Últimas indefectivações

sábado, 14 de julho de 2012

Proencilinária

"«Quosque tandem?», perguntava Cícero em pleno Senado romano. «Até Quando?». Lúcio Sérgio Catilina era um falido. Falido moral e financeiramente. Planeava o golpe que o conduziria ao poder. Um golpe que viria a falhar no campo de batalha. No campo das palavras, Cícero não o poupou: «Até quando Catilina abusarás tu da nossa paciência?» Os discursos de Cícero ganharam o nome de Catilinárias. A vitória do verbo sobre a ambição estúpida e desonesta.
Acabado de desembarcar do seu país das maravilhas, Proença também tem ambições. A mais grotesca de todas é a da exigência da fanfarra. Queria a sala de chegadas do aeroporto da Portela entupida de gaiteiros, com a Banda Filarmónica da Guarda Nacional Republicana atacando o Hino Nacional ao seu mais ligeiro vislumbre. Queria o Presidente da República, queria membros do Governo (licenciados ou não), queria os escuteiros e os bombeiros, queria Portugal ajoelhado a seus pés. Queria, se calhar, passar a ser conhecido pel'O Condestável. Queria muito provavelmente que a Igreja começasse desde já a meter os papéis para a sua beatificação. Ah! Até quando?
Sem noção do ridículo, desfez-se em entrevistas, em declarações. Portugal teve de o ouvir, teve de ler os seus doutos pensamentos. Ignorou os erros graves (muito graves até) que cometeu em Munique e em Kiev. Neste momento da sua existência ignora tudo excepto a sua suprema vaidade. Até quando? Até quando?
Comenta os prejuízos que provocou a terceiros com uma leviandade assustadora. Praticamente, promete repeti-los. Sempre contra os mesmos. Que não têm o direito de se lamentar pois ele é um ser abençoado por Deus com o dom de errar democraticamente contra todos, menos contra um. E esse um nós sabemos quem é. É quem lhe põe a mão por baixo e lhe dá azo a tanta pacóvia pavonada.
Ah! Até quando abusarás tu da nossa paciência?..."

Afonso de Melo, in O Benfica

Proença... ainda

"Já muito se falou na presença do árbitro Pedro Proença na final do Campeonato da Europa, concluindo da melhor forma uma grande época internacional. Parabéns! É uma honra para o País e para o Futebol Português. Com ou sem a presença do secretário de Estado à sua espera no aeroporto...
(Abra-se aqui um parênteses para referir que no Europeu de Atletismo, disputado ao mesmo tempo e do qual Portugal regressou com três medalhas, um dos apenas sete juízes internacionais era português e o (único) juiz de partida ('starter') internacional também era português - e nem se soube, talvez porque, felizmente, no atletismo não há penáltis nem foras-de-jogo...).
Há muito quem, face às boas arbitragens de Pedro Proença lá fora, afirme agora que não há razões para as críticas que lhe são feitas por cá. E até se reduzem essas críticas ao fora-de-jogo não assinalado aquando do decisivo golo da vitória do FC Porto na Luz (por sinal mais da responsabilidade do seu fiscal-de-linha, que também esteve no Europeu).
Acontece que as críticas do Benfica a Pedro Proença são muito mais extensas e não se limitam a esse fora-de-jogo, longe disso. Houve outros lances desse Benfica-FC Porto, como houve vários outros em diversos jogos  de há muitos anos para cá: começou num célebre Boavista-Benfica; continuou noutro célebre Penafiel-Benfica que só não ficou na história porque na jornada seguinte Luisão marcou o inesquecível golo do título ao Sporting; prosseguiu num também célebre penálti no Dragão; e por aí adiante, em jogos menos mediatizados mas com algo em comum: na dúvida, é contra o Benfica.
Os êxitos internacionais do árbitro português ainda tornam mais graves os seus deslizes internos. Porque provam que o árbitro é bom. Claro que todos os árbitros erram e Proença também tem direito a errar. A diferença está no facto de os melhores árbitros errarem menos. Proença erra menos lá fora mas erra mais quando jogo o Benfica e, infelizmente, normalmente para o mesmo lado.
Parece ter ficado definitivamente marcado pela 'acusação' de que era sócio do Benfica..."

Arons de Carvalho, in O Benfica

O espectáculo que se avizinha

"Com o aumento do IVA de 6% para 23% no preço dos bilhetes dos espectáculos, o sacrifício financeiro pedido aos adeptos do futebol só se torna legítimo se houver uma significativa melhoria na qualidade do espectáculo proporcionado.
Para que o futebol, em Portugal, fosse verdadeiramente um espectáculo teria de se garantir que um jogo de futebol não estava viciado à partida. Os exemplos das últimas décadas mostram-nos que só os mais crédulos (ou convenientemente inocentes) acreditam que a competição futebolística em Portugal não está ferida na credibilidade. Os exemplos são muitos e quotidianos. Dizia-me recentemente um ex-delegado da Liga que desconfiava ter sido demitido do cargo por se ter recusado a “ajeitar” um relatório de acordo com o pedido que vinha de um conhecido dirigente. O “jeito” no relatório seria em abono de uma equipa de arbitragem cujo chefe de fila está actualmente em alta no mundo do futebol.
Coincidentemente, numa entrevista recente, o árbitro Pedro Proença – em plena campanha de lavagem de imagem e de memória dos seus sucessivos erros em prejuízo do Benfica e benefício sistemático de quem se “ajeita” no futebol português há umas três décadas – enviava recados, alfinetadas e avisos à Direcção Benfica e aos benfiquistas. Ficou muito claro o espectáculo que a arbitragem portuguesa, com o Proença à cabeça, está a preparar para os jogos do próximo campeonato.
De facto, com a dita subida do IVA não se está a taxar a paixão pelo espectáculo de futebol, está-se a taxar a paixão pelo clube… a única que ainda nos leva a ver futebol em Portugal."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica