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terça-feira, 19 de novembro de 2024

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Quinas, olimpismo e Villas-Boas


"A grandeza com que José Manuel Constantino andou pela vida foi homenageada em dois eventos distintos. O seu exemplo devia frutificar, a ganhar ou a perder…

Na última semana, dois eventos de caráter social marcaram a vida desportiva portuguesa. Na segunda-feira, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), levou a cabo, no Centro Cultural de Belém, a Gala das Quinas de Ouro, e no dia seguinte o Pavilhão Carlos Lopes, ao Parque Eduardo VII, em Lisboa, foi palco da apresentação de dois livros, da autoria dos excelentes jornalistas António Simões e Rogério Azevedo, sobre o campeoníssimo Carlos Lopes, primeiro português a ganhar ouro olímpico, em Los Angeles/84 (e na plateia estava Rosa Mota, para mim a melhor maratonista de todos os tempos, campeã olímpica em Seoul/88). O que aconteceu no CCB e no Pavilhão Carlos Lopes, teve um denominador comum, José Manuel Constantino, que foi presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), até a vida extinguir-se-lhe, exatamente ao mesmo tempo em que, em Paris, se extinguia a chama olímpica. No CCB, a FPF dedicou uma parte da cerimónia a homenagear o olimpismo e o paralimpismo, e os quatro portugueses que trouxeram ouro de Paris (Iúri Leitão e Rui Oliveira, no Madison, Cristina Gonçalves no BC2 de Boccia, e Miguel Monteiro, no lançamento de peso) e a maior ovação da noite (uma prolongadíssima ‘standing ovation’) teve por objetivo, mais do que honrar a memória, agradecer a José Manuel Constantino tudo o que fez, muitas vezes tornando-se incómodo para os poderes instituídos, pelo nosso desporto. No dia seguinte, o ex-presidente do COP, que teve a iniciativa de ‘encomendar’ os livros sobre Carlos Lopes, que foram editados pelo Comité Olímpico, foi novamente alvo de uma sentida homenagem, numa cerimónia dignificada pela presença do presidente António Ramalho Eanes. Há personalidades que, pela sua grandeza, transcendem os tempos, e são imortais na memória das gentes…
No CCB, a FPF (que pena não terem sido recordados Artur Jorge, Manuel Fernandes e João Rodrigues…) decidiu agraciar com as Quinas de Ouro os clubes que atualmente representam Portugal nas competições da UEFA e que, por sinal, também são os que têm mais presenças na Europa: Benfica, Sporting, FC Porto, SC Braga e VSC de Guimarães. Enquanto Rui Costa, Frederico Varandas, António Salvador e António Miguel Cardoso estiveram presentes em representação dos seus emblemas, André Villas-Boas delegou no gestor executivo dos dragões, Henrique Monteiro. Obviamente que comparou mal. E, repare-se, não tinha sido só o FC Porto a perder na jornada do fim-de-semana anterior: também os vimaranenses, nos Açores, e os arsenalistas, em casa, frente ao Sporting, tinham sido derrotados e não confundiram conjuntura com estrutura.
André Villas-Boas, que não só recebeu um clube financeiramente nas ruas da amargura (acaba de anunciar dois empréstimos, que andarão por 150 milhões de euros), também enfrenta uma guerrilha interna que procura miná-lo, sempre que os resultados desportivos são negativos. Compreendendo todas as dificuldades e estados de alma, há obrigações institucionais que devem estar para lá de tudo isso."

José Manuel Delgado, in A Bola

Para refletir


"O que motiva os consumidores de desporto, nos dias de hoje?

Competição séria ou espetáculos burlescos? Juntaram-se 70.000 almas, no estádio dos Dallas Cowboys, que pagaram entre 74 e 1800 euros por bilhete, para verem um combate de boxe (?) entre o ex-campeão Mike Tyson, 58 anos, e o youtuber Jake Paul, de 27. Paul venceu aos pontos e arrecadou 38 milhões de euros, enquanto Tyson ‘abichou’ metade. Assistiram ao vaudeville, uma produção da Netflix, 280 milhões de telespetadores em todo o mundo. There’s no business like (global) show business…"

