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Últimas indefectivações
sexta-feira, 13 de setembro de 2024
O Melhor...!!!
Carta aberta de Mauro Xavier ao novo CFO do Benfica
"É encorajador ver o Benfica contratar profissionais de excelência para a estrutura. O sucesso do novo CFO, que não tem tarefa fácil, será o sucesso de todos os benfiquistas
Enquanto benfiquista que acredita na gestão rigorosa como alicerce para o sucesso desportivo, é encorajador ver o nosso clube contratar profissionais de excelência para a sua estrutura. Da mesma forma que tentamos contratar os melhores jogadores para o plantel, temos que recrutar os melhores gestores para a administração. É, por isso, com grande satisfação que observo a entrada de Nuno Catarino, um profissional com provas dadas, para o papel de administrador financeiro da SAD.
Embora as novas responsabilidades sejam, certamente, entusiasmantes, a realidade que enfrentamos é complexa e o estado de graça do novo CFO será inevitavelmente curto. O Relatório e Contas publicado esta semana contém uma série de sinais de alerta que não podemos ignorar. A dívida líquida está a subir de forma preocupante e o passivo aumenta a um ritmo insustentável. Todos sabemos que, no próximo ano, as contas serão positivas, graças às vendas de jogadores realizadas no mês passado. Apesar disso, o cenário global deixa muito a desejar.
Contrariamente a alguns dos nossos adversários, não estamos sob a alçada do fair play financeiro, nem em situação de pré-bancarrota. Não precisámos, tampouco, de perdões bancários milionários para alcançar a estabilidade. Mesmo assim, o caminho que estamos a trilhar não deixa de ser preocupante. O aumento da dívida bancária, que mais do que duplicou nos últimos quatro anos, resultou no pagamento de 21,8 milhões de euros em juros, um sinal claro de que o Benfica está a viver acima das suas possibilidades.
Excluindo as transações de atletas, o Benfica teve, no exercício passado, um resultado negativo na ordem dos 90 milhões de euros. Isto significa que, para evitar prejuízos, o Benfica precisa de assegurar duas grandes vendas por mercado. Em outras palavras, atualmente, necessitamos de vender quase dois talentos como João Neves por época. E, infelizmente, todos sabemos o quão raros são talentos como o João.
O Benfica precisa de uma mudança de paradigma do ponto de vista financeiro. O que começou como uma situação conjuntural transformou-se num problema estrutural, que requer uma ação imediata e decisiva.
O único modelo financeiro sustentável passa por um equilíbrio entre as receitas operacionais e as despesas operacionais. A venda de jogadores é uma receita extraordinária, pois o objetivo de um clube é vencer e não vender. Se queremos mais sucesso desportivo, temos de conseguir manter os nossos talentos por pelo menos três anos. Na situação atual, temos 12 meses para mudar de modelo e evitar mais vendas futuras.
O novo paradigma deve garantir que as vendas de jogadores apenas servem para cobrir receitas operacionais em circunstâncias extraordinárias, como a não participação na Champions League. Nos outros anos, esse valor deve servir para reduzir a dívida e fazer investimentos com um plano sólido para modernizar e expandir infraestruturas, como o Seixal e a Cidade das Modalidades. O que há a fazer não é popular, mas é necessário: reduzir os custos salariais do plantel e os valores das novas contratações, bem como renegociar os nossos principais contratos relativos à manutenção do estádio e segurança.
É preciso garantir que, nos próximos anos, o Benfica volte a ser não só um exemplo de sucesso desportivo, mas também de rigor e excelência na gestão. Estamos todos com o novo CFO nesta missão: o seu sucesso será o sucesso de todos os benfiquistas."
Renato Sanches e os outros: não há duas lesões iguais
"Três crónicos candidatos ao título retomam a Liga com lesões relevantes nas respetivas equipas. Mas há uma que preocupa mais os adeptos, pelos antecedentes do infortunado
A semana que marca o regresso do futebol caseiro, naquilo que poderá ser considerado, por virtudes do calendário, uma espécie de segundo arranque do Campeonato Nacional, não traz grandes notícias aos três candidatos crónicos ao título no que respeita a lesões.
