Últimas indefectivações

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Paracetemol

"1. Dá gosto de ver jogar o Sporting de Keizer. Aquela miúda dos tempos de liceu, com aparelho nos dentes e óculos com lentes de fundo de garrafa (o Sporting de Peseiro) é hoje uma mulher deslumbrante e confiante. Claro que este romantismo tem riscos defensivos, já se percebeu - em três jogos da Liga, por exemplo, quatro golos sofridos e 68 faltas (média de 22,6 por partida) -, mas mais vale um 3-2 com paracetamol do que um 1-0 anémico.
2. Em lance corrido, Soares não fez falta sobre Patrick. Em slow motion fez. Vou pelo corrido. Antes do Mundial Massimo Busacca (chefe de arbitragem da FIFA) já tinha alertado para os perigos do slow motion. É que aí até um abraço amigável pode parecer tentativa de homicídio por asfixia.
3. Não deixa de ser, porém, mais um lance de dúvida que caí para o lado do FC Porto. Sim, tem sido a melhor equipa; sim, tem sido beneficiado. É como meter molas num canguru.
4. Se a isto somarmos os proveitos do Sporting, sobretudo através de discutíveis e/ou incompreensíveis penáltis (a conta vai em oito na Liga, quase 27 por cento dos golos dos leões), é legítimo pensar que o Benfica, através de benefícios a terceiros (e não tanto prejuízos próprios), pode estar a pagar no campo por aquilo que fez (se fez) e não fez (se não fez) fora dele. Como se todos quisessem fugir do lado negro da força. A mente, às vezes, é um cão perigoso sem trela.
5. O problema dele foi achar que BdC significava Bruno depois de Cristo. Felizmente que há Frederico Varandas: a Bonança depois do Caos.
6. Discordo de Rui Vitória: deve contratar-se sempre para roubar o lugar aos titulares. É a única forma de ter bons suplentes (sejam os que chegaram ou os anteriores titulares) e, por consequência, um plantel mais forte.
7. Disse recentemente José Mourinho que se fosse multimilionário afastava-se do futebol. Algo que, seguramente, não diria há 20 anos e talvez ajude a perceber muita coisa. Ou tudo."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

PS: Hoje, para um Benfiquista ter lugar na redacção de um jornal desportivo, tem que escrever assim, senão vai para a rua...!!!

Um outro olhar

"Ao verificar a forma de actuação das equipas de arbitragem na relação com o videoárbitro (VAR), verificamos que houve uma alteração com algum significado no modo de intervenção.

