"Hoje vou abrir o Consultório Sentimental e deitar cá para fora o que tenho sentido desde o momento em que a principal equipa de futebol do Sport Lisboa e Benfica alcançou o pleno de cinco vitórias em cinco jogos no campeonato nacional. Sim, a época tinha começado com aquele balde grego de água gelada, mas na liga portuguesa estava tudo a correr bem: vitórias, golos, alta pressão, boas exibições. Era óbvio para mim - e para a grande maioria dos benfiquistas - que estávamos no bom caminho. A perda de pontos dos adversários também estava a ajudar a criar um clima de euforia colectiva em torno das exibições do SLB versão 2020/21.
A massiva adesão às eleições, essa extraordinária demonstração de benfiquismo, incendiou ainda mais os ânimos em torno do clube e da equipa. E depois veio o jogo no Bessa... Os 90 minutos pareceram um pesadelo. Faltou agressividade contra uma equipa que abusou dela. Faltou eficácia contra um adversário que conseguiu tê-la. Calma, foi uma noite má - foi o que pensei na ressaca do momento.
E lá surgiu o jogo com os escoceses do Rangers para outro banho de água fria. Confesso que estava demasiado confiante para essa partida. Na minha cabeça, o Glorioso não ia apenas ganhar, ia golear. Só que não. Empatou, a custo e tendo jogado desde os 20 minutos com um elemento a menos. Salvou-se a entrega.
A trilogia terminou com o SC Braga, na Luz. Confesso que, aos 0-3, já não sabia o que pensar. Enquanto adepto, paralisei. Nem o primeiro golo de Seferovic me tirou do torpor. No segundo já estava novamente ligado à conversa, mas foi tarde demais.
Continuo sem encontrar uma explicação para esta quebra de qualidade nas exibições (não esqueço o mérito que deve ser dado aos adversários), mas entendo o porquê deste sentimento que me percorre, esta desilusão que acredito ser passageira. A culpa é das expectativas. Das que eu criei e das que foram criadas. Agora, meus amigos, não vale a pena chorar. Vale a pena trabalhar para recuperar a qualidade e a confiança."
"Chegou mais uma paragem por causa dos jogos internacionais, e não sei se devo estar triste ou feliz. Por um lado, depois de qualquer derrota do Benfica, entro em estado de ansiedade, com os vasos sanguíneos dos olhos bem dilatados e o corpo todo a suar; sedento de uma vitória que me faça recuperar o estado normal e me permita, por exemplo, partilhar uma refeição com os meus país de forma serena e tranquila. Sem berrar com a minha mãe para trocar o meu pai pelo Grimaldo. Por outro lado, neste momento não tenho bem a certeza se quero assim tanto que chegue o próximo jogo. O USC Paredes está em segundo lugar na Série C do Campeonato de Portugal e sofreu tantos golos esta época como o Benfica nos últimos dois jogos. É verdade que a valia dos adversários do USC Paredes também não tem no centro da defesa uma dupla de centrais que brilhou na Premier League ao longo dos últimos anos. Eu até estava à espera de ver o Benfica sofrer 9 golos, mas contava que fosse durante a temporada inteira, não de rajada em três jogos seguidos. Contudo, se a baliza do Vlachodimos ficar inviolada daqui até ao final de Maio, então voltamos todos a ser amigos.
Comecei esta época a achar que o Benfica ia jogar o triplo, agora parece-me que o triplo não chega. Este ano de 2020 fica mais estranho a cada dia que passa. Estou sempre à espeita a ver se a qualquer momento aparece o Nuno Graciano a desvendar que tudo isto não passa de uma brincadeira de apanhados onde todo o mundo se juntou para me pregar esta partida. Rebenta a bolha, Graciano!"
"É comum ouvir-se que, se os ataques ganham jogos, as defesas ganham campeonatos. A verdade é que para ganhar, seja o que for, é preciso saber defender e saber atacar.
Desde há vários anos vemos o Benfica a atacar muito, e frequentemente bem. Mas infelizmente a defesa, ou a forma de defender, poucas vezes tem acompanhado o registo ofensivo.
Se compararmos as médias de golos sofridos nos últimos cinco anos, no campeonato e nas provas europeias, com o FC Porto, vemos que a diferença é significativa. No campeonato sofremos 0,74 golos por jogo para 0,62 do rival, enquanto na Europa a diferença é ainda maior: 1,69 para 1,36 respectivamente. Mesmo no ano da 'Reconquista', quando marcámos mais de cem golos, a defesa portista conseguiu revelar-se mais segura.
Jogar com extremos bem abertos e pouco dados a tarefas de marcação, com laterais ofensivos, e com um meio-campo criativo mas macio, permite esmagar adversários limitados e encolhidos (o que em Portugal é eficaz em muitos jogos, causando por vezes bastante impacto plástico), mas deixa a equipa demasiado permeável a quem saiba aproveitar o espaço concedido nas suas costas. Nas provas europeias isso tem-se mostrado várias vezes fatal, mesmo na frente interna, nomeadamente nos clássicos, torna as coisas mais difíceis. Com o SC Braga foi apenas o último exemplo. Se o Benfica tem plantel que permita cobrir ou pelo menos disfarçar este défice, é uma pergunta à qual não sei responder. Ou Jorge Jesus o consegue, ou resta-nos aguentar até Janeiro, e então procurar no mercado soluções eficazes que tornem, enfim, a equopa mais equilibrada."
"Uma nova novela do futebol português está no ar e promete muitos episódios nas televisões. A contratação de Nicolás Otamendi causou enorme azia sobretudo no FC Porto, que estava interessado no internacional argentino e não o conseguiu contratar. Como acontece com todos os jogadores que chegam a um clube com a dimensão do SL Benfica, a adaptação de Otamendi está a ser feita passo a passo.
As internacionalizações pela selecção da Argentina e os 210 jogos realizados na Premier League, ao serviço do poderoso Manchester City, são o melhor cartão de visita de um jogador de craveira mundial, com uma carreira marcada por 526 jogos e 33 golos.
Depois da polémica que suscitou o seu ingresso no SL Benfica, seguiu-se a questão da braçadeira de capitão. Apesar de ser o quinto da hierarquia do plantel, atrás de Jardel, André Almeida, Pizzi e Samaris, a verdade é que escolha de Jorge Jesus foi explorada como mais um caso.
Depois, seguiram-se os erros cometidos por Otamendi, em alguns jogos, tentando passar a ideia de que o argentino é o grande culpado pela actual crise de resultados. Chega a ser divertido assistir, diariamente, às profecias mais funestas de vários experts de TV. Estas almas penadas omitem os 20 títulos conquistados por Otamendi, entre eles uma Liga Europa e dois campeonatos ingleses, ambos ao serviço do Manchester City, onde foi titularíssmo e treinador pelos prestigiados Manuel Pellegrini (12 títulos) e Pep Guardiola (30 títulos). Já para não falar nos 56 jogos na Liga dos Campeões e os 17 na Liga Europa. Ou a sua participação em dois Mundiais e em três Copas América."
"Todos nos recordamos da primeira vaga da pandemia. Não sabíamos nada, não havia informação, não havia álcool, não havia máscaras, nem conversa sobre a sua utilidade e eficácia. Só havia medo e insegurança, mas, por outro lado, tínhamos uma esperança inabalável de que, uma vez finda, com o bicharoco de malas aviadas, 'vai ficar tudo bem!'. Sentimos falta dos espaços livres, do exercício físico, saudades da escola, do futebol, da religião, dos entes queridos, da vida social que nos conforta e reafirma, a cada dia, que não estamos sós nesta caminhada pela vida, que muitas vezes parece solitária. Depois veio o verão, e com ele o desconfinamento, primeiro a medo, depois, às vezes inconscientemente, sem medo nenhum. Mas enquanto durava a curta trégua, os países preparavam-se e apetrechavam-se o melhor que sabiam e podiam. E o vírus, esse teimava em sobreviver como se ansiasse pelo cair da folha para se espalhar em grande escala. Cá estamos agora, mas já sabemos algumas coisas, já interiorizámos comportamentos, estamos mais preparados, mas o desafio é também maior. Por isso, todos temos de colaborar de forma responsável, pelo bem de todos. Para isso são indespensáveis máscaras e viseiras, em toda a parte, mas muito especialmente nas escolas e nos hospitais. Razão por que aprofundámos parcerias e desencadeámos acções de reforço destes equipamentos individuais. Porque, mais cedo do que tarde, havemos de gritar aos milhares, novamente, nos estádios. É só mais um esforço... Façam-no!"
"Devido à pandemia e suas implicações nas mais diversas áreas, colocou-se-nos a todos o desafio de transformar a adversidade em oportunidade. O desporto, e em particular a componente da formação, tem sido extremamente afetado, pelo que importa divulgar o que tem sido implementado no Benfica Campus.
Todo o funcionamento diário das instalações no Seixal e restantes usadas pelas equipas de formação estão adaptadas ao contexto atual para que seja possível dar continuidade ao processo de desenvolvimento dos jovens jogadores do Clube e para que todas as áreas que compõem o futebol de formação mantenham atividade regular.
As equipas B e Sub-23 são as únicas em competição, mantendo atividade com processo de treino coletivo e normalizado, embora as rotinas dos grupos de trabalho tivessem também de ser adaptadas ao momento que vivemos. De referir que, para que a participação em competição seja viável no presente contexto, o SL Benfica tem estado na linha da frente das medidas de prevenção e proteção pessoal no meio desportivo.
Além das medidas tomadas a nível interno, tanto a Equipa B como os Sub-23 estiveram envolvidos na génese da aplicação dos testes rápidos na Liga Portugal 2 SABSEG e na Liga Revelação, em parceria com a Liga Portugal e a Federação Portuguesa de Futebol, respetivamente.
Apesar da atual crise pandémica, ninguém está parado e todas as restantes equipas de formação de futebol do Clube estão em atividade, embora com processo de treino individualizado e adaptado às orientações da Direção-Geral da Saúde. Falamos de um universo que abrange todos os escalões do Benfica Campus (dos iniciados aos juniores), mas também os escalões de iniciação (até aos infantis), incluindo as equipas em atividade em Lisboa e nos cinco Centros de Formação e Treino do Clube espalhados pelo país (Faro, Aveiro, Viseu, Braga e Vila Real).
A capacidade da residência do Benfica Campus está neste momento limitada e o número de jogadores a viver no centro de estágios é reduzido em relação ao habitual (todos os quartos são atualmente individuais e residem no Benfica Campus apenas jogadores juvenis Sub-17 e juniores Sub-18). Isto significa que todos os restantes jogadores entre infantis Sub-13 e juvenis Sub-16 que, em condições normais, estariam a residir no Benfica Campus, estão neste momento a viver nas respetivas zonas de residência familiar, um pouco por todo o país.
Para esses cerca de 60 jogadores, o Clube desenvolveu um projeto à escala nacional, ímpar no futebol de formação em Portugal: todos os fins-de-semana, desde setembro, são levados a cabo estágios em duas localizações estratégicas (em Vouzela, no distrito de Viseu, e em Lagoa, no Algarve), que permitem a manutenção da proximidade entre jogadores, staff técnico e restantes departamentos do Clube, assim como a continuidade do processo de treino segundo as metodologias SL Benfica.
Trata-se de uma operação de elevada magnitude, que denota uma capacidade singular por parte do SL Benfica em responder a um contexto de adversidade, também ele, singular.
A crise pandémica resulta em limitações óbvias na vida desportiva dos nossos jovens jogadores, quer ao nível do treino, quer da (inexistente) competição. Mas este contexto de grande adversidade é encarado como um desafio que o SL Benfica está preparado para enfrentar e a partir do qual podem até surgir oportunidades.
Aquele que sempre foi o foco principal do projeto de formação do Clube transformou-se agora na regra: o desenvolvimento individual.
Sem a agenda preenchida da competição, a prioridade passa por desenvolver novas ferramentas que permitam potenciar ainda mais a progressão individual dos nossos jovens, recorrendo ao profundo conhecimento e experiência dos nossos treinadores em relação à metodologia de treino e ao modelo de jogo SL Benfica. Trata-se ainda de um exercício diário e constante de criatividade que coloca à prova toda a estrutura e que trará, no futuro, valor acrescentado ao projeto de formação do Clube, permitindo que o SL Benfica se mantenha na linha da frente do desenvolvimento de jovens futebolistas a nível mundial.
