)
Jürgen travestia-se em Till Lindemann e o estádio explodia ao ritmo dos riffs de Rammstein. Rédeas soltas, jogadores e adeptos carregavam em conjunto. O céu avermelhado caía em cima da cabeça dos rivais e engolia-os sem misericórdia.
Anos depois, em Liverpool, onde é impossível substituir aquela canção que é tudo, o seu coração e o batimento de alta rotação encaixaram na perfeição em Anfield. Fundiram-se com os dos jogadores e adeptos. O emocional Liverpool abraçou o não menos emocional Klopp, cuja identidade never say die e o nível de exigência que a consolidava voltaram a reerguer o clube até aos patamares da excelência.
Com dificuldades para competir com clubes-estado, os Reds concentraram-se no processo em campo. Com os jogadores adequados, contratados ou nutridos, primeiro em Melwood depois na ventosa Kirkby. Com a inegociável agressividade, a tal pressão que roubava fôlego e rebentava os adversários por dentro. O gegenpressing era o 10 que o alemão não tinha — nem queria ter. Mesmo com o modelo a evoluir no sentido de manter o controlo do jogo.
Klopp mantinha, ao mesmo tempo, o grupo imune a uma ou outra intromissão dos dirigentes no reforço do plantel. Para o técnico, tinha de ser o jogador certo. Se não, não valia a pena. Apenas um, entre os mais relevantes, terá escapado a esse critério. Talvez aí o técnico tenha sentido que esgotara os ‘não’ que dissera a quem mandava. Darwin, defendido também pelas estatísticas, foi contratado por 85 milhões ao Benfica. Um capricho, cujas consequências ainda hoje ecoam. Não só obrigou à reestruturação não planeada da frente de ataque, desviando-o do centro do terreno, como se lhe atribui, nos arredores de Anfield, um título perdido devido aos seus inúmeros falhanços. Não basta haver boas intenções. O uruguaio sempre foi um corpo estranho como atleta e indivíduo, apesar das tentativas de integração por parte do grupo.
Ao fim de nove anos, quando se vive o futebol como o antigo lateral-direito do Mainz, que o modesto clube viu como sucessor mas também pupilo dedicado de um revolucionário como Wolfgang Frank, mais cedo ou mais tarde o desgaste torna-se sufocante. Klopp quebrou. Disse adeus. Para viver o resto da vida que não estava a viver. O Liverpool seguiu em frente. Encontrou em Slot uma liderança também emocional e, no seu modelo, pontes para o do germânico.
Na primeira época sagrou-se campeão. Inteligente, mudou pouco, aceitou o legado, avançou quase pé ante pé. Chiesa foi o único a entrar, Matip e Thiago acabaram a carreira, Darwin perdeu relevância e acabaria por deixar Inglaterra no verão passado. Fez com que o compatriota Gravenberch ganhasse nova vida, enquanto Gapkpo cresceu na influência. Não se sentiu a mudança, ainda que não haja pessoas iguais.
Perdeu a Taça da Liga para o Newcastle, ficou-se pela quarta ronda da Taça principal — aqui sim de forma surpreendente perante o Plymouth Argyle, do Championship — e pelo desempate por penáltis nos oitavos de final da Liga dos Campeões, diante do futuro campeão PSG. Mas o mais importante foi garantido, o regresso aos títulos e logo numa época em que a exigência até seria menor.
No entanto, o Liverpool-poupadinho acabara. 483 milhões de euros depois levaram Isak, Wirtz, Ekitiké, Kerkez, Frimpong e Leoni para o lado dos Reds e, mesmo assim, por culpa das lesões, Szoboszlai primeiro e Curtis Jones depois já tiveram de assumir o papel de lateral-direito. É claro que em Liverpool se recuperaram 240 milhões do investimento, com algumas vendas, a principal a de Luis Díaz, mas não deixa de parecer all-in de um clube que não precisava de fazê-lo dada a posição em que se encontrava. E um all-in quase nunca tem por detrás um plano. É impulso.
