"Inúmeros são os casos que aparecem na imprensa sobre o “desaire” ou a “má sorte” que sucede a um dado atleta (área do acting também evidencia este tipo de fenómenos) assim que termina a sua carreira.
Este tipo de ocorrências, em algumas modalidades, como é o caso do futebol profissional é, infelizmente, mais característico da norma do que da excepção – estudos recentes conduzidos ao nível da Premier League (um dos mercados que melhor paga aos seus atletas), revelam dados preocupantes que indicam que, cinco anos após o final da sua carreira, cerca de 60% dos atletas entra em condições de precaridade ou falência, divórcio e prejuízo evidente dos indicadores de saúde mental.
Curiosamente, ou talvez não, este tipo de situações não é tão recorrente nas outras modalidades de alta competição, muito provavelmente por, não tendo tão facilmente associada a imagem de se poder vir a ganhar elevados valores com a prestação desportiva, os atletas acabarem por ir desenvolvendo carreiras duais (por outras palavras, activam um percurso profissional paralelo que servirá de “plano b” se as coisas não correrem como o desejado e/ou no final da carreira).
De uma forma geral, coloca-se a necessidade de renegociação do projecto profissional e, para muitos, dada a idade precoce com que iniciaram a sua carreira, da sua própria identidade pessoal.
Ainda assim, nos atletas de “top elite” – a transição pode revelar-se abrupta colocando, de igual forma, a sobrevivência em causa, pois, de “medalhado” ao esquecimento, às vezes, são apenas dois passos.
Michael Phelps, antigo medalhado olímpico, é uma das vozes associadas a este tema, sugerindo um maior envolvimento das organizações responsáveis (clubes, federações e respectivos comités olímpicos nacionais) na promoção de um suporte maior aos atletas nesta fase da sua carreira.
Este é um tema que é já uma preocupação consciente do Comité Olímpico Internacional (COI), activada através do Programa “Athlete Career Programme” (ACP) que pretende promover a difusão de informação que alerte os atletas acerca da necessidade prioritária de, atempadamente, planearem a sua “reforma”.
Internacionalmente, em diferentes áreas de responsabilidade (por exemplo, no acesso aos cuidados de saúde pública), assiste-se, contudo, a uma mudança de foco ou, por outras palavras, a uma maior responsabilização do próprio (no caso, o Atleta).
Este tipo de estratégia, sem descurar as necessárias e importantes medidas institucionais que devem ser implementadas, tem-se revelado de maior sucesso, na medida em que se foca numa medida importante para o Sucesso: o comportamento (e envolvimento) do Atleta naquilo que de facto controla – as suas acções.
Em Portugal
Por cá, o Comité Olímpico Português (COP) e a Comissão de Atletas Olímpicos (CAO), através do Programa ACP, procuram, para além da sensibilização, dar um pequeno passo à frente, buscando (em parceria com o Atleta) preparar, atempadamente, o momento de transição de carreira e encontrar soluções efectivas de empregabilidade, de acordo com os seus objectivos.
Aos Atletas caberá uma necessária renegociação da forma como se posicionam no Desporto, procurando, desde cedo, alinhar um conjunto de estratégias e iniciativas que permitam ir acautelando a criação de um Plano de Transição de Carreira Eficiente – nomeadamente, garantirem que se mantêm informados acerca das iniciativas que possam ir sendo lançadas, garantindo a sua presença por forma a garantir o acesso ao conhecimento
Em boa verdade, e também fruto da cultura portuguesa, é preciso mudar o ditado de “depois de casa roubada, trancas à porta” ou, por outras palavras, perspectivar os requisitos necessários não só para uma carreira de sucesso mas, também, para uma transição de sucesso.
Até porque, a literatura científica também nos indica que, quando um Top Performer termina a sua carreira, se conseguir redireccionar o seu Drive, a taxa de Sucesso, independentemente da tarefa/profissão a que se predestinar, será elevadíssima.
Tratar-se-á, uma vez mais, de uma questão de (redescobrir) Foco."