Tendo em conta que a formação integral dos nossos jovens é vista como prioridade, também as áreas de formação pessoal, social e escolar têm desenvolvido novos métodos de proximidade e transmissão de informação, não só para com os jovens jogadores, mas também para com as respetivas famílias e entidades escolares. Mais uma vez, as limitações e distâncias a que o contexto obriga trarão ferramentas renovadas e potenciarão um desenvolvimento cada vez mais sustentado e enriquecido dos nossos jovens no futuro."
"Um dos jogadores mais irreverentes e talentosos do Brasileirão foi contratado pelo SL Benfica no passado verão, mas tarda em corresponder às expectativas. Sim, falamos de Everton Cebolinha, que veio do Grêmio FBPA num negócio a rondar os 20 milhões de euros.
Como veio a público antes da vinda de Jorge Jesus para os “encarnados”, o extremo brasileiro é um jogador que o técnico aprecia bastante. Inclusive, ainda como treinador do CR Flamengo, Jorge Jesus chegou a referir que o ex-Grêmio era muito superior a Pedrinho, outro extremo contratado pelo Benfica.
Este gosto pelo craque brasileiro reflete-se nos números da época atual: 11 jogos em outros tantos possíveis pelas águias. Além deste impressionante histórico em Portugal, o internacional brasileiro ainda conta com 80 minutos divididos em dois particulares pela seleção brasileira.
Os números são, de facto, importantes para a confiança do jogador e para o seu desenvolvimento no futebol da Primeira Liga, mas não será prejudicial para a sua condição física fazer 11 jogos em pouco mais de dois meses?
Desde o escandaloso desaire frente ao PAOK que o extremo não sai do onze de Jorge Jesus e nos últimos encontros frente ao Boavista FC, Rangers FC e SC Braga, Everton Cebolinha tem estado uns furos abaixo daquilo que já demonstrou tanto na seleção como no Grêmio.
Ao observar-se o sistema tático de Jorge Jesus, o tradicional 4-4-2 com Rafa e Éverton no apoio aos dois avançados, não é aquele onde Everton deslumbrava no Brasil: o Grêmio jogava tradicionalmente em 4-3-3. Mas será este o maior problema do extremo?
Ao que tudo indica, o fator mais decisivo será mesmo a fadiga. Entre viagens para a seleção (duas ocasiões), jogos de três em três dias (sempre a titular) e o pouco entrosamento com os novos colegas de equipa, seria de esperar um rendimento diferente daquele que deixou saudades na “torcida” do Grêmio.
Ainda assim, Jorge Jesus deverá manter a sua aposta em Cebolinha depois do encontro frente ao USC Paredes para a Taça de Portugal, onde o craque brasileiro deverá descansar dos compromissos da sua seleção.
Durante a semana seguinte, Jorge Jesus vai, muito provavelmente, apostar no seu esquema habitual com Everton, Rafa, Waldschmidt e Darwin Nuñez para fazer frente aos imbatíveis escoceses do Rangers de Steven Gerrard."
"Sinto-me apoiado por um dos maiores. Depois de tantas crónicas a perorar em nome do talento, que pode estar nos mais jovens, baixos e franzinos, tanto como nos mais velhos, altos e encorpados (que fazem a preferência de uma maioria, não ignoro), surge Valdano, que escreve como pouca gente mas que antes jogou, treinou e dirigiu ao nível de menos gente ainda, a valorizar meninos ladinos feitos de arte - Ansu, Pedri, Rodrygo, Vinicius, Kubo e Yunus - que “desequilibram jogos adultos”, porque “a única coisa realmente adulta é decidir bem, executar com precisão e não ter dúvidas”, para concluir que a sistematização e as regras “fazem dos gregários muito bons gregários, o que é genial, mas fazem dos artistas também muito bons gregários, o que é uma calamidade”. Escreveu em “A Bola”, mas escreveu tão bem que merece ser lido de novo.
Ainda por cima estamos no país em que Felipe Anderson “só pode” jogar mais vezes no Porto quando defender melhor ou em que Everton Cebolinha anda a fazer treinos a lateral no Benfica (talvez valesse mais a pena que alguns laterais, como os sofríveis Gilberto e Nuno Tavares, treinassem como extremos, embora não acredito que lhes valesse de muito). Não faz sentido que numa equipa grande, particularmente numa dessas, se pense sempre mais no que o jogador pode contribuir sem bola do que pelo que garante com ela. Eu quero é ver Anderson ou Cebolinha a arriscarem em posse, a multiplicarem diabruras que encantam e não a assumirem comportamentos formatados ao alcance de qualquer burocrata. Por isso é bom ver à solta o talento de Pedro Gonçalves no Sporting, Pote de ouro a quem já ninguém reclama “mais experiência”, quando por uma vez os leões foram mais espertos a perceber o que brilhava no fim do arco-íris. E comprovar de novo que o elemento decisivo pode estar num corpo de 1,73m e 68 kg, muito na linha de Bruno Fernandes, o insubstituível que já não é. E também há ouro de brilho verdadeiro em Angel Gomes, o Midas que muda o jogo do Boavista, ou em Ryan Gauld, acima de todos os outros num Farense que já merecia ser feliz. Vale uma aposta que se tivessem mais de 1,80m já eram capas de jornais como alvos de Inverno de um qualquer grande emblema, português ou estrangeiro?
Vejo o treinador do Tondela reclamar mais “intensidade” para que o rendimento melhore, como vejo Rogério Ceni chegar ao Flamengo e prometer mais “físico” para pressionar muito e atacar sempre. Interrogo-me se acreditam mesmo que é pelo pulmão que vão melhorar a qualidade de jogo. É que se a maior parte das equipas técnicas estuda pelos mesmos livros e acrescenta idêntica tecnologia complementar – gosto de pensar que é apenas “complementar” – que sentido faz crer que é na condição atlética que se vai fazer a diferença? O segredo está na massa, dizia um antigo anúncio de pizzas. Também aqui está, na massa cinzenta, de quem pensa o jogo e o treina, e na de quem o executa. Por isso, quando lhe perguntaram pela “adaptação física” de James Rodríguez à Premier League, Carlo Ancelotti respondeu que se fosse essa a preocupação teria contratado Usain Bolt. Acrescento que teria perdido aquele que é, de longe, o melhor jogador da equipa."
