"Míron (480-440 a.C.) nasceu em Elêutras, nos confins da Beócia e da Ática, perto de Atenas, no segundo quartel do Século V a.C. Foi um escultor grego do século de Péricles, aluno do escultor Hageladas de Argos (Século VI a.C. - Século V a.C.), com Fídias (480-430 a.C. e Policleto (460-410 a.C.). A sua personalidade é tão notável que, em certos pormenores, parece muito mais moderna do que é na realidade.
Começou por ser um escultor de bronze e tornou-se o artista introdutor do movimento na escultura grega do princípio do período clássico, e bem assim um escultor de momento. Os escultores posteriores não conseguiram superar a sua habilidade, na expressão do movimento através da atitude. Não se conhece nenhum original seu, mas são conhecidas cópias de Athena e Mársias, que representa a cena em que Mársias tenta apanhar a flauta que a deusa deitou fora, e cópias do Discóbolo, que representa um atleta no momento de lançar o Disco. Aqui, também a relação da arte com o real é complexa e composta.
O Discóbolo de Míron é uma escultura que representa o atleta no momento culminante do esforço, e que foi realizada entre os anos 460 e 450 a.C. provavelmente para comemorar o atleta que vencia o antigo pentatlo, mas muitas cópias têm sido feitas em mármore.
Foi uma obra celebérrima e que por isso foi inúmeras vezes copiada. O valor dessas cópias é relativo, pois basta compararmos as duas que estão na mesma sala do Museu das Termas (Roma) para vermos toda a diferença que existe entre uma e outra, tendo na nossa frente obras que estão diminuídas e até talvez mesmo alteradas.
Míron trabalhou na Atenas de Péricles e notabilizou-se pelas proporções exactas e o sentido do movimento das suas figuras, notáveis pela atitude, equilíbrio e a leveza das linhas, principalmente de atletas e lutadores, onde entre as suas obras conta-se o Discóbolo.
Rompeu com as convenções antigas e encontrou a solução, que lhe permitiu fazer saltar, mover e correr as suas personagens. A expressão e a psicologia, a individualização das suas estátuas, parecem ser para o artífice coisa secundária.
Os antigos tratadistas diziam acerca das esculturas de Míron: "Corporis tenus curiosis, animi sensus non expressit"; isto é, traduzido em linguagem corrente: "Cuidou do corpo, mas mostrou-se negligente no estudo dos estados de ânimo".
Para o efeito teve de aproveitar a técnica do bronze, que lhe permitia manter as suas estátuas em posições de equilíbrio instável, surpreendidas na realização de um movimento como o famoso Discóbolo, um jovem atlético no momento de lançar o disco.
Todo o corpo está atirado para diante, para depois produzir, no seu balanço, o impulso que lhe permitirá lançar o disco com a mão direita, enquanto a mão esquerda parece tocar a rótula, numa posição semelhante à dos atletas modernos, ao darem uma ou duas voltas antes do lançamento.
A cabeça do Discóbolo de Míron, também é muito interessante coberta de caracóis pouco salientes; os cabelos são curtos e não formam madeixas, tal como convinha à fundição de bronze.
O olhar do Discóbolo dirige-se para trás, para o disco que vai lançar com a mão direita, onde toda a atenção se concentra naquele objecto. É um instante da vida do atleta que põe em jogo toda a sua vontade, sem qualquer outra manifestação de vida espiritual.
Este é o defeito de que já os antigos o acusavam, os quais chegaram até a esquecer a sua perfeição técnica. Enquanto uns, como Luciano de Samósata (125-181), falam do Discóbolo tendo-o por uma obra-prima em todos os sentidos, outros, como o retórico latino Marco Fábio Quintiliano (35-95), dizem com desdém: "Pode haver algo mais artificial e contorcido do que o Discóbolo de Míron”? Para imitar a posição real do atleta, a estátua deveria ter os pés mais afastados, o corpo mais torcido e o disco deveria estar obliquamente inclinado.
Existem também cópias antigas das duas estátuas que formaram o delicioso grupo de Atena e do sátiro Mársias (Mitologia Grega), no momento em que este fica surpreso pela flauta que a jovem deusa acabava de inventar sem qualquer esforço. O espanto daquela criatura meia humana, meia animalesca, manifesta-se com perfeição na figura do sátiro.
Pôde restaurar-se, recentemente este grupo, mercê de uma gema gravada na qual estão representadas as duas figuras.
Os copistas romanos limitavam-se quase sempre a reproduzir o sátiro. De Atena só existe uma cópia, em Frankfurt; a deusa mal se digna olhar para a flauta de sete notas, caída no chão; pelo contrário, o sátiro parece saltar de alegria, como um animal selvagem. A sua fisionomia revela surpresa e pasmo ao encarar, fascinado, a flauta criada pela deusa.
Míron captava bem o especto sensual da natureza e sabia representar fielmente os animais. Na Antiguidade, entre as suas obras era muito apreciada a vaca de bronze, tão perfeita que, segundo diziam os poetas da Antologia Palatina, só lhe faltava mugir.
Pela primeira vez na história da arte, encontramos uma personalidade original documentada. Míron é um especialista no sentido literal do termo; para ele, o que tem interesse na vida é o movimento, enquanto no homem é a sensibilidade física. Recordemos que movimento e sensação são as grandes preocupações dos filósofos-físicos da escola de Eleia, Zenão (488-430 a.C.?) e Parménides (501-470 a.C.), contemporâneos de Míron. Este, além de grande artista, é, pelos seus gestos e preocupações, aquilo a que nos nossos dias chamaríamos um homem moderno.
