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terça-feira, 10 de março de 2015

Da velha Pousada de Saramagos com notícias de Jorge Jesus

"Grupo Desportivo Riopele - dos clubes mais curiosos que passaram pela I Divisão, fundado pelos trabalhadores da fábrica de têxteis. Equipava de verde e só se manteve uma época entre os grandes - 1977/78. Um dos seus jogadores era o actual treinador do Benfica.

Pousada de Saramagos: freguesia do concelho de Vila Nova de Famalicão. Hoje falo do Riopele - Grupo Desportivo Riopele. Apenas uma época na I Divisão, a de 1977/78.
Era um clube empresa. Um clube empresa de outros tempos, como o foram a CUF ou o Alba, por exemplo. Foi fundado no dia 14 de Setembro de 1954 pelos trabalhadores da têxtil Riopele e assentou arraias na Pousada de Saramagos, num campo pelado que tinha uma parede atrás de uma das balizas.
Calhou ao Benfica, que fora Campeão na época anterior, defrontar o recém-promovido nas últimas jornadas, ou seja, na última jornada da primeira volta e na última jornada do Campeonato.
Já lá vamos: aos jogos, quero dizer.
Garantida a subida à divisão principal, trataram os dirigentes do Riopele de reforçar a equipa o melhor que podiam. Chegaram Matos e Padrão, guarda-redes, e outros como Garcez, Sacramento e Jesus - exactamente, Jesus, Jorge Jesus.
Não serviu de muito. O Riopele bateu-se como pôde mas acabou por voltar à II Divisão, ficando no décimo quinto lugar da classificação, só à frente do Feirense. Uma queda fatal. Alguns anos depois ver-se-ia relegado para a III Divisão e, finalmente, em Assembleia Geral, os associados decidiram extinguir o clube. Estávamos em 1985 e não tinham passado dez anos ainda sobre a maravilhosa aventura de 1977.
O Riopele equipava geralmente de verde. Recordo-me de ir ao Parque de Jogos José Dias de Oliveira. O ambiente era entusiástico. E valeu à equipa da casa vitórias interessantes - 1-0 ao Belenenses; 2-0 à Académica; 2-1 ao Vitória de Setúbal.
O povo da Pousada de Saramagos alegrava-se com as exibições de Pio, Fonseca, António Luís, Piruta e Ary.
E o futebol desse tempo era mais puro, mais limpo, mais lavado. Embora não por muito mais tempo.
Os dois jogos contra o Benfica
Os frente-a-frente entre o Riopele e os três grandes não foram felizes para os minhotos. Contra o FC Porto, duas derrotas: 0-2 em casa; 0-6 nas Antas, Contra o Sporting, outras duas: 2-4 em casa; 1-2 em Alvalade.
Acrescente-se que no Parque de Jogos José Dias de Oliveira, além de Sporting e FC Porto, só Vitória de Guimarães ganhou. Nada mal.
Calhou, por via dos inevitáveis sorteios, que o Riopele visitasse o Estádio da Luz na última jornada na primeira volta. Dia 28 de Janeiro de 1978. Estava o Benfica de malas feitas para a Arábia Saudita em mais uma daquelas digressões por todos os cantos do Mundo que fizeram dele um clube único.
John Mortimore fez jogar: Bento; Bastos Lopes, Humberto Coelho (Mário Wilson), Eurico e Alberto; Toni, Shéu; Nené, Vítor Baptista, Chalana e Cavungi (Pereirinha).
O inglês depositava grandes esperanças em Pereirinha (cujo nome prenunciava de forma bem particular) e no filho do «Velho Capitão». Infelizmente, um e outro saíram da estrada do grande futebol. Tal como Cavungi, aliás.
Eram tempos de mudança. O Benfica chegaria ao fim desse Campeonato sem derrotas, mas perderia o título para o FC Porto - empate em pontos e nos resultados entre ambos (dois empates, 0-0 e 1-1), melhor «goal-average» para os portistas.
Por seu lado, Ferreirinha fez a sua equipa jogar assim na Luz: Matos; Joca, Ederson, Vitorino e Teixeira; Piruta, Luís Pereira (Jó), Pio e Jorge Jesus; Garcez (António Luís) e Fonseca II.
Tempos esses em que ainda havia os II para distinguir jogadores do mesmo nome.
O Benfica ganhou fácil, em ritmo baixo. Nené, aos 12 minutos, fez o 1-0. Depois o Riopele jogou ao seu estilo, muito certinho, de passe e repasse, embora pouco agressivo no momento do remate, com Jesus e Piruta a darem nas vistas. Ainda assim, Fonseca (o II) atirou uma violenta bola ao poste direito de um atónito Bento. Chegara o momento de o Benfica resolver de vez a questão - um toque precioso de Shéu para a entrada da área e pontapé certeiro de Toni: 2-0. Vítor Baptista fechou a contabilidade: 3-0.
O Campeonato deu uma volta completa e o Benfica iria, pela única vez na história da prova, ao Parque de Jogos José Dias de Oliveira, na Pousada de Saramagos. Não foi. Por via de uma interdição federativa, o Riopele recebeu o Benfica em Braga, no Estádio 1.º de Maio.
Ainda havia uma ténue esperança 'encarnada' de chegar ao título. O FC Porto recebia o Braga nas Antas e o 0-0 mantinha-se. Nené aos 9 minutos já colocara o Benfica na frente. Rui Lopes fazia o 2-0 (23 minutos) com uma tremenda cabeçada, e os encarnados pairavam por momentos no topo da classificação isolados.
Eis que se esfuma o sonho. Oliveira e Octávio marcam no Porto (o jogo terminara 4-0), resta aos encarnados despedirem-se do campeonato de forma segura. Ao passar da meia-hora, António Luís reduz para 1-2. Na segunda parte, José Luís (76 minutos) e Rui Lopes (79 minutos) encerram o resultado: 4-1.
O Riopele está condenado à descida. Precisaria dos dois pontos para ultrapassar o Espinho, mas havia espinhos a mais na tarefa de defrontar um Benfica ainda crente.
Nessa tarde do dia 31 de Junho, com um calor abrasador em Braga e já com o Campeonato do Mundo de 1978 a decorrer na Argentina, as equipas subiram ao relvado com estas composições:
RIOPELE: Padrão; Joca, Vitorino, Ederson, Teixeira; Piruta, Pio, Luís Pereira (Abreu); Luís António, Jorge Jesus, Fonseca II.
BENFICA: Bento (Fidalgo); Bastos Lopes, Humberto Coelho, Eurico, Alberto; Shéu, Pietra, Toni; Chalana, Nené (José Luís), Rui Lopes.
O Grupo Desportivo Riopele despedia-se da I Divisão para sempre e nada como o Benfica para selar a despedida, esse Campeão que se despedia do seu título."