"Um ano depois, volto a um tema que me é particularmente caro. Possivelmente por ter crescido numa casa onde vivia um treinador de futebol, o meu pai. Admito essa sensibilidade extra e os consequentes exageros ao escrever na defesa desta classe.
Um ano depois, mantenho o meu espanto pela leviandade com que grande parte dos presidentes dos clubes nacionais, e respetivas direções, contratam e despedem treinadores. Não há planificação, não há uma leitura rigorosa do perfil escolhido antes da contratação, não há certezas nem convicções.
Um ano depois, à primeira desilusão, ao primeiro abalo, a casa vem abaixo. E o treinador é obrigado a sair. Perdoem-me a expressão: esta não gestão é uma estupidez pegada. Tudo o que criticámos no futebol brasileiro ao longo de décadas está a tomar conta das mentes mesquinhas dos nossos dirigentes.
Os exemplos mais recentes, no Moreirense e no Gil Vicente, são particularmente ridículos.
Ricardo Soares acabou a época anterior num excelente oitavo lugar, depois de ter substituído Vítor Campelos ainda numa fase inicial. Esta época, com um plantel completamente renovado - 17 entradas! - e uma quantidade anormal de lesões (perdeu, por exemplo, os dois laterais esquerdos e contratou Afonso Figueiredo há poucas semanas) conseguiu um arranque muito interessante.
Duas vitórias em casa (Farense e Marítimo), duas derrotas fora (Benfica e Rio Ave) e mais dois empates. Se vencer o jogo que tem em atraso, contra o Paços de Ferreira, a equipa pode saltar para o quinto lugar. A direção do Moreirense leu estes resultados e considerou-os insuficientes?
Rui Almeida, agora. Recebeu uma pesada herança deixada por Vítor Oliveira, fez cinco pontos nos primeiros três jogos e depois perdeu no Dragão por 1-0 (com uma exibição muito boa) e em Alvalade (3-1, tendo estado a ganhar até perto do fim). O que se seguiu? Uma derrota extremamente injusta contra o Vitória de Guimarães e outra contra o Nacional, num jogo em que o Gil falhou dois penáltis e sofreu o 2-1 já no período de descontos.
Tive o cuidado de falar com atletas das duas equipas. Nenhum deles compreendeu estas demissões. Mas em Portugal é assim, cada vez mais assim. Num ano de sofrimento para todos, em que se pede prudência e cabeça fria a tomar decisões, os dirigentes tornaram a figura do treinador absolutamente descartável. Como se não fosse mais do que uma maçada ter de contratar e despedir.
Incompreensível.
PS: desconheço eventuais problemas graves de relacionamento entre estes dois treinadores e as respetivas direções. A existirem, os responsáveis deviam ter tido o bom senso de não misturar as coisas e defender os interesses desportivos das suas instituições."
"Cresci em São Martinho do Conde, onde o Atletismo apareceu na minha vida por acaso. Nem gostava muito de correr, mas na escola faltava uma para fazer a equipa e lá fui eu. Ganhei o gosto pela corrida e daí até chegar ao ACR Conde, a minha primeira equipa, foi um abrir e fechar de olhos.
As primeiras medalhas começaram aparecer, depois os troféus e o entusiasmo do meu pai fizeram o resto. Nunca mais parei e continuei a correr até ir para o FC Vizela fazer a minha formação nos escalões mais jovens. E que grande formação tive a oportunidade de fazer com pessoas competentes que me ajudaram imenso até à minha primeira seleção nacional como júnior!
O abandono da escola por vontade própria, ir trabalhar para uma fábrica durante oito horas, nada me tirou a vontade de continuar, pois comecei a perceber que poderia estar aqui o meu “ganha-pão“, pois via atletas que só viviam do Atletismo. Na altura, os prémios eram muito bons, e eu queria seguir esse caminho. Chegou um momento, já com a minha treinadora, Sameiro Araújo, em que tive de fazer uma escolha: deixar de trabalhar e optar por me dedicar 100% ao Atletismo. Sabia que não havia qualquer risco, pois, se as coisas não corressem bem, a fábrica estaria sempre ali para eu trabalhar.
Já com as cores do SC Braga, a evolução foi enorme e os resultados começaram a aparecer. Em 2008, os Jogos Olímpicos de Pequim ficaram muito perto, o que me deu mais confiança e determinação para o futuro.
A primeira lesão a sério aconteceu em 2010, quando parti um dedo do pé em plena competição - o escafoide. É muito raro partir-se, mas o que é certo é que partiu mesmo, no crosse curto, em Vagos. Mesmo assim terminei a prova e passados 30 minutos não conseguia andar. Tive de ser operada e quatro meses depois estava a competir no Europeu de Barcelona, nos 10 000 metros. Recuperei muito bem.
O pior momento da minha carreira foi a perda do meu pai, em 2013. Ele acompanhava-me, em todo o lado, nos treinos longos de domingo. Se não me fosse dar os abastecimentos, ficava chateado comigo; se houvesse uma competição perto de casa e não me fosse ver, ficava danado. Foram seis meses terríveis, nos quais o Ribas teve um papel importante. Andei à procura da marca de qualificação para o Mundial até a última e consegui. Fui, correu-me muito mal. Só eu sei o que passei nessa fase. Estava a preparar a Maratona de Nova Iorque, os treinos corriam muito bem, mas a cabeça não acompanhava.
Surgiu-me a proposta do Maratona Clube Portugal, onde estive três anos. Deu-me estabilidade para acreditar ainda mais no meu potencial e foi assim que aconteceu depois representar o clube do coração, o SL Benfica. Foi a cereja que faltava para em termos emocionais estar a 300%. O carinho das pessoas, do clube, tudo ajuda para que os resultados apareçam com toda a naturalidade.
