Últimas indefectivações

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Obrigado, avô

"No último sábado, dia da Eusébio Cup, depois do almoço com os dirigentes do São Paulo, com os meus colegas Alcino António e Domingos Almeida Lima fui fazer uma visita ao Museu do Benfica. Até aqui nada de novo, nem extraordinário. O Museu é excelente e de visita obrigatória, mas o facto relevante não foi esse. O facto único é que fomos acompanhar Mário Coluna na sua primeira visita ao Museu. Senhor Mário Coluna como lhe chamam respeitosamente tantas que envergaram a camisola do Benfica, ou o monstro como carinhosamente Humberto Coelho o tratava durante a visita.
Humberto Coelho, de trato educado e irrepreensível, dirigia-se aos miúdos e apresentava Mário Coluna como um dos maiores entre os maiores. Ver Mário Coluna fragilizado pela saúde extasiado com a sucessão de vitrinas, ver Mário Coluna respeitosamente a ouvir o holograma de Eusébio ou observar as botas de Cosme Damião dão uma dimensão única a esta visita. Toni e Humberto, dois dos nossos mais respeitados atletas e amigos, acompanharam Mário Coluna com o carinho de quem percebe e sente a dimensão do que se passava. Estar com a história numa visita à história.
Quando parei junto de um testemunho de António Lobo Antunes e li o que este escrevera sobre o Benfica percebi que só pode haver dois sentimentos: os que percebem esta frase são dos nossos, e os que ficam indiferentes são dos outros. «Desde que me tornei homem chorei a morte de três pessoas que muito amava. Todas as outras lágrimas chorei-as pelo Benfica. E quase todas as minhas alegrias devo-as ao meu Clube.»
A mim e a Mário Coluna caíram umas lágrimas pela face. Fica para a minha história, naquela tarde de dia 3 de Agosto, o momento em que eu consegui ser igual ao Senhor Mário Coluna.
Por isso quando se via o filme da história do Benfica no anfiteatro e este se levantou de pé a aplaudir Mário Coluna eu agradeci ao meu avô ter-me feito benfiquista e mandei um beijo para o céu.
Obrigado!"

Sílvio Cervan, in A Bola

TV mais cara?

"A questão é muito interessante do ponto de vista económico. Se a afirmação da Benfica TV quebra o monopólio da Sport TV, como é que o aumento da concorrência obriga os espectadores a pagar mais para ver os mesmos jogos? Há várias forças em jogo.
Primeiro, tanto o Benfica como a Sport TV parecem perder dinheiro a curto prazo, pois se o Benfica vendesse os seus jogos por 22 milhões de euros (como foi noticiado durante as negociações) a Joaquim Oliveira, corria menos risco e teria mais receita no imediato.
Por outro lado, a Sport TV não só tem perdido assinantes por causa da crise como está a lançar preçários mais baixos, logo menos rentáveis. Isso significa que ou este duopólio está concertado (o que parece impossível) ou em causa está uma guerra de poder em que o Benfica se emancipa ao poderoso Joaquim Oliveira para se constituir como uma alternativa.
O Porto e o Sporting não estão hoje preparados para semelhante passo. Acontece que há outras duas forças em jogo, acima destas: a Zon (controlada por Isabel dos Santos e, em breve, pela Sonae) e a Meo (da Portugal Telecom). Sem a PT nunca teria existido a Benfica TV; PT e Zon conseguem mandar hoje na Sport TV.
Ora, estas duas empresas estão interessadas em maximizar a receita conjunta dos dois canais de TV, não numa guerra de preços entre eles que destrua valor.
Os valores de adesão à Benfica TV são impressionantes e mostram que este projecto não foi um fogacho. Com a passagem do tempo, é provável que a Benfica TV ganhe mais conteúdos e venha a subir o preço, ao passo que a Sport TV o descerá. É isso que a concorrência aponta. Mas é preciso que, acima da concorrência entre os dois canais, a concorrência entre os dois operadores o permita. Se não for assim, os jogos de poder nunca beneficiarão os clientes. Só a Zon e a Meo."