InZone: o jogo da inclusão


"A semana desportiva foi dominada pelas ondas de choque da expressiva derrota do FC Porto na Luz, mas também pela polémica em torno da falta de reconhecimento de habilitação profissional do novo treinador do Sporting pela Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF).
A derrota do FC Porto aparece num momento em que o clube precisa de resultados que gerem confiança no projeto desportivo, que possam repercutir-se na melhoria da respetiva situação financeira no médio e longo prazo. O FC Porto necessita de gerar receitas e para isso terá de ter sucesso desportivo, mas sem abdicar da sua vocação de instituição de utilidade pública comprometida com o fomento da prática desportiva de proporcionar meios de recreio e de cultura, tal como está instituído nos seus estatutos, onde também são afirmados os valores do desportivismo, do fair-play e da não discriminação.
Num outro plano, o Sporting, que compete entre os melhores do futebol europeu, vê-se também obrigado a dar uma resposta imediata à perda de um líder altamente valorizado, e escolhe fazê-lo recrutando internamente um treinador que ainda não viu reconhecida a qualificação necessária para o desempenho da sua profissão ao mais alto nível.
É possível ser sustentável, sem abdicar dos seus valores? É possível apresentar competência prática, sem reconhecimento formal de pares, incumprindo regras? Os desafios dos clubes são, em abstrato, o espelho dos desafios societais com que nos vemos confrontados noutros contextos.O FC Porto deu recentemente uma resposta ao primeiro desafio, o da sustentabilidade, sem comprometer aquilo que é o verdadeiro DNA de um clube com a sua grandeza. Com efeito, o espaço InZone, uma parceria entre o clube, a Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto, e uma empresa de apostas desportivas (Betano), foi mesmo distinguido com o prémio de acessibilidade da Associação Europeia de Gestão de Estádios e Segurança (ESSMA). A sala sensorial InZone possibilita que as pessoas com perturbação do espectro do autismo, disfunção do processamento sensorial, défice Intelectual ou doença mental possam assistir a jogos de futebol no estádio.
A relevância de criar espaços como o InZone é validada por vários estudos empíricos e modelos teóricos interdisciplinares que integram a psicologia, a saúde pública, a pedagogia, e estudos de inclusão no desporto, que apontam para a necessidade de ambientes adaptados para atender à diversidade de necessidades. Este espaço adaptado permite que adeptos com necessidades específicas disfrutem do jogo num ambiente confortável, controlado, seguro e com o mínimo de experiências de sobrecarga sensorial.
O Sporting, tudo indica, dará, enquanto não for possível obter o reconhecimento formal da habilitação plena seu novo treinador, uma resposta que cumpre os requisitos legais, colocando formalmente um treinador devidamente habilitado no banco da equipa.
No passado, o problema da deficiência e da doença mental foi abordado com as pseudoteorias do eugenismo, mas também com as fogueiras que procuravam combater de forma radical tudo aquilo que, na ignorância, se pensava ser a expressão do mal. O nosso conhecimento evoluiu, e procuramos hoje dar condições para que todos possam ser incluídos em todas as esferas da vida. De igual forma, em diversos planos, criamos regulamentos e percursos de formação validados, procurando proteger e desenvolver as pessoas, as organizações e a sociedade em geral. É por isso que certificamos médicos e psicólogos criando percursos formativos exigentes, baseados em conhecimento científico, e os preparamos para, com supervisão, ter a melhor garantia de que nos cuidarão naquilo que forem as nossas necessidades de saúde mais prementes. Fazemo-lo para proteger a saúde de cada um e de todos, porque fazemos parte de uma espécie que vive e prospera em comunidade e em cooperação.
A organização do nosso futebol, que investiu em estruturas físicas e formativas de alto nível, traduziu-se em resultados que são reconhecidos em todo o mundo. As nossas equipas de futebol competem internacionalmente com as melhores, porque formam e recrutam os melhores profissionais nesta área. Na procura de soluções de curto prazo, podemos correr o risco de regredir. Não podemos repetir práticas do passado, desvalorizando o conhecimento científico, ou contratando pseudoprofissionais. Veja-se o caso do coaching praticado por não psicólogos, ou das teorias holísticas, que já mereceram o parecer de ameaça à saúde pública por parte da Ordem dos Psicólogos. Precisamos de continuar a investir na criação de condições para que todos possam ter acesso aos espaços de cultura e de lazer, bem como oportunidades de formação que com rigor, e em tempo útil, preparem todos os profissionais que precisamos."