"A década de 2010 ficou marcada por uma evolução tremenda no futebol, principalmente pela quebra de recordes por parte de dois astros, que já teriam aparecido uns anos antes, embora o auge de ambos tenha decorrido durante os últimos dez anos. A viragem da década é um sinal de que o fim de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi está perto e será durante esta década que as botas serão penduradas.
Basta parar para pensar que Iniesta está no Japão para terminar a carreira, Xavi já não joga, Xabi Alonso também não, Drogba, Eto’o, Robben, Lampard (é o treinador do Chelsea!) e tudo tão rápido. Parece que ainda ontem estava sentado no sofá a ver Iniesta a decidir o Mundial 2010 no prolongamento, ou a ver Drogba a empatar a final da Liga dos Campeões perto do final e todos sabem o que aconteceu a seguir. Assim como um ano depois o mágico pé esquerdo de Robben resolveu a final da mesma prova aos 88 minutos.
De seguida, surge o domínio de Real Madrid, com o Barcelona a fazer comichão,no entanto, foi mesmo Ronaldo e companhia que dominaram a Europa com estrondo, ao vencer quatro Liga dos Campeões em cinco anos. Foi também nesta década que os portugueses viveram um momento duma vida… Éder! Quem diria? Vai ficar para a história, ver todo o banco sofrer, liderados pelas lágrimas de Ronaldo a puxar as quinas para a glória. A década termina com o futebol magnífico imposto por Guardiola, como sempre o fez nas suas equipas, e com um Liverpool que certamente terminará no lote das melhores equipas de sempre.
É surreal a maneira como jogam e dominam as partidas. E quem se lembra do memorável jogo entre a Alemanha e o Brasil? Da reviravolta do Barcelona contra o PSG, depois de perder 4-0 na primeira mão e ainda sofrer um golo em casa e passar? E as aulas do Barcelona nos El Clasico contra o grande rival? A manita do Lewandowski em 9 minutos? Enfim… São tantos momentos que é impossível recordar todos, mas certamente a emoção que o futebol carrega é maior do que qualquer episódio de racismo ou corrupção, ou o que seja, porque o desporto-rei continuará a ser consumido por milhões de pessoas que o vêem por vício, paixão ou lazer, e ficam marcados pelos momentos emotivos.
Consultem as escolhas do melhor onze da última década.
Guarda-Redes
Manuel Neuer – Apesar de ter sofrido lesões recentemente, não há nenhum guarda-redes mais influente nesta década do que Neuer. Marcou uma era da posição e certamente acabará nos lugares cimeiros dos melhores da história entre os postes. Prova disso, é o facto de ter sido nomeado o melhor guarda-redes pela IFFHS (International Federation of Football History & Statistics) quatro anos seguidos, entre 2013 e 2016. Neuer distingue-se pela leitura de jogo acima da média, qualidade com os pés e segurança e conforto nas ações realizadas.
Melhor momento: Depois de conquistar o triplete com o Bayern Munique em 2012/2013, no ano seguinte venceu o Mundial 2014 pela Alemanha, o que lhe valeu uma nomeação para a Bola de Ouro. Completou o pódio, atrás de Leo Messi e Cristiano Ronaldo.
Lateral-Direito
Dani Alves – Além de estar presente no melhor onze da década, o brasileiro é discutivelmente o melhor lateral-direito da história do futebol. O maior argumento para sustentar este pensamento é o número de troféus conquistados. Daniel Alves é o jogador mais titulado na história do futebol (40). Venceu no Sevilha, Barcelona, Juventus, PSG e ainda colectou duas Liga dos Campeões com o Barcelona. É considerado um modelo ou referência da posição, muito devido ao seu auge no Barcelona. Era um autêntico extremo, tinha um rendimento ofensivo acima da média e combinava na perfeição com Leo Messi.
Melhor momento: Aos 36 anos, vence a Copa América com o Brasil e é considerado o melhor jogador do torneio.
Defesa-Central
Sérgio Ramos – É uma escolha lógica deste onze, devido à quantidade de títulos ganhos, tanto no Real Madrid como na selecção espanhola e assumiu-se como um líder na defesa de ambos. É o capitão do clube e da selecção neste momento, o que quer dizer bastante sobre o respeito incutido por Sérgio Ramos.
