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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A presunção estava lá toda. Só faltou a água benta

"O campeonato seguia relativamente tranquilo até aos primeiros clássicos. Mas já se sabe que com os clássicos chegam também os nossos valorosos árbitros internacionais...

NO topo da classificação, no duelo entre o FC Porto e o Benfica não há quem descole. O campeonato ganha em brilho e em emoção no que respeita à discussão maior. O que os dois arquirivais demonstraram neste primeiro terço da época é que a distância entre eles é quase nada e que a distância deles para os outros todos é enorme, salvo prova em contrário.
A queda abrupta do Sporting de Braga para posições a que já não estava de todo acostumado é a novidade maior desta Liga de 2011/2012 quando falta pouco menos de um mês do Natal. Os analistas dados às forças do ocultismo dirão que o Sporting de Braga anda a penar com as alminhas desde que o seu presidente, António Salvador, lhe proclamou a ascensão ao estatuto de terceiro grande do futebol português.
A presunção estava lá toda. Faltou, no entanto, a água benta.
E como? E porquê?
Está aberta a época dos clássicos do futebol português, sejam os ditos clássicos de primeira, de segunda ou de terceira geração, precisamente como são estes a que me vou referir. Tomemos, assim, por exemplo os dois últimos desses clássicos, os que opuseram o Sporting de Braga ao Sporting, em Lisboa, e o mesmo Sporting de Braga ao FC Porto, em Braga, e que redundaram em duas derrotas que muito atrasam os minhotos na luta pelo topo da tabela.
Diga-se que o Sporting de Braga dominou como muito bem quis a segunda parte do jogo de Alvalade e, depois, jogou taco-a-taco com o FC Porto, quase anulando as diferenças entre os dois. Mas perdeu sempre porque lhe faltou água benta em ambas as ocasiões.
O campeonato português seguia relativamente tranquilo até à chegada dos primeiros clássicos do calendário. Mas já se sabe que com os clássicos chegam também os nossos valorosos árbitros internacionais e como não há belas sem senão... lá regressa em todo o seu esplendor o protagonismo de quem não devia.

O mau momento do Sporting é um exclusivo dos sportinguistas e não fica bem aos adversários (mais ou menos históricos) dos leões de Alvalade perorar soluções, apontar incompetências ou espicaçar ânimos e desânimos com graçolas cruéis.
Todos os clubes têm os seus problemas para resolver e, atendendo à conjuntura actual, são muitas e variadas essas contrariedades. A questão com o Sporting é que a somar aos óbices da conjuntura ainda tem de suportar a infeliz carreira da sua equipa de futebol. Deixamos, portanto, os nossos amigos sportinguistas tratarem do seu Sporting em paz. Não façamos aos outros o que n~´ao gostamos que nos façam a nós, um preceito antigo e sempre válido.
Grandeza é isto: não menosprezar jamais o grande adversário, não fanfarronar estupidamente a propósito da iminente visita a Alvalade e se é para falar do Sporting do momento presente só vale se for para apontar o que funciona bem, ou seja, as coisas boas. E há coisas boas e que funcionam bem em Alvalade.
O presidente, por exemplo.
A equipa de futebol saiu de Moreira de Cónegos mais longe de todos os seus objectivos e o treinador, mais um, saiu de rastos. Já o presidente saiu em grande e bastou atentar nas primeiras páginas dos jornais do dia seguinte para se concluir, de forma inapelável, que o responsável pela reviravolta no resultado no decorrer da segunda parte foi Godinho Lopes.
Não foi por ter sido rápido e codicioso nos três minutos que se viu a jogar contra 10, por impedimento físico de um jogador adversário a receber tratamento fora das quatro linhas, que o Sporting chegou ao empate em Moreira de Cónegos. Não, nada disso.
Foi porque o presidente ao intervalo, quando a equipa perdia por 2-0, e abanou energicamente os jogadores para que despertassem para os derradeiros 45 minutos que o milagre acabou por acontecer.
Com um presidente destes nem é preciso treinador.