A decisão de ser mãe sempre foi muito desejada e tive o apoio incondicional do meu clube, SL Benfica, da FP Atletismo, do COP e do meu patrocinador, Adidas. Todos me apoiaram, renovando-me contratos, o que me deu e confiança e responsabilidade para, quando regressasse, não falhar. E os resultados apareceram ao mais alto nível.
O momento mais alto da minha carreira aconteceu em 2012, quando fui campeã da Europa, em Helsínquia, e tive a sorte de o meu pai me ver na televisão. O Ribas conta que ele só dizia: “Não olhes para trás, rapariga, não olhes para trás.“ Arranquei a faltarem quatro quilómetros e nos últimos 500m acho que me doía o pescoço de tanto olhar. Sem dúvida que, passados três anos depois de ter arriscado no Atletismo, ser campeã da Europa foi um momento único.
Ser olímpica em Londres 2012 e no Rio 2016 faz parte daqueles momentos que não dão para descrever com palavras, são momentos de emoções muito fortes, em que consegui resultados de excelência. Nós queremos sempre mais, ninguém mais do que nós quer chegar o mais à frente possível. Ter sido campeã da Europa foi a realização de um sonho, mas ainda quero um resultado entre o top 8 dos Jogos Olímpicos. É para isso que trabalho todos os dias e eu e o meu treinador sabemos que há margem de progressão para isso.
O corta-mato foi a disciplina onde mais medalhas conquistei a nível europeu, onde mais títulos consegui a nível nacional, mas temos uma referência que nos faz sonhar, o recorde racional da meia-maratona, 1h08´32”. Isso e os 42 195m da maratona. Neste momento, é nisso que estou focada e é para isso que trabalho arduamente todos os dias.
Os momentos mais felizes da minha carreira são três: o nascimento da minha filha Matilde, a passagem de testemunho da Sameiro Araújo para o Ribas e o regresso à competição, depois de ter sido mãe, ao mais alto nível, com a minha segunda melhor marca de sempre na Maratona de Valência 2019, com 2h25´22”.
Agora, o meu pensamento é só um: estar presente em mais dois Jogos Olímpicos. É para isso que eu e a minha equipa trabalhamos diariamente. No imediato, o foco está em Tóquio 2021."
"Num dos módulos do último Curso de Formação de Treinadores de Karate, em que tive a honra de actuar como formador, explorava eu a axiologia e as variáveis sócio-culturais desta modalidade fundamentado em vários factos quando um formando me interpelou: “Por que motivo o professor apresenta sempre os casos relativos ao desporto pela negativa?” Respondi-lhe em três passos: o primeiro, irónico, porque para falar bem do desporto já cá havia muita gente; o segundo, baseado em António Damásio, o qual na sua última obra (1) nos diz que para se saber o que uma coisa é teremos de saber o que ela não é (a citação correcta é: “Para explicar bem o que uma coisa é, convém deixar claro o que a coisa não é.”); o terceiro, elucidando-o que não apresento os casos pela negativa, antes apresento aqueles que menos são conhecidos tanto dos treinadores como dos desportistas e do público em geral – são factos, independentemente das interpretações –, dado que se fala muito em ética no desporto e em valores do desporto mas o resto fica na penumbra e, embora seja normal abordarem-se casos de corrupção, de violência e de doping no desporto, muito fica por apresentar ou por esclarecer em relação às restantes perversidades no desporto. E elas existem…
Mas por que motivos se coloca, e bem, uma questão destas num módulo de Formação de Treinadores que aborda normas, símbolos, valores (éticos, morais, sociais e individuais) e crenças? Exactamente porque o desporto tem sido tratado de uma forma politicamente correcta. A única excepção vem de Jean-Marie Brohm que, apesar de numa perspectiva marxista, desde a sua “Sociologie Politique du Sport”(2) em 1976, tem desenvolvido de uma forma perene a sua Teoria Crítica do Desporto (3).
O desporto tem sido apresentado como uma actividade educativa e formativa imbuída de valores e de pressupostos éticos quando as suas características actuais estão acrescidas de exigências sistemáticas de espectáculo, de interacção com os ‘mass media’, de organização através da política e da economia, da presença do negócio, do marketing, da tecnologia, da ciência e de um profissionalismo regulado juridicamente por códigos laborais.
Pretende-se que o desporto, ideologicamente, não se encontre açambarcado pelo capitalismo e pelo mercantilismo quando, na verdade, já o está na prática. Nele, até os humanos são transaccionáveis…
O gosto do adepto ou do espectador pelo jogo ou pelo clube, a dedicação do treinador e o comprometimento do desportista continuam ainda a explorar o ‘ethos’ do «amor à camisola» – a paixão –, da «verdade desportiva» – a justiça – e do «fair-play» – a equidade. Invocam-se constantemente estes três conceitos, generalizados em clichés, sem se definirem previamente o que são e do que se fala. E ao invocarem-se sem se definirem não poderemos saber do que se está a falar, o que origina falsas interpretações.
O desporto é actualmente um produto manuseado através de campanhas de marketing bem concebidas. Hoje em dia o «amor à camisola» é vendido ao adepto sem disto ele se aperceber… e logo ele corre à loja do seu clube a comprar a camisola (com o patrocinador nas costas), o boné, o cachecol e a bandeira do mesmo – para além do bilhete para assistir ao evento como espectador. Aquilo que o adepto despende para o clube pelo seu «amor à camisola» é uma parte importante dos montantes que o financiamento do clube proporciona a alguns. Afinal, o adepto acaba por comprar a sua própria paixão… Mas no sentido inverso, o adepto – espectador ‘in loco’ ou espectador no sofá – não absorve só o espectáculo desportivo: ele absorve também, através de imagens subliminares, tudo aquilo a que é exposto. E aí a publicidade faz o seu trabalho. Já não consumimos publicidade! É a publicidade que nos consome!!! E aí somos manipulados… mesmo que tenhamos uma crença contrária!
