"No último sábado, dia da Eusébio Cup, depois do almoço com os dirigentes do São Paulo, com os meus colegas Alcino António e Domingos Almeida Lima fui fazer uma visita ao Museu do Benfica. Até aqui nada de novo, nem extraordinário. O Museu é excelente e de visita obrigatória, mas o facto relevante não foi esse. O facto único é que fomos acompanhar Mário Coluna na sua primeira visita ao Museu. Senhor Mário Coluna como lhe chamam respeitosamente tantas que envergaram a camisola do Benfica, ou o monstro como carinhosamente Humberto Coelho o tratava durante a visita.
Humberto Coelho, de trato educado e irrepreensível, dirigia-se aos miúdos e apresentava Mário Coluna como um dos maiores entre os maiores. Ver Mário Coluna fragilizado pela saúde extasiado com a sucessão de vitrinas, ver Mário Coluna respeitosamente a ouvir o holograma de Eusébio ou observar as botas de Cosme Damião dão uma dimensão única a esta visita. Toni e Humberto, dois dos nossos mais respeitados atletas e amigos, acompanharam Mário Coluna com o carinho de quem percebe e sente a dimensão do que se passava. Estar com a história numa visita à história.
Quando parei junto de um testemunho de António Lobo Antunes e li o que este escrevera sobre o Benfica percebi que só pode haver dois sentimentos: os que percebem esta frase são dos nossos, e os que ficam indiferentes são dos outros. «Desde que me tornei homem chorei a morte de três pessoas que muito amava. Todas as outras lágrimas chorei-as pelo Benfica. E quase todas as minhas alegrias devo-as ao meu Clube.»
A mim e a Mário Coluna caíram umas lágrimas pela face. Fica para a minha história, naquela tarde de dia 3 de Agosto, o momento em que eu consegui ser igual ao Senhor Mário Coluna.
Por isso quando se via o filme da história do Benfica no anfiteatro e este se levantou de pé a aplaudir Mário Coluna eu agradeci ao meu avô ter-me feito benfiquista e mandei um beijo para o céu.
Obrigado!"
Sílvio Cervan, in A Bola