DOIS dos emblemas mais ricos do mundo, certamente entre os mais esbanjadores dos últimos tempos, encontraram-se na tarde deste último domingo, um banalíssimo domingo londrino de chuva, e ofereceram um espectáculo sem grandes motivos de interesse posto que as duas equipas persistiram em jogar longe da baliza do adversário, aparentando maior medo de perder o jogo do que vontade de o ganhar, eis a triste conclusão a que se chegou quando o embate de Stamford Bridge chegou ao fim.
O resultado saldou-se num zero a zero desconcolador para quem esperaria que os incontáveis cabedais do russo do Chelsea e dos árabes do Manchester City e as respectivas colecções de vedetas em campo chegassem e sobrassem para produzir um duelo a transbordar de golos e de bom futebol. Pelo contrário, o jogo redundou num milionário aborrecimento.
Dinheiro a mais, futebol a menos. Às vezes também acontece.
No nosso futebol, à nossa medida, também há ricos e pobres. Chamamos-lhes grandes e pequenos, uma maneira simpática de colocar a premente questão das diferenças evitando falar de dinheiro.
O Vitória de Setúbal e o Rio Ave, com todo o respeito, fazem parte do campeonato dos pequenos o que não os impediu de apresentarem no domingo, no Bonfim, um agradável espectáculo de se ver, com 8 golos e com dois hat-tricks, um para cada lado, pelos inacreditáveis e veteranos goleadores das suas equipas. Já lá vão 10 jornadas da Liga e Meyong e João Tomás disputam taco a taco, sem complexos, com a superestrelas Jackson Martínez e Óscar Cardozo a corrida pela Bola de Prata.
No futebol há lugar para todos. Às vezes também acontece.

AS recentes eleições na Catalunha também meteram futebol ao barulho. Joan Lapaorta, o político catalão que foi presidente do Barcelona, sugeriu uma Liga ibérica onde o Barcelona pudesse competir com o mesmo estatuto independentista de alguns clubes portugueses de top.
Em Espanha, e na própria Catalunha, ninguém levou muito a sério esta ideia de Laporta. Em Portugal, felizmente, também não. Já cá temos problemas de sobra.

AO contrário do que já aconteceu e continua a acontecer com inúmeros colegas seus de origem sul-americana, o argentino Juan Iturbe tem vindo a falhar estrondosamente as suas legítimas tentativas para se impor na equipa principal do FC Porto.
É verdade que só podem jogar onze de cada vez mais também não deixa de ser uma evidência que esta deve ser uma situação totalmente estranha e inesperada para o jovem Iturbe, a quem na Argentina chamavam de o novo Messi e a quem em Portugal ninguém chama coisa nenhuma porque raramente é visto a jogar.
Ninguém lhe chama coisa nenhuma? Não é bem assim... Dá conta a imprensa da especialidade que, aproveitando mais uma folga, Juan Iturbe optou por se deslocar em passeio até à capital e, fazendo-se fotografar junto à Torre de Belém, divulgou a referida imagem pelas redes sociais. Diz que agora lhe chamam mouro e no que se foi meter.

DE uma entrevista antiga de Guilherme Espírito Santo, campeão de campeões no Benfica, 4 campeonatos de futebol, 3 Taças de Portugal, 147 golos em 207 jogos, e também recordista nacional do salto em altura, campeão nacional de salto em comprimento e de triplo salto:
-Naquele tempo, existiam alguns preconceitos racistas por causa dos jogadores de cor. Um dia, em 1947, num hotel da Madeira, queriam colocar-me num anexo por ser negro. Os jogadores do Benfica disseram que para onde eu fosse ele também iam. E acabámos todos a dormir no anexo.
Guilherme Espírito Santo, um símbolo do símbolo."

Leonor Pinhão, in A Bola

Continuar ou mudar: eis a questão

"O valor a pagar pela UEFA ao vencedor da Champions poderá atingir 37,4 milhões de euros. A mesma UEFA transfere para o vencedor da Liga Europa 9,9 milhões, ou seja 26,4% da prova milionária. Uma é o filet mignon do futebol europeu, a outra são os coiratos à volta do apetecido e tenro lombo.
Claro que parte da diferença é justificada, pois é na Champions que jogam os campeões e vice-campeões os principais campeonatos. Um palco bem mais apelativo e gerador de mais receitas e espectáculo. No entanto, creio que a diferença de compensações uefeiras é manifestamente exagerada e desproporcional. Ainda aqui certamente se vê o peso e influência das principais Ligas e dos mais influentes clubes. Quem pode, dita a cobrança. E quem cobra, dita o poder.
Pus-me a fazer estas contas por causa do que pode acontecer ao Benfica, na última jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões. Julgo eu - e julgara a maioria - que a conjugação de factores para continuar naquela competição não é impossível mas será muito difícil. Desportivamente, não me incomoda muito passar para a liga de honra europeia. Pelo menos teoricamente, pode-se chegar muito mais longe do que na Champions. O problema é o financeiro. Voltei a fazer as continhas e - imagine-se! - mesmo sendo eliminado logo nosm oitavos de final encaixam-se 3,5 milhões na Liga dos Campeões, valor só superado na modesta Liga Europa atingindo-se a respectiva final (se semifinalista derrotado são apenas 2 milhões!). Eis o dilema: continuar ou mudar. Se é que perante o Barcelona alguma equipa se pode dar ao luxo de falar em dilema..."

Bagão Félix, in A Bola