Últimas indefectivações

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Rui Costa, "O Maestro"


"Portugal também teve o seu maestro. Alinharam-se, pois, os astros a 29 de Março de 1972 para deitar ao mundo Rui Manuel César Costa, ou, no mundo do futebol, simplesmente Rui Costa. Natural de Lisboa e benfiquista desde o berço, Rui tinha, como qualquer criança, o sonho de representar a equipa do seu coração. O talento, desde cedo, começou a ficar visível e daí a um treino de captações organizado pelo Sport Lisboa e Benfica, na antiga Luz, foi um tiro. Treino que, segundo o próprio, "era mais um foco de divertimento aos filhos dos sócios", como era o seu caso.
O pequeno Rui Costa, na altura com 9 anos, porém, não ia para operações de charme. Ou melhor, ia porque todo o seu futebol era charme aliado a um perfume muito próprio. E foi alguém muito especial que viu Rui, entre 500 crianças, a magicar com a bola. Três toques depois no esférico e a bênção de... Eusébio da Silva Ferreira, estatuto mitológico do "Rei" do futebol português. Tal bênção, claro está, só podia pressagiar o inevitável. Ou não fossem as histórias que incluam um Rei e um Príncipe plenas de finais felizes...
E a história de Rui Costa começou mesmo pelo início. Foi aí, segundo o próprio (palavra de Maestro...), o seu momento mais feliz. Estávamos em 1991, na "sua" Lisboa, no "seu" estádio, em plena final de Mundial sub-20, numa Luz a rebentar pelas costuras, onde não cabia nem mais um parafuso. O duelo com o Brasil tinha chegado ao seu epílogo... 120 minutos depois. E quis o destino que fosse Rui a revelar ao mundo qual o novo campeão planetário da categoria sub-20. Depois do matador brasileiro Élber e Marquinhos terem desperdiçado as respectivas grandes penalidades e Jorge Costa, Figo e Paulo Torres, pelas cores nacionais, terem cumprido na perfeição a sua missão, Rui Costa, com um improvável n.º 5 nas costas, partiu, guarda-redes para o lado direito e bola para o outro, entrando na gaveta do canto superior esquerdo. E Portugal era... bicampeão mundial da categoria, depois de, dois anos antes, ter protagonizado idêntica façanha em Riade.
Um feito que por pouco não fez implodir o velho Gigante de Betão! Os jovens lusitanos conseguiram passar do sonho à realidade, no que foi, para Rui Costa, a maior "alegria da carreira", num ano em que até jogava no Fafe, por empréstimo do seu clube do coração, algo que o fez catapultar na época seguinte, em definitivo, para o ninho da águia. Sobre o grandioso momento, que, segundo ele, estava condicionado pela atmosfera absolutamente demoníaca na Luz, Rui Costa garantiu que "nenhum de nós estava pronto. Posso confessar que, antes de subirmos, tínhamos meia equipa a chorar, mas compulsivamente. Não conseguiam entrar para dentro de campo e eu era um deles". Dos receios iniciais, iria surgir um quimérico troféu com sangue, suor e muitas lágrimas...
A Caixa de Pandora dos troféus foi aberta e nunca mais parou. Em 1992/93, conquistou a Taça de Portugal e, na temporada seguinte, o Campeonato Nacional. A Fiorentina, louca pelos predicados evidenciados pelo 10 benfiquista, perdeu a cabeça por ele e levou-o para Itália, numa transferência que encheu os depauperados cofres encarnados. Custou, como se de uma história de amor impossível se tratasse, mas Rui partiu para a, na altura, Liga mais conceituada do mundo.
Não havia dúvidas. Assumiu a batuta do meio campo dos Viola e não mais a deixou. Era maestro, tocador de viola e carregador de piano ao mesmo tempo e tinha, ademais, quem culminasse toda a magia produzida. Um outro ser extraterrestre denominado Gabriel Batistuta. Ou Batigol, para sermos mais claros. Juntos, eram a fotossíntese da equipa, mais tarde enriquecida por outros grandes nomes, entre os quais Edmundo "O Animal", um trio que fez sonhar os fiorentinos com a Serie A, mas que, desafortunadamente, culminou no último lugar do pódio.