De não mudar quase nada, Slot passou a mudar muito, deslumbrado com o que lhe caiu em mãos. Contudo, Frimpong é em quê parecido com Alexander-Arnold, que saiu em saldos para Madrid? A influência do lateral, que pensava como médio, que não só aparecia em terrenos adiantados para cruzar ou, por dentro, para ajudar a construir ou rematar, como virava o centro do jogo e lançava transições, onde é que a vemos no sprinter? E há alguma parecença entre Wirtz e Díaz? Já Kerkez, apesar da boa vontade, anda longe da profundidade de um Robertson de outros tempos, quando os laterais eram fundamentais no modelo. Já quanto à inspiração perdida com Jota, é insubstituível. Aí não há nada a fazer.
Foram 270 milhões gastos em Ekitiké e Isak para só jogar um. É quase anedótico. Nem o novo-rico mais imprudente faria tal loucura. E Arne Slot até ajudou à festa ao quebrar o crescimento do francês para lançar o sueco rebelde, faltando-lhe feeling para o momento. No meio disto tudo, ainda ficou Guéhi por contratar depois de estar fechado, numa altura em que Konaté, em final de contrato, acumula erros, Leoni está lesionado com gravidade, e Quansah, menino da casa, se consolida em Leverkusen.
É o caos. Um Liverpool sem um plano lógico, ainda com as faixas de campeão aos ombros. Sem este, não há identidade. Não há uma forma única de jogar. Não há conforto para os futebolistas. Apenas para que fique mais tempo em vigor a desgraçada Lei de Murphy."
Plano Nacional de Desenvolvimento Desportivo
"Apresentado há dias pela ministra do Desporto, Margarida Balseiro Lopes, o Plano Nacional de Desenvolvimento Desportivo, aprovado em Conselho de Ministros realizado no Centro de Alto Rendimento do Jamor, é o resultado da consulta pública a mais de 120 entidades e cerca de 30 personalidades do ecossistema desportivo e traça como objetivos essenciais abranger três ciclos Olímpicos e reforçar os incentivos à prática generalizada de exercício físico pelos portugueses.
No documento confirma-se a intenção de induzir o hábito da prática desportiva tendo em vista a consolidação, nas atuais e nas gerações vindouras, do exercício físico enquanto elemento estruturante à prossecução de um estilo de vida saudável e equilibrado. Neste âmbito, o Plano prevê a inclusão de aconselhamento para a atividade física nas Unidades de Saúde Familiar, principalmente direcionado a grupos prioritários, como o dos jovens até aos 16 anos.
Note-se, a este propósito, que o Eurobarómetro de 2023 revela que 73% dos portugueses afirmam nunca praticar desporto sendo que, em 2022, mais de 37% da população adulta apresentava excesso de peso.
Estruturado em seis pilares estratégicos e composto por 44 medidas, o plano define um horizonte de políticas públicas para os próximos 12 anos, incidindo essencialmente sobre três dimensões: a primeira direcionada à educação dos mais jovens e ao papel inclusivo que o desporto tem junto das camadas mais desfavorecidas da população; a segunda reforça o apoio ao talento e a atletas envolvidos em competições de alto rendimento; e uma terceira dimensão direcionada à modernização das infraestruturas e ao modelo de financiamento das diferentes modalidades. Todas, conjugadas num objetivo comum, o de transformar o País numa nação ativa, onde o acesso ao desporto é um direito à disposição dos cidadãos, um fator promotor de inclusão social e de participação cívica e uma marca distintiva da identidade nacional à escala global.
