Últimas indefectivações

terça-feira, 5 de abril de 2016

Vermelhão: ainda não acabou...!!!

Bayern 1 - 0 Benfica


Este é daqueles resultados, que antes de jogo, até não era mau... mas agora, depois de tudo o que se passou, acaba por saber a pouco!!!
Este sentimento, de que podiamos ter feito um pouquinho mais, jogando com o mesmo 11 que jogamos com os Tondelas e Uniões desta vida... jogando com putos como o Renato o Ederson e o Lindelof... sem autocarros, repito, este sentimento, acaba por ser o maior elogio, a tudo o que o Benfica tem feito esta época... A ambição Benfiquista está bem viva... e nem golos sofridos no primeiro minuto, nos abatem!
Eu faço parte daquela minoria, que não se entusiasma com o jogo de posse do Barça de Guardiola (o jogo do Barça na Luz, já com o Vilanova, foi uma das maiores 'chatices' que assisti ao vivo!!!). Já sabíamos que íamos ter pouca bola, a minha dúvida seria saber se os nossos jogadores iam ter 'paciência' para não se desorganizar defensivamente... e tirando os primeiros minutos (novamente, tal como aconteceu com o Braga...), mantivemos a concentração... Durante o jogo, ficamos sempre com a sensação, que com um bocadinho mais de calma, podíamos ter saído mais vezes com a bola controlada, fugir à primeira linha de pressão do Bayern, e criar perigo... mas isso, é muito mais complicado do que aparenta!!!

Se calhar, o resultado mais justo teria sido um 2-1... Além do penalty que ficou por marcar, tivemos 3 claras oportunidades, bastava ter 33% de eficácia e jogo da Luz seria completamente diferente...!!!
Mais um grande jogo do Ederson: personalidade, calma, confiança, excelente. Tanto entre os postes, como a sair com rapidez da linha... E além das qualidades defensivas, o pontapé longíssimo que usa com frequência, foi muito importante... até para ganhar Cantos a favor do Benfica!!!
Centrais, com grande jogo... espero que aquela lesão do Lindelof, tenha sido só um susto!!!
Os laterais começaram mal, o golo é 'culpa' dos dois... o Eliseu reagiu tarde, à entrada do Vidal... mais tarde numa jogada parecida, o André mesmo chegando atrasado, 'incomodou' o Vidal e este cabeceou por cima...
Fejsa, com um jogo 'ingrato', pois o Bayen joga quase sempre pelos flancos... e o Fejsa costuma ser dominador na zona central do relvado! Hoje, foi obrigado a cair sempre na direita, na ajuda ao André, onde acabou por ser importante para 'fechar' a nossa área... O Renato, acabou por fazer o mesmo, junto do Eliseu... Tem que melhorar no passe.
Pizzi e Gaitán foram importantíssimos defensivamente, mas depois faltaram as saídas... Aquela perdida do Nico, mesmo antes do intervalo...!!!
O Mitro bem tentou, mas teve pouca bola... agora a nossa dupla atacante fica marcada, pelos dois falhanços: primeiro o remate do Jonas que o Neur defendeu... e depois, o cruzamento do Almeida, onde na mesma jogada 'falhámos' 3 remates: 2 do Jonas, e 1 do Mitro !!! Um golo tinha feito toda a diferença na eliminatória...
Infelizmente, fomos novamente prejudicados pelo um árbitro, num jogo da UEFA. Já no Mónaco-Benfica do ano passado, não tinha gostado deste apitador... Além do penalty, o facto do Vidal ter chegado ao fim sem Amarelo, deixou-me muito irritado...
Enquanto isto se passou em Munique, o nosso 'amigo' Félix Bitch andou a 'espalhar' magia em Barcelona... Depois do sorteio, cada vez estou mais convencido que existe uma vontade deliberada da UEFA, em 'escolher' as 4 equipas que vão estar nas Meias...
Vamos ter a Catedral cheia como um ovo, temos hipóteses, mas o Bayern continua a ser claramente o grande favorito para passar às Meias. Creio que o jogo será parecido... o Bayern vai ter muita bola, a nossa paciência sem bola, será muito importante... e não vamos ter o nosso melhor marcador!!! Preferia não ter tido o Jonas hoje, do que no jogo da próxima semana, mas é a vida...
Provavelmente vamos ter o Nico atrás do Mitro, com o Carcela na esquerda, mas uma dupla Mitro/Raul deve ser considerada!!!

