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sábado, 23 de novembro de 2024
Modelo falhado na Taça da Liga
"O artigo de hoje tem como tema central a Taça da Liga. É uma competição que diz muito a qualquer braguista, porque o SC Braga já a venceu por três vezes. Além disto, o atual Campeão de Inverno mora em Braga, após a brilhante conquista da edição anterior, depois de abater o favorito Sporting CP e o Estoril na final, com dificuldades além do expectável, uma vez que a conquista só aconteceu no desempate por pontapés da marca de grande penalidade.
Esse encontro da final ficará marcado na memória do capitão Ricardo Horta, por causa daquele golo de qualidade elevada que conseguiu marcar, a que a gíria do mundo da bola designa por «golaço». O capitão bracarense também guarda no livro das suas melhores memórias o golo decisivo que derrotou o FC Porto no último minuto na segunda conquista brácara.
A Taça da Liga foi mudando de formato ao longo dos tempos e os seus objetivos iniciais foram sendo arrasados pelos interesses financeiros da competição, uma vez que ela surgiu para permitir que jogadores mais jovens ou menos utilizados encontrassem um espaço para poderem competir. Ao longo dos anos a Taça da Liga foi ganhando prestígio, deixando de ser a «Taça da Cerveja» como depreciativamente era designada até dar lugar ao honroso título de Campeão de Inverno.
A Taça da Liga foi ganhando dignidade e passou a ser um objetivo claro que todos os clubes, incluindo aqueles que normalmente se designam como integrantes de um sistema que impede a evolução do futebol em Portugal. Na minha opinião, talvez tenha faltado coragem para atribuir ao vencedor da Taça da Liga um lugar nas competições europeias, de modo a que ela se tornasse ainda mais importante.
A Liga Portugal foi buscando formas de aumentar a atração da Taça da Liga, de modo que a sua conquista se tornasse verdadeiramente fatal no orgulho dos adeptos. Obviamente que quem nunca venceu tende a subtrair o valor que a competição efetivamente possui. Contudo, se a criação de uma final four elevou bastante o seu interesse, a ideia de deslocalizar essa fase final para um qualquer ponto do globo distante de Portugal não mereceu acolhimento positivo por parte dos adeptos.
Afinal, o futebol ainda continua a ser o desporto do povo e nem tudo pode ser trocado pelos interesses mercantilistas que giram à sua volta. Foi assim que começaram as primeiras ações de protesto, em especial por parte das claques ou dos grupos organizados de adeptos, se assim quiserem designar.
O sorteio condicionado, com os quatro primeiros classificados da liga a serem designados como cabeças de série, traz alguma semelhança com o que se passa nas competições internacionais, tanto a nível de clubes como de seleções, onde o ranking tem uma palavra a dizer, mas já era bastante discutível porque tendia a proteger os mais fortes.
A presente edição da Taça da Liga sofreu alterações inaceitáveis, com o apuramento direto de oito equipas para os quartos de final, onde ganharam lugar os primeiros seis classificados e os dois primeiros clubes da segunda liga. Este modelo implementado revela-se como falhado, porque não é nada inclusivo, deixando de fora muitos clubes das ligas profissionais e levou à fúria louca dos adeptos, em desacordo com o tipo de competição levado à prática.
Talvez seja altura de as entidades competentes pensarem na possibilidade de os jogos particulares de pré-época darem às primeiras eliminatórias, permitindo o apuramento de forma das equipas em competição e dando um caráter mais inclusivo que por agora está muito distante. Nas competições europeias as equipas portuguesas disputam cada vez mais eliminatórias de acesso às fases decisivas e, por esse facto, podiam ser protegidas nas eliminatórias iniciais sem prejudicar a inclusão de outras agremiações desportivas.
O futebol agradece que se reconheça o erro que foi este modelo implementado, assim como se reflita seriamente na ideia de manter em Portugal a fase decisiva da competição.
Uma nota final para os quartos de final, que apuraram sem surpresa os quatro primeiros da liga anterior, que jogaram em sua casa, com os benefícios que daí advêm. O dérbi ímpar do Minho deixou nos registos um triunfo dos Gverreiros do Minho sobre os Conquistadores, além de muito ruído à volta da arbitragem.