Ao analisar os jogos desta jornada, e ao verificar a forma de actuação das equipas de arbitragem na relação com o videoárbitro (VAR), concluo que houve uma alteração com algum significado no modo de intervenção, daí que o desafio seja olhar de forma diferente para os casos, não tanto pela perspectiva da decisão correcta ou errada, mas para verificarmos quer o grau de dificuldade dos lances, quer os indícios presentes em cada situação e que servem de base para a actuação e consequente decisão.
O que mudou mesmo foi que tivemos o VAR a intervir em diversas situações, quando em jornadas anteriores acabava por não solicitar a revisão no monitor por parte do árbitro. No jogo Santa Clara-FC Porto, ao minuto 21, há um lance de possível penálti de Marco Pereira (guarda-redes) sobre Herrera, mas como no início da jogada há uma carga nas costas de Brahimi sobre Patrick, o resto do lance acaba por ser anulado.
O VAR, bem, em vez de verificar apenas o penálti, que acabou por considerar, e o início da transição ofensiva, que foi a tal falta de Brahimi (e com isto abster-se de comunicar ao árbitro, o que em termos de produto final estaria certo mas iria levar a reclamações, pois passava a ideia de um penálti não assinalado e da não verificação do mesmo pelo VAR), solicitou a ida do árbitro ao monitor.
Revista a jogada, o árbitro recomeçou o jogo com livre directo a favor do Santa Clara e assim se passou uma imagem de verificação e de intervenção do VAR, “vendendo” claramente ao público em geral todo este processo. Ou seja, toda a forma de comunicar para o exterior foi assim entendida no estádio e em casa.
O mesmo sucedeu no minuto 57, quando o FC Porto fez o segundo golo. Uma vez mais, o VAR levou o árbitro a ir ao monitor para verificar se Soares tinha cometido infracção sobre Patrick e, concordemos ou não com a decisão final, esta pertenceu por inteiro ao árbitro do jogo, validando assim a utilidade do VAR, que cumpriu o seu papel. Ao chamar a atenção para um lance que não sendo de todo claro e óbvio, mas que teve importância extrema no resultado, evitou que a questão morresse na apreciação e análise solitária e exclusiva do VAR, validando a decisão final do árbitro. 
Em Alvalade, no Sporting-Nacional, por diversas vezes houve a intervenção do VAR e a deslocação do árbitro ao monitor para constatar, ele próprio, se mantinha ou alterava a sua decisão inicial. Foram alguns os lances de análise, nomeadamente ao minuto 64, no possível penálti de Júlio César sobre Diaby que o árbitro não assinalou, e ao minuto 73, no eventual cartão vermelho a Vítor Gonçalves pelo toque com o pé na cabeça de Gudelj. Curiosamente, em ambos o árbitro não alterou a decisão inicial.
Nos outros casos, minuto 18, golo anulado ao Sporting por fora-de-jogo de Diaby, e nos penáltis assinalados aos minutos 35 (falta de Vítor Gonçalves sobre Bas Dost) e 85 (infracção de Kalindi sobre Bas Dost), o VAR limitou-se a verificar e validar as decisões iniciais quer do assistente, no fora-de-jogo, quer do árbitro nos penáltis.
No jogo Marítimo-Benfica, houve menos casos de jogo. O VAR interveio, obviamente, verificando os lances de acordo com o protocolo, mas não levou o árbitro a recorrer ao monitor. Houve, no meu entender, dois momentos importantes do jogo que poderiam ter, contudo, levado o árbitro a verificar essas ocorrências.
Aos 45+1', aquando do penálti de Amir sobre Jonas, pois há três momentos importantes nesse lance - se Jonas dominou a bola com o braço ou com o peito, se Amir tocou com o pé e depois com a mão no pé de Jonas e se o derrubou nessa acção, e se a acção disciplinar correcta era, como o árbitro mostrou, apenas o cartão amarelo; e aos 65', aquando da entrada de Fabrício sobre Gedson, no sentido de saber se era merecedora de algo mais que cartão amarelo.
Como sabemos, os penáltis e os cartões vermelhos directos fazem parte do protocolo e o VAR obviamente que verificou os lances e que os validou, ou por concordar com ambas as decisões, ou por achar que em nenhuma delas havia um erro claro e óbvio. Se o primeiro lance me parece me mais pacífico, já no segundo defendo que deveria ter ido ao monitor confirmá-lo.
Em resumo, há uma mudança e uma maior amplitude na intervenção do VAR e um aumento do recurso ao monitor. O que eu penso sobre isto? Gosto. Mas mais do que gostar, acho que torna mais válida e útil esta ferramenta, pois o que todos queremos é uma arbitragem com menos erros e sobretudo um futebol com menos polémica e com mais verdade desportiva. E um uso mais assertivo do VAR pode, e de que maneira, contribuir para isso mesmo."

A propósito de Bas Dost e Jonas, (...) dá-nos uma lição sobre uma mão cheia de “lances valha-me Deus”

