"A final da Champions na Luz foi vibrante, ainda que nem sempre bem jogada. Ganhou a equipa dos artistas treinada por um senhor, perdeu a equipa dos operários treinada por um líder.
Nestas finais ganha-se ou perde-se por pormenores. De génio, de azar ou de erro. O primeiro erro - quiça decisivo - foi Simeoni ter confiado em Diego Costa ou este ter posto as ganas à frente da racionalidade. O segundo erro - salvo in extremis - foi o dislate de Casillas que permitiu o golo do Atlético, impróprio até para um sofrível guarda-redes.
O Atlético também sofre do trauma europeu dos últimos minutos. Já havia sido assim na final contra o Bayern em 1974. Mas desta vez teve na sua origem um despropositado erro por volta dos 82m que o pode ter conduzido à fatalidade de ver escapar a orelhuda por dois minutos. Os colchoneros provaram do veneno que é o oposto do seu modo de jogar. Explico: o seu estilo advém da hipérbole gregária de trabalho, denodo, suor, vontade e inconformismo. Como foi na Luz, com sucesso até ao minuto 93. Minuto que, em regra, é o último, se só houver substituições e não houver paragens de jogo assinaláveis. Pois já perto do fim, Filipe Luís caiu, certamente exausto, mas simulando mais do que isso. Demora a sair e a ser substituído. O jogo pára 1m 52s. Fatais para o Atlético que, talvez sem essa pequena batota do seu defesa, estivesse a comemorar um feito histórico...
No melhor pano cai a nódoa. Uma lição para o teatro que amiúde se vê no futebol. Quando se jogará só com tempo útil? E se põe de parte o tempo inútil e até o fútil? Ganhariam todos: o jogo, os espectadores e a ética."
Bagão Félix, in A Bola