E o espectador – tal como o próprio jogador, o treinador, o árbitro, o jornalista, o comentador – traz à liça na sua argumentação a «verdade desportiva» e o «fair-play». Peça-se a qualquer um destes intervenientes no fenómeno desportivo para definir qualquer um destes conceitos… (exercício que o próprio leitor poderá executar!) e veja-se qual o resultado.
Como nos diz Manuel Sérgio (4), “são muitos os riscos de alienação, no consumo do desporto, por parte do espectador pois que é tentado a fazer seus alguns valores que o desporto altamente competitivo produz e reproduz: a quantificação do êxito, a exaltação desmedida dos mais capazes e a hierarquização meritocrática – valores que não têm em conta quaisquer critérios pedagógicos e não ajudam por isso, à formação de pessoas livres e libertadoras.”
Não se trata de negar a existência de valores no desporto – porque sim, eles existem e estão aí inúmeros factos para os demonstrar. Os valores podem e devem ser apresentados através dos contra-valores e a ética ser apresentada através do seu inverso, mas realcemos que a função formativa do desporto – formação do carácter, inculcação de valores tais como a disciplina, a perseverança, a cooperação, a justiça – está só presente na fase inicial da práctica do indivíduo. Passada esta, o desporto deixa de ser apenas para desportistas e passa a ser só para vencedores.
Será a transparência de métodos e de actuação uma pertença do desporto?
Por que motivos tantos suicídios provocados por condições existentes no desporto? Sim, porque são mais do que imaginamos…
Quais as causas – ou as origens dessas causas (este é o ponto que, de facto, me parece ser mais relevante, embora nunca abordado!) – de tanta morte súbita na competição? Sim, “tanta” porque a maior parte dos casos nem sequer são divulgados ao público em geral. Estatísticas no nosso país são desconhecidas. A própria comunidade médica parece revelar um certo desassossego em explicar cientificamente estes casos.
As circunstâncias em que decorre o treino intensivo precoce nas várias modalidades são explicadas em toda a sua plenitude? Até que ponto não se trata – ou tratará mesmo? – de exploração infantil?
As fraudes cometidas intencionalmente por competidores, treinadores, árbitros e outros agentes desportivos, não só no futebol mas também na ginástica, no atletismo, no ciclismo, na esgrima, no ténis e em muitas outras modalidades fazem ou não parte do desporto?
Os resultados combinados, a manipulação destes por causa das apostas e a movimentação de altas verbas à volta dos mesmos serão variáveis inerentes ao próprio desporto?
E o que dizer sobre os abusos sexuais no desporto? Os detectados e os não detectados… São relatados e/ou participados todos os casos ocorridos? São sancionados? Existem estratégias de prevenção?
No que se refere à morbilidade e às lesões permanentes dos competidores com a consequente interrupção antecipada das suas carreiras desportivas, há medidas para a sua diminuição? Sabemos que o risco e o acaso fazem parte do desporto, mas o sistema desportivo acautelará os interesses e a integridade física (e psicológica) dos desportistas?
São factos existentes, ocorridos, interpretemo-los de um modo ou de outro. Mas o que é feito para serem evitadas ou prevenidas estas situações e as mesmas erradicadas do desporto?
São perguntas demais para tão poucas respostas… e repare-se que sobre corrupção, violência e doping nem sequer aqui deixo uma palavra.
É hora de deixarmos de analisar o desporto de uma forma politicamente correcta. Temos de analisar factos, ponderar diferentes interpretações e conjugar medidas. Já não vamos lá só com campanhas de sensibilização nem só com o agravamento de sanções. Sejamos realistas e tratemos de explicar o desporto através dos seus efeitos para conseguirmos chegar a bom porto. Sim, é isso mesmo: efeitos – e-fei-tos!"
"Não obstante a paragem competitiva do futebol, devido às datas FIFA, prossegue a atividade desportiva intensa do Benfica, com diversas equipas do Clube a prepararem-se para os compromissos no fim de semana.
A primeira a entrar em campo será a de andebol, com uma deslocação a São João da Madeira para defrontar a Sanjoanense numa partida a contar para a 10.ª jornada do Campeonato Nacional (sexta-feira, dia 13, às 21 horas). Estamos em primeiro lugar, ex-aequo com o Sporting, fruto do pleno de triunfos conseguido até ao momento. O nosso adversário ocupa a nona posição.
No sábado, às 11 horas, será a vez do hóquei em patins, com uma difícil deslocação a Valongo. A nossa equipa tentará sair vitoriosa do rinque do atual terceiro classificado, de forma a solidificar o segundo posto e manter a pressão sobre o líder.
À mesma hora, mas na Luz, teremos o confronto com o Portimonense em futsal. Ao fim de sete jornadas, em que vencemos todas as partidas, partilhamos a liderança com o Sporting. O clube algarvio é o terceiro na classificação.
Mais tarde, às 19 horas (18 horas locais), os nossos basquetebolistas entrarão em ação no reduto do Lusitânia, em Angra do Heroísmo. Ambos os clubes têm um jogo a menos e alcançaram, até ao momento, quatro vitórias e uma derrota na Liga Placard, o que vale a quarta posição na tabela classificativa.
Na segunda-feira (12 horas), a nossa equipa de voleibol defrontará a Fonte do Bastardo, em mais uma jornada do Campeonato Nacional. Vencedora da Supertaça e líder invicta do Campeonato, a nossa equipa terá pela frente o atual terceiro classificado.
Também algumas das nossas equipas femininas prosseguirão com a atividade neste fim de semana.
O destaque vai para o futebol, com desafio marcado para sábado, às 11 horas, na Tapadinha, frente ao Sporting. Ambos os clubes só conhecem a vitória desde que teve início a prova. A nossa equipa lidera isolada a Zona Sul, pois disputou mais uma jornada que o próximo adversário. Recorde-se que a nossa equipa teve uma estreia vitoriosa na Liga dos Campeões, apurando-se para a ronda seguinte, na qual medirá forças com o Anderlecht, em Bruxelas.
Nas restantes modalidades, haverá o Quinta dos Lombos – Benfica em futsal (sábado, 11 horas), em que a nossa equipa procurará somar nova vitória depois da estreia a ganhar. No dia seguinte, domingo, também às 11 horas, o terceiro classificado Stuart HC Massamá receberá o líder invicto Benfica.