"Para quem não reparou, a jornada treze teve duas particularidades: uma resultante de uma coincidência de calendário; a outra por opção estratégica.
Vamos à primeira.
FC Porto, Benfica e Sporting jogaram com três ilustres representantes dos Açores e Madeira, respectivamente.
As ilhas portuguesas estão, há muito, enraízadas nos escalões profissionais, mas esta época contaram com um reforço de luxo: o Santa Clara, que subiu com mérito e competência e juntou-se à montra maior do futebol português.
Para que tudo fosse perfeito (além de bonito, merecido e justo), só faltava que a Liga NOS pudesse contar com equipas de todo o país. Norte e sul, litoral e interior.
Um dia, quem sabe?
A segunda particularidade diz respeito ao número de intervenções do VAR.
Não sei se estiveram atentos, mas a maioria dos jogos teve vários momentos em que o videoárbitro sugeriu ao colega de campo que visse as imagens nos ecrãs, junto ao relvado.
Nalguns casos a decisão inicial manteve-se (não esqueçamos que isso acontece quando o árbitro entende não ter cometido um erro claro e evidente, ainda que aceite que o lance seja dúbio)... noutros aceitou a indicação do seu "assistente de sala" e alterou a primeira decisão.
Mas o que realmente ficou na retina foi esta aparente mudança de paradigma.
Os VAR parecem agora ter deixado de actuar em situações de excepção (só o faziam perante a evidência de um erro claríssimo), para usarem o bom senso e aplicarem o espírito do protocolo: sempre que exista um lance de pura interpretação, susceptível de criar dúvidas ou, pior, de originar polémicas desnecessárias (que se podem arrastar por semanas), o melhor mesmo é dar aos árbitros a oportunidade de reverem o lance e assumirem a decisão.
Esta opção, naturalmente, tem prós e contras.
Por um lado, irá potenciar mais paragens e, com isso, alguma quebra na dinâmica da partida; por outro, afunilará o critério e trará mais verdade a lances cinzentos. Acima de tudo, permitirá ao árbitro chamar para si a responsabilidade de uma decisão, depois de a confirmar nos ecrãs. Essa opção resulta, quase sempre, no apagar de fogos posteriores, no encerrar imediato de contestações e ruídos (goste-se ou não, concorde-se ou não).
O que se espera, nesta mudança de estratégia é que haja uniformidade e consistência, para que todos os jogos tenham o mesmo tipo de abordagem.
No que me diz respeito... a minha vénia.
Esta "evolução" mostra inteligência, sensibilidade e visão do Conselho de Arbitragem, que percebeu que a mera aplicação da letra do protocolo era demasiado curta para o potencial da ferramenta. Demasiado curta, sobretudo, para aquilo que o futebol precisa, no campo e em campo.
Quanto aos jogos em si - e centrando esta análise na partida dos ditos três grandes - nota transversal: houve uma mão cheia de "lances valha-me Deus".
Não conseguem a expressão? Os árbitros usam-na, com frequência, para se referirem às jogadas cuja análise (até com imagens) irá sempre dividir opiniões.
O contacto foi suficiente? Caíu pela ação do adversário ou simulou? Foi tocado ou provocou? Está a fingir ou não? Peito ou braço? Valha-me Deus!
Nestes lances, há apenas uma certeza: saia dali o que sair, haverá sempre uma alminha (geralmente com lentes de cor diferente) que há-de achar a coisa um roubo, um escândalo, uma vergonha.
Onde os juízes vêem dúvida, os outros vêem certeza inabalável. Vá se lá saber.
A única alternativa? Decidir em consciência. Decidir com honestidade intelectual, com base no que se viu, intuiu, sentiu e leu.
Às vezes, a linha de visão está obstruída e é o som da pancada que define a decisão. Outras vezes, actua-se porque se vê o sangue a escorrer pela perna ou o buraco dos pitons cravados na coxa.
Há ainda aqueles momentos em que a expressão de dor de quem está no chão diz tudo. O ar de "culpado" de quem está, logo ali, de pé... também ajuda.
Com tanta lenga lenga, nem chegámos aos tais lances. Assim, muito sucintamente:
1 - Jonas foi derrubado pelo GR do Marítimo? Sim, parece mesmo que sim.
Apesar da repetição em slow motion indiciar alguma chico-espertice do avançado, o movimento dinâmico não deixa dúvidas.
Além disso, o braço/mão de Abedzadeh também tocou na perna do avançado brasileiro.
Ah! E ele dominou mesmo a bola com o peito e não com o braço (esta tem prova real nas imagens pós-jogo, que foram totalmente esclarecedoras).
2 - Primeiro penálti para o Sporting: aquele tropeção de um pé no outro (de Bas Dost) foi provocado pelo próprio ou só aconteceu por ter havido um toque muito ligeiro, na passada, de Vitor Gonçalves? 
As imagens são assim, cinzentas.
A minha opinião? Ponho as mãos no fogo que o jogador do Nacional, ainda que inadvertidamente, tocou ao de leve - com o joelho esquerdo - no pé do holandês. Não vos posso pedir que acreditem em mim, mas quase jurava...
Há momentos, no futebol, que vão bem além do que as imagens mostram. Quem jogou (e arbitrou) sabe disso.
3 - Diaby estava fora de jogo antes de servir Bas Dost para o golo, entretanto anulado? Mais uma das tais. A minha opinião a 99,9%? Sim. Estava.
Olhem para as marcas na relva e comparem a posição dele com a de Filipe Lopes, último defesa.
4 - Segundo penálti sobre Bas Dost bem assinalado?
Honestamente, não sei. As mãos do madeirense estavam nas suas costas, portanto o árbitro estava legitimado a ter a sua interpretação.
Com as imagens que vimos, pareceu mais aproveitamento e menos falta. Além disso, a regra é "na dúvida, não punir".
Mas perante tamanha incerteza, quem sou eu para garantir o que quer que seja?
5 - Marco Rocha, GR açoriano, derrubou Herrera?
Difícil. A linha entre a colisão/choque, fruto do movimento de ambos e a infracção foi, ali, muito ténue.
O VAR entendeu que sim, o árbitro foi confirmar e também achou o mesmo.
Depois, o que decidiram foi perfeito: recuperar o início da jogada e assinalar a carga inicial que Brahimi fizera sobre Patrick.
6 - Soares carregou o seu adversário antes do golo de Marega?
Mais uma de "valha-me Deus".
Houve contacto mútuo inicialmente. Sem dúvida. Depois a mão direita do brasileiro aterrou no pescoço do açoriano até provocar a sua queda.
Se eu tivesse que decidir, diria que sim. Que houve falta atacante.
A mão de Patrick nunca teve efeito ou consequência evidente na acção de Soares; a mão deste teve claro benefício na continuidade do lance, além de ser bem mais visível e ostensiva.
Entendo que, na dúvida, Godinho tenha mantido a decisão.
Outros lances havia, mas a ideia é lerem esta crónica antes da meia noite do dia 31 de Dezembro.
Em boa verdade, todos os lances - estes e tantos outros - já lá vão. Já foram decididos e o assunto arrumou-se logo ali. O que aqui se faz, à posteriori, é tentar perceber o que se passou, explicar, opinar.
Não muda nada. Certo?
Boas Festas!"