Afonso de Melo, in O Benfica

Vencer com raça

"Durante 45 minutos, em Arouca, num mini-Estádio da Luz, esteve presente um mini-Benfica. Uma equipa amorfa, sem intensidade e que pareceu ter ficado tolhida por um duplo erro defensivo de Eliseu (mais um) na mesma jogada.
Depois, ao intervalo, e com o espectro da Mata Real a pairar, tudo mudou. E, desta feita, mesmo com a entrada de Talisca, a diferença não foi de natureza táctica. O que fez a diferença foi a atitude. Repare-se, os dois golos decisivos, que viraram o jogo, resultaram de jogadas de insistência, onde, primeiro Lima e, depois, Gaitán não desistiram, forçaram o erro adversário, e revelaram o suplemento competitivo que constrói equipas campeãs.
A vitória em Arouca está aí para demonstrar que não basta o talento individual, nem sequer a organização colectiva ou uma eficácia superior nas bolas paradas (onde o Benfica, ao contrário do habitual, esteve bastante mal) para se vencer campeonatos. É também necessária uma disponibilidade competitiva capaz de ocultar insuficiências estruturais (um sector que funciona menos bem) ou azares circunstâncias (um falhanço individual).
A este propósito, é sintomático que nos últimos três jogos fora (Alvalade, Moreira de Cónegos e Arouca), o Benfica tenha sido capaz de reagir a resultados negativos, invertendo a tendência do marcador. A dez jornadas do fim, a capacidade de uma equipa vencer na raça é tão importante como os atributos colectivos e/ou individuais. Além de três pontos, o Benfica trouxe de Arouca uma atitude competitiva que importa continuar a alimentar.

P.S. - O discurso do colinho, como seria de esperar, já está a dar os seus frutos. Agora, com tantas queixinhas, antes de apitarem a favor do Benfica, os árbitros pensam duas vezes. Em Arouca ficaram por assinalar duas grandes penalidades."

O campeão e o treinador

"A capacidade de resiliência de Nelson Évora teve a justa recompensa com a medalha de ouro no triplo salto no Europeu em Praga, podendo este título ser encarado como o início da segunda fase da carreira do campeão olímpico em Pequim'08. Quase a completar 31 anos, o benfiquista não fez declarações bombásticas nem tão-pouco mostrou algum sinal de desconforto perante situações que não foram do seu inteiro agrado.
Nelson Évora é dos poucos atletas que aprecia a liberdade de expressão, liberdade essa traduzida em momentos importantes da carreira. Sabe aceitar as regras do jogo: a alta competição não se compadece quando o sonho se desvia da realidade e o que interessa não apenas os resultados, as medalhas e os recordes. Poderá dizer-se que a versão 2015 de Nelson Évora é bastante mais aperfeiçoada daquela que permitiu coleccionar títulos nas grandes competições.
É, sem qualquer dúvida, o reflexo da ponderação, das dificuldades, do querer e até de muitas hesitações numa vivência para o qual não existem muitas mais oportunidades, para mais numa disciplina bastante difícil no atletismo como é o triplo salto. No caso de Nelson Évora há um fio condutor: o treinador João Ganço, de uma dedicação sem limites, que conhece bem o atleta desde as brincadeiras de jovem ao pé de casa. A simbiose é perfeita e a comunicação é excelente. Seja no treino ou fora da pista. O importante é a confiança e o respeito que têm um pelo outro.
Sendo o atletismo uma modalidade individual, preenchida por muitos egos, é difícil por vezes chamar a atenção para pequenos detalhes a quem já conquistou grandes títulos. A recuperação de Nelson Évora, sem obedecer a prazos determinados ou a pressões de clube ou da federação, é o melhor exemplo de como é possível reabilitar um grande campeão.
Esta foi a grande vitória do atleta Nelson Évora e do treinador João Ganço. O benfiquista mostrou que é o único triplista que fez dezenas de quilómetros com canadianas. Duas operações, muito tempo de espera, muitas incertezas, mas com a mente sã e corpo são, Nelson confirmou por que os campeões são, na verdade, diferentes."

Amaral... um dos nossos !!!

Num tempo, onde as vitórias escasseavam, tivemos alguns grandes jogadores, que passaram um pouco despercebidos no meio de tanta 'confusão', mas o Amaral foi provavelmente aquele que conseguiu a melhor ligação com o 3.º anel... É um dos nossos, e tem histórias incríveis para contar:


360º

Sistema de Educação Sul-Coreano !!!