Num clube pouco habituado a vencer troféus, tendo apenas dois scudetti, conquistados nos anos 50 e 60, o maestro português ajudou sobremaneira a alterar o paradigma do clube, tendo ajudado à conquista da única Supertaça Italiana do palmarés fiorentino, em 1996, e das quintas e sextas Taças de Itália, em 1995/96 e 2000/01, curiosamente esta a última temporada em Florença.
Deixou para trás um legado colossal de 7 anos de pinturas e esculturas futebolísticas na cidade da arte e, como não podia deixar de ser, eternizou-se como "Príncipe de Florença", ficando assim lendariamente alcunhado, voando, de seguida, para Milão, para ir ao encontro de uma constelação. Guardou a viola no saco e passou a tocar violino num AC Milan recheado de estrelas do mais profuso meio interestelar. Aí, na cidade da moda, desfilou o talento de sempre e preencheu a sua vitrina com mais uma Taça de Itália, ao qual juntou o maior dos maiores, a prova-rainha da UEFA, a Liga dos Campeões, em 2002/03, a Serie A Italiana, em 2003/04, ao qual se juntou a Supertaça Europeia e mais uma Supertaça do país da bota em 2004/05.
Acima de tudo, espalhou talento (in)visível a rodos no país de Da Vinci, Miguel Ângelo e Dante. Reescreveu a arte no rectângulo verde e foi adorado em Florença e Milão. Fez o pleno a este nível, alargado ao eterno respeito dos clubes rivais, que sabem reconhecer a grandeza dos... gigantes.
Pela Selecção A, foi, a par de Luís Figo, o expoente máximo da Geração de Ouro do futebol português. Na retina dos portugueses, ficará eternamente o golaço apontado à República da Irlanda, no decisivo jogo de qualificação para o Europeu de 1996. De primeira, uma primorosa chapelada a Alan Kelly, golo que desbloqueou os restantes dois numa noite memorável no seu anfiteatro preferido: o Estádio da Luz. Perdurará eternamente também a arrancada monumental do meio campo, o drible a Phil Neville e o potente disparo à entrada da grande área no empate e posterior épico triunfo nas grandes penalidades sobre a Inglaterra, em 2004. Euro 2004 que acabou por ser o momento mais triste da carreira desportiva do maestro. Quis o destino que fosse o seu palco favorito a angustiá-lo, numa final perdida para a Grécia e em que Rui Costa substituiu as tantas lágrimas de alegria vertidas naquele estádio (ainda que, este, já a "nova Luz") pelas de tristeza e raiva por não ter conseguido levar Portugal ao cume da Europa de futebol sénior.
Como qualquer história de amor, Rui regressou, como sempre prometera, ao "seu" Benfica, (pre)enchendo os corações dos encarnados, eterno ídolo da massa adepta da águia, clube ao qual prometera sempre juras de amor eterno e onde concluiu magnífica carreira desenhada a régua e esquadro. Junto dos seus, que, com Rui, choraram, em 1995, quando o maestro, acabado de se tornar jogador dos Viola, marcou, num repleto Gigante de Betão, na apresentação da equipa encarnada aos sócios e adeptos. Assistido, claro está, por Batistuta, Rui marcou e, de imediato, soltou lágrimas como se acabasse de trair o amor da sua vida, com os adeptos encarnados, que foram sempre seus, a partilharem a comoção do momento, no que foi, para o jogador, o "pior golo da sua vida".
Rui teve quatro amores, mas um talento infinito. Elegância, técnica e classe marcaram a carreira de um dos mais pródigos jogadores portugueses de sempre. É genuíno, é puro, é futebol. É Rui Costa."

