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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O voo negro que encantou Paris

"Em 1973, Eusébio, aos 31 anos, marcava golos atrás de golos - só no Campeonato foram 40. Ganhou a sua segunda «Bota de Ouro» e o Benfica foi Campeão concedendo apenas dois empates.

Voltemos a Eusébio. Mais do que não esquecê-lo, é preciso relembrá-lo. Recordo-me desse auxiliar indispensável, há tanto tempo escrito já: «Viagem em Redor do Planeta Eusébio». E recuo até 1973. 1973 foi um ano marcante na carreira de Eusébio. Profundamente marcante! Marcou 40 golos no Campeonato Nacional.
O Benfica foi Campeão com apenas dois pontos perdidos: 28 vitórias e 2 empates; 101 golos marcados e 13 sofridos. Só num jogo não marcou: na Tapadinha, com o Atlético, na penúltima jornada (0-0). Nenhuma outra equipa faria melhor.
Na Luz, foi infernal: Leixões: 6-0 (3 golos de Eusébio); Beira-Mar: 9-0 (3 golos de Eusébio); Sporting: 4-1 (4 golos de Eusébio); Belenenses: 5-0 (3 golos de Eusébio); FC Porto: 3-2 (Eusébio não jogou); Farense: 3-0 (Eusébio não jogou); Atlético: 2-0 (1 golo de Eusébio); Boavista: 4-1 (1 golo de Eusébio); U. Coimbra: 6-1 (2 golos de Eusébio); Barreirense: 3-0 (estranhamente, Eusébio não marcou); V. Setúbal: 3-0 (1 golo de Eusébio); U. Tomar: 2-1 (2 golos de Eusébio); V. Guimarães: 8-0 (3 golos de Eusébio); Montijo: 6-0 (4 golos de Eusébio).
A linha avançada do Benfica era, provavelmente, a melhor desde o tempo das vitórias na Taça dos Campeões: Nené, Eusébio, Vítor Baptista, Artur Jorge, Jordão e Simões.
Em 1973, Eusébio marcou o seu último golo pela Selecção Nacional. Em Coventry, em Inglaterra, por causa dos conflitos que se viviam em Belfast, na fase de apuramento para o Campeonato do Mundo de 1974, frente à Irlanda do Norte. Resultado: 1-1. Eusébio converteu um penálti, aos 84 minutos. O guarda-redes era Pat Jennings, do Tottenham.
Em 1973, Eusébio fez o seu último jogo pela Selecção Nacional. No Estádio da Luz, frente à Bulgária (2-2). Lesionado, foi substituído por Jordão, aos 28 minutos. Eliminado do Campeonato do Mundo, Portugal trocaria de seleccionador: saiu José Augusto e entrou José Maria Pedroto. A Selecção portuguesa bateu no fundo: Pedroto inventou a renovação e ficou para a história como o seleccionador que só ganhava ao Chipre.

Esse Eusébio que já não serve...
Em 1972/73, a época na qual Pedroto decidiu que Eusébio já não servia para a Selecção Nacional, Eusébio marcou 76 golos. Sete-seis: 76. Por extenso: setenta e seis!
3 na Taça de Honra: Belenenses 1 e Atlético 2; 40 no Campeonato: Leixões 4, Beira-Mar 3, U. Coimbra 3, Sporting 4, Belenenses 4, U. Tomar 3, CUF 3, Atlético 1, Montijo 5, V. Setúbal 1, FC Porto 1, Farense 2, V. Guimarães 3; 2 na Taça dos Campeões: Malmo 2; 3 na Selecção Nacional: França 2 e Irlanda do Norte 1; 28 em jogos particulares: Selecção da Indonésia 4, Benfica Luanda 1, Sporting Luanda 2, Selecção Frankfurt 1, Selecção Hong-Kong 3, Selecção Chinesa 2, Misto Macau 2, Marítimo 1, Seiko 2, Caroline 1, Anderlecht 2, Nottingham Forest 1, Boavista 1, Málaga 2, Estrela Vermelha 3.
Eusébio tinha 31 anos. E marcava golos como nunca.
Em Paris, Eusébio soube sempre ser feliz. Desde aquela tarde dos três golos ao Santos, no Parque dos Príncipes. E os franceses souberam sempre amar Eusébio de uma forma dedicada, apaixonada, como só os franceses são capazes de amar. Diferente dos ingleses, pois claro, que lhe devotaram mais admiração e respeito do que verdadeira paixão.