O Sporting retoma a competição sem o guarda-redes titular, o FC Porto vê-se forçado a adiar a estreia de uma das contratações mais empáticas e simbólicas do verão e o Benfica vê-se privado do poder de arranque de um médio vindo do... PSG, de onde na realidade poucas boas notícias têm chegado à Luz nos últimos anos no que respeita a jogadores emprestados.
Cada lesão é um problema, antes de mais, para o próprio jogador. E será sempre um problema para os treinadores. Mas assim como não há duas lesões iguais, porque nenhuma pessoa é igual a outra, estes três casos enquadram-se em cenários absolutamente diferentes, com especial destaque para a de Renato Sanches no Benfica.
Pode até ter sido — esperamos sinceramente que sim, porque a saúde é bem acima de quase todos — apenas uma coincidência, mas convenhamos que não haveria benfiquista que não esperasse pela primeira recaída do médio internacional português. Os números são claros, como poderá ler nas notícias dedicadas ao tema por A BOLA, e até José Mourinho chegou a referir-se ao assunto de forma pouco meiga: Renato Sanches, desde que deixou o Benfica, passou largo tempo lesionado e representava desde logo, por isso, um risco num mercado de contratações que não correu exatamente como os adeptos esperavam.
Não é, infelizmente, caso virgem. O Sporting, por exemplo, tem tido em St. Juste um exemplo claro de jogador com potencial que a cada renascimento sofre novo contratempo e volta a ficar de fora das opções. Outros exemplos haverá, pelos clubes fora. Com todas estas coincidências, os jogadores perdem espaço nas equipas e os treinadores veem limitadas as suas opções.
É por estes antecedentes que o azar de Renato Sanches é mais relevante que os de Kovacevic, no Sporting, e Fábio Vieira, no FC Porto. Porque paira sobre ele uma espécie de nuvem nefasta que fará desconfiar os adeptos — em primeiro lugar e de forma que será sempre mais ruidosa — mas corre riscos de alastrar a sua sombra aos decisores, como desafortunadamente sucedeu a Renato nos clubes por onde tem passado desde que deixou a Luz com a coroa de campeão da Europa.
Que seja apenas uma coincidência e Renato possa, daqui a umas semanas, trilhar o caminho que o talento dele merece."
Que águia esta!
"Relatório recente do Observatório do Futebol (CIES) refere que o Benfica é de longe o clube das 20 maiores ligas de futebol mundiais com o lucro mais alto entre vendas e compras de jogadores nos últimos dez anos/temporadas (2015-2024). As águias lucraram 816 milhões de euros, não muito abaixo de o dobro (42%) do segundo clube mais lucrativo, o Ajax (473 M€). O Sporting ocupa a 5.ª posição neste ranking (345 M€), o FC Porto a 8.ª (292 M€).
Só por si é um relatório impressionante e que reflete a capacidade dos encarnados em gerar valor na sua equipa e de transferir os seus (melhores) jogadores por valores muitíssimos elevados, incomparavelmente superiores às despesas contraídas em compras de reforços.
Questão que de imediato se coloca é de que essas mais-valias deveriam ser aplicadas em reforços de qualidade superior (que, embora mais caros, garantam-na) para reverter tão elevados proveitos financeiros em desportivos. No entanto, como se sabe não é fácil convencer um jogador de créditos firmados a preferir a liga portuguesa ou um dos seus melhores clubes até por um qualquer clube de meio da tabela das Big-5, incluindo-se nesta equação o salário bastante inferior, por vezes… várias vezes.
De qualquer modo, o Benfica, nos dez anos conquistou cinco Ligas (excluamos Taças e tacinhas). Contra três do FC Porto e duas do Sporting. Tantas quantas ganharam os rivais na mesma década. Recorrendo-se a equação de proporcionalidade lucro vs. Ligas, SLB equiparado a SCP, mas inferior a FCP.