Mas antes do grande jogo na Luz, vamos ter um jogo fundamental em Coimbra no próximo Sábado. É muito importante, o treinador os jogadores e os adeptos 'esquecerem' o Bayern, 'esquecerem-se' da euforia, e entrar com tudo no jogo contra a Académica...!!! Académica, que tem perdido muitos pontos, mas na última jornada, após perder em Arouca, na véspera de receber o Benfica, já tivemos o Presidente no balneário a fazer discursos de motivação... Os nossos adversários, não vão ter a luz e água 'cortada' na semana antes do jogo, disso podem ter a certeza...!!!
Mais uma grande 'actuação' dos nossos adeptos em Munique, nunca se calaram... Sem pressões extra, sem fatalismos exagerados, temos que tentar levar o Benfica ao colo até às Meias... Mesmo perdendo, mesmo jogando muitos minutos sem bola, creio que o bicho-papão Alemão, neste momento pós-jogo já aparenta ser menos 'impossível'!!!




Vivos e incansáveis
Publicado por Red Pass blogspot em Terça-feira, 5 de Abril de 2016


Agradecimento Adeptos Munique
OBRIGADO, Benfiquistas! Confiança até ao último minuto, atitude competitiva e apoio incrível no Allianz Arena. Parabéns aos adeptos que estiveram no estádio, mais uma vez, ao nível do desempenho da equipa.Sábado, às 18h30, em Coimbra, há mais uma final para apoiar. #SejaOndeFor
Publicado por Sport Lisboa e Benfica em Terça-feira, 5 de Abril de 2016

GLORIOSO SLB em Munique
Até em Munique...! Os melhores do mundo, #SejaOndeFor.Benfica fans are taking over Munich for the UEFA Champions League match!#JUNTOS
Publicado por Sport Lisboa e Benfica em Terça-feira, 5 de Abril de 2016

Corre pela planície da eterna saudade

"Hendrik Johannes Cruyff! Assim mesmo, com ponto de exclamação. Em Fevereiro de 1969, num relvado coberto de neve, limitou-se a ver jogar um grande Benfica. Vingar-se-ia na segunda mão, em Lisboa...