Breve teoria dos semáforos

"Aquela teimosia do semáforo que ficava vermelho a maior parte do tempo, caindo muito rara e rapidamente para verde, começou a encanitar os habitantes da rua Rodriguez Arias, em Bilbau, não longe da Vizcaya Plaza. Quando perceberam que a culpa era de um sem-abrigo, que insistia em carregar no botão do vermelho de forma a ter mais automóveis parados às janelas dos quais mendigar uns tostões, resolveram atribuir-lhe uma espécie de avença, desde que ele pusesse fim à pilhéria. Ele recebia a tal verba semanal mas não deixava o semáforo. Enfim, multiplicava os proventos. Depois, um tipo mais bruto, com sentido de humor a roçar o alemão, partiu-lhe os indicadores. Reacção exagerada que ainda assim terá posto o malandrim na ordem. Desapareceu da zona. Não tardaria a morrer vítima de tifo. Jovem como o Menino de Sua Mãe de Fernando Pessoa. Mas sem cigarreira breve. Tinha uma alcunha: Pijiji.
Bilbau chora quando a palavra se espalha de boca em boca: tifo. Os italianos utilizam-na com determinada ligeireza: «Ma lei per quale squaddra tifa?». Daí o «tifoso»; um ou dois degraus abaixo do fanático. O ano de 1922 foi absolutamente assassino. O tifo veio lá da União Soviética num epidemia que acabaria por assolar o País Basco. Mortos, mortos e mortos. Miguel de Unamuno, uma das mais extraordinárias figuras da cultura castelhana, escreveu:
«¡Pobre corral de muertos entre tapias
hechas del mismo barro
sólo una cruz distingue tu destino
en la desierta soledad del campo!».
E Unamuno vem absolutamente a propósito. Ele sobreviviu ao tifo, mas o seu sobrinho-neto Rafael Moreno Aranzadi, não escapou ao quarto cavaleiro do Apocalipse. E Unamuno tratava a morte por tu:
«Este buitre voraz de ceño torvo
que me devora las entrañas fiero
y es mi único constante compañero
labra mis penas con su pico corvo».
Rafael Moreno tinha duas grandes paixões. As ostras e o futebol. Há quem sustente que o tifo que lhe roubou a vida terá sido transmitido por bactérias do tipo rickettsia, que se encontram precisamente nas ostras menos frescas, mas isso seria entrar por um daqueles túneis obscuros e maçadores dos quais fujo a sete pés.
Quando o abutre voraz de Unamuno se ergueu no infinito levando nas garras o seu sobrinho para um desses quaisquer locais eternos, Bilbau voltou a chorar. Rafael tinha 29 anos. E uma alcunha como a do sem-abrigo que avermelhava semáforos na rua Rodriguez Arias: Pijiji. Ou Pichichi. Ou Pato Silbón, pato barulhento, ou pato que assobia, em termos mais populares.
Os Aranzadi eram uma família com peso na sociedade bilbaína. Não lhes apetecia ter um dos seus filhos por aí, meio à balda, a dar pontapés numa bola no mais pequeno pedaço de terreno que pudesse ser utilizado como campo de futebol. Ainda por cima com casamento marcado com outra das criaturas mais estimadas da cidade, a filha dos Merodi. Mas Pichichi, o magrinho Rafael Moreno, que era praticamente pele e osso, ouvia as palavras do pai por um ouvido e elas saíam pelo outro com a mesma velocidade com que ia marcando golos em bica. Entre 1911 e 1921, com a camisola do Athletic, somou a barbaridade de 200 golos em 170 jogos.
Se Miguel de Unamuno foi sempre um homem livre - «Não! Nunca trairei a causa da Liberdade! Não falta muito para que me levante e lute. Não, não sou fascista nem bolchevique - sou sozinho!» - o seu sobrinho, pai de Rafael, era um situacionista que chegou a alcaide de Bilbau no tempo do regime de Primo de Rivera. Já Pichichi mandava a política às urtigas e, apesar do seu peito de tísico e do seu pouco mais de metro e meia, dedicava-se a meter bolas dentro das balizas contrárias. Até certo ponto, era um vício muito seu. E passou a ser vício alheio a partir do momento em que o prémio para o melhor marcador do campeonato espanhol se tornou Troféu Pichichi.
O casamento amoleceu a rebeldia de Rafael. O peso de ser um menino-família foi-lhe retirando a raiva assassina que existe na alma de um avançado-centro. Depois de ter ido com a selecção espanhola aos Jogos Olímpicos de 1920, foi perdendo vertiginosamente o amor da populaça. Decididamente, nunca fora um deles. Nunca fora proletário, nunca tivera fome, tornara-se um dos primeiros jogadores profissionais do País Basco, e não renegava o sangue de Grande de Espanha. Do desagrado ao insulto o caminho foi curto. Desistiu de jogar e tornou-se árbitro. Para quem não queria ser aporrinhado, não parece escolha lógica. Um ano depois estava morto.
A morte é a mais perfeita das redenções. Sobretudo quando se cruza connosco antes dos 30 anos. Aurelio Arteta pintou-o: ‘El cuadro de Pichichi e su novia’. Juan Antonio Zunzunegui fez dele personagem do seu romance Chiripi. O tio, Unamuno, sentiu-lhe a falta:
«Alza los ojos y tu pecho anima;
conócete, mortal, mas no del todo»."