Onde está então o fracasso? Por gerar tão superior receita o Benfica deveria ganhar sem dúvida muito mais. Não o faz, essencialmente, por crónica falta de estabilidade. E em três dos últimos quatro anos também por incompetência. Mas isso daria outra reflexão. Bem mais longa."
Dramas!!!
"Aqui temos mais um artigo construído para dar uma imagem negativa…
O Benfica “aí Jesus” que apenas tem 4 médios disponíveis para o jogo com o Santa Clara…reparem temos “apenas 4 médios” que são…
Florentino
Leandro Barreiro
Kokcu
João Rego (que presumo esteja a entrar na equação)
Renatos Sanches (Lesionado)
Aursnes (Lesionado)
São as nossas baixas…
Já nos rivais este problema não se coloca…senão vejamos…
Sporting conta no seu plantel com apenas 3 médios…
Hjulmand
Morita
Bragança
Na loucura pode jogar ali Pedro Gonçalves também…
Mas não tem mais médios de posição central…
Já o Porto conta nas suas fileiras com…
Varela
Grujic
Gonzalez
Eustaquio
Ivan Jaime
Fábio Vieira (Lesionado)
André Franco
Vasco Sousa
Portanto estamos perante uma situação dramática no plantel do Benfica não é???"
Regozijo!!!
"Já há muito que sabia que alguns benfiquistas, sim assim com b minúsculo tinham chegado ao fundo do poço, nunca imaginem que fosse tanto!
Nos últimos anos, passaram a confundir apoio incondicional com ambições eleitorais!
Já não vivem o clube, vivem para as eleições, e sejam derrotados de que forma forem nunca estarão bem!
Hoje alguns, para mim, bateram no fundo do poço!
Regozijar com a lesão de um dos nossos, só por acharem que tem razão, é mesmo o mais ridículo que existe!
Certamente que se devem ter regozijado quando o Krovinovic rebentou o joelho num lance perfeitamente desnecessário num jogo em que estávamos com o resultado feito e que nada, além da vontade de brilhar o obrigava a ter tal ação que resultou na sua lesão…aconteceu ali e foi marcante para essa temporada, quer do Benfica, quer de Rui Vitória quer do próprio Krovinovic que nunca mais foi o mesmo jogador que até aquele momento carregava toda a equipa e um sonho de um Penta…foi ali que começou parte do fim desse sonho…uma lesão…acontece a todos…até mesmo aqueles que passam a vida em frente a um teclado a debitar ódio!!!
Assistir hoje ao regozijo quer no Facebook, X, grupos de tudo e mais alguma coisa, porque o Renato Sanches, um dos nosso meninos, um dos dois únicos Golden Boys deste país, o motor da seleção portuguesa campeã da Europa, com o belo argumento
“bem…eu não disse que iria ser assim” ou “eu bem avisei” ou “até um deficiente previa isto” ou sei lá o que mais é o bater no fundo de qualquer benfiquista que vive apenas para bater no clube!
Não conseguem discernir entre apoiar os atletas e treinadores e por consequência o Benfica, não é o mesmo que apoiar os seus dirigentes e afins!
Tenho mesmo muita saudade de Eusébio, e Mário Wilson, esses sim, bastiões da mística benfiquista que falavam com autoridade por aquilo que deram ao clube dentro dos relvados e fora deles!
Eles não eram meros ventrículos das redes sociais, muito menos canetas de aluguer nem sequer wannabees que proliferaram nas redes sociais e cujo objetivo é chegar onde nem os atletas que tudo deram a este clube muitas vezes chegam!
Ver ex comentadores da BTV saírem e passarem a debitar ÓDIO AO CLUBE, ex funcionários de igual modo, é nojento!