Cadomblé do Vata (ismos...!!!)

"Tenho saudades de ser só Benfiquista. Só e apenas Benfiquista. Não ser "Gomes da Silva" ou "Luís Filipe Vieira" consoante a minha opinião ou a interpretação de um qualquer leitor "Gomes da Silva" ou "Luis Filipe Vieira". Se a segunda metade da década de 90 foi o Vietname do Benfica, os últimos dois ou três anos ameaçam ser a La Lys do Benfiquismo, que numa quase evolução darwinista, vai fenecendo sob o crescimento dos "ismos" agarrados a nomes de personalidades de duvidosa utilidade para a causa.
A opinião Gloriosa está a ficar de tal forma etiquetada, que não só começo a ter saudades de ser Benfiquista, como da dicotomia "vieirista" e "anti-vieirista" que no seu fundo patético, conseguia ser menos fundamentalista do que a recém criada divisão, nascida uma candidatura presidencial de um comentador tornado blogguer, que precisou de ser colocado na lateral do prato dos comilões, para descobrir todo o mal que grassa no Sport Lisboa e Benfica, porque tal seria a proximidade que tinha com o rabo do então e ainda Presidente, que nem o cheiro das negociatas conseguia sentir.
A má noticia para estes pardais de capoeira, que julgam que todas as opiniões vêm com código de barras para leitura de preço na caixa rápida do hipermercado, é que tanto o Benfica como o Benfiquismo já passaram a provação maior das humilhações semanais dentro das 4 linhas, que apenas serviu para demonstrar o acerto das palavras de Laurent Moisset dactilografas em 1991 no France Football: "O Benfica é eterno. Eles não conhecem fenómenos de erosão que possam fazer perigar as suas fundações mais seguras. Eles sabem sempre renovar a sua imagem. O Benfica é uma lenda". Muito depois dos "Gomes da Silva" e dos "Luis Filipes Vieiras" das redes sociais morrerem, o Sport Lisboa e Benfica e os Benfiquistas ainda por cá andarão, porque o Benfiquismo passa-se de pai para filhos e os gomismos-vieirismos morrem na cabeça de uma descendência mais capaz intelectualmente."

'Intermezzo' outonal

"Se tento ver as vantagens de mais uma paragem prolongada da Liga, penso logo no novo relvado da Luz (e na recuperação de Rafa)

1. Os sucessivos buracos entre jornadas do campeonato servem, entre outras coisas, para antecipar defesos e mercados. Vai daí, a semana passada, urbi et orbi, foi um primeiro desfilar de potenciais entradas e saídas. Jogadores, de quem ninguém havia alguma vez falado, são mirabolantemente promovidos a craques, a diamantes por lapidar (só não se diz de quantos quilates) ou a talentos em vulcânico desabrochamento. Eis, Janeiro em Novembro, para aquecer o entusiasmo entre jogos da Selecção Nacional, que, por sua vez, foram falados como se a pobre Lituânia e o esforçado Luxemburgo pudessem criar uma surpresa da estirpe Alverca. Como tão expressivamente se escreveu em A Bola, só o jovem Bernardo Silva vale... dez Lituânias, mesmo que estas se encham de doces litanias pré-natalícias. Verdadeiramente, de todo o manancial que li e ouvi neste intermezzo outonal, só fiquei entusiasmado com o regresso de Jonas ao Seixal. Pelo menos, ainda que por fora, matei saudades do craque que tanto dignificou a camisola do Benfica.
Noutro âmbito, espero que tenha sido uma boa notícia a instalação do novo relvado da Luz. De facto, se tento ver as vantagens de mais uma paragem prolongada do campeonato, penso logo nisto (e na recuperação de Rafa). Espero que a relva holandesa se enraíze rápida e seguramente para uma boa estreia contra o Marítimo no dia 30. Neste encontro haverá, de facto, duas alterações: a do tapete verde depois da chicotada erval e a do novo treinador maritimista depois da chicotada psicológica. Confio que a primeira ganhe à segunda. E por aqui me fico quanto ao estado dos relvados na nossa principal competição, onde a regra tem sido a sua deplorável apresentação e a excepção é o limitado número de campos com relva apresentável. E não nos queixemos de intempéries e chuvas copiosas que não tem havido para justificar o injustificável num país campeão europeu.

2. Bernardo Silva - para mim, o actual melhor jogador português - é, também e acima de tudo, um jovem leal, humilde, sensato, elegante e correctíssimo. Mesmo assim, uma «comissão independente»(?) do futebol britânico decidiu suspendê-lo por um jogo, além de o ter multado em cerca de 60 mil euros e - imagine-se - de lhe impor uma «acção educacional individual» por causa de «conduta imprópria» de um tweet brincalhão e amistoso para um colega, que, desgraçadamente, continha uma«referência a raça»! O castigo, segundo li, terá sido bastante atenuado, pois que tendo embora a tal agravante de referência a raça, o tweet «não tinha intenção de ser racista ou ofensivo em nenhuma forma» (sic). Ou seja, Bernardo não foi racista, mas, desgraçadamente, referiu uma raça.
Onde isto chegou! O politicamente correcto está a criar dissimuladas formas de censura social, cada vez mais obsessivas e até ridículas, que têm o efeito boomerang de corroer o seu propósito legítimo. A aparente tolerância implícita na correcção política não é compatível com a intolerância policiesca dos seus talibans. A correcção política passou a ser uma perversa forma de controle da mente. Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz com a obrigação de se usar uma forma politicamente correcta. Como se pode constatar, uma das principais vítimas de correcção política levada aos extremos é o humor escrito e falado, pois que humor que pode licença não é já humor. Ridiculamente lamentável o caso Bernardo, ao mesmo tempo que se branqueiam (peço desculpa de ter conjugado o verbo branquear) atitudes escandalosa e condenáveis no mundo do futebol.