Poucos como ele exibiram a elegância inconfundível de um astro em movimento. No seu rastro de cometa imparável havia arte e talento misturados com uma velocidade sem sentido. Ah! E os seus pés em concha! Recolhendo a bola como mãos, escondendo-a do adversário, trazendo-a de volta do seu esconderijo por detrás do calcanhar para galgar com ela a distância que separa a realidade da lenda.
No dia 12 de Fevereiro de 1969, Johan Cruyff foi, no entanto, mais espectador do que actor.
Um Benfica que todos achavam moribundo, o velho Benfica das cinco finais da Taça dos Campeões Europeus, subiu ao relvado do Estádio Olímpico de Amesterdão para uma exibição de gala, talvez a última dessa extraordinária geração de jogadores.
Relvado? Que digo eu? Branca e leve, branca e fria, a neve pôs tudo da cor do linho, como escreveria Augusto Gil.
Havia um barulho ensurdecedor em volta do campo, os espectadores holandeses eram partidários da matracas de madeira que fazia um ruído inusitado, mas os jogadores 'encarnados' estiveram-se nas tintas para isso, tal como estariam para tulipas, diques e moinhos desse país baixo que cresce sob o mar.
Estavam cinco graus negativos em Amesterdão. O Benfica iria arrefecer ainda mais a temperatura.
Pobre Ajax, perdido em campo sem saber o que fazer, na busca incessante de uma bola que teimava em não largar os pés dos adversários de Lisboa.
Rinus Michels, o «General», mostrava-se enfadado no final do encontro: «Fui completamente surpreendido por este Benfica. Jogou infinitamente melhor do que nas partidas que observei em Portugal. E tem enorme experiência nestes confrontos internacionais».
O primeiro golo foi de «penalty»: uma falta bruta sobre Simões. Estranhamente, Eusébio não quis marcar: «Confesso que tive medo de falhar e fui à linha lateral pedir ao senhor Otto para ser outro a marcar».
Foi Jacinto: «O Eusébio disse-me - vai lá tu. Eu nunca tinha marcado um 'penalty' na neve, mas não me assustei. Fui calmo e fiz o golo».
A partir daí, houve Benfica e não houve Ajax. Estava decorrida meia-hora de jogo e Eusébio chuta de muito longe para uma defesa apertada do guarda-redes holandês; no minuto seguinte, Torres cabeceia à barra.
Era o Benfica das grandes noites! «Gatos vermelhos em campo de neve», escreveu Mário Zambujal citando Erico Veríssimo
Torres corta um passe arriscado da defesa local e parte isolado para a baliza: 2-0. Já ninguém acredita que a vitória fuja ao Benfica no momento em que as equipas descem aos balneários para o retemperador intervalo.
Por onde andou Cruyff?
É Danielsen, o dinamarquês, que substituíra Swart, a devolver a esperança aos holandeses com um pontapé formidável.
Cabe agora a José Henrique, Humberto Coelho, Toni e Coluna serem as traves mestras de uma nau que enfrenta uma tempestade de Futebol ágil e físico.
São quinze minutos de aperto. Vagas alterosas pedem atenções redobradas. E um acréscimo de entusiasmo daqueles que Eusébio tão bem sabe dar: um remate de potência tremenda obriga Bals a um desvio aflitivo para canto. É o próprio Eusébio que marca o canto. Um lance tantas vezes repetido com êxito pelo Benfica de então: bola para a cabeça de Torres e daí para o pontapé exemplar de José Augusto.
O golpe fatal.
Danielsen foi claro: «Não me parece que a defesa do Benfica seja muito forte. Podíamos e devíamos ter marcado mais golos. Enfim, há que dizer que a vitória do Benfica foi justíssima. Pode ser ganhemos em Lisboa».
Ganharam, como se recordam. Pelo mesmo resultado, obrigando a um jogo de desempate em Paris.
Mas fiquemo-nos, por hoje, nessa noite de Amesterdão.
Eusébio, a contas com  mais uma lesão no seu joelho massacrado, mostrou a categoria de sempre. Um esteio de classe numa equipa fundamentalmente operária: «O meu problema foi que gelei por completo» - queixava-se Raul - «Fiquei paralisado. Não sei o que aconteceria se o jogo durasse mais tempo».
José Henrique viu o tronco enfaixado no final do encontro: «Os avançados do Ajax são muito duros e provocaram as cargas. Ainda por cima, junto à baliza, a neve estava dura como pedra. De cada vez que tinha de me lançar para o chão era um sofrimento».
E Cruyff? Por onde andou Cruyff?. perguntarão vocês, leitores estimados. Perdido no meio-campo resistente do Benfica. Investindo aqui e ali em correrias solitárias e destinadas ao fracasso. Cruyff não foi ele mesmo. Viria a sê-lo, não tardaria muito, na segunda mão da eliminatória, no Estádio da Luz.
Cruyff: Hendrik Johannes Cruyff! Com ponto de exclamação. Corre hoje pela planície da eterna saudade..."

Afonso de Melo, in O Benfica

Um «F-R-A» da Académica, e para o Benfica... tudo!

"Os estudantes de Coimbra esgotaram a lotação do Estádio Nacional para assistirem a uma edição história da Taça de Portugal.