Ver indivíduos invertebrados espalhados pelas redes sociais que poluem a mente de jovens que se foram felizes recentemente foi graças a tudo aquilo que eles “abominam”…ver tanta merda, que é isso mesmo que na globalidade debitam sobre a máscara da “exigência”…
Caiam na real o Benfica é fruto dos seus atletas, quem trás as glórias são os seus jogadores e treinadores, o nosso dever enquanto sócios, simpatizantes e adeptos e APOIAR incondicionalmente e de 4 em 4 anos ir às urnas avaliar o resultado do trabalho da direção em todos os temas do clube além do futebol, porque há mais Benfica além dos chutos na bola, mesmo que eu não ligue pevas a isso, há quem ligue e há que respeitar os mesmos!
O problema é que há anos, que há quem não respeite nada nem ninguém!
E podem achar que isso não tem influência, mas o pai do treta já o disse, no mundo altamente global e digital da atualidade tudo se sabe, os jogadores não são de ferro e são impactados com as vossas merdas diariamente!
Ganhem trambelhos e metam-se no vosso lugar.
Já agora Renato, em forma e sem lesões és sem sombra de dúvidas para mim, o melhor médio português da atualidade, assim o teu corpo permita que o demonstres dentro de campo!
Tenho dito!!"
«O tabu de Pedro Proença»
"Enquanto não se souber se Proença avança, ou não, para a FPF, vamos assistindo a um interessante posicionamento de pedras, no jogo de xadrez que se disputa a pensar na liderança da Liga…
Depois de Artur Soares Dias, de forma serena e tranquila, ter dito que entendia ter condições para, um dia, presidir à Liga de Clubes, foi agora a vez de José Pedro Rodrigues, antigo candidato aos Órgãos Sociais do Sporting, vir a terreiro declarar-se disponível para assumir tais funções. Porém, o mandato de Pedro Proença, atual líder da Liga, reeleito para o cargo em 2023, só termina em 2027, sendo, à primeira vista, extemporâneo que se comece desde já a falar em algo que só deverá tomar forma daqui a mais de dois anos. A não ser que haja outras contas, diferentes, que muitos já fazem e poucos assumem: a possibilidade, muito falada à boca pequena, comentada nos corredores, e alvo de matemática eleitoral relativamente aos 84 votos que vão decidir tudo, de Pedro Proença ser candidato à sucessão de Fernando Gomes na FPF. Sabe-se que o atual presidente federativo abandona funções, por chegar ao fim do último mandato, no final deste ano. Sabe-se, igualmente, que depois do extraordinário trabalho de Fernando Gomes na Cidade do Futebol (que antes dele não havia), a cadeira onde se senta passou a ser de sonho para muita gente, e para além de Nuno Lobo, presidente da AF Lisboa, que já assumiu estar a considerar fortemente a possibilidade de se candidatar, o nome de Pedro Proença tem estado presente em todas as conversas que têm por tema a sucessão de Fernando Gomes.
As eleições para a presidência da FPF são peculiares. Um colégio eleitoral, que detém 84 votos, decide quem será o novo presidente. Ou seja, basta garantir 43 votos para vencer as eleições, o que permite que as candidaturas façam, literalmente, campanhas porta-a-porta. Ainda não chegados a meio de setembro, estamos na fase de contagem de espingardas, mas, enquanto o silêncio (estratégico e ensurdecedor) de Pedro Proença se mantiver (e de facto, nesta fase, estar calado só o beneficia), o seu nome será sempre falado, sem que ele próprio tenha de dizer uma palavra que seja.
É, pois, este o contexto, a pensar em 2025 e não em 2027, assumindo como plausível uma candidatura de Pedro Proença à presidência da FPF, em que devem ser entendidas as palavras de Artur Soares Dias e José Pedro Rodrigues, nenhum deles, por certo, desejoso de queimar cartuchos antes de tempo.
Saber se Proença avança ou não para a Cidade do Futebol – ano e meio depois de ter sido reeleito para a Liga – é o grande tabu do nosso futebol que se joga fora das quatro linhas. E, ou não estivéssemos a falar de um ex-árbitro, quem manda no tempo deste jogo é Pedro Proença."
Que semana incrível
"O mês de setembro marcou o arranque da Liga BPI depois de um defeso pontuado por algumas transferências, envolvendo o mercado nacional, que deram que falar no âmbito europeu. Mas a última semana, em particular, foi incrível para quem acompanha e vive de forma envolvente o futebol feminino em Portugal.
