Últimas indefectivações

sexta-feira, 20 de abril de 2018

O triunfo do medo

"Depressa se percebeu ao que vinha. Ao mínimo toque de um jogador do SL Benfica num adversário, o som estridente do apito fez-se ouvir. Em bolas divididas pelo ar, na marcação de cantos a favor do Tetracampeão ou em disputas junto à linha, não havia que enganar. Artur Soares Dias vinha com  a lição bem estudada: não queria errar. E estava no seu direito, pensei eu nos primeiros minutos do clássico. Dei-lhe o benefício da dúvida, coloquei-me no seu lugar e entendi que não quisesse falhar na sua profissão.
Só que a história não foi bem assim. Quando as jogadas foram ao contrário, Soares Dias esqueceu-se de apitar, mandava seguir o jogo, indiferente a protestos. Foi nesse momento que percebi que estava a ser ingénuo. Afinal, ele não estava ali para não errar, estava ali para assegurar o seu bem-estar e o da sua família. É duro ter de escrever isto no século XXI num país livre e democrático, mas é a verdade.
Desde a invasão ao Centro de Treinos dos árbitros, na Maia, em Janeiro do ano passado, que a temporada de Soares ficou afectada. Um bando de arruaceiros ligados a um grupo organizado de adeptos do FC Porto ameaçou este e outros árbitros, numa demonstração de cobardia e desespero típica da década de 1980 do futebol português. É óbvio que alguém que vê a sua integridade e a da sua família ameaçadas não pode estar focado a 100% na verdade desportiva. É triste que tenham ficado por marcar gravatas, obstruções e agarrões.
Não quero com isto dizer que foi por isso que o SL Benfica não ganhou o clássico. Quero só dizer que entendo muito melhor o facto de não haver árbitros portugueses representados no Mundial da Rússia. E ainda bem."

Ricardo Santos, in O Benfica

Benfica rima com superação

"Custou e ainda custa a digerir aquela derrota. Assim como o desaire caseiro de há dois anos frente ao Sporting ou o infortúnio de 2013 no Dragão. Tal como o fiasco deste ano na Liga dos Campeões, a eliminação em Dortmund na época passada e o afastamento aos pés do Bayern há duas. Bem como as duas finais da Liga Europa. E ainda o empate em Barcelos em 2014, a igualdade no Bonfim em 2010 ou a derrota com o Bétis no Torneio do Guadiana em 2004. Todo o qualquer insucesso do Benfica dói e corrói.
Porém, não compreender - ou nem sequer esboçar uma tentativa - que a infelicidade faz parte da caminhada é desconhecer a própria história do Benfica. Para os cobardes que se amedrontam, a agonia será continua. Para os corajosos que souberam enfrentá-la será apenas passageira.
Consoante a sua trajectória, a bola de futebol tem o condão de transformar estados de espírito - o que é perfeitamente natural. Já não entendo tão pacificamente que uma bola ao poste, para o bem e para o mal, seja capaz de suscitar levianas avaliações.
Sem o golo do Herrera, a entrada do Samaris teria sido astuta para fornecer músculo ao meio-campo; com o golo do Herrera, a entrada do Samaris passou a palermice. Se o golo do Herrera, o falhanço do Pizzi teria sido uma soberana oportunidade, embora de exigente execução; com o golo do Herrera, o falhanço do Pizzi passou a desperdício do ano que até o Hernán Barcos teria marcado.
Tagarelar já depois do resultado feito é fácil. Por isso é que não faltam especialistas por essas bancadas fora. Deveras complicado é tornar opções na hora. No meio do mundo da subjectividade há uma certeza incontestável: quem nunca decide nunca falha."

Pedro Soares, in O Benfica

Soltas, antigas e modernas

"O cérebro é o responsável por quase tudo o que fazemos. Se lhe dermos mais alimento, ou mais álcool, ou mais uso, ou mais o que quer que seja, assim ele reage, ou já não, em conformidade.
(...), o que se pode considerar um cérebro normal. Com cérebros destes podemos perfeitamente estabelecer ligações, conversar, socializar, discutir os problemas mais relevantes, enfim, ter uma relação normal e funcional.
No entanto, outros existem que não possuem a mesma configuração cerebral. Falamos dos que têm o formato cerebral constante (...).