Há ainda a assinalar o adiamento dos jogos das equipas de andebol e voleibol. No andebol, após três jogos, a nossa equipa está no segundo lugar. Enquanto no voleibol, garantida a presença no escalão maior já no início da presente temporada, num regresso após muitos anos de ausência, estamos presentemente na nona posição, com apenas cinco jogos disputados. E, finalmente, no basquetebol, em que lideramos a classificação ao fim de seis jornadas, também não haverá jogo neste fim de semana."
"Dificilmente o Sport Lisboa e Benfica podia ter passado por 6 meses tão traumáticos: recomeçou a Liga após suspensão, em virtude da COVID, ficámos sem o título por responsabilidade própria, apesar dos 7 pontos que tivemos de avanço, saiu o anunciado treinador para uma década (Bruno Lage), manteve-se um interino que não teve capacidade para segurar a equipa, perdemos a Taça de Portugal de forma inglória, contratámos Jorge Jesus e alguns bons reforços, caímos com estrondo da Liga dos Campeões e em consequência saiu o esteio da defesa, não se reforçando, como fora prometido, o miolo e as laterais - o que deixou o plantel profundamente desequilibrado.
Ao mesmo tempo, defrontaram-se em eleições dois pólos, que se tornaram antagónicos e que saíram do vieirismo: os jovens turcos, que pediram a mudança, os velhos do Restelo (como eu), que mantiveram a esperança nos que nos governam. Repito, dois pólos com o mesmo Pai: o vierismo.
O nosso Clube viveu, assim, um dos mais complexos períodos de que há memória.
Passadas as eleições e quando pensávamos em estabilidade e paz interna, surgiram duas derrotas seguidas e novas buscas (será que as 8 anteriores não chegaram?) destinadas, diz-nos a imprensa, esse eco da Justiça do século XXI, a “fechar inquéritos” (Sic).
O Benfica terá paz?
Tenho as minhas dúvidas, as minhas mais fortes dúvidas. Na verdade, os próximos tempos serão demasiado complexos para que se assista a uma normalização das relações entre Benfiquistas.
Por um lado, as consequências económicas do tempo que vivemos, as devastadoras consequências económicas, trarão, mais dia menos dia, consequências negativas evidentes ao futebol português, com o necessário desinvestimento dos principais Clubes, sendo claro que o nosso não ficará fora dessa realidade, o que enfraquecerá a qualidade do futebol português.
Por outro, e não menos importante, há uma crise geracional no Benfica, parecendo-me que as gerações mais novas imporão, numa postura quase ditatorial, uma mudança nos órgãos sociais, seja ela qual for, nem que passe pela lógica do “golpe de estado”, como têm ameaçado amiúde...
Não lanço, pois, o apelo à “Paz Benfiquista”, uma vez que isso seria colocar-me sob fogo amigo e inimigo. Mas deixo um repto: se sem essa paz, como sabemos, é impossível alcançarmos o sucesso, para quê manter a guerra?
Por exemplo,
O processo eleitoral teima em não findar, com um pedido de recontagem de votos (e não contagem, como muitos parece não perceberem) feito 15 dias depois da proclamação do vencedor, apesar do vencido, com muita dignidade, ter aceite os resultados, o que mantém abertas feridas que já deviam estar a sarar, com reflexo claro nas redes sociais: a cada golo sofrido, a cada revés, enchem-se de ódio e proclamações vertiginosas.
Ódio esse incompreensível, deixem-me que vos diga.
Um querido amigo, com o humor refinado que muitos lhe conhecemos, perguntava antes do último jogo para o campeonato, em pleno Twitter, uma coisa deste género: não levam a mal que apoie o Benfica?
Muitos de nós crescemos com os nossos Pais a ensinarem-nos que assobiar o Benfica era pior que cuspir no prato da sopa. Esses professores, que aprenderam, por sua vez, de seus Pais, envergonhar-se-iam se descessem ao Twitter, ao Facebook ou ao wattsapp durante um jogo de futebol do nosso Benfica. Aí não se assobia, mas faz-se pior: achincalha-se, destroem-se jogadores e faz-se política no infortúnio - como será, lamentavelmente, feita na vitória.
O que fazer, então, para terminar com este sufoco, sabendo que assim será difícil vencermos?
Não há respostas claras, mas há uma evidência: se em Maio festejarmos, uma, duas, três vezes, como todos queremos e muitos pensamos ser possível, tudo passará a ser diferente e a ser visto com outros olhos.
Não é a primeira vez que o digo, que o escrevo: no Benfica, muitas vezes, as ondas de euforia começam no campo e estendem-se às bancadas, num processo inverso à tradição do futebol.
É aqui que o actual momento da equipa, em que parece desligada da corrente e em que o treinador aparenta estar pouco motivado para alterar o “estado do tempo”, deixa-me perplexo e incapaz de ter um momento de sossego: o que se passa, o que se passa rapazes? Não são capazes de dar a volta e serem a força motriz da onda que nos levará às vitórias?
"As duas semanas de pausa para selecções vieram a calhar bem ao SL Benfica. Jorge Jesus, apesar de perder grande parte do plantel, estará certamente agradecido por finalmente interromper tão diabólica sucessão de jogos – e de desaires, que se começavam a acumular perigosamente.
Depois da inesperada imposição protagonizada por Vasco Seabra no Bessa, foi a vez do SC Braga de Carvalhal vir à Luz assinar exibição personalizada, que anulou grande parte do manancial ofensivo das águias.
À parte da má segunda volta da temporada transacta, os exigentes adeptos encarnados não estão habituados a semelhante sequência de derrotas caseiras e, as que acontecem ocasionalmente, ficam imediatamente gravadas no imaginário colectivo – incluindo e sobretudo dos rivais directos.
Reunimos aqui cinco das mais vergonhosas deste século XXI, derrotas que ditaram chicotadas psicológicas, que confirmaram épocas cinzentas e até que serviram de abanão psicológico em caminhadas difíceis rumo a títulos.
