Últimas indefectivações

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Primeiras palavras...

O meu treinador preferido

"É um treinador antípoda do espampanante. É sereno quando tudo sugere histrionismo e vociferação. Racional quando é o glorioso tempo do emocional. Sagazmente prudente quando todos clamam por decisões frenéticas. Não grita, nem gesticula até porque sabe que os jogadores não o ouvem nem vêem para além do que lhes diz no tempo certo e no lugar adequado. Os mind-games são-lhe estranhos: ele é ele, os outros são os outros. Respeitando-se, mas não estando obcecado com tontos e incongruentes mimetismos. Não dá entrevistas balofas, não põe pose de estadista para fazer queixinhas ou expelir fel, nem é conhecido pelo seu mundo pessoal. Não se excita com árbitros de quem, aliás, não se queixa para justificar reveses. Resiste pacientemente aos intelectuais da bola que ainda agora o haviam criticado por jogar sem avançado-centro. Encara o ganhar ou perder com a naturalidade do desfecho e o discernimento do dever cumprido Com um ar aldeão e patusco, não faz parte das revistas rosa ou de outras colorações que medram pelo mundo da fantasia e das ilusões. É um homem natural, afável, rigoroso.
Chama-se Vicente del Bosque. Um treinador anti-moda. Mas Campeão. Porque ganha. Porque é simplesmente um homem simples.
Campeão do Mundo e da Europa, ganhou no R. Madrid (1999-2003) dois títulos nacionais e as duas últimas Ligas dos Campeões do clube, após o que foi despachado e substituído por... Carlos Queiroz. Na altura, o então (e agora) presidente madrileno Florentino Pérez justificou: «Del Bosque está exausto. Muito sinceramente, ele não é o treinador certo para o futuro»...
Ironias do grande sentenciador: o tempo!"

Bagão Félix, in A Bola

No ciclismo não há penaltis

"Enquanto decorria o Europeu de futebol, entre a vitória de Portugal sobre a Holanda e a vitória de Portugal sobre a República Checa, aconteceu que um outro compatriota nosso, um rapaz franzino chamado Rui Costa, ciclista profissional, ganhou a Volta à Suíça que não é brincadeira nenhuma. O feito consagra-o como o primeiro português a vencer uma prova do World Tour, coisa que nem o fabuloso Joaquim Agostinho atingiu.
Em Portugal ninguém ligou peva à proeza de Rui Costa porque as atenções estavam a mil por cento concentradas na campanha da selecção nacional de futebol. E como é do conhecimento geral, bicicletas são apenas bicicletas e o desporto-rei é o desporto-rei. A aventura portuguesa no Europeu acabou na quarta-feira de maneira dramática e, como não podia deixar de ser, com direito a requerimento em papel azul de 25 linhas, aquele mesmo dos antigos procedimentos burocráticos, em favor da nossa velha conhecida Vitória Moral, que é o consolo possível e recorrente quando estas nossas andanças desportivas ao mais alto nível não terminam como era desejado.
Agora que o futebol acabou em desilusão, espelhando as frustrações da pátria que são muitas e de natureza variada, temos, finalmente, tempo para nos dedicarmos às bicicletas. O país precisa de heróis por causa da auto-estima, dizem os sociólogos, quer os amadores quer os profissionais, e está a chegar a Volta à França que conta no seu pelotão com o tal portuguesinho franzino chamado Rui Costa. No ciclismo, felizmente, não há penaltis. Mas Rui Costa bem pode começar a pedalar tendo por certo que os olhos da nação estão postos nele. Atreva-se ele a ganhar uma etapa do Tour, como fez no ano passado, e logo teremos o país em peso a pedir-lhe, encarecidamente, que vá mais longe, que chegue em primeiro, que não caia da máquina, que desfaça a concorrência nas subidas dos Alpes e que nos devolva o orgulho perdido no momento em que Bruno Alves acertou com a bola em cheio na trave da baliza guardada por Casillas.
Rui Costa, à partida para França, estabeleceu com modéstia os seus objectivos: "Gostava de chegar bem a Paris." Não aborreçam, portanto, o rapaz com exigências mirabolantes. Estivessem todos mais atentos à Volta à Suíça.

ERRAR É HUMANO
VENHA DAÍ ESSE ÁRBITRO TURCO
Com a derrota de Portugal frente à Espanha, Pedro Proença viu abrir-se-lhe a porta da final do Europeu. Haja alguém satisfeito. Independentemente da escolha que a UEFA venha a fazer, Proença é cada vez mais um nome sólido no panorama da arbitragem europeia. E, quando o Europeu acabar, é certo e justo que o árbitro português se meta num avião com destino a casa ciente de que, no seu ofício, é um dos melhores da Europa e arredores.
Vamos, portanto, ter um Pedro Proença super-motivado e altamente confiante na próxima temporada futebolística nacional e é precisamente isto que os benfiquistas, escaldados, mais receiam e sem fundamento. Não há razões para tal. Em primeiro lugar porque, certamente, o Benfica, ao mais alto nível da sua comunicação, saberá gerir este momento alto da vida de um sócio do clube, como se diz que é Proença. Ficaria bem ao Benfica endereçar publicamente os parabéns a um dos seus, ainda que seja árbitro, pelo excelente Europeu que protagonizou já que o outro dos seus, Nelson Oliveira, não brilhou por aí além.
E depois é só esperar que Vítor Pereira, agastado com o escandaloso namoro, agilize a lei que aprovou e comece a importar árbitros estrangeiros para os jogos do Benfica. Por mim, francamente, até pode vir o turco.

POSITIVO
Iniesta de génio
É, provavelmente, um dos melhores jogadores do mundo mas a sua genialidade vive na sombra do duelo, bem mais mediático, entre Messi e Ronaldo pelo dito ceptro. A exibição contra Portugal foi notável.

Patrício impecável
Com duas intervenções excepcionais no prolongamento, o guarda-redes do Sporting guardou o resultado até às grandes penalidades. Depois, defendeu o tiro de Xabi Alonso. Da parte dele, missão cumprida.

NEGATIVO
A falta de Postiga
Que falta fez Helder Postiga, o nosso artista dos penaltis, na hora da verdade com a Espanha. Tal como Pilro matou a Inglaterra com uma "panenkada", Postiga poderia ter feito o mesmo aos espanhóis e a história seria outra.

PÉROLA
"SAIR NÃO É UMA OBSESSÃO", Hulk
É, sem qualquer espécie de dúvidas, a novela de maior interesse deste defeso e está a ser gerida, até ao momento, com grande diplomacia quer pelo jogador quer pelo FC Porto. Trata-se de um eventual negócio de dezenas de milhões de euros e trata-se também de imaginar um FC Porto sem Hulk."

Leonor Pinhão, in A Correio da Manha