"Não basta fazer promessas de que haverá condições para, a partir de agora, manter os talentos da formação. É preciso explicar, bem explicadinho, como se vai fazer. Isso e o resto
As eleições de outubro do Benfica estão já em marcha. João Diogo Manteigas, João Noronha Lopes e Cristóvão Carvalho já anunciaram que são candidatos à presidência, Mauro Xavier e Martim Mayer estão quase a fazê-lo, Rui Costa mantém o tabu, continua sem esclarecer o que irá decidir, embora seja provável, na minha perspetiva, que vá recandidatar-se.
Concluída a época — talvez o Mundial de Clubes ainda pertença a esta, ainda estamos todos a tentar perceber — com o falhanço no campeonato e na Taça de Portugal, deu-se o tiro de partida para apresentação de ideias, e não só, embora João Diogo Manteigas, reconheça-se, já tem caminho feito. Já passámos o tempo, quero acreditar, da tentativa de convencimento dos sócios através de promessas para todos os gostos, da entrada na SAD de investidores desinteressados e pouco ou nada transparentes, da promessa de treinadores ou craques.
Isso pode dizer muito da nossa evolução como sociedade, mais liberta do conceito messiânico (depois lembro-me do que está a acontecer na política e já não sei se acredito no que acabei de escrever), mas dirá, mais, seguramente, da evolução de clube/sociedade desportiva, agora com fundamentos mais sólidos para encarar com otimismo o futuro.
O diretor adjunto de A BOLA, Alexandre Pereira, quarta-feira, escreveu que o Benfica parece um pote de mel — ideia que resume muito bem o momento — e que o cadeirão da Luz é um lugar muito apetecível. Não duvido, um pouco, das mais genuínas e puras intenções de quem se está a candidatar e de que todos só querem o bem e o melhor do clube. Mas é impossível ignorar que, há pouco menos de quatro anos, com o clube e SAD em bolandas depois da detenção de Luís Filipe Vieira e com a Justiça à perna com muitos processos houve apenas dois candidatos — Rui Costa e Francisco Benitez. Na hora de votar, em outubro, cada sócio valorizará essa situação como bem entender. Todos coincidirão, certamente, mesmo Rui Costa, que o Benfica conquistou poucos troféus em quatro anos.
Dos candidatos, os benfiquistas irão ouvir, seguramente, o que querem. Soará tudo muito bem, cada qual terá a equipa mais bem preparada para chegar ao sucesso e apresentar as melhores contas pelos mais ilustres especialistas, cada lista será credora da maior capacidade e liderança, todos apresentarão a melhor fórmula para manter no clube os jogadores da formação, todos seriam capaz de fazer com que João Neves ficasse pelo menos mais uma época e não fosse campeão europeu pelo PSG.
Para o bem dos benfiquistas e do clube, seria bom que todos chocassem depressa com a realidade, que estará à espera de quem vencer no dia seguinte às eleições. É preciso explicar tudo e explicar tudo bem explicadinho —começando, justamente, por João Neves, que nenhum sócio ou adepto gostou de ver partir. Aumentavam-lhe o salário para quanto? Rebentavam com o teto salarial? Como lidariam com outros em circunstâncias semelhantes? E aos que se pusessem logo a seguir na fila? E, já agora, que digam objetivamente o que vão fazer com Bruno Lage. Será o mínimo de quem exige transparência.
As justificações não podem ser próprias dos populistas. No futebol, como na vida, há que ter cuidado até com o que se deseja."