3. Mais uma inovação no futebol global: a supertaça espanhola vai ser concretizada (já não no modelo clássico de um jogo entre o campeão e o vencedor da Taça, mas com 4 finalistas), não em Espanha, muito menos na Catalunha, nunca em Ceuta ou Mellila e jamais no rochedo de Gibraltar. Onde, então? Na Arábia Saudita. Uma deslocalização que o dinheiro abundante naquelas terras sempre pode comprar. Neste caso, 50 milhões a distribuir generosamente pelos quatro clubes e pela Real Federação Espanhola. Uma festarola monetária que terá lugar em Gidá, no estádio Rei Abdullah, na primeira quinzena de Janeiro. Em nome do dinheiro, assim se desvirtua uma taça, curiosamente, chamada Copa do Rei, trocando-se de país, senão mesmo de monarca. Assim se mandam às malvas os adeptos fiéis dos clubes em confronto, para os trocar por uns autóctones sauditas que devem gostar tanto de futebol como eu gosto de enguias. Haverá muito uma minoria de adeptos espanhóis que se podem dar ao luxo - em nome do sacrossanto dinheiro - de meter férias e ir ás arábias divertir-se.
De entre os quatro clubes espanhóis, quem se deve sentir mais à vontade neste cenário é o Real Madrid. Aqui recordo, o que, em 2012, li de uma notícia que rezava assim: «O presidente do Real Madrid colocou a primeira pedra relativa ao projecto de construção de um complexo turístico-desportivo - Real Madrid Resort Island - orçado em 1.000 milhões de euros numa das ilhas dos Emirados Árabes Unidos. O clube espanhol prescindiu da cruz que há na coroa do escudo do seu emblema para evitar qualquer tipo de confusão ou más interpretações numa zona onde a grande maioria de população professa a religião muçulmana». Esta minúscula cruz faz parte do emblema desde que, em 1920, o Rei Afonso XIII outorgou essa concessão real. Mais tarde, em 2017, li que «O Real Madrid retirou um dos elementos do seu símbolo em todo o merchandising vendido em alguns países árabes. A alteração diz respeito à eliminação da Cruz de Cristo, presente no topo da coroa do emblema madrileno».
Assim, num tempo de marcas, o dinheiro tudo comanda, sem pátria e sem cor. Na era da ungida globalização, a história e os símbolos ou são passado e pouco mais ou são mutáveis em função do contexto cultural (leia-se, do proveito económico).
Ainda hoje me ponho a pensar como é que um treinador de nome Jesus trabalhou na terra de Maomé, sem ter sido obrigado a mudá-lo. Estou curioso em saber se os jogadores do Barcelona, Real Madrid, Atlético de Madrid e Valência serão, antes dos jogos da tal supertaça, revistados nas suas tatuagens ou símbolos religiosos à volta do pescoço.