Dar a volta por baixo

"Sempre associei o termo “chicotada psicológica” ao despedimento de treinadores bigodudos e indistintos em equipas do fundo da tabela. Aparentemente, agora até o José Mourinho está ao alcance dessas chicotadas psicológicas, dessa execução vulgar dos vulgares. Dantes ele tinha as costas largas, protegido pelo talento, pelas vitórias, pela aura triunfante. Agora tem as costas mais largas – tão largas que estão ao alcance de chicotes psicológicos mais curtos.

José Mourinho continua a ser o “melhor treinador” - defende Rui Vitória. Haverá critérios técnicos insondáveis que justifiquem essa asserção, talvez os mesmos critérios que ainda justificam Rui Vitória no Benfica. O meu crivo é outro: se o Mourinho de 2018 aterrasse em Lisboa, será que interrompiam uma entrevista em curso ao Santana Lopes de 2007? Supondo-se que não, questiono seriamente o epíteto de “melhor” treinador.
E se fosse o Mourinho de 2018 a chegar durante uma entrevista ao Santana Lopes de 2018? Neste cenário, a não interrupção teria contornos ainda mais drásticos. Um “Special One” incapaz de roubar tempo de antena ao “not so special anymore” do Partido Aliança, permanece assim tão especial? Ao dar-se este episódio, a grande dúvida para a carreira futura de Mourinho passaria a ser qual o patrocínio do seu boné nas conferências de imprensa (os amigos pacenses não se sintam amesquinhados; estou seguro de que há mais clubes a usar a estratégia do sponsoring achapelado). 
Nos tempos áureos no Chelsea, José Mourinho chegou a referir George Clooney como o actor ideal para retratá-lo no cinema. A escolha pode parecer estranha, tendo em conta que Clooney é um par de anos mais velho que Mourinho, e que uma biografia cinematográfica, à partida, cobriria sempre períodos de maior juventude do treinador (o que requereria muita maquilhagem na meia-idade do Clooney). Mas, tenho de admitir que o casting não é descabido. Faz sentido que, ali em meados da década passada, o grisalho-precoce mais charmoso do futebol inglês se equiparasse ao grisalho-precoce mais charmoso do cinema mundial. Agora que os cabelos brancos do português já não são precoces, e que o desaire profissional desafia qualquer charme, talvez a Mourinho restasse um Diogo Infante cabisbaixo, ou um Luís Esparteiro emperucado.
Ainda sobre cinema, lembrei-me do Manoel de Oliveira – o mais consagrado dos nossos cineastas cabe nesta crónica sobre o mais consagrado dos nossos treinadores. Há a mania de pensar-se em Oliveira como um realizador enfadonho – e esse equívoco é normalmente propagado por quem nunca lhe seguiu a carreira. Com Mourinho, temos o inverso: há a mania de não se pensar que ele é um treinador enfadonho, e só quem lhe tem ignorado a carreira recente é que cai em tal esparrela. À partida, nunca haverá nada de errado em levar-se contenção e aborrecimento para as tácticas de um jogo de futebol, mas o Mourinho (e o Manoel) são a prova de que Portugal é dos países mais inconscientes no capítulo dos bocejos.
Acreditem que a única crueldade deste texto reside no tipo de escrita a que me concedi, como se uma rotina estafada de stand-up se tratasse. A crueldade não está em bater no Mourinho numa semana em que ele se encontra em baixo; basta olhar para os últimos meses do treinador - as atitudes explosivas, os papos nos olhos, a vida anacoreta, o desdém dos seus jogadores, o desapoio institucional - para perceber que esta não é particularmente a semana em que Mourinho se encontra em baixo. Creio até que a semana lhe tresanda a liberdade (e a indemnização avultada).
