"«Quosque tandem?», perguntava Cícero em pleno Senado romano. «Até Quando?». Lúcio Sérgio Catilina era um falido. Falido moral e financeiramente. Planeava o golpe que o conduziria ao poder. Um golpe que viria a falhar no campo de batalha. No campo das palavras, Cícero não o poupou: «Até quando Catilina abusarás tu da nossa paciência?» Os discursos de Cícero ganharam o nome de Catilinárias. A vitória do verbo sobre a ambição estúpida e desonesta.
Acabado de desembarcar do seu país das maravilhas, Proença também tem ambições. A mais grotesca de todas é a da exigência da fanfarra. Queria a sala de chegadas do aeroporto da Portela entupida de gaiteiros, com a Banda Filarmónica da Guarda Nacional Republicana atacando o Hino Nacional ao seu mais ligeiro vislumbre. Queria o Presidente da República, queria membros do Governo (licenciados ou não), queria os escuteiros e os bombeiros, queria Portugal ajoelhado a seus pés. Queria, se calhar, passar a ser conhecido pel'O Condestável. Queria muito provavelmente que a Igreja começasse desde já a meter os papéis para a sua beatificação. Ah! Até quando?
Sem noção do ridículo, desfez-se em entrevistas, em declarações. Portugal teve de o ouvir, teve de ler os seus doutos pensamentos. Ignorou os erros graves (muito graves até) que cometeu em Munique e em Kiev. Neste momento da sua existência ignora tudo excepto a sua suprema vaidade. Até quando? Até quando?
Comenta os prejuízos que provocou a terceiros com uma leviandade assustadora. Praticamente, promete repeti-los. Sempre contra os mesmos. Que não têm o direito de se lamentar pois ele é um ser abençoado por Deus com o dom de errar democraticamente contra todos, menos contra um. E esse um nós sabemos quem é. É quem lhe põe a mão por baixo e lhe dá azo a tanta pacóvia pavonada.
Ah! Até quando abusarás tu da nossa paciência?..."
Afonso de Melo, in O Benfica