Antes de Míron, encontrámos no Egipto, Grécia e Oriente obras maravilhosas, mas estas eram sobretudo expressão de uma sociedade, criações impessoais; nenhum artista se destacava do conjunto característico da sua escola. Em tempos muito anteriores produziram-se talvez obras mais belas, mais grandiosas, mais perfeitas, mais proporcionadas, mas não descobrimos uma figura de artista tão pessoal.
Na própria Grécia temos notícia de vários escultores que trabalharam nos séculos precedentes, tais como Antenor, Akermos, Crítio, Nesiotes, Onatas, se bem que a estatuária grega impressionou e impressionará sempre o homem, mais do que a arte de qualquer outro povo ou época.
Embora Míron fosse uma pessoa tão notável, pouco sabemos da sua vida. Pode ser considerado um cidadão da ática pelos muitos anos que viveu em Atenas.
É bem evidente o cunho da tradição dórica e da escola dos fundidores arcaicos; talvez pudéssemos apreciá-lo melhor se conhecêssemos as suas obras perdidas, como o Zeus que estava em Roma num nicho do Capitólio construído pelo imperador Augusto e outras estátuas de deuses e atletas das quais os escritores clássicos falam frequentemente. Só em Atenas havia quatro bronzes de Míron que representavam outros tantos vencedores nas lutas da palestra.
Foi também um grande animalista, mas este aspecto é-nos conhecido apenas pelos textos antigos que chegaram até nós. Muitas apócrifas foram-lhe subsequentemente atribuídas.
Nos Jogos da Grécia Antiga, o lançador do disco, ou Discóbolo foi, durante largo tempo do período clássico, tema muito explorado pelos artistas.
Entre as mais famosas estátuas deste género, cita-se sempre a que se encontra no Museu das Termas no Palácio Massini, em Roma, descoberta no Esquilínio, no século XVIII. Supõe-se que esta obra fosse uma cópia do Discóbolo de bronze, de Míron, célebre escultor, que pelas descrições de Quintiliano, sabe-se ter existido e sido executada naquele material.
A escultura grega atingiu no tempo de Péricles mestria consumada. Desaparecem as hesitações anteriores, aperfeiçoa-se a técnica, estuda-se os movimentos, dedica-se especial interesse ao conhecimento da anatomia do corpo humano, e surgem as obras-primas da escultura clássica, representadas por artistas cuja fama se perpetua até aos nossos dias.
Dos escultores reputados, poucos preferiam o mármore, em detrimento do bronze. Por comparação, tornava-se evidente que as cópias de mármore do Discóbolo imitavam originais de bronze.
Verifica-se de resto, que os copistas receavam a fragilidade do mármore, pelo que utilizando-o para reproduzir as formas delicadas obtidas no bronze, apoiavam muitas vezes as figuras num tronco de árvore desgracioso, que estava a mais.
De tal forma crítica é representada a figura que os artífices romanos que a reproduziram em mármore, a fizeram acompanhar de espeques e de pernos auxiliares para lhe garantir a devida estabilidade.
Além desta, outras réplicas existem nos museus do Vaticano e de Londres, mas consideradas menos fiéis, e de menor valor artístico e documental.
O Discóbolo mármore de Alcamedes (?), uma excelente obra de arte, que se encontra no museu do Vaticano, encontra-se em boas condições de conservação.
O Discóbolo de Míron constitui uma autêntica revelação na independência e no arrojo do gesto, em toda a escultura da Antiguidade, sendo um verdadeiro milagre de vigor e de juventude.
O corpo inclinava-se para a frente, desafiando as leis do equilíbrio, onde o atleta flectia as pernas na fase final, quando se propunha projectar o disco, que segurava na mão direita. Este, era normalmente de bronze, ainda que por vezes pudesse ser de chumbo, ferro ou mesmo pedra; o seu peso variava entre 1,245 e 5,700 quilos, e o seu diâmetro entre 15 a 30 centímetros e 1 a 6 centímetros de espessura, mas seguia-se um critério de igualdade, em que todos os atletas lançavam com o mesmo Disco, adaptado à idade, ao tamanho corporal e à força do atleta.
Outras estátuas antigas que se conhecem, reproduzem o mesmo atleta ainda que em atitudes diferentes da célebre obra de Míron.
O museu de Louvre guarda um belo exemplar do mesmo género, esculpido em mármore do Pentélico, e que se julga ser cópia de uma estátua de bronze feita pelo artista grego Naucidès, por alturas da 88ª Olimpíada. Foi encontrada na Via Ápia e adquirida por Pio VI.
Hoje, existe em frente ao Estádio de Atenas, onde em 1896 se desenrolaram os primeiros Jogos da Olimpíada da Era Moderna, um Discóbolo, uma linda estátua em bronze, obra do escultor Konstantinos Dimitriadis (1879-1943). As suas obras mostram um conhecimento profundo de anatomia humana. Uma cópia feita pelo escultor encontra-se no Parque Central de Nova Iorque.
Em 1924, quando da realização dos Jogos Olímpicos de Paris, o Discóbolo foi o primeiro prémio."