Não era a primeira vez que o Benfica e a Académica de Coimbra se defrontavam numa final da Taça de Portugal, mas o encontro de 1968/69 teve um significado especial para ambas as equipas. A crise estudantil de 1969 estava no seu auge e a chegada da Académica à final da prova abria novos horizontes para a causa dos estudantes. Era inevitável o pensamento de quão longe chegaria a luta estudantil com a conquista da Taça de Portugal pela sua equipa de futebol.
Na 1.ª mão da meia-final da prova, a Académica entrou em Alvalade equipada de branco e com braçadeiras negras em sinal de protesto contra a repressão exercida sobre os estudantes de Coimbra. A vitória por 2-1 frente ao Sporting contribuiu para que, na semana seguinte, com um triunfo por 1-0, a Académica garantisse o seu lugar na final. O Benfica tinha goleado a CUF na 1.ª mão da meia-final por 5-1 e o empate a duas bolas na semana seguinte permita que os 'encarnados' alcançassem a final da prova, o que não acontecia desde a época 1964/65.
A 22 de Junho de 1969, as duas equipas entraram no relvado do Jamor para a disputa do ambicionado troféu. O Benfica equipado de 'vermelho e branco', os estudantes com o habitual equipamento preto e de capas negras ao ombro em sinal de luto pelo estado do ensino superior.
As bancadas completamente esgotadas do Estádio Nacional contrastavam com a tribuna presidencial vazia, numa final que não foi transmitida em directo na televisão conforme tinha sido noticiado na véspera do encontro. O jogo decorreu sem grande emoção, mas nas bancadas ecoavam os «F-R-A» dos estudantes que incentivavam a sua equipa para a vitória, entre faixas onde se liam frases como: 'Estão 36 estudantes presos', 'Melhor ensino, menos polícias', 'Estudantes unidos por Coimbra' e 'Universidade livre'.
A dez minutos do final do encontro, o marcador registava o empate a zero e perspectivava-se um prolongamento, mas a defesa 'encarnada' permitiu que Manuel António marcasse o golo que colocava a Académica em vantagem. O Benfica reagiu e pouco depois Simões marcava o golo do empate. Seguiu-se o prolongamento. A animação e o nervosismo cresciam nas bancadas do Jamor, quando aos vinte minutos do prolongamento Eusébio marcou o golo que deu ao Benfica a sua 13.ª Taça de Portugal e a quinta 'dobradinha'.
Seguiu-se a 'festa da amizade'. Nas bancadas todos festejavam e no relvado os 'encarnados' vestiam de negro e os 'estudantes' envergavam as 'camisolas berrantes', numa invulgar troca de equipamentos colectiva que foi símbolo da amizade e respeito que uniu os dois emblemas.
Esta e outras histórias podem ser recordadas na área 5. A 'Taça' no Museu Benfica - Cosme Damião."

Marisa Manana, in O Benfica

Deixem-nos sonhar

"Um punhado de jovens que fizeram carreira como campeões de juvenis e juniores está a dar cartas no Benfica e a afirmar-se a um nível muito aceitável, tanto nas competições internas como nas provas internacionais, como é o caso da Taça Challenge.
E o que se terá passado de um ano para o outro? O treinador é o mesmo, Mariano Ortega, chegado à Luz em Junho de 2014, oriundo do Aragón, clube onde foi um bom praticante. Este espanhol, de 45 anos, está agora a descobrir um 'novo' Benfica, em comparação com a equipa do ano passado, onde pontificavam jogadores como Carlos Carneiro, António Areia e Dário Andrade. Era um conjunto onde imperava muita experiência e onde os internacionais tinham um peso determinante. Os jovens não estavam tapados, mas sabiam que o seu lugar era ficar mais tempo no banco. E não seria de um dia para o outro que iriam afirmar-se com segurança no plantel.
E o que foi feito? Renovou-se a equipa, os mais jovens têm sabido agarrar as oportunidades e, por outro lado, Mariano Ortega nesta altura já tem uma outra identificação com o andebol nacional, o que não acontecia no passado. A intranquilidade deu lugar à serenidade e o plantel conseguir transpor para o campo de jogo as recomendações do treinador, que chegou a ser bastante contestado.
As vitórias frente ao FC Porto no playoff, a conquista da Taça de Portugal e a presença nas meias-finais da Taça Challenge enchem de orgulho uma equipa que tem revelado uma enorme capacidade de trabalho. O primeiro troféu em 4 anos com a vitória na Taça de Portugal é uma prova de confiança."