Já aqui tinha deixado, neste espaço, referência à forma como o FC Porto de André Villas-Boas se empenhou para cumprir uma das suas promessas eleitorais, o da criação do futebol feminino no clube. E o que se viu no jogo de apresentação, não deixa de ser entusiasmante para os amantes desta disciplina: o Estádio do Dragão como palco principal e bancadas cheias batendo todos os recordes de assistência: 31.093 pessoas a assistir e a apoiar. Um sinal que dá força, mas que responsabiliza quem está à frente deste projeto.
A candidatura à organização do Europeu Feminino de 2029, assumida pela FPF na semana passada, é, à primeira vista, uma boa ideia. Mas que nos obriga, a todos os que andamos neste meio, a sermos cada vez mais intervenientes e exigentes. Por exemplo a pedir que a profissionalização da Liga feminina seja uma realidade o mais depressa possível. É muito bonito querer trazer para o nosso País as melhores seleções, os melhores treinadores e equipas de arbitragem… mas acima de tudo temos de dar o exemplo internamente, criando uma Liga que seja atraente para as melhores jogadoras.
Portugal tem, esta época, duas equipas empenhadas em garantirem presença nos grupos da Liga dos Campeões. Benfica e Sporting conseguiram ultrapassar a primeira fase de acesso com relativa facilidade, o que demonstra o potencial de ambos os emblemas também a nível europeu. Seguem-se as visitas a Lisboa do Real Madrid e Hammarby, campeão sueco, para jogarem com o Sporting e Benfica, respetivamente, a próxima fase de acesso, que se disputa a duas mãos. Jogos que deviam merecer os palcos principais, ou seja, Alvalade e Luz. Mas, pelos vistos, não será assim. O que é pena.
Não posso deixar enaltecer o facto de uma treinadora portuguesa se encontrar entre as seis nomeadas para a Bola de Ouro. Filipa Patão ganhou tudo na temporada passada a nível interno, formou uma equipa que chegou longe na Champions, viu o seu clube fazer uma das maiores transferências internacionais, com a mudança de Kika Nazareth para o Barcelona. A prova de que com pouco se faz muito e que pese embora sermos um País periférico, basta alguma organização e resiliência para os frutos surgirem… Parabéns!
Já agora, na minha modesta opinião, não teria ficado nada mal ver a Lúcia Alves também na lista das jogadoras nomeadas para a Bola de Ouro: para uma lateral-direito, fez números estratosféricos em 2023/2024: 43 jogos, 11 golos, 17 assistências, quatro troféus e quartos de final da Champions. Porque, sem lhe retirar qualquer mérito, se a treinadora está nomeada… às suas jogadoras o deve. E será difícil encontrar, mundo fora, uma lateral-direito com números melhores na época passada.
Não deixou de ser uma semana incrível! Que venham mais assim."
Recitava para com os seus atilhos os poemas da melancolia
"Americo Tesoriero foi uma das figuras mais fascinantes da história do futebol argentino
Americo Miguel Tesoriero era grande como poucos. Enquanto defendeu as balizas do Boca Juniores, primeiro entre 1917 e 1920 e, depois, de 1922 a 1927, tinha tanto tempo sem nada para fazer que dizia, para com os seus atilhos, poemas de cor. Gostava de Borges. Na sua cabeça havia lugar para um silêncio particular que abafava os gritos dos hinchas:
«Nadie rebaje a lágrima o reproche
Esta declaración de la maestría
De Dios, que con magnífica ironía
Me dio a la vez los libros y la noche
De esta ciudad de libros hizo dueños
A unos ojos sin luz, que sólo pueden
Leer en las bibliotecas de los sueños
Los insensatos párrafos que ceden».
Tesoriero nasceu em março de 1889 e, ainda garoto, fundou um clube de rua – Coronel Brandsen. Só o nome já ressoava às batalhas que teria de travar. E a miudagem jogava peladas rijas num espaço largo de terra batida em frente de um açougueiro, interrompida de quando em vez por homens corpulentos que carregavam carneiros em sangue e lombos de vaca às costas.