Só por uma das sessenta e quatro vezes que jogou com a camisola dos cinco escudos azuis de Portugal, Eusébio esteve Paris. Mas, nessa noite de Março de 1973, Eusébio ofereceu a Paris todo o seu esplendor: o esplendor de Portugal!
FOTO: de costas, na sua grande passada larga, imponente, Eusébio fura pelo meio de dois adversários, o 2 e o 4; Eusébio tem a braçadeira de «capitão» na manga esquerda, e o 10 nas costas; dir-se-ia um 2014 em movimento tripartido. Data: 4 de Março de 1973. Local: Parque dos Príncipes, em Paris. Legenda: «Guarda - Estava anunciada guarda negra para Eusébio. Negra ou branca, a verdade é que 'capitão' português foi estreitamente vigiado durante todo o encontro, como nesta fase em que aparece entre Broissart e Adams».

Guarda negra: os franceses tinham avisado que, contra Eusébio, utilizariam dois centrais altos, fortes e negros - Adams e Marius Trésor. A defesa direito, outro homem das colónias: Broissart.

Eusébio nem ligou aos avisos. Também não ligou ao facto de a França se ter adiantado no marcador, aos 36 minutos, por Molitor. Dois minutos depois, empata, num penálti a castigar falta de Trésor sobre Abel. No último minuto do jogo, como que para assinar o «grand finale» ao seu estilo único, um centro de Pavão, na esquerda, apanha de surpresa todos os habitantes da grande-área francesa menos... Eusébio: um mergulho, um desvio de cabeça, um golo bonito, suave, irretocável. Um voo negro que encantou Paris!
Cornus, o guarda-redes francês, conforma-se: «Aquele golo de Eusébio deixou-me siderado! Na posição em que ele se encontrava esperei que ele fizesse o remate com o pé e nunca com a cabeça. É claro que, quando ele meteu a cabeça, fiquei logo batido. Não tive qualquer hipótese! Não foi golo - foi um golão!»

A imprensa francesa reservava-lhe, mais uma vez, a habitual ladainha de elogios.
Dany Rebello, jornalista do «Journal du Dimanche», em título: «Eusébio derrotou a França!»
Manchete do «L'Équipe»: «Et, par dessus, ils avaient Eusébio...» E, no interior, em quatro páginas de crónica e reportagem, Eusébio, Eusébio, e outra vez Eusébio: «Eusébio, le roi du Parc».
Primeira página do «Parisien Liberá»: «Un vrai festival Eusébio!»
Que inveja tenho dos franceses: para eles era fácil escrever sobre Eusébio."

Afonso de Melo, in O Benfica

Demónios e anjinhos

"Paulo Fonseca parecia possuído quando se apresentou aos jornalistas para dissecar as emoções extremas da última jornada do apuramento da Taça da Liga, sintetizando o que acabara de se passar com a frase lapidar que, no FC Porto, figura em primeiro lugar na tábua dos mandamentos para uma vida feliz: “Nós não fazemos o papel de anjinhos.”
À mesma hora, em Penafiel, treinador e presidente do Sporting falavam de imoralidade e de suspeitas de favorecimento por omissão, por parte da Liga, incapaz de garantir a mais básica das equidades desportivas, a da garantia que todos os concorrentes têm as mesmas condições para lutar pelas vitórias, a começar pelo respeito e observância dos próprios regulamentos de competições. E sim, as queixas do Sporting voltam a soar como justificação tardia e como demonização de um vencedor que nunca olha a meios para alcançar os objetivos. Neste caso, o FC Porto fez tudo o que, aparentemente, a permissividade dos delegados da Liga lhe permitiu, com um elevado grau de profissionalismo, perversidade à parte, que fez toda a diferença na recta final da corrida ao golo, com o Sporting. Mais penálti, menos penálti, mais golo duvidoso menos erro escandaloso, já se sabe como acaba a história: no fim ganha o Porto.
Muitos anos e quatro presidências depois da célebre denúncia de Dias da Cunha, o Sporting prossegue a sua luta virtual contra moinhos que sopram cada vez mais forte, tendo acrescentado em Penafiel a sua longa lista de vitórias morais ou, de acordo com o presidente, mais uma derrota imoral. Parece sina, mas trata-se simplesmente da expressão de diferenças acumuladas pelo tempo, com a consolidação de profissionais e métodos que não se importam, não se importam mesmo nada, de serem confundidos com demónios e coriscos.
A equipa do Sporting realizou nos últimos meses uma enorme recuperação desportiva e bate-se agora em campo de igual para igual com os rivais, chegando a dar a sensação de que já nada lhe falta para poder chegar novamente aos títulos. No entanto, a meio da temporada, já foi eliminada das duas Taças e resta-lhe o campeonato, com apenas 14 jogos para disputar em quatro meses – o que pode redundar em handicap positivo, considerando que os adversários vão jogar duas vezes por semana a partir daqui, em quatro frentes. Vai sobrar muito tempo aos responsáveis leoninos para estudarem os métodos diabólicos e deixarem, o mais rapidamente possível, de serem tratados como anjinhos pelos adversários."