Do Rui, vitória...

"Hoje apetecia-me falar de várias coisas - só de algumas falarei.
Apetecia-me dizer que um jogador é sempre melhor quando consegue pôr um ilusionista no pé - e que, no caso do Ronaldo, ele não põe apenas um ilusionista em cada pé, põe um pistoleiro em cada pé. E põe em cada pé o melhor pistoleiro que se pode ter no futebol: o furtivo. (E que foi esse sublime pistoleiro furtivo que deixou Barcelona em mossa...)
Apetecia-me dizer como a Eleanor Roosevelt:
- O futuro pertence a todos os que acreditam na beleza dos seus sonhos...
para dizer que, no futebol, o futuro pertence sempre àqueles que acreditam na beleza dos seus sonhos - mas não só: pertence, ainda mais, àqueles que acreditam que os seus sonhos nunca hão de ter a cara feia que outros lhe vão agoirando - por inveja ou rabugice.
Apetecia-me dizer que se Bill Gates é o que é - o é por ter criado na Microsoft aquilo a que chamou QIcorporativo: a capacidade de os seus empregados aproveitarem e partilharem uns com os outros os seus melhores conhecimentos, as suas melhores aptidões, as suas melhores ideias. Também é assim no futebol: equipa que tiver alto o seu QIcorporativo ganha mais do que a equipa que o tiver em baixo - mesmo parecendo pior.
E se o Benfica vai começar hoje em Munique a jogar a sua final da Champions (sim, não o sendo, já é do que se trata...) é porque Rui Vitória conseguiu espalhar ilusionistas e pistoleiros por pés onde não se imaginava que eles pudessem entrar. É porque Rui Vitória conseguiu espalhar pelas cabeças em seu redor a fé de que o sonho não se lhe soltava destinado à cara feia. É porque Rui Vitória conseguiu espalhar por todos esses pés e essas cabeças o QIcorporativo que foi subindo a galope, semana após semana, até às nuvens. E através disso mostrou que o sucesso, às vezes, é coisa simples - difícil é fazê-lo: vem de se lhe criar os alicerces com os tijolos que nos atiram à cabeça - sobretudo os invejosos e os rabugentos. Foi o que Rui Vitória fez..."

António Simões, in A Bola

O 'novo' Benfica

"Perdoar-me-ão os benfiquistas por acreditar pouco na possibilidade de sucesso nesta complicadíssima eliminatória com o Bayern - e o superlativo justifica-se em face do enorme potencial do emblema bávaro, unanimemente reconhecido. Creio, neste ponto, estarmos de acordo, o que não significa a condenação da águia antes de ser presente a julgamento: não há vencedores antecipados. Não sei que Benfica irá apresentar-se logo à noite, em Munique, mas confio que será diferente do que lá jogou em Novembro de 1995 há 20 anos, portanto, em que, aí sim, de véspera já se adivinhava o seu desfecho. Era tempo ainda em que o frio emergia como um dos muitos fantasmas que durante gerações entorpeceram mentalidades no futebol luso, com incontornáveis reflexos na deficiente resposta dos praticantes aos desafios que a competição lhes colocava.
Nos treinos oficiais, com temperatura baixa, mas sem neve, enquanto o pessoal do Bayern trabalhou com entrega e entusiasmo, no lado do Benfica, além de mil cuidados para ninguém se magoar ou constipar, gente houve a quem só faltou levar sobretudo ou nem sequer ter deixado o conforto do balneário com o argumento sempre válido de estar em tratamento. Na qualidade de enviado especial de A BOLA escrevi um texto, que mereceu chamada de primeira página (21 de Novembro de 95), com o título «Benfica à beira do abismo».
Não era preciso esperar para ver, estava na cara que as coisas iriam correr mal. É claro que no dia seguinte ganhou quem mais correu e se esforçou, simples. Depois, durante a conferência de Imprensa, com paciência de santo e infinda educação, Mário Wilson, que substituíra Artur Jorge no comando técnico, suportou as questões/provocações que os jornalistas alemães, por entre risadas deselegantes e copos de cerveja à discrição, o massacraram.
A tudo resistiu, com serenidade, sem se dar conta, na altura, dos motivos que conduziram a tais sinais de exuberância. Para eles, mais do que a vitória, o que verdadeiramente mereceu ser festejado foi o significado que atribuíram a essa mesma vitória e a explicação deu-a Pep Guardiola agora, ao confessar respeito e admiração pela história do Benfica e pela força do seu nome (um dos que têm mais adeptos no mundo). 