No fundo, o meu texto vem com o seu quê de terapêutico. Um texto de inoculação. A Mourinho não faltava humildade, faltava humilhação. Foi fanfarrão, arrogante, bully, poço de deselegância, e não há cura para tais maleitas quando se está acobertado por esta condição: ser-se o melhor do mundo. Em tempos, não só Mourinho foi o melhor do mundo como, ainda por cima, estava bafejado pela confiança dos que sabem bem o que são. Há que aproveitar a dúvida, estes momentos de mortalidade, não para bater no ceguinho, mas para surrar o mourinho. Aproveitar para uma moção de censura em jeito de voto de confiança.
José, estou aqui a vaiar-te porque torço por ti. Volta a ser o excitante Mourinho do Leiria, o intratável vitorioso do Porto, ou até o timoneiro por quem os jogadores do Inter de Milão estavam dispostos a morrer. Volta mesmo a ser o escudeiro linguístico dum Bobby Robson. Volta até a perder a cadeira vermelha para sebastianismos em torno do Toni, ou a ganhar sebastianismos que levantem Santana Lopes da cadeira. Mas, por toda a estima que te tenho, não dês a volta por cima. Volta por baixo, rumo ao topo."

José Mourinho: do sublime... ao despedimento

"Acontece que quando alguém está na mó de cima, a margem de tolerância para com as suas falhas parece não ter fim. Mas quando está na mó de baixo manifestações de arrogância tornam-se difíceis de engolir

O anúncio ontem do despedimento de José Mourinho do cargo de treinador do Manchester United suscitou as reacções mais díspares. A maioria dos seus pares sublinhou que não é por causa desta demissão que Mourinho deixa de ser um grande treinador - se não mesmo o maior. Mas também houve quem não escondesse a sua satisfação com o desfecho.
A verdade é que o estilo do treinador setubalense não agrada a todos. Mourinho tem uma autoconfiança que roça frequentemente a arrogância. Vejamos o caso da conferência de imprensa de 27 de Agosto deste ano. Depois da mais pesada derrota em casa da sua carreira, o treinador virou-se para os jornalistas com três dedos levantados e perguntou: “Sabem o que isto significa?”. Bastante irritado, ele próprio deu a resposta: “Significa que perdemos 3-0. Mas também significa três Premierships. Ganhei mais Premierships sozinho do que os outros 19 treinadores juntos”.
Acontece que quando alguém está na mó de cima, a margem de tolerância para com as suas falhas parece não ter fim. Mas quando está na mó de baixo manifestações de arrogância como esta tornam-se difíceis de engolir.
E há outro problema no discurso de Mourinho: a falta de coerência. Quando ganha, o treinador arrecada os louros. Por exemplo, ao falar com os jornalistas na tal conferência de imprensa, referiu os três campeonatos de Inglaterra como se fossem conquistas pessoais, sem sequer mencionar as equipas ou os jogadores.
No entanto, quando perde é frequente atirar as culpas para cima dos atletas. Ainda recentemente disse numa entrevista que faltava “carácter” a alguns dos seus talentos do Manchester United. Em que ficamos? A responsabilidade das vitórias é do treinador e a das derrotas dos jogadores?
Napoleão disse um dia que “Do sublime ao ridículo vai apenas um passo”. Apesar dos paralelos entre o percurso (e talvez até a personalidade) de Mourinho e do general francês, seria injusto aplicar esse adjectivo ao treinador português. Mas uma coisa é certa, depois das enormes conquistas, a única coisa sublime para Mourinho neste momento é a indemnização a que vai ter direito. 26 milhões de euros - nada mau para quem acaba de ser despedido por não corresponder ao esperado."

