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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Aproveitar 'juros' e entrar a ganhar

"O jogo de Domingo é um título, e como tal como tal um objecto a vencer. Mesmo sendo a prova oficial de menos prestígio, e com um passado que faz corar de vergonha Cândido de Oliveira, o Benfica só pode querer ganhar em Aveiro. Todos os benfiquistas se lembram de Donato Ramos e da mais incrível arbitragem que tenho memória, ou de José Pratas a fugir campo fora por ter assinalado uma falta, enfim uma prova cheia de estórias da história do futebol português.
Domingo, contra um muito bem preparado Rio Ave, que merece esta final, o Benfica se ganhar cumpriu a obrigação, se perder será alvo de dura critica. É o destino de ser grande, e por isso há que cumprir a obrigação e vencer. Acresce uma curiosidade, há que saber quantos dos habituais titulares se recupera para esta partida de Aveiro. Enzo Pérez é contudo o mais crucial de todos os jogadores, pelo que equilibra a defender. Ter Enzo Pérez a bom nível no Domingo, frente ao Rio Ave, seriam ovos moles para os benfiquistas em Aveiro.
A venda do jogador argentino será mesmo um quebra cabeças para Jorge Jesus. Mas até dia 31 são especulações, lembro que Siqueira, uma das mais assertivas contratações da última época, chegou a 12 minutos do encerramento do mercado da última época. Mas no mês das entradas e saídas, o Benfica e o Rio Ave são os únicos com o privilégio de poder ganhar títulos. Vamos aproveitar estes juros do capital da última época para começar com uma vitória.
Não me lembro nos últimos 10 anos quantas vezes ganhámos o primeiro jogo oficial. Mas foram raras essas vezes. Seja no Campeonato, seja na Supertaça, o primeiro jogo da época tem sido estatisticamente uma final da Liga dos Campeões para o Benfica. Ganhar em Aveiro, seria por isso, o Benfica a vencer a estatística."

Sílvio Cervan, in A Bola

Diligentes e diligências

"1. Que a justiça em Portugal se deve, de há muito tempo para cá, escrever com letra minúscula, é algo de evidente. Por causa da impreparação de novos juízes que envergam a beca antes de saberem o mínimo da vida e das relações humanas; pelo exagero legislativo levado a cabo por aqueles que montaram as armadilhas necessárias para não correrem o risco de serem apanhados nas curvas judiciárias; pelo advento de um novo poder baseado na prepotência dos medíocres e na ínvia força das protecções políticas.
2. Se a justiça em Portugal perdeu o crédito, no futebol nunca o teve. Porque - a despeito das deliberações do Conselho Superior da Magistratura que aconselhava os seus membros a manterem-se à distância - não há forma de deixar de ser uma justiça clubitizada; porque os magistrados que se dedicam ao futebol são, na sua quase totalidade, rebotalho da classe, gente que se dedicou à causa para favorecer os amigos que lhes arranjam lugares nos camarotes dos estádios e para aparecer de vez em quando na televisão a vomitar alarvidades, comprometendo a sua seriedade (que pouca é) e a dos que continuam a querer manter-se sérios.
3. As diatribes vindas a lume no caso das eleições da Liga são o espelho dessa justiça de pacotilha. Deprimentes juízes que, num tribunal de comarca, não passariam de oficiais de diligências. E no mundo do futebol, se mantêm obedientemente diligentes, escutando as vozes dos donos. E rosnando a preceito."

Afonso de Melo, in O Benfica

Diz se por aí...

"Diz-se por aí, especialmente por parte dos nosso clássicos adversários, que se aproxima o descalabro para o Benfica esta época. Da minha parte, concordo com o Luís Fialho: podemos facilmente ceder o título de campeões da pré-temporada a qualquer um dos nossos adversários! Qualquer um!
Tal como podemos explicar que um clube da dimensão do Benfica tem a obrigação de ser financeiramente responsável e de operar num mercado global altamente competitivo garantido as condições financeiras necessárias à estabilidade e ao superior interesse do clube. É por isso que não basta gritar aos quatro ventos que não se devia vender jogadores, ou, como ouvi de alguns ex-dirigentes encarnados esta semana, que seguindo este trilho se aproxima 'o descalabro'.
Já neste espaço defendi que têm necessariamente de ser criados mecanismos jurídicos e de cooperação capazes de imprimir alguma dose de fair-play financeiro e equilíbrio nas contratações no seio do mercado futebolístico, mal terminam os respectivos campeonatos nacionais.
Porém, enquanto tal não suceda, temos de agir (e reagir) com o que temos. E, quanto a este ponto, penso que Luís Filipe Vieira tem agido ponderadamente, aliando a grandeza do coração benfiquista ao realismo pragmático de um homem habituado às lides da gestão empresarial. Uma entidade, qualquer que seja, que actue num mercado global e altamente competitivo como é o futebol, não se pode fechar sobre si própria, ignorando os ímpetos do mercado, dos concorrentes, dos círculos financeiros e (arrisco-me a dizer) do próprio peso psicológico que tal dimensão tem sobre os jogadores profissionais. É irrealista mantermo-nos no nosso canto, ferozes, a defender que tudo devia ter ficado na mesma. As coisas, pura e simplesmente, não funcionam assim. Contas feitas, dúvidas desfeitas! Basta olhar à nossa volta!
De resto, o Benfica precisa de tempo de qualidade que permita a Jesus afinar hábitos."