Sobre esta já me pronunciei no passado, mas não posso deixar passar em claro as palavras irresponsáveis do antigo árbitro João Ferreira, na qualidade de dono da verdade, ao referir que «agarrar não é falta», nem merece ser vista como infração. Esse senhor prestou um mau serviço ao futebol."
Pequenos erros
"Presidente do Comité Olímpico considerou que o nadador Diogo Ribeiro, que considera ser de excelência e eleição, «tem alguns pequenos pormenores que devem ser afinados» e há um acompanhamento a ser feito. Mas até sabe que quando foi, duas vezes, campeão do mundo apenas o foi porque havia outros que estavam mais focados nos Jogos, para os quais ia para tentar chegar à final. Pelos vistos foi o único a falhar em Paris 2024. O que lhe vale é que há quem o continue a fazer.
Na passada semana, na véspera da Celebração Olímpica 2024, tradicional gala anual do Comité Olímpico de Portugal que após cada celebração de uns Jogos tem sempre outro brilho, li uma entrevista do presidente do COP Artur Lopes à Lusa. Tendo por base uma questão sobre o relatório da Missão a Paris-2024 o atual líder do COP elogiava o foco e prestação «num momento de excelência» dos ciclistas Rui Oliveira e Iúri Leitão pela conquista do primeiro título olímpico, no madison, que não vem do atletismo e com Iúri, prata no omnium, a cometer a proeza de ser o único português a ganhar duas medalhas na mesma edição. Brilhante!
Mas, antes dos elogios à dupla e ao trabalho realizado, começa por se referir ao nadador Diogo Ribeiro. «O Diogo é um caso de um atleta de excelência, de eleição, mas que, como outros atletas, tem alguns pequenos pormenores que têm de ser afinados. É um jovem — muito jovem —, pouca experiência, portanto todo esse acompanhamento vai ter de ser feito...»
«Enquanto presidente, quero que o acompanhamento a esse atleta seja feito de modo a que os pequenos erros que possam ter acontecido durante o seu trajeto em Paris sejam emendados. Se são erros dele mesmo, há que fazer-lhe ver porquê e como é que se conseguem alterar. Se são externos, há que os corrigir imediatamente», continuava.
«O caso do Diogo Ribeiro, se calhar, vai ser um dos que nos vai dar mais entendimentos. No entanto, devo dizer que Portugal tem muita mania do 8 ou 80, passamos de uma depressão completa para uma euforia, não somos bipolares, mas quase, portanto há que ter cuidado com tudo isso. O atleta em si mesmo é um atleta de excelência, mas já sabíamos quando competiu e foi campeão […] que naquela altura não estariam os melhores a competir. Havia outros ao lado que não estavam a fazer e que estavam só focados nos Jogos Olímpicos», adiantou ainda sobre o duas vezes campeão mundial.
Achei curioso que, antes dos Jogos, quando o COP fez a previsão de medalhas e lugares de honra, não tenha efetuado logo a ressalva e o tenham incluído como possível finalista, o objetivo. Opção que a federação de natação também dispensou e que A BOLA até alertou que, à partida, havia 14(!) mais rápidos do que ele na start list e era necessário, para proteção do próprio, baixar expectativas. Mas, se calhar, para Artur Lopes, o melhor era mesmo o Diogo não ter sido campeão mundial porque em Doha não estavam alguns dos melhores e era só o 15.º do mundo.
É verdade que Diogo, o tal jovem de 19 anos, que se queixou das condições da Aldeia Olímpica, o que nos dias seguintes muitos, não portugueses, também o fizeram e até se mudaram para hotéis — o relatório deve referir isso —, não soube escolher o timing da queixa dos problemas que sentira para dormir e comer em condições, entre outros.
Hoje tem noção disso, mas, no momento, a frustração de como se sentira limitado a nadar e na ambição não lhe permitiu essa perspetiva após a última prova e disparou.
Esperei que, habitualmente céleres a defender os seus, a federação, o Benfica, a Comissão dos Atletas Olímpicos reagissem à apreciação de Artur Lopes e lhe explicassem que o problema do Diogo não foi propriamente dele, mas de como chegou preparado a Paris. Falei com alguns e nem sabiam da entrevista.
Depois pensei, espera, o Artur Lopes, ex-presidente da federação de ciclismo, deve ter-se informado porque o Diogo Ribeiro só foi semifinalista aos 50 livres e na segunda metade das provas de 100 livres e mariposa quebrava. E, certamente, antes de falar sobre ele publicamente, parece que foi o único que não cumpriu objetivos, até conversaram sobre as suas naturais preocupações.