Os 130 milhões de euros associados ao projeto incluem 65 milhões do contrato-programa para o Desporto 2024-2028, assinado com o Comité Olímpico de Portugal, e já inscritos no montante global de 155,8 milhões de euros previstos para o setor no Orçamento do Estado para 2026. O governo aprovou ainda cerca de 30 milhões de euros para a preparação dos Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028 — um aumento de 30%. As verbas para o programa paralímpico foram reforçadas em 12 milhões, e o programa surdo-olímpico receberá 3 milhões de euros, um acréscimo de 70% face ao atual. Este financiamento assenta num modelo diversificado que combina verbas do Orçamento do Estado, receitas do IPDJ e transferências de entidades setoriais, como o Comité Olímpico e o Comité Paralímpico. A diversificação visa garantir a sustentabilidade ao longo dos três ciclos olímpicos e assegurar que cada medida dispõe dos meios necessários considerando o impacto transformador, ao nível do desempenho desportivo de alta competição, que se pretende vir a atingir no futuro.
O plano dedica ainda 29,2 milhões de euros à formação de educadores de infância e professores do 1.º ciclo enquanto agentes promotores da prática consistente e regular de atividade física junto dos mais novos. Consciencializar as novas gerações dos benefícios da atividade física recorrente deve ser entendido como um investimento numa cidadania mais pró-ativa e menos permeável aos malefícios de uma alimentação menos rigorosa e a rotinas quotidianamente sedentárias. Para esse efeito, o plano prevê o desenvolvimento de um programa nacional de formação contínua de educadores de infância na área da educação física, a dinamização de uma avaliação anual da aptidão física de crianças e jovens em contexto escolar e ainda a implementação do Programa UAARE Superior (Unidades de Apoio ao Alto Rendimento no Ensino Superior) que pretende desenvolver uma articulação eficaz entre os estabelecimentos de ensino superior e as federações desportivas, tendo por objetivo conciliar a atividade universitária com a prática desportiva de alunos/atletas enquadrados no regime de alto rendimento, seleções nacionais ou de elevado potencial desportivo.
O Plano Nacional de Desenvolvimento Desportivo de Portugal representa, por isso, uma estratégia pública ambiciosa, bem estruturada, tendo em vista o reforço da preponderância do desporto no País. Seja na dimensão profissional e de alta competição, seja enquanto elemento agregador e promotor de desenvolvimento social e indutor de boas práticas de longevidade com saúde.
Campeões
Seleção de sub-17 vencedora do Mundial. Uma geração de elevado potencial, liderada por um treinador capaz e competente, Bino Maçães. Bravo!"
Nacionalidade e reforma migratória: implicações para o desporto profissional
"A revisão recente do regime jurídico da nacionalidade e das regras de imigração em Portugal trouxe para o debate uma questão central: como compatibilizar a proteção da identidade nacional com as necessidades específicas do desporto profissional, em particular do futebol?
As alterações ao quadro migratório demonstram que definir as condições de entrada, permanência e integração de cidadãos estrangeiros não é apenas uma questão administrativa. Pelo contrário, estas mudanças têm efeitos concretos sobre diversos setores, incluindo o desporto.
Alterações nos prazos de residência, nos requisitos documentais ou nos mecanismos de regularização impactam diretamente Na capacidade de atletas, treinadores e equipas técnicas se estabelecerem no país com a estabilidade necessária ao exercício da sua atividade.
Alterações do regime migratório em Portugal
A nova proposta de lei da nacionalidade (ainda sujeita à fiscalização preventiva do Tribunal Constitucional) prevê períodos de residência mais longos: sete anos para cidadãos de língua oficial portuguesa e da União Europeia e dez anos para os restantes.
O objetivo é claro: reforçar a ligação efetiva ao país. No entanto, não podemos ignorar que estes prazos podem dificultar a integração de atletas estrangeiros, limitando a sua elegibilidade para atuar em momentos cruciais das suas (curtas) carreiras profissionais.
O regime de reagrupamento familiar (já em vigor com a Lei n.º 61/2025, de 22 de outubro) impõe, como regra geral, um prazo mínimo de dois anos de residência válida para que familiares possam juntar-se ao titular do título de residência.