André Ventura, in O Benfica

Ainda a pré-época

"O assunto é incontornável, a pré-época do Benfica passou a ser assunto de falatório nacional. Como todo o benfiquista minimamente consciente, tenho a noção de que nos jogos de pré-época não se ganham pontos, nem competições daquelas que nos fazem festejar. Ou seja, tenho a noção de que a pré-época é exactamente o tempo de experimentar possibilidades, identificar problemas e criar condições para entrar na 'época' com as melhores soluções para alcançar os objectivos. Ainda assim, como todo o benfiquista minimamente consciente, é impossível não ter ficado preocupado com algumas das situações (e as situações ultrapassam os resultados) que fomos testemunhando. Não me preocupam as saídas de futebolistas que se assumiram como importantes nas brilhantes conquistas da época passada. As minhas preocupações derivam do valor ainda duvidoso dos reforços que vieram com o intuito de suprir as lacunas dos tais excelentes futebolistas que saíram. É neste deve e haver que se vão construindo expectativas mais ou menos optimistas para o futuro. O tempo urge e o que nós benfiquistas exigimos é, no imediato, a conquista de uma Supertaça que possa servir de ignição para um bi-campeonato que não se pode adiar, sob o risco de estarmos a adiar a consolidação do Benfica como líder do futebol nacional. Esta preocupação é, no entanto, bastante atenuada pelas competências de gestão do Clube, orientação e treino do plantel, e capacidade de detecção de talentos que já testemunhámos nos profissionais do Benfica. Fica uma nota final sobre esta pré-época para agradecer ao Cardozo as quase duas centenas de vezes que me fez festejar golos do Benfica.
Soube-se construir na História do Glorioso."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica

Tacuara

"Muitos motivos justificam a venda de Óscar Cardozo ao Trabzonspor: uma lesão grave nunca inteiramente debelada, e, porventura, de duvidosa reabilitação; o sub-rendimento quase penoso que a partir daí o jogador evidenciou; um salário elevado, acima das limitações colocadas pelos novos tempos, e acima daquilo que, neste momento, poderia acrescentar à equipa; e, talvez mais importante que tudo o resto, a parcela do passe afecta ao Benfica Stars Found, que obrigaria a SAD a desembolsar uma verba considerável (4 milhões?) caso tencionasse manter os serviços do goleador.
Tendo em conta estas circunstâncias, ninguém de bom senso poderia atar um jogador de 31 anos ao seu passado. Perante uma boa proposta (para ele e para o clube), havia que abrir a porta.
Dito isto, não posso deixar de manifestar a minha tristeza por ver partir o melhor, o mais eficaz, e o mais marcante ponta-de-lança do Benfica neste século XXI.
Cardozo nunca gerou unanimidades. Dele chegaram a dizer que “só” marcava golos. Coisa pouca, portanto. 
Para quem, como eu, dispensa fintas, toques de calcanhar, malabarismos e números mais ou menos circenses, gostando antes de ver futebol prático, com remate pronto e certeiro para dentro das balizas, ele foi um ídolo. Era ele que me fazia levantar da cadeira. Foi ele, com os seus quase 200 golos, que mais alegrias me proporcionou ao longo destes anos.
Tacuara marcou 13 golos ao Sporting, 7 ao FC Porto, 34 nas competições europeias. Sai como o melhor marcador estrangeiro da história do clube, e um dos dez melhores em termos absolutos (emparceirando, na lista, com nomes como Eusébio, Águas, José Augusto, Arsénio, Julinho, Rogério, Nené ou Torres). Só o tempo fará perceber aos mais cépticos a importância e a dimensão histórica que um ponta-de-lança com estes números tem para um clube.
Teria de sair um dia. Esse dia chegou. Da minha parte, fica o eterno agradecimento por tudo quanto nos deu. E a esperança que consigamos rapidamente encontrar alguém capaz de o fazer esquecer."

Luís Fialho, in O Benfica