Intencionalidade...

"Não falta quem considere que o modo como é actualmente gerida a arbitragem no futebol profissional confere uma vantagem a um clube específico. Em detrimento de todos os outros.
A controvérsia das avaliações (para não lhe chamar outra coisa), as nomeações científicas para os jogos dos adversários directos (todas acantonadas no Porto e Braga), as nomeações condicionantes para os jogos desse clube e o funcionamento do VAR… Não são suposições. São factos. Ao longo de época e meia de funcionamento do VAR verifica-se que existe um clube muito beneficiado pela relação entre a tecnologia e o erro. Se o erro prejudica, a tecnologia corrige. Se o erro beneficia, a tecnologia neutraliza-se. O VAR tornou-se um mero pretexto para mais nomeações, para mais filtragens entre a verdade desportiva e os resultados finais. As pessoas alienadas do futebol (felizmente que as há) perguntarão como é que a tecnologia baseada no elemento visual de apoio à decisão pode ser um elemento constante de erro?
Pode, porque a viciação é intencional. E porque é que a intenção e as práticas não são punidas? Porque a corrupção tem um longo historial de aceitação no futebol português.
Infringem os corruptores e beneficiários de uma arbitragem corrupta. E, de certo modo, pactuam com este estado de coisas os que não reagem à altura. Doa a quem doer.
Em tempos, o Benfica apresentava uma queixa crime contra um assessor da FPF por proferir declarações falsas junto da UEFA, para beneficiar o FC Porto no julgamento de um caso de corrupção.
Esse tempo passou, mas a corrupção continua e os indícios estão aí, à vista de todos.
Já não me refiro apenas aos erros escandalosos e sucessivos de árbitros de campo e de VAR. O radar tem de incidir urgentemente sobre o funcionamento do Conselho de Arbitragem, senão, também, sobre outros Conselhos da FPF. Onde existir dualidade ostensiva de critérios existirá fundamento para actuar.
A lei é clara, confere ao Estado, através do membro do Governo responsável pela tutela do desporto, o poder de fiscalizar o exercício de poderes públicos e do cumprimento das regras legais de organização e funcionamento internos das federações desportivas, mediante a realização de inquéritos, inspecções, sindicâncias e auditorias externas (artigo 14.º do regime jurídico das federações desportivas e as condições de atribuição do estatuto de utilidade pública desportiva, republicado pelo Decreto-Lei n.º 93/2014, de 23 de Junho).
Ou seja, perante o “Estado de Sítio” em que está transformado o futebol português, com árbitros ameaçados, com indícios criminais de toda a espécie e feitio, com associações criminosas a suportar um ecossistema de fraude transversal - coação a agentes desportivos, viciação de resultados, venda de bilhetes ilegal, tráfico de droga e de informação - com os órgãos da federação a funcionarem neste ambiente, o que espera a Benfica para fazer valer o seu ponto de vista?
Não tem capital de queixa para exigir uma sindicância ou auditoria externa idónea para verificar ou despistar os níveis de penetração de actividades corruptas no funcionamento dos órgãos responsáveis pela arbitragem e disciplina?
O Benfica é sócio ordinário de uma federação a quem foi atribuído o estatuto de utilidade pública desportiva. E esse estatuto não foi atribuído, certamente, para que o órgão da arbitragem não revele critérios, não aplique regulamentos, não actue com isenção e imparcialidade, emita comunicados com conteúdos opacos. Não são caixas negras. São atas a que queremos ter acesso, precisamente aquelas a que se refere o artigo 47.º do citado regime desportivo. Convém relembrar que o dito estatuto de utilidade pública foi atribuído para o exercício de poderes públicos, subordinados à transparência e à regularidade da sua gestão.
Mais, o artigo 7.º do diploma consagra a responsabilidade civil (a que dói mais para algumas consciências) da FPF e Liga para com os lesados e de dirigentes e trabalhadores destas entidades, para com as próprias, por acções e omissões que decorram do exercício das respectivas funções. Ora, chegados a este ponto, e cientes do que estamos a falar, coloca-se uma questão: age o Benfica, ou agem os Benfiquistas através de uma Acção Popular (processualmente falando, nos termos da Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto) para repor o regular funcionamento da FPF e a verdade desportiva no futebol?"