Destaca-se por ser um defesa goleador e um homem de grandes jogos, devido à quantidade de vezes que decidiu e salvou os merengues. A raça e vontade impostas dentro de campo são preponderantes para esta faceta do central espanhol, vencedor de um Mundial, um Euro e quatro Liga dos Campeões esta década. E uma delas especial…
Melhor momento: Foi em Lisboa, no Estádio da Luz, na final da Liga dos Campeões de 2013/2014. O Real Madrid perdia por uma bola a zero contra o rival Atlético de Madrid, quando aos 93 minutos e 48 segundos, Sérgio Ramos sobe ao quinto andar, na sequência de um pontapé de canto e empata a partida, levando os adeptos à loucura. Os blancos viriam a vencer a partida no prolongamento.
Defesa-Central
Gerard Piqué – O defesa espanhol liderou o Barcelona no setor defensivo durante uma série de anos, desde a saída de Carles Puyól – o melhor professor que podia ter. Nesta década, venceu sete das suas oito ligas espanholas e duas das três Liga dos Campeões. Durante a maior parte dos anos, nunca teve um central de raiz ao seu lado, o que torna o seu trabalho ainda mais valorativo. Na Espanha, alcançou as mesmas conquistas que o parceiro da defesa e rival a nível de clubes, Sérgio Ramos. Venceu o Mundial 2010 e o Euro 2012. Actualmente, Piqué já não faz parte da selecção roja e actua pela Catalunha.
Melhor momento: Em tom de provocação, mostrou os 5 dedos à bancada do Real Madrid, naquele que foi um dos melhores jogos da história do Barcelona. A equipa orientada por Pep Guardiola derreteu o maior rival, aplicando chapa 5, e Piqué não se esqueceu do gesto. Coisas que também fazem parte da bola…
Lateral-Esquerdo
Marcelo – Tal como Dani Alves, marcou uma era da sua posição e é considerado um exemplo para muitos jovens futebolistas de tenra idade, devido à sua qualidade técnica e à magia proporcionada durante os jogos. Por vezes, parece uma brincadeira para ele, no entanto quando sobe naquele flanco esquerdo, é certo que vai criar desequilíbrio. Desde a conquista da primeira Liga dos Campeões do Real Madrid em 2014, Marcelo foi o melhor lateral esquerdo do mundo seguramente até 2018. Actualmente, existe concorrência forte: Andy Robertson.
Melhor momento: Entrou aos 59 minutos na tal final de Lisboa e deu forças aos merengues, principalmente no prolongamento para a conquista da Liga dos Campeões, aquela que deu início à hegemonia europeia madridista.
Médio-Centro
Xavi Hernández – Um terço daquele que foi possivelmente o melhor meio-campo da história do futebol, juntamente com Iniesta e Busquets, nos tempos de glória do Barcelona. Xavi era magia pura e uma das principais referências do desporto-rei.
Sempre que se falava em Xavi, vinha o nome de Iniesta atrás e a sua ligação era tão grande, que pareciam o mesmo jogador. Messi tem de valorizar muito o que estes fizeram por ele, e a importância que tiveram durante largos anos, no seu rendimento.
Xavi era o mestre em descobrir e explorar os espaços, e de cabeça levantada orientava o jogo dos catalães, assim como da selecção espanhola. Foi uma das peças fundamentais do domínio da sua equipa e pelas conquistas da “La Roja” nas provas internacionais.
Melhor momento: É difícil eleger o melhor momento de Xavi e podia ser simplesmente toda a sua carreira. Isto porque o médio tinha uma consistência soberba e é praticamente impossível apontar-lhe uma má exibição. Ficamos então com a goleada do Barcelona no Bernabéu por 2-6, com quatro assistências de Xavi Hernández!
Médio-Centro
Andrés Iniesta – O outro elemento do tal meio-campo de sonho do Barcelona. Como referido, a química entre Iniesta e Xavi era gigante e ambos levaram o Barcelona à conquista de inúmeros títulos. Iniesta apareceu pouco depois de Xavi e foi evoluindo até se tornar tão importante como ele e foi adquirindo uma experiência imensa, até ser a principal figura desta equipa depois de Messi. Aprendeu com os melhores e definiu, tal como os colegas do sector, o estilo de jogo dos catalães, especialmente na era de Guardiola. O médio espanhol tinha as características perfeitas, reflectidas na responsabilidade no sucesso do Barcelona.
Não foi deslumbrante a nível de estatísticas, mas foi mágica a forma como ditou o jogo do Barcelona durante anos. Ao longo da década, arrecadou cinco La Liga e duas Liga dos Campeões.
Melhor momento: Iniesta também fez parte nos anos de ouro das proezas espanholas. Teve uma carreira repleta de grandes momentos, embora o que se sobressaiu foi o golo que deu a vitória à Espanha no prolongamento da final do Mundial 2010, frente à Holanda. Na discussão pelo momento da década.