Enganei-me. Perguntei ao Diogo, que não havia lido a peça, se alguma vez falou com Artur Lopes, antes ou depois deste presidir ao COP. Respondeu-me que nem sabe quem é. «E não estou a ser mau, só sincero».
É provável que Artur Lopes, vice-presidente do COP há 24 anos e presidente desde meados de agosto, também ande ocupado com outros pequenos pormenores que tenham de ser afinados."
Um sindicato que não gosta dos associados
"Todos nós, sportinguistas, sentimos muito a saída de Ruben Amorim e tivemos algumas dúvidas com a escolha de João Pereira para o seu lugar.
Os primeiros sinais, no entanto, são de continuidade, o que aparentemente é bom. Assim, Roberto Martínez continua a desconsiderar os jogadores do Sporting como fazia no tempo de Amorim e a Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF), através do seu presidente, o inenarrável José Pereira, já participou de João Pereira por falta de nível para o cargo, como havia feito com Amorim. Tudo como dantes.
Nunca consegui perceber a ANTF, e eu já fui 12 anos sindicalista ao mais alto nível, sendo secretário-geral e presidente de um importante sindicato. Sempre aprendi com os melhores sindicalistas nacionais que a principal missão de um qualquer sindicato é "prestar serviços de caráter económico e social aos seus associados; participar na elaboração da legislação do trabalho"; participar ativamente na qualificação dos seus associados; organizar e lutar por ações de formação profissional; estabelecer relações ou filiar-se em organizações sindicais internacionais de forma a melhor defender os seus associados; e nunca, mas nunca mesmo, litigar contra os seus associados ou apoiar litígios entre eles. Antes de litigar contra um associado, deve expulsá-lo.
A ANTF é a única associação de classe que litiga contra os seus associados. A única que estabelece uma estratificação social entre os seus associados, considerando uns de 1.ª classe, e por isso, com mais direitos do que os outros. Ninguém conhece à ANTF uma ideia, uma diligência, uma organização de capacitação dos seus associados. Ninguém ouviu alguma vez o presidente da ANTF ou algum dos seus dirigentes lutar pela abertura de mais vagas e de mais cursos de formação para os seus associados, que lhes elevasse o seu nível e lhes desse todas as competências para poderem exercer a sua profissão sem entraves.
Honestamente e posso andar distraído mas apenas ouço falar da ANTF quando fazem prova de vida e dizem quem vão apoiar para futuro presidente da Federação – curiosamente, o seu presidente declarou apoio a uma pessoa que ainda não é candidato, o que do ponto de vista ético é brilhante –, e quando participam dos seus associados, no sentido de os impedirem de trabalhar.
E apesar de o futebol ser uma atividade curiosa, diferente das outras do ponto de vista sindical, é exatamente igual às outras. Vejam o Sindicato dos Jogadores de Futebol e o seu presidente Joaquim Evangelista (pessoa com quem nunca falei) mas que é um leão na defesa dos seus associados, principalmente dos mais desfavorecidos, dos menos capacitados, daqueles que jogam em clubes de menor dimensão, porque são esses que por norma têm mais problemas.
Talvez José Pereira e os seus colegas de direção fossem melhores dirigentes de uma qualquer associação de patrões. De trabalhadores, não são de certeza absoluta."
O Misterioso Billy Smith – feio, porco e muito mau
"William aparecia nos jornais ligado ao título de The Dirtiest Fighter Who Ever Lived.