Uma calendário para repensar

"Rui Vitória lembrou ontem que o Benfica pode ter até um máximo de 16 jogos para cumprir nos meses de dezembro e Janeiro. Uma média de 8 duelos por cada mês. Dois a cada semana.
Há adversários em situação semelhante e, por isso mesmo, o discurso do treinador do Benfica não deve ser entendido como uma queixa, muito menos como a chamada de atenção para um factor negativo em relação aos rivais nacionais.
Vem reforçar, isso sim, a preocupação e constatação de que, com o quadro competitivo actual, as equipas portuguesas estão em desvantagem face a adversários directos de outros países com calendários mais equilibrados.
O Benfica cumprirá hoje, em Montalegre, o 28º jogo oficial da temporada. Seguem-se, ainda em 2018, o Sp. Braga (Liga) e o D. Aves (Taça da Liga). Ou seja, terminará o ano com 30 jogos realizados na época em curso. Mais do que qualquer outra em Portugal.
Se o Benfica conseguisse chegar o mais longe possível nas três competições a eliminar em que está actualmente envolvido, teria de somar os 34 jogos (garantidos) do campeonato, a um total de 7 da Taça de Portugal, 5 da Taça da Liga, 10 da Liga dos Campeões (já realizados) e mais 9 da Liga Europa. Isto é: há um potencial máximo de 65 jogos para fazer em 2018/19 – coisa que passaria a constituir um novo recorde.
Como há vários jogadores internacionais no plantel do Benfica que são chamados regularmente às respectivas selecções, isto quer dizer que alguns deles teriam a possibilidade de terminar esta época com mais de 70 jogos!
Não está a chegar o momento de parar para pensar?"

Benfiquismo (MXXXIX)

1994

Festa, sim, mas para ganhar

"A deslocação do Benfica a Montalegre enquadra-se de forma perfeita no período especial que atravessamos: é uma irrepetível prenda de Natal para os nossos adeptos que vivem na região transmontana e seguramente um dia que dará sentido à verdadeira festa da Taça de Portugal.
Apesar do ambiente mais festivo que irá colorir esta eliminatória (que arranca já hoje, ainda sem VAR), é evidente que o Benfica não deixará de assumir as suas responsabilidades numa competição em que pretende, como sempre, chegar ao jogo decisivo no Jamor.
Sair de Montalegre com a vitória (como se deseja) não representará apenas a entrada nos quartos-de-final. Será também a possibilidade de somar a sexta vitória consecutiva e manter assim vivas as possibilidades de ter sucesso em todas as competições internas na temporada 2018/19.
É preciso ter consciência, porém, que a Taça de Portugal é uma competição cada vez mais equilibrada. Na actual década, por exemplo, apenas o Benfica conseguiu repetir a vitória na prova. Ou seja, nas últimas 8 edições, a Taça de Portugal conheceu 7 vencedores diferentes. Assim:
2010/11: FC Porto
2011/12: Académica
2012/13: Vitória SC
2013/14: BENFICA
2014/15: Sporting
2015/16: Sp. Braga
2016/17: BENFICA
2017/18: D. Aves
O Benfica pretende que Montalegre e a sua merecida festa sejam, pois, uma etapa no longo percurso até ao Estádio Nacional. Somos o clube com mais vitórias na Taça de Portugal (26), que mais vezes esteve no jogo decisivo e não queremos deixar estes créditos por mãos alheias."

Boa vitória...

Benfica 3 - 0 Zalau
25-21, 26-24, 25-20


Excelente vitória, num jogo equilibrado, com um 3-0 que não representa a qualidade do adversário. A chave esteve no 2.º Set, onde conseguimos dar a 'volta' ao Set na recta final...!!!
Dois Set's na Roménia, são suficientes...

Vitória em Coimbra...

Académica 0 - 2 Benfica


Uma verdadeira tromba de água, antes do jogo começar, deixou o relvado com muita água, em algumas zonas dava quase para nadar... Com o passar do tempo, foi ficando mais jogável, mas nunca deixou de estar muito pesado... O Benfica esteve por cima do jogo até ao golo do Pedro Soares (alguma sorte nos ressaltos), mas depois recuou e deu a iniciativa ao adversário, e podia ter corrido mal... Nos últimos minutos com os Estudantes a arriscarem tudo, acabámos por 'matar' o jogo com o 2.º golo...!!!