4. Por cá, há quem anuncie a supertaça televisiva da parvoíce. Em tão inchado, quanto grotesco oráculo se avisou na semana passada que Pizzi cometera um pecado mortal: o de, após marcar o golo da vitória em São Miguel, ter corrido desalmadamente e em vertiginosa alegria para dar um forte amplexo do tamanho do estádio ao director de futebol do SLB, Tiago Pinto, e nunca ter abraçado ou sido abraçado por Bruno Lage. As imagens foram repetidas inúmeras vezes. Pizzi e colegas, Pizzi e elementos do banco, Pizzi e Pietra, Pizzi e todos. Todos não, concluía-se sofregamente. Cadê o abraço dos abraços, isto é entre o marcador e o treinador? Não houve, disseram-nos, peremptoriamente. Logo, está-se mesmo a ver, estão de costas voltadas, não falam, não são solidários, o balneário está em crise e coisas que tal, Pizzi não tolerou ficar no banco num ou noutro encontro e Lage é um ingrato perante o melhor marcador e o jogador que mais resolve. Parece que as imagens deram lugar a uma arrebatadora análise e discussão entre os painelistas. Confesso que não tive paciência para tal jogo floral. Fiquei-me pela especulação/notícia da rebelião e do fogo pressuposto no falso fumo. Mas, por curiosidade, fui rever a transmissão dos momentos a seguir ao golo. E, de facto, não vi nenhum abraço entre os dois. Depois, passei pelo mesmo momento na SportTV+, que não transmite os jogos, mas está muitas vezes com câmaras focadas nos bancos. E foi lá que vi o bom alvoroço do banco encarnado a seguir ao golo. Por acaso, a câmara estava no exacto momento do golo a focar o treinador. Toda a gente se levantou, saltou e correu, excepto Bruno Lage que, como sempre, não exterioriza a alegria, nem entra em corridas loucas e hisrionismos que são futebolisticamente mais comuns e correctos. A câmara continuou a filmar e vi, então, o abraço entre Lage e Pizzi. O tal que havia sido negado. Assim se propaga, não inocentemente, uma fake news. Afinal não havia indícios de Revolta na Bounty para meu sossego. Vale tudo para tentar desestabilizar o Benfica.

Contraluz
- Evocação: Morreu Raymond Poulidor, notável ciclista francês dos anos de ouro. Conhecido caridosamente por Poupou foi um exemplo virtuoso de pessoa e de profissional. O eterno segundo nunca ganhou o Tour, chegou a perdê-lo nas etapas finais de um modo desportivamente dramático, mas nunca deixou de ser um grande e leal desportista. Teve o azar de ser ciclista ao mesmo tempo de monstros como Jaques Anquetil e Eddy Merckx.
- Distância: Entre o hiper ego de um atleta e o conjunto de que faz parte. Entre a birra acriançada e a classe aprimorada. Assim foi Cristiano Ronaldo, no intervalo de alguns dias."

Bagão Félix, in A Bola

Notícias falsas

"É com preocupação que constatamos a cada vez maior cadência de notícias falsas em diversos órgãos de comunicação social.
Num Clube com a dimensão do Benfica, já nos habituámos à especulação quase permanente, compreendendo, por vezes, que a necessidade de assunto aguça o engenho da imaginação, mas temos verificado uma tendência crescente de peças jornalísticas sem qualquer fundamento e com claros prejuízos para leitores e telespectadores.
Para agudizar este problema, notamos a menor preocupação em se confirmarem o teor das “notícias” junto dos visados, reforçando a ideia de que a avidez de publicar ou transmitir qualquer coisa, seja ela qual for, relega o compromisso de rigor para segundo plano.
Não pode valer tudo.
Só nestes últimos dias são diversos os exemplos que aproveitamos para esclarecer, começando pelos mais graves:
O Jornal A Bola desta manhã faz manchete invocando que o guarda-redes "Perín volta a estar na agenda do Benfica". Notícia totalmente falsa e infundada, num processo há muito encerrado, não estando o Clube interessado na sua contratação. Uma notícia inventada.
Ontem à noite a CMTV especulava sobre um eventual interesse do Benfica no seu ex-treinador Jorge Jesus e que esse era o motivo para o impasse na renovação do treinador Bruno Lage. Essa notícia é totalmente falsa e absurda. Bruno Lage tem três anos de contrato, sendo público o reconhecimento que a Direcção do Benfica e os benfiquistas prestam ao nosso treinador pelo bom trabalho desenvolvido desde que regressou ao Clube e, em particular, desde que assumiu o comando técnico da equipa principal. E o processo de renovação será feito no momento que se considere adequado pelas partes, tal como já foi publicamente esclarecido. 
Tudo o resto é pura invenção e ficção.
Aproveitamos também para esclarecer que não existe qualquer interesse, nem foram feitos nenhuns contactos exploratórios, em relação ao jogador Guga, lateral-direito do Atlético Mineiro, ao contrário do que afirma a manchete do Jornal Record desta manhã, como também é falso qualquer existência de interesse na contratação do Jogador Sidcley do Dínamo de Kiev como veio citado em diversos órgãos de comunicação social.
Não pode valer tudo, por muita que seja a ânsia por reclamar autoria de uma notícia caso a especulação encontre, eventualmente e por mero acaso, paralelo com a realidade e sob pena do descrédito total e irreversível de uma função, que é informar, vital para a nossa sociedade.
Que fique o esclarecimento inequívoco sobre a inexistência de interesse nos jogadores e ex-treinador citados."