Fraude Fiscal
Maicon Pereira Roque, jogador que foi do FC Porto SAD, intentou uma acção no Tribunal de Trabalho de Vila Nova de Gaia, contra a sua anterior entidade patronal, exactamente a FC Porto SAD.

Na respectiva acção, são denunciados factos que constituem fraude fiscal - de caras!
O que a FC Porto SAD faz, nas palavras de um seu atleta, é um contrato de trabalho desportivo com um valor, sendo esse o que é entregue na Liga Portuguesa de Futebol Profissional, mas, ao mesmo tempo, são assinados vários aditamentos e emitida uma declaração pela FC Porto SAD onde esta menciona que, afinal, o valor ilíquido declarado no contrato é o valor líquido a receber pelo jogador, fugindo-se assim aos impostos IRS e Segurança Social!

Estamos perante uma enorme fraude fiscal!
Mas, para que não restem dúvidas da enorme 'fraude' que está a ser praticada, aqui ficam excertos das declarações que a FC Porto SAD emite de forma 'ínvia'.
Ora, não será isto mais importante que um kg. de lulas?

Até para a semana."

Pragal Colaço, in O Benfica

Não acabou!

"Um pontapé fortuito à beira dos noventa minutos decidiu um “Clássico” que, até então, parecia demasiado embrulhado para ter golos.
O futebol é assim: inopinável, aleatório, e por vezes cruel. Perdemos o jogo, e desse modo caímos para o segundo lugar, a dois pontos da liderança.
Há pouco mais de um mês, quando a distância de cinco pontos parecia inamovível, muito provavelmente compraríamos esta classificação para esta jornada. As expectativas criadas entretanto com a súbita ascensão ao primeiro lugar, e agora a perda do mesmo, condicionam, como é óbvio, o estado de espírito da nação benfiquista, tornando-o permeável a um certo derrotismo.
Mas é preciso lembrar que o campeonato não acabou com aquele pontapé. Faltam quatro jornadas, e há doze pontos em disputa. O nosso adversário ainda tem, por exemplo, de se deslocar à Madeira e a Guimarães. Tudo é possível. O desafio que se nos coloca neste momento é o de continuar a acreditar. Continuar com o foco no “Penta”, pois só assim poderemos vir a estar em condições de aproveitar um eventual deslize do rival. Há que garantir quatro vitórias, e deixar as contas para o fim.
O verbo “desistir” não se conjuga com o substantivo “Benfica”. Não é essa a nossa matriz identitária. E é nos momentos mais difíceis que temos de ir ao fundo da alma buscar a crença dos verdadeiros campeões.
A história do futebol está recheada de situações inesperadas e surpreendentes. Sabemos bem que só a matemática dita os vencedores e os vencidos.
Estamos a dois pontos, e lutaremos pelo título até à 34ª jornada.
Até lá, continuemos unidos no grito: Força Benfica!"