Vinte anos depois o Benfica volta a Munique como clube do G8 da Liga dos Campeões, embora com fraca cotação nas casas de apostas. É a realidade. Não vale a pena iludi-la, nem sequer dar-lhe a relevância que julgo não justificar, na medida em que este jogo deve ser encarado como um passo mais no processo de mudança em curso, o qual, sempre numa perspectiva de engrandecimento de instituição, visa reconquistar o lugar entretanto perdido na elite europeia: a tal história a que Guardiola alude. Contra ventos e marés, ignorando ruídos e invejas, resistindo a críticas severas, Luís Filipe Vieira sabe que vai ganhar esta batalha, na sequência de tantas outras que já travou, seguramente bem mais duras. Nesta situação em concreto deu-lhe mais trabalho sacudir a poeira que levantaram do que propriamente iniciar uma empreitada que só precisa de tempo para se afirmar, sendo certo que ao contrário do que se passa com outros, Vieira alcançou já um patamar de suficiente estabilidade para não se sentir prisioneiro, nem ele nem o clube, de um resultado ou de um título.
Este novo Benfica nada reclama de transcendente: mais exigência competitiva com moderação nos gastos, valorização do investimento realizado na infraestrutura do Seixal, aposta mais regular e competente nos jovens da formação e, como o presidente sublinhou na cerimónia de assinatura do contrato com a Fly Emirates, recuperação do estatuto de gigante europeu que foi edificado na década de 60 e se perdeu em 1990 (última final na Champions, em Viena).
O que mudou, então? O eu desapareceu para dar lugar ao nós, principal factor de união da família benfiquista, de que o último jogo com o Braga constituiu exemplo sublime, e foi contratado um treinador que percebe a dimensão mundial do emblema da águia."

Fernando Guerra, in A Bola

Um clube grande de país pequeno

"O jogo de Munique é mais do que um jogo e mais do que uma eliminatória europeia para o Benfica. É um desafio à dimensão competitiva do clube, é o regresso a uma montra da mais fina joalharia do futebol europeu e mundial.
Trata-se, pois, de uma oportunidade muito especial. Mesmo considerando que o futebol é uma das modalidades desportivas com resultados menos previsíveis, sinceramente, acho que a possibilidade do Benfica, neste tempo e neste momento, eliminar o Bayern está no domínio dos milagres. Porém, é particularmente importante que seja a própria equipa do Benfica a compreender que há muito mais em jogo do que o resultado. Há, acima de tudo, a consolidação de uma ideia de crescimento e de afirmação internacional. Entendamo-nos: é óbvio que o título de campeão nacional é o mais importante para os adeptos - Jorge Jesus não se cansa de o lembrar - mas a verdade é que nenhum clube português pode crescer, apenas, com vitórias e títulos nacionais. O nosso futebol pode não ser tão pobre quanto os mercados internacionais entendem que é, mas tal como infelizmente sucede em muitos sectores da vida dos homens e dos países, para o mundo, o que parece, é.
Um Benfica forte, personalizado, inconformado, resistente, selvagem, no bom sentido do termo, capaz de se atrever a discutir o jogo e a eliminatória com o Bayern teria enorme força mediática universal. E isso também seria uma conquista importante para um grande clube de um país pequeno como o nosso. De resto, e para sermos pragmáticos, o único jeito desse clube não ser pequeno."