Um poeta é um poeta e é um poeta. Pouco importa se passa metade da existência entre dois postes e debaixo de uma trave, fehado numa grande-área de 16,5 metros por 16,5 metros. Tesoriero era magro, de cabelo sempre desacertado e passou a ser um ídolo do Barrio de La Boca ainda no tempo do futebol amador. O povo abastardava o seu nome e tratava-o por Tesoriere. A imprensa foi atrás da corruptela e começou a escrever Tesorieri. Para ele pouco importava. Só descia das nuvens nas quais se perdia en pensamentos íntimos quando um grito o alertava para o perigo iminente e, então, voava para cobrir os cantos da sua baliza como se os seus braços fossem asas que um Deus qualquer se esqueceu de acabar.
Se viera ao mundo em Las Barracas, La Boca era o seu mundo. Conhecia todas as calles ao pormenor. Foi no Club Aurora que os dirigentes do Boca Juniors o descobriram. Armou-se confusão imediata. Muitos desprezaram-norindo: que não tinha físico nem força para ser aparador de relva, quanto mais guarda-redes. Outros fincram pé. E levram a melhor. Americo seria o keeper do Boca e chegaria à selecção argentina. Não há nada que um poeta não possa fazer.
Colocaram-lhe uma alcunha: La Gloria. No final do Argentina-Uruguai do Campeonato Sudamericano de 1924, os adversários carregaram-no em ombros: tinha realizado uma exibição tão mágica que nenhum deles resistiu a aprová-la de forma absolutamente convulsiva. Era grande como os grandes. Como José María Buruca Laforia, El Vasco, ou Carlos Tomás Wilson, o sucessor de Laforia.
Nas bancadas os hinchas berravam de satisfação:
«Tenemos un arquero, que es una maravilla
ataja los penales sentado en una silla».
E Americo voava de voar mesmo, segurando bolas impossíveis, e voava em pensamentos estranhos que ia rabiscando em cadernos com uma timidez inábil, inquieto e incrédulo porque muito do que escrevia parecia vindo de mão alheia.
No dia 31 de dezembro de 1927, Tesoriero decidiu pôr cobro à carreira. Na última jornada do campeonato argentino, num jogo entre o Boca e o San Lorenzo. Não encontrou um frase para dizer adeus. Mas um melancolia profunda tomou conta dele. Manteve-se nos relvados, como tratador de relva, aquela função que para alguns nem sequer servia. As saudades brotavam-lhe do peito em forma de poema que levou ao prelo:
«Las canchas me hacen penar
Porque ya no puedo jugar
Entonces, mi bien, ¿a qué ir?
¿Recuerdas a un muñeco de gris?
Todos los aplausos eran para ti
Los golpes, los denuestos, para mí
Escuchemos, querida, por radio el partido
Está fría la tarde
Y más frío el olvido».
Americo não escreveu apenas poesia mas foi também herói da poesia alheia.Como a de Ernesto Sabato, vencedor do Prémio Cervantes da Literatura, em 1984, um adepto ferrenho do Boca:
«Melancólicamente me recuerdo
sintiendo las primeras gotas de una lluvia
en la tierra reseca de
mis calles sobre los techos de zinc
’Que llueva, que llueva, la vieja está en la cueva’
hasta que los pájaros cantaban y corríamos descalzos
a largar los barquitos de papel
Tiempos de las cintas de Tom Mix y de las figuritas de colores
de Tesorieri, Mutis y Bidoglio
tiempo de las calesitas a caballo
de los manises calientes en las tardes invernales
de la locomotora chiquita y su silbato…».
E o keeper/poeta, por sua vez:
«Velha lua/indiscreta
tens espiado/o poeta do infortúnio
rolando como um cão
sem dono/à porta das tabernas marginais
de álcool e sonhos pequenos».
E, amodorrado num acesso de spleen, Americo caiu num sono sem sonhos.."
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