Luís Fialho, in O Benfica

As quedas


"Todos os grandes Impérios caíram em virtude das suas divisões internas, tricas, invejas, ódios, ambições, guerras de poder!
O Império Romano, na maior parte da sua história, o seu poderio militar era invejado pelo resto do mundo antigo. Amparado na insatisfação popular, em virtude do rigor excessivo das leis e da alta carga de impostos, o Senado - à época, um corpo de conselheiros - iniciou um movimento rebelde contra a monarquia. Após manobras políticas, em 509 A.C. os senadores destronaram o Rei Tarquínio, o Soberbo, que tencionava diminuir o poder do conselho.
Começa a república, sob a direcção do primeiro cônsul de Roma, Lúcio Bruto. Vê-se desde logo que uma grande república que deu origem a um grande Império começou com a insatisfação popular e com um conjunto enorme de tricas e traições. Ainda hoje é assim, e a história foi toda assim!
Mas depois veio o seu declínio. A imagem das outrora poderosas legiões começou a mudar. Incapaz de recrutar soldados suficientes de cidadania romana, imperadores como Diocleciano e Constantino começaram a contratar mercenários estrangeiros para engrossar as suas fileiras. As legiões, eventualmente, encheram-se de germânicos godos e outros bárbaros, tanto assim que os romanos começaram a usar a palavra latim 'barbarus' no lugar de 'soldado'. Enquanto esses soldados provaram ser guerreiros ferozes, ao mesmo tempo não tinham lealdade ao Império, e os seus oficiais, sedentos por poder, voltavam-se muitas vezes contra os seus empregadores romanos. De facto, muitos dos bárbaros que saquearam a cidade de Roma e derrubaram o Império do Ocidente conquistaram as suas patentes militares enquanto serviam em legiões romanas.
Para Talleyrand-Périgord, ministro das Relações Exteriores de Napoleão Bonaparte, 'traição é uma questão de datas'. Talvez por isso, Talleyrand não só tenha abandonado o imperador mas também mudado radicalmente de lado. Numa época em que a França espalhava pela Europa os princípios da revolução, ele organizou a deposição de Napoleão e a volta dos Bourbons para restaurar a monarquia.
Judas Iscariote não traiu 'simplesmente' uma pátria, um partido ou uma ideologia. O mais famoso traidor da história é até hoje lembrado como o sujeito que deu uma rasteira no filho único do Todo-Poderoso. E pior: segundo a Bíblia, Judas entregou Jesus Cristo aos soldados romanos em troca de miseras 30 moedas de prata. Arrependido, o apóstolo tentou devolver o dinheiro e voltar atrás, mas já era tarde. Cristo foi crucificado, e Judas, culpado suicidou-se."

Pragal Colaço, in O Benfica

Unified

"Unificar a prática desportiva é o novo lema que atravessa fronteiras. No fundo, a consagração de que as muitas barreiras das deficiências podem também ser atravessadas pela união das pessoas e pela partilha efectiva, muito para lá do assistencialismo em que um dá e outro recebe. Como se a mera diminuição de uma qualidade fosse capaz de reduzir toda a condição humana a uma posição de desvantagem a dependência.
Quando falamos com os jovens, sentimos muitas vezes essa revolta contra os carimbos da diferença, tantas vezes menos focada no seu problema do que na desvalorização social da sua pessoa.
É por isso que a prática do desporto adaptado e os enormes sucessos dos atletas paralímpicos, por exemplo, são tão importantes. Porque levam os demais a ter orgulho nas suas conquistas, sejam adeptos ou atletas que os reconhecem pela sua valia.
E, sim, tudo isto é importante, mas é preciso ainda mais. É preciso a partilha do suor no campo, o contacto e a interdependência da equipa, a conquista conjunta. É aqui que entra o conceito de Unified, em que estes dois mundos separados se misturam e se promove uma verdadeira interacção entre pessoas com e sem deficiência, numa aprendizagem conjunta em que muito devemos ao pioneirismo do movimento 'Special Olympics', a que em boa hora a Fundação Benfica se juntou em colaboração. Depois, claro, vieram os sorrisos dos jovens, livres e dignos, orgulhosos de ombrear com outros jovens atletas, cientes e respeitadores das diferenças mútuas, mas inteiros na sua autoestima e no orgulho pelas conquistas partilhadas.
Afinal, não é todos os dias que se vai ao torneio em Roma competir com delegações nacionais do Special Olympics e vários clubes europeus. E estes jovens cometeram juntos a proeza. Juntos, não: Unified, como se fossem um!"