A águia e a água varreram os homens do mar

"31 de Janeiro de 1937. Pela primeira vez o Benfica marca dez golos num jogo da recém-criada Liga. Frente ao Leixões, nas Amoreiras, num domingo de tanta chuva, que vários jogos foram adiados. Pela Europa toda se ouve o troar da guerra.

Lisboa andava num sino. O mundo lá fora, nem por isso. A Guerra Civil de Espanha acumulava mortos no campo de batalha e era de uma ferocidade nunca vista entre irmãos.
Corriam rios de sangue nas trincheiras. Hitler ia armando a Alemanha e fazendo gato-sapato da diplomacia internacional.
Tudo longe, no entanto.
E Lisboa queria divertir-se. Até porque a guerra do país vizinho, queixavam-se os grandes produtores do espectáculo nacional, impedia a viagem até nós de artistas de renome.
Isso não impedia que o São Luiz estivesse à beira de receber um histriónico número francês, Jean, Jack e Zo, com assombrosos bailarinos acrobáticos e que fizera furor em Paris.
Vinham a peso de oiro, noticiava a imprensa.
Seria algo nunca visto em terras lusitanas.
Entretanto, o futebol vivia dias prolíficos: pelos menos em golos.
No campo das Amoreiras, chovera que Deus e dera.
O Benfica, líder do campeonato, recebera o Leixões.
Vitória esmagadora: 10-2.
Dia 31 de Janeiro de 1937. Era a primeira enorme goleada dos encarnados para a Liga.
Choveu a potes sobre os rapazes do mar de Matosinhos. E choveram golos, sobretudo.
O terreno estava pesado, mas sem lama. E, cheios de ambição, os nortenhos entraram na liça com um à-vontade impressionante. Até parecia que jogavam em casa. Os primeiros minutos do encontro foram totalmente dominados por eles.
Jogo por alto: eis a solução encontrada. Até umas biqueiradas, se preciso fosse. Nada de deixar que o chão os prejudicasse nos intentos.
Os benfiquistas sentiram-se surpreendidos. Não contavam com a estratégia. Demoraram a instalar-se. A perceberem a forma de contrariar opositores.
Domingos Lopes foge pela esquerda, centra, Lino mete a mão à bola dentro da grande área: Penálti! Um erro leixonense. Golo de Rogério de Sousa.
No minuto seguinte, a história repete-se. Espírito Santo isola-se, chuta, sobre o risco de baliza Germano substitui o seu guarda-redes. Novamente penálti. Novamente Rogério de Sousa.
Estava decorrido um quarto de hora.
O golpe foi profundo na protérvia leixonense.

A revolta e a queda
Mitra revolta-se. Atira-se sobre a defesa do Benfica, descobre Mário sozinho, Cândido Tavares está batido: 2-1.
É um tónico. E que tónico!
Depois novo penálti. Desta vez contra o Benfica. Henrique faz o 2-2. O público, numeroso, assistia a um jogo frenético.
Rogério de Sousa (outra vez) e Valadas, a passe de Espírito Santo, fazem o 4-2 antes do intervalo. Os leixonenses reclamam e muito. Queixam-se de offside. De dois off-sides nos dois lances. O cronista consultado dá-lhe razão. Enfim. Nada a fazer.
O segundo tempo trouxe o descalabro do team de Matosinhos.
Sete-golos-sete: como se diria nas touradas.
A maior categoria dos encarnados impôs-se de forma brutal. A diferença poderia ter sido muito, mas muito maior. O Leixões desfez-se como se a chuva derretesse um conjunto feito de torrões de açúcar.
5-2 aos 46 minutos por Valadas. Era, sem dúvida, um jogador que exibia uma forma impressionante.
Aos 17 minutos da segunda parte, 6-2. Canto de Valadas e cabeçada certeira de Rogério.
Nove minutos mais tarde é a vez de Xavier: 7-2.
Depois, Espírito Santo: 8-2.
Rogério e Albino fecharam as contas dolorosas.
O povo está feliz. Muitos talvez antevendo uma noite no São Luiz depois da goleada das Amoreiras.
Chove sobre Lisboa, Janeiro no fim.
Os tempos na Europa são escuros de guerra. O céu parece chorar por isso."