Sexto de seis irmãos, William Amos Smith era um patife de pai e mãe. Nasceu em Little River, Digby, Nova Escócia, Canadá, a 15 de maio de 1871, filho de um desgraçado que se dedicava à pesca e à copofonia, com mais empenho na última do que na primeira, e que só se lembrou de registar o rebento mais novo quando este já cumprira os dez anos de idade. A mãe, Adelia Dakin, no intervalo de parir crianças e de mudar fraldas fazia serviços caseiros consta-se que sempre má catadura. Dos irmãos (Thomas, Nelson e St. Clair) e das irmãs (Elizabeth e Adelaide), apenas Thomas se preocupou com ele. Ao mudar-se para Portland, Oregon, Estados Unidos, com a mulher que arranjara entretanto, uma tal de Mary Elizabeth Beech, levou consigo o caçula, já com 19 anos, completamente fixado numa carreira de pugilista e com algumas vitórias de truz sobre gente tão conhecida na altura como eram Ed Harvey e Frank Tebeau. Não tardou muito a ser chamado para São Francisco e combater no Wigwam Theatre, no California Athletic Club e no Occidental Athletic Club, palcos destinados apenas ao melhores. Pelo caminho desenvolvera o seu estilo ardiloso do boxe bruto. Um estilo que lhe permitiu, de forma bastante suja, bater Jack Dempsey, o primeiro campeão do mundo de pesos-médios, com mais nove anos e, pelo menos, mais nove quilos do que ele. Dempsey levou para contar e não ficou nada satisfeito com isso. Além dos murros da ordem foi massacrado com cotoveladas e golpes baixos. William não entrava no ringue para combater; entrava para ganhar fosse de que maneira fosse. Não admira que das suas 22 derrotas durante a carreira profissional, doze tenham sido por desqualificação. Nem todos os juízes estavam para o aturar.
No dia 15 de dezembro, quando venceu Danny Needham, começou a afirmar aos jornalistas que era natural de Boston, mais uma daquelas lampanas que faziam parte do seu reportório. Alguns deles, mais criteriosos, duvidaram da proveniência daquele animal selvagem que não tinha nem sequer pejo de morder os adversários, se se visse à rasca. Quando se tornou campeão do mundo de meios-médios, foi escrutinado até ao dia da sua conceção. Para os repórteres da Costa Leste, que pouco ou nada sabiam dele, era um mistério não encontrarem nenhuma nota biográfica por entre os pugilistas inscritos na sua área de trabalho. Chamaram-lhe um mistério. Ficou. E William gostou bastante: Mysterious Billy Smith passou a ser o seu nome de cartaz. Acartava uma boa dose de publicidade. Mas não o impediu de perder o título ao ser derrotado por Tommy Ryan no Twin City Athletic Club in Minneapolis. Derrota por apenas dois pontos, mas mais dolorosa do que os cortes que sofreu nas superciliares. A sua fama tinha, no entanto, chegado a diversos cantos do universo juntamente com as histórias de combates no qual se tornava feio, porco e muito mau. Convidaram-no para uma digressão a Londres. Billy Smith tinha apenas 24 anos mas um currículo impressionante, embora este pudesse por vezes confundir-se com um cadastro. Desafiado para fazer três combates num só dia, a sua farronca impediu-o de recusar essa proposta muito pouco desportiva. Vendo bem, estava-se positivamente marimbando para o desporto. Desde que daí viessem uns bons punhados de dólares, estava pronto para tudo. Os britânicos Trooper Ham, Jack Bryan e Arthur Morris serviram de ‘guinea-pigs’. Tirando Morris, foram espancados sem piedade e retirados do ringue com as fuças em papa e os narizes a precisarem de reparação urgente. Regressou aos Estados Unidos para ser mais duas vezes campeão do mundo. Só que, entretanto, deixou-se envolver num daqueles combates que não tinham hipótese de vencer: o dos casamentos. O homem a quem a imprensa chamava de ‘The Dirtiest Fighter Who Ever Lived’ viu a primeira mulher, Minnie Valentine Merchant, morrer ao fim de um ano de conjúgio. Os resultados da autópsia foram por demais preocupantes. Minnie tinha sido envenenada, muito provavelmente através de algo que comeu. Seria Smith suficientemente bruto para matar um jovem com a qual se unira pouco mais de um ano antes? A sombra pairou sobre ele e tornou-o ainda mais inquieto e ainda mais canalha no momento de desancar opositores. Recompôs-se e casou outra vez, agora com uma moçoila de Queens, Nova Iorque, assim para o finório: Mary Maime Cavanagh. Não aturou durante muito tempo o feitio azedo de William e pediu o divórcio. Smith pouco se ralou. Logo no dia seguinte a ter assinado a papelada, casou-se pela terceira vez, desta feita com Josephine Hoffstatter-Barde. Combatia em casa como se fosse num ringue: sem escrúpulos. Foi morrer junto do irmão mais velho, em Portland. Onde tinha um bar chamado The Champion’s Rest. Quem o viu achou-o cansado."
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