Vítor Serpa, in A Bola

Regressar a casa

"Jonas assiste com as costas e Pizzi marca. Peço desculpa, mas não me recordo de muitas assistências com as costas que tenham resultado em golo. Ainda assim, o momento do jogo não foi esse, mas o que se seguiu. Bola no fundo das redes, Jonas e Renato correm desenfreadamente a celebrar em direcção à linha de fundo, para só depois se juntarem no lado oposto, em nova corrida, aos restantes colegas. A equipa festeja efusivamente, num movimento infantil, descoordenado, desprovido de rumo, como é próprio da felicidade absoluta. Sabem que mais? É aí que se encontra o segredo da senda vitoriosa do Benfica.
A inteligência subtil de Jonas é determinante, o pé quente de Mitroglou ajuda, a titularidade de Renato deu metros verticais no centro do terreno e, num aspecto menos notado, Fejsa oferece o equilíbrio táctico que faltava. Mas a génese do Benfica vitorioso tem as suas raízes noutro factor. Vislumbra-se em campo uma alegria selvagem (lá está, o efeito Renato) e um espírito de grupo como não se via no passado. O Benfica celebra os golos com uma satisfação incontida, enquanto a equipa se celebra a si própria.
No lançamento do jogo contra o Braga, Rui Vitória, comentando as longas digressões aéreas a que uma parte importante do plantel se tinha dedicado, dizia que lhe tinha agradado "ver a cara de bem-estar dos jogadores ao regressar, como um regresso a casa. É sinal de que gostam de estar aqui". É nesta casa comum, onde jogadores e adeptos se reencontram, que o Benfica de hoje constrói uma maré vermelha que empurra a equipa para as vitórias."

Treinadores com escola

"1. O único produto doc que o futebol italiano tem para exportar são os treinadores, todos eles saídos da melhor escola do mundo na modalidade. Os ingleses, esses terão inventado o jogo, mas ninguém o sabe ensinar melhor do que estes. Ranieri lidera a Premier League, Ancelotti vai substituir Guardiola no leme do transatlântico Bayern, Conte vai assumir as rédeas do Chelsea, De Biasi conduziu a Albânia ao próximo Europeu, Allegri, Sarri e Spalletti ocupam, por esta ordem, as três primeiras posições da Série A, donde dificilmente serão já desalojados.... Se a estes juntarmos os mais traquejados e plurititulados Trapattoni, Sacchi, Capello, Lippi, Prandelli, Mancini... temos um quadro esclarecedor da excelência do ensino em Coverciano (Florença), local da Casa do Futebol italiano. Não espanta, assim, que por todo o lado se encontrem a trabalhar técnicos transalpinos, desde Inglaterra e França até à China e Índia.
2. Depois de ter processado um portista genuíno e ilustre, de que o clube se devia sentir orgulhoso, como Miguel Sousa Tavares, por aqui ter escrito verdades que toda a gente conhece, mas ninguém ousa denunciar, seria não só impensável, mas até inimaginável que Pinto da Costa ficasse por aqui. É que na edição da passada quinta-feira, o jornal Correio da Manhã preencheu quase toda a capa com o seguinte título em caracteres garrafais: «Família de Pinto da Costa suga o Dragão». Mas não foi tudo. Nesse mesmo dia, na última página, o Director-Adjunto do já referido matutino, Carlos Rodrigues (a quem peço vénia para citar), engrossou a dose com mais algumas linhas, nas quais destaco esta verdadeira pérola: «o clube capturado por dentro rapidamente se transformou numa linha de montagem de negócios mafiosos». E agora, como será a reacção de Pinto da Costa?"

Manuel Martins de Sá, in A Bola

Benfiquismo (LXV)

Nada é impossível... Benfica, Berna, 1961