Médio-Centro
Luka Modric – A principal razão, quer seja considerada justa ou não, é que Luka Modric foi o primeiro homem a destronar Cristiano Ronaldo e Leo Messi na conquista da Bola de Ouro. Desde 2008 até 2017, os dois astros dominaram a vitória do prémio. Quando Modric chegou ao Real Madrid demorou a mostrar o rendimento esperado e foi votado no jornal Marca como a pior contratação da época na liga espanhola. Pois o croata calou todos os críticos e alcançou um nível tremendo, sendo agora considerado um dos melhores de sempre dos merengues. Com passagens pelo Tottenham (embora sem títulos) e Real Madrid (palmarés considerável), Modric sempre pautou o jogo ao ritmo que ele gosta e com a sua classe assumiu-se como o patrão do meio-campo.
Melhor momento: A principal razão para ter vencido a Bola de Ouro em 2018, foi devido ao estrondoso Mundial realizado no mesmo ano, depois de vencer a Liga dos Campeões ao serviço dos blancos. Levou a Croácia à final da competição, uma seleção que certamente não estaria no lote dos favoritos antes da prova iniciar.
Extremo-Direito
Lionel Messi – Um jogador que compete à parte, não é deste planeta. Messi desafia as leis da física, com as aulas dentro de campo. Tanto ele como Cristiano Ronaldo eleveram a fasquia daquilo a que o mundo do futebol estava habituado a nível de números e quando aparecerem jogadores a colocarem boas estatísticas, possivelmente não vão ser tão valorizados como
deviam, por causa destes dois astros a marcarem mais de 50 golos por ano, como se fosse normal. Só nesta década, Messi esteve envolvido em quase 800 golos. É o melhor marcador da história do Barcelona, da La Liga, da Argentina, apresenta uma média de quase um golo por partida e à medida que os anos foram passando, aumentou as assistências realizadas. Isto deve-se ao facto de o argentino ter adaptado a sua posição ao longo dos anos, alterando as funções dentro de campo.
Messi é de momento mais um jogador de equipa e é o melhor playmaker do mundo. Tudo isto, conseguindo ser o melhor marcador da Europa na mesma. Fantástico!
Melhor momento: São inúmeras possibilidades e Messi escolheu qual o melhor da sua carreira. Foi o golo na final da Liga dos Campeões contra o Manchester United, no entanto, não foi esta década. Há uma quantidade enorme de momentos, como o golo da vitória no Bernabéu aos 92 minutos, seguido do mítico festejo da camisola, ou a exibição na final de 2011 contra o Manchester United. Enfim, é de outro mundo.
Extremo-Esquerdo
Arjen Robben – O seu clássico movimento de puxar para o pé esquerdo marcou esta década. Depois de ganhar espaço, já se sabia qual era o destino da bola. Robben realizou campanhas esplêndidas ao serviço da selecção, principalmente nos Mundiais 2010 e 2014, nos quais chegou à final e meias-finais, respectivamente. Ao serviço do Bayern de Munique venceu todos os títulos possíveis a nível nacional e ainda uma Liga dos Campeões.
Melhor momento: Foi precisamente na Liga dos Campeões conquistada, que teve o episódio da carreira. Robben deu a vitória à sua equipa num duelo contra o Borussia Dortmund, na final da competição, com um golo perto do final da partida.
Avançado
Cristiano Ronaldo – Partilha o título de extraterrestre com Lionel Messi. São os dois jogadores mais mediáticos e muito possivelmente os dois melhores da história do futebol. Bateram uma série de recordes de golos e juntos têm um total de 11 Bolas de Ouro. Se por ventura existisse apenas Ronaldo, qual seria a quantidade de títulos individuais e colectivos que possuía? Por outro lado, a competitividade entre ambos ajuda a melhorar a motivação para querer ainda mais. Cristiano apresenta uma média de praticamente um golo por jogo nesta década e venceu quatro Liga dos Campeões, além de uma série de títulos como Real Madrid e actualmente com a Juventus, onde busca a glória europeia.
Melhor momento – É o jogador mais difícil de escolher o melhor momento, tendo em conta a quantidade de memórias que Ronaldo proporcionou. A escolha de qualquer das formas recai para um episódio emocionante, que o próprio atleta nem estava a jogar. Foi na final do Euro 2016, com Cristiano obrigado a sair no início da partida devido a lesão e, juntamente com Fernando Santos, orientou, sofreu e festejou a glória europeia portuguesa."