Jorge Miranda, O Benfica

Vou ao Estoril

"Numa instituição com a natureza e com a dimensão do Benfica, nunca, em circunstância alguma, podem deixar de se cumprir como norma os mais elevados índices de cultura de exigência que representa a matriz fundacional do Clube: o Sport Lisboa e Benfica formou-se para competir, mas, com o devido respeito por todos os adversários que se mostrassem leais, os nossos antepassados Fundadores logo estabeleceram que nascíamos para os vencer. O que, portanto, a história nos determina é que os Benfiquistas nunca se reuniram para perder, nem para empatar. E sendo aquele o nosso singular termo absoluto de referência comum, nós, sob a égide da águia, sempre temos de jogar todos juntos, para ganhar. Nunca para perder. Nem para empatar.
Com efeito, de acordo com os exemplos míticos que os Fundadores e os nossos heróis dos campos, das pistas e dos pavilhões nos deixaram, a todos aqueles que servem o Benfica, a quem hoje enverga o nosso Emblema ou, seja em que circunstância for, esteja a representar o Sport Lisboa e Benfica, jamais entre nós será consentido pelo bom senso invocar-se a condescendência dos pares (ou, por absurdo, arriscar qualquer pirueta possidónia em bicos-dos-pés) para justificar um erro, uma quebra de um desalento que, normalmente, só induzem a derrota. Nem antes, nem durante, nem depois de uma competição. Nunca.
E se assim é relativamente dos atletas, aos técnicos e aos gestores, também não deixará de o ser no que respeita ao comportamento de cada um de nós, nas bancadas (ou, até, nas palhaçadas agora em alta, nas televisões).
Em contexto algum podemos desistir do nosso primeiro desígnio de vencer, juntos.
Em cada momento do treino ou do jogo (ou no circo mediático), a maximização mais dedicada do esforço competitivo que caracteriza o Benfiquismo exige, de cada um de nós, o respeito por nós próprios. E, enquanto houver o eterno Benfica, é todos juntos que ganhamos.

Só perderemos se nos conseguirem dividir. Por isso, só se não puder: não deixarei de ir ao Estoril."


José Nuno Martins, in O Benfica

Ibrahimovic

"1) A FIFA pode impedir Ibrahmovic de competir no Mundial da Rússia?
As notícias mais recentes dão conta da possibilidade da FIFA vir a impedir a participação de Zlatan Ibrahimovic no mundial de selecções que irá ter lugar na Rússia este ano, caso o jogador dos LA Galaxy venha a ser convocado pelo respectivo seleccionador nacional. A história e os factos são simples: Ibra assinou recentemente um contrato de patrocínio com a empresa de apostas "Bethard" e isto é algo que a FIFA pretende, desde a um tempo a esta parte, evitar. Ou seja, aos olhos da FIFA, os agentes desportivos (jogadores, treinadores, intermediários, entre outros) não poderão estar, de qualquer forma, relacionados com este tipo de empresas, quer num quadro de patrocínios, quer a um nível de participação, directa ou indirecta, empresarial e estrutural ou, até, de investimento.
2) Qual o regulamento que permitirá a FIFA avançar com esta proibição?
A curiosidade coloca-se, porém, na base regulamentar da entidade que controla o futebol mundial e que lhe poderá abrir a porta à possibilidade de sanção ao atleta por tal relação contratual. Este sim, é o ponto fundamental neste processo pois não resulta do regulamento disciplinar da FIFA a possibilidade de sanção do jogador por tal questão de patrocínio. Antes, são os códigos de conduta e de ética da FIFA quem nos conferem a resposta. O primeiro dispara -nos com a salvaguarda do fairplay e da proibição das apostas, lotarias ou similares. Já o segundo, por outro lado e no que à Ética diz respeito, apresenta-nos o seu artigo 25 que estipula que os agentes desportivos estão impedidos de se associarem a casas de apostas como é o caso do gigante sueco. Mas terá a FIFA coragem de impedir o melhor jogador sueco dos últimos tempos e um dos nomes mais relevantes no Mundial (caso seja convocado) de se apresentar e, ainda, de o punir atempadamente?"

Benfiquismo (DCCCXIII)

Mais uma...

Aquecimento... e ainda!