Tranquilos

"1. Mais uma vitória tranquila com o Marítimo, já sem Matic. Janeiro tem corrido bastante bem, sem grandes 'notas artísticas' mas com triunfos seguros. Fevereiro, com uma sucessão de jogos a meio da semana, será bem mais complicado, mas há que confiar (e apoiar...).

2. Jorge Jesus não é nenhum especialista da palavra, todos o sabemos. Mas também não é justo colocarmos na sua boca intenções que ele não teve. Ele disse que 'só nascendo dez vezes' podemos encontrar outro Matic na Formação do Benfica. Mas acrescentou logo: 'também acho que no mercado em nenhuma parte do Mundo seríamos capazes de encontrar um substituto para ele'. E disse mais, na mesma ocasião: 'para mim, o Matic é o melhor médio-defensivo do Mundo, é escusado ir à equipa A ou à equipa B, pois é algo que não existe'. Podemos criticar Jesus por não dar mais oportunidades aos nossos jovens da Formação, mas não é justo que o critiquemos neste caso concreto.
Infelizmente, cada vez os jogadores dão menos entrevistas, a comunicação social tem que falar dos principais emblemas e só quem fala todas as semanas são os treinadores. Depois, cada pequeno caso é explorado e 'inflacionado'...

3. Claro que a venda de Matic não agradou a nenhum benfiquista, a começar pelo presidente. Por ela própria e pelos valores envolvidos, inferiores ao seu real valor. Simplesmente, agora é fácil criticar. Se tivesse sido vendido no verão, provavelmente teria rendido mais. Mas o objectivo passava por apostar forte na Liga dos Campeões, na esperança de passar a Fase de Grupos e receber aí boa parte do que não se ganhou na transacção de jogadores. Infelizmente, não passámos e, pelos vistos, não restou alternativa.

4. «Há pseudo-intelectuais a falar de futebol como se percebessem alguma coisa do assunto e a darem opiniões ridículas sobre arbitragem. Estão a chegar fogo ao Futebol, são incendiários que julgam estar a fazer um grande papel. Criam um clima insustentável aos próprios árbitros» (Agosto de 2011).
«Estão sempre a falar de árbitros é ridículo e estúpido, mas como há muitos estúpidos vamos continuar a falar disso» (Dezembro de 2012).
Quem disse isto? O grande amigo dos árbitros, a alguns dos quais deu em tempo boas ajudas, de nome Pinto da Costa..."

Arons de Carvalho, in O Benfica

Grandes Esperanças

"Já escrevi nesta coluna sobre os benefícios da Formação (6 de Dezembro passado) mas não corro o risco de me repetir, porque hoje vou escrever concretamente sobre Esperanças. Antigamente, havia um escalão na organização desportiva informalmente designado por Esperanças. Nas Esperanças desembocavam as Promessas, os jovens oriundos da formação que pelo seu potencial representavam o futuro imediato das instituições e das modalidades desportivas. O termo Esperanças assentava muito bem e essa realidade e ao que se esperava daqueles jovens. Chegou mesmo a haver uma Selecção de Esperanças, composta por jovens atletas de quem se esperava mais.
A minha esperança, como Benfiquista, é que o Benfica venha a concretizar com a actual geração de Esperanças, do Futebol como de todas as modalidades, o desiderato enunciado pelo presidente - sobre o Benfica «made in Benfica» -, propósito muito bem secundado e desenvolvido nas primeiras edições deste Ano Novo do nosso Jornal O Benfica - «Talento marca SLB» - e da revista Mística - «O Benfica tem futuro».
Não vou falar de nomes. O Benfica tem grandes Esperanças em todas as modalidades e nada pior que alimentar a vaidade de uns, a inveja de outros e as ilusões de muitos mais. Alguns dos jovens atletas do Clube chegaram já aos escalões mais elevados da competição e o Benfica só terá a ganhar que tais Esperanças consigam firmar-se como certezas. O que dá aos Benfiquistas esperança nas suas Esperanças é, desta vez, a palavra do presidente: projecto para o futuro, a equipa de Futebol profissional baseada na Formação. A palavra do presidente é para fora e também para dentro do Clube."

João Paulo Guerra, in O Benfica