Afonso de Melo, in O Benfica

O engenheiro e o comendador: dois irmãos, dois candidatos

"As eleições que dividiram os sócios do Benfica entre 'mauricistas' e 'adolfistas'.

Em Março de 1964, o Benfica votou para uma nova direcção. Semanas antes, a extinção da Assembleia dos Representantes dividiu os sócios, em puro 'ambiente de fervor clubista'. Dividiram-se, também, os irmãos: Maurício e Adolfo Vieira de Brito.
Presidente do Benfica entre 1957 e 1962, Maurício Vieira de Brito é lembrado como um dos dirigentes mais queridos dos benfiquistas. A sua longa presidência ficou ligada a momentos-chave como a iluminação do Estádio (1958), a inauguração do 3.º anel (1960) e a conquista da Taça dos Clubes Campeões Europeus (1961). Devido à guerra do Ultramar e para defender as suas terras em Angola, Maurício Vieira de Brito viu-se obrigado a abandonar o cargo, em 1962. Os jornais exclamavam 'Até à volta, Engenheiro!', aquando da sua saída.
'Motivado pela presidência do irmão', Adolfo Vieira de Brito, industrial e instituidor de uma fundação com seu nome, pela qual foi agraciado com o título de comendador, candidatou-se em 1964. O seu irmão, que deixara saudades no Benfica, foi convencido pelos sócios e voltou a concorrer também. O antecessor de Maurício Vieira de Brito - Joaquim Bogalho -, propôs uma lista em que o engenheiro estaria encarregado do Conselho Fiscal, e o irmão da Assembleia Geral.
Não foi assim tão simples. Os 'favoritos' que rodeavam Adolfo Vieira de Brito apoiavam ideias com que o engenheiro não concordava, levando a que a lista dos irmãos não se concretizasse, originando uma separação: o comendador encabeçava a lista A, e o seu irmão estava noutra, para presidente do Conselho Fiscal.
Os dois irmãos eram muitos diferentes, não só fisicamente. O comendador era mais comedido, e o engenheiro era rotulado como 'impulsivo'. O seu sistema nervoso traía-o por vezes, como quando o Benfica foi campeão europeu, em 1961, e o presidente sofreu um ligeiro ataque cardíaco, o mesmo problema que lhe poria fim à vida com apenas 56 anos, catorze anos depois.
Maurício Vieira de Brito reconhecia as qualidades do irmão. Em comunicado aos sócios dizia: 'não risquem o nome de meu irmão para o substituírem pelo de quem quer que seja. Votem livremente, mas numa ou noutra lista (...). O que mais me interessa é que tenha triunfado o Benfica'.
No fim, foi a lista comendador que venceu. Maurício Vieira de Brito não reagiu mal, pelo contrário, congratulou-o. Não voltou a exercer nenhuma função dirigente no Clube, mas manteve-se presente na vida do Benfica nos mandatos do irmão, tal como este tinha feito durante a sua presidência.
Pode saber mais sobre estas figuras na área 28 - Homens do Leme, no Museu Benfica - Cosme Damião."

Pedro S. Amorim, in O Benfica

Inside Futsal...

Notícia falsa de A Bola

"A Sport Lisboa e Benfica – Futebol SAD esclarece e informa que a manchete do jornal A Bola sob o título “Perin volta à agenda” é totalmente falsa.
Esse processo está completamente encerrado e o Sport Lisboa e Benfica não está interessado na contratação do referido jogador.
Desconhecemos a que interesses e a quem interessa esta falsa notícia, não deixando de lamentar que um jornal desportivo de referência preste tão mau serviço aos seus leitores ao dar destaque a uma notícia cujos factos relacionados com o nosso clube são uma pura invenção, sem nunca ter procurado confirmar essas pretensas informações junto do Sport Lisboa e Benfica."

Chama Imensa... Marinho, Bernardo, Diogo & Rola

Benfiquismo (MCCCLVIII)

Outro...