Existem desaires passíveis de menção, mas que não chegaram à lista, por variadíssimas razões: aquele para a Taça de Portugal 2006-07, contra o Varzim, na inesquecível noite de Mendonça; a noite caricata de Roberto na Choupana, em 2010-11, ou até o que aconteceu no Estádio Dom Afonso Henriques no ano seguinte, onde Jesus voltou inexplicavelmente ao 4-4-2 e hipotecou o campeonato – marco na viragem de 2011-12 e jogo que incendiou o rastilho que viria a explodir como uma bomba, no 2-3 do FC Porto na Luz.
Figuram aqui, arrumadinhas num corpo de texto que poderá esconder certas incongruências e descurar outros pontos de vista, mas que o justifica pelo contexto de cada derrota a seguir enunciada.
Taça de Portugal 2002-03, terceira eliminatória
SL Benfica 0-1 Gondomar SC – Numa época que começou com o galvanizante regresso de Nuno Gomes, as águias desde cedo demonstraram não ter estofo para acompanhar o FC Porto na luta pelo domínio nacional: a 21 de Novembro, data da hecatombe com o Gondomar, levavam três derrotas e dois empates na Primeira Liga – eram terceiro classificado ao cabo de 11 jornadas, sete pontos distanciavam já do conjunto liderado por Mourinho.
Jesualdo Ferreira tinha o lugar em perigo após derrota na Póvoa do Varzim, por 2-1, e procurava na Taça tirar barriga de misérias. Em tarde chuvosa, com equipamento alternativo – versão toda bordeaux, quase inédita – houve interessante estratégia de Jorge Regadas e um tiro longínquo de Cílio Souza, brasileiro que acabou por fazer carreira nas divisões inferiores do nosso país e que, naquele dia, executou com mestria um livre a 25 metros.
Primeira Liga 2004-05, 14ª jornada
CF Os Belenenses 4-1 SL Benfica – Em visita ao Restelo, onde morava… Carlos Carvalhal, Trapattoni via-se obrigado a ganhar para garantir a liderança isolada da Superliga Galp Energia.
O Boavista FC, que tinha ganho no sábado, era primeiro à condição e o Sporting CP, que poderia tê-lo sido também, tinha empatado a zero em Alvalade.
O Benfica entrava em campo sem a liderança de Luisão e Ricardo Rocha no eixo, encarregando Argel e Amoreirinha de supervisionar (e travar) as qualidades de Antchouet ou Zé Pedro.
Foram pesadas as toneladas de responsabilidade, foram fáceis as travessuras azuis e… pronto, noite inspiradíssima para os da casa, havendo arte para fechar ao intervalo com 3-0 e garantir a humilhação de um quarto golo na segunda metade: que surgiu, como também surgiu a fúria de Trapattoni por assistir a tanta inaptidão dos seus pupilos – e Moreira foi tornado injustamente bode expiatório, perdendo aí a titularidade para Quim.
Primeira Liga 2006-07, segunda jornada
Boavista FC 3-0 SL Benfica – Depois de eliminar o Áustria de Viena para garantir acesso à Liga dos Campeões, o Benfica de Fernando Santos vira a sua estreia nacional adiada à custa do Caso Mateus, suspendendo o jogo com o Belenenses para data incerta.
Assim, começaram os encarnados por visitar o Bessa, defrontando um Boavista perigoso, apetrechado de talento vindo do Leste europeu. Da neve polaca vieram Kazmierczak e Grzelak, do frio austríaco chegou Roland Linz – este último, com exibição inesquecível alimentada por duas finalizações de classe, vingou a derrota uefeira da sua antiga equipa aos pés dos encarnados.
A Fernando Santos cabia apenas lamentar «derrota pesada e fora de contexto», palavras vãs não fosse a explicação subsequente. «A expulsão do Nuno Gomes tornou as nossas contas mais difíceis e verificou-se um descontrolo emocional da equipa a partir do segundo golo do Boavista», sugerindo a primeira quebra de estofo numa equipa que nunca se equilibrou definitivamente durante a temporada, falhando nos momentos-chave.
Primeira Liga 2007-08, 26ª jornada
SL Benfica 0-3 Académica OAF – A época ia longa, penosa em muitos momentos e só o facto de ser a última de Rui Costa nos relvados dava alento à massa adepta, que vira na construção do seu plantel inúmeros erros de casting.
O quarto lugar final na Primeira Liga é justificado com 13 (!) empates e quatro derrotas ao longo das 30 jornadas, além do 5-3 em Alvalade para a Taça ou a eliminação natural – de tanta diferença na qualidade colectiva – aos pés do… Getafe, na Taça UEFA.
Fernando Santos tinha feito a primeira jornada e saído logo a seguir para dar lugar a Camacho, que fez as malas em Março e deixou declaração enigmática, ele que sempre fora rosto de disciplina: «Não consigo fazer mais nada para melhorar o rendimento da equipa».
Restava a Chalana acabar a época e, naquele dia 11 de Abril, a equipa deixou-se levar pelo atrevimento de uma Briosa ao ritmo de Luís Aguiar, que chegou posteriormente a representar SC Braga e Sporting. Igualou-se a diferença de golos das maiores derrotas de sempre na Luz – Boavista (1998-99) ou Sporting (4-1, 1947-48).
Primeira Liga 2008-09, 13ª jornada
CD Trofense 2-0 SL Benfica – Por incrível que pareça, a 4 de Janeiro ainda não existia derrota para o Benfica de Quique Flores a nível de campeonato. Já tinha sido eliminado justificadamente da UEFA – último lugar do grupo e 5-1 sofrido no Pireu, frente ao Olympiakos – e da Taça de Portugal, frente ao grande Leixões de José Mota em Matosinhos, mas no campeonato os encarnados viravam o ano civil em primeiro lugar.
Na primeira ronda de 2009, visitava-se a Trofa, onde morava equipa recém-promovida pela primeira vez na sua história. Ainda que fossem os conceituados Delfim, Paulo Lopes ou Hugo Leal as caras da equipa, já existia no talento de Hélder Barbosa, ainda um imberbe e prodigioso canhoto à procura de espaço, a capacidade para grandes noites. Assinou portentosa exibição e consumou aos 82’ o maior feito do Trofense na primeira divisão, na primeira e única temporada que aí cumpriram."