No caso de cônjuges ou equiparados, aplica-se um prazo de 15 meses desde que tenham coabitado com o titular por, pelo menos, 18 meses imediatamente antes da entrada em território nacional.
Ora, tais requisitos podem condicionar, naturalmente, a decisão de jogadores e treinadores de se fixarem em Portugal, dada a maior dificuldade em assegurar estabilidade pessoal e familiar. A tudo isto soma-se o fator da morosidade administrativa: atrasos persistentes na tramitação de processos pela AIMA e pelo IRN tornam estes requisitos, já de si exigentes, ainda mais difíceis de concretizar.
Consequentemente, clubes, agentes e federações passam a ter de planear contratações com maior precisão, sob pena de afastar talentos ou limitar oportunidades, tanto para atletas como para o próprio país
O enquadramento internacional do futebol
É precisamente neste contexto que surge a dimensão internacional do futebol. Enquanto os países definem os critérios de permanência e integração, a FIFA estabelece regras próprias sobre quem pode representar uma seleção nacional.
Os Estatutos da FIFA, em particular os artigos 6.º a 10.º dos Regulations Governing the Application of the Statutes, impõem critérios rigorosos de elegibilidade: apenas quem possui nacionalidade efetiva, por nascimento ou naturalização válida, pode ser convocado.
Para quem adquire nova nacionalidade, os requisitos são ainda mais exigentes, incluindo prazos de residência de três a cinco anos, dependendo da idade de chegada ao país.
A lógica é clara: não basta possuir um passaporte, é necessária uma ligação genuína ao Estado. Jogadores com múltiplas nacionalidades só podem representar um país se cumprirem critérios de vínculo direto, seja por nascimento, ascendência ou residência prolongada.
O conceito de residência é rigorosamente regulado, permitindo apenas interrupções breves. E no caso de transferência internacional do jogador? Reinicia o contador do prazo de residência.
O célebre one-time switch - que permite a um jogador mudar apenas uma vez a seleção nacional que representa para outro país cuja nacionalidade detenha - segue a mesma lógica restritiva: só pode ocorrer uma vez e depende de critérios precisos quanto à idade, aos jogos disputados (oficiais e/ou internacionais AA) e à nacionalidade na primeira convocatória.
Exceções necessárias para realidades profissionais excecionais
Ora, não deve ser descurado que o futebol profissional apresenta características próprias: carreiras curtas, mobilidade constante e forte dimensão internacional. Entendemos, por isso, que é legítimo questionar: não deveria o regime migratório em Portugal prever mecanismos ajustados a estas realidades, de forma a garantir que o país continua a ser um destino atrativo para o talento internacional em tempo útil?
A influência da imigração no desporto português é inegável. A história recente está repleta de atletas que, chegados ainda jovens, completaram aqui a sua formação, construíram raízes e encontraram uma verdadeira pátria desportiva.
Com o novo quadro legislativo, figuras históricas do futebol português, como Deco ou Pepe, poderiam ter enfrentado atrasos significativos na obtenção de residência ou nacionalidade, impactando a sua integração competitiva.
Assim, a decisão de um atleta vir para Portugal depende cada vez mais não apenas da atratividade do futebol nacional, mas também da capacidade do Estado garantir estabilidade documental, celeridade nos vistos e um percurso de integração viável.
Entre rigor e integração: a necessidade de um equilíbrio
Surge, assim, um dilema: como conciliar rigor e credibilidade com a proteção de trajetórias legítimas, sem transformar o sistema migratório numa barreira quase intransponível?
Reconhecemos que encontrar este equilíbrio é difícil, mas essencial. Portugal precisa de um regime migratório robusto contra abusos, mas que também reconheça a realidade social e competitiva do desporto.
Num mundo globalizado, o futebol é um espaço onde identidades se cruzam, evoluem e se renovam. Entendemos, por isso, que a lei deve acompanhar esta realidade, equilibrando a rigidez que protege com a flexibilidade que integra, sob pena de comprometer parte significativa do futuro do desporto português."
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