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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A miséria, sempre a miséria

" «Nós sempre dissemos», disse o líder do FC Porto. Este 'nós' custa tanto ou mais a suportar que a derrota em Braga. Fosse ou supersticiosa e diria que as duas coisas estavam ligadas.

O Benfica é tão grande. E muito deve aborrecer os rivais com a sua grandeza. Atente-se neste episódio recente: o Benfica perdeu em Braga, mais vítima dos seus erros, é verdade, do que dos erros alheios que foram à fartazana, o que também não deixa de ser verdade.
Uma consulta à imprensa da especialidade, e não só, nos dias que se seguiram à derrota do Benfica poderá facilmente ter induzido em erro um leitor menos atento ou menos qualificado ou simplesmente mais distraído. 
Ao ponto de, confundido, chegar inapelavelmente a esta conclusão:
- O Benfica caiu para o último lugar na tabela do campeonato com 1 ponto de avanço sobre o FC Porto e com 3 pontos sobre o Sporting que é o líder isolado da prova.
Ou não parece?

O Comité de Controlo de Ética e Disciplina – nome pomposo – da UEFA considerou «inadmissível» o protesto do Sporting.
Assim sendo, o jogo Schalke 04, 4 -Sporting, 3 não vai ser repetido nem o clube português terá direito a receber o meio milhão de euros pretendidos a título de indemnização pelo golo sofrido nos instantes finais da partida de Gelsenkirchen em consequência de uma grande penalidade manhosa.
Não espanta em nada o veredicto da UEFA. Outra decisão, aliás, não poderia resultar da reunião do referido Comité sediado na neutral Suíça. O árbitro é soberano e as suas decisões são irrevogáveis. Daí a expressão 'inadmissível'. Acontece assim por todo o mundo do futebol.
O que não deixou de espantar foi o suspense formal criado no nosso país em torno das exigências do Sporting, aparentemente levadas muito a sério, como se fosse possível ou exequível vermos algum dia a UEFA ressarcir da forma pretendida pelo Sporting os valores de um qualquer clube prejudicado em campo. 
Foi o absurdo tema tratado tão respeitosamente por cá que conseguiu até entusiasmar uns quantos benfiquistas esta demanda internacional do Sporting junto da justiça europeia. Não por amor, mas por interesse, é óbvio.
Decidisse a UEFA a favor da repetição do jogo de Gelsenkirchen por motivo de flagrante roubalheira e teria então o Benfica toda a legitimidade para exigir a repetição da final de Turim da Liga Europa de 2014.
E até mesmo para exigir a repetição da final da Taça dos Campeões Europeus de 1963 frente ao AC Milan, tendo em conta que Pivatelli 'arrumou' com Coluna numa época em que não eram permitidas substituições. Coluna passou o tempo todo em campo a coxear no relvado de Wembley e Pivatelli não foi expulso como devia ter sido.
E, já agora, poderia ainda o Benfica exigir à UEFA a repetição da final da Taça dos Campeões de 1968 frente ao Manchester United, outra vez em Wembley, tendo em conta que Nobby Stiles, só no primeiro quarto de hora fez duas entradas a pés juntos sobre Eusébio objetivamente passíveis de expulsão ou mesmo de irradiação.
Paciência, fica tudo como estava. A queixa do Sporting não conseguiu impor à UEFA uma jurisprudência revisionista como, aliás, era de esperar.

ALIÁS, nem o próprio Sporting acreditava numa benesse destas. O Sporting entendeu apresentar uma queixa à UEFA não a pensar no passado mas a pensar no futuro imediato. Foi uma forma de pressão legítima, não temendo sequer o ridículo.
O importante é que os árbitros dos próximos jogos europeus do Sporting tenham conhecimento da indignação que grassou no Lumiar e que se ponham em sentido, com o sentido entre a comiseração e a reparação de injustiças, quando apitarem os subsequentes jogos dos ofendidos. O mesmíssimo já fez o Sporting este ano nas competições de trazer por casa, as nossas, as internas, e, diga-se, com êxito retumbante. E se pegou cá dentro por que razão não pegará lá fora? São mais espertos e menos impressionáveis os árbitros estrangeiros em comparação com os árbitros portugueses?
O árbitro nacional do Sporting de Braga-Benfica de domingo passado, por exemplo, só teve coragem intelectual para expulsar um jogador bracarense quando já corria o tempo de descontos, isto para não ofender o pranto do Sporting sobre os resultados dos jogos em que os adversários do Benfica se vão fazendo expulsar por acumulação de jogo violento.
A coisa aqui por casa está a resultar.
Veremos como corre lá por fora ou com gente estrangeira.

LUÍS DUQUE é o novo presidente da Liga de Clubes. Que seja um mandato próspero e feliz. O Benfica votou em Duque. O FC Porto e mais duas dezenas de clubes também votaram em Duque. Houve, no entanto, quem não votasse ou se abstivesse.
Houve também quem acusasse o Benfica e o FC Porto do comando ínvio de todo o processo eleitoral. Do Benfica não houve uma palavra sobre o assunto. Sobre o mesmo assunto, houve do FC Porto palavras do seu presidente.
Estas mesmas palavras: «Para que se não dissesse que era o FC Porto e o Benfica a dirigir o processo, nós dissemos sempre que não queríamos ninguém ligado ao FC Porto ou ao Benfica.»
«Nós sempre dissemos…», disse.
Este 'nós' é que custa tanto ou mais a suportar do que a derrota em Braga.
Fosse eu supersticiosa e até diria que as duas coisas estavam ligadas.

JESUS falha nos jogos importantes, lê-se. Sim, é verdade, que tem falhado em jogos importantes em Portugal e no estrangeiro. Se, em cinco temporadas na Luz, Jesus não tivesse falhado todos os jogos importantes que falhou, poderíamos já ter festejado cinco títulos de campeão nacional, cinco Taças de Portugal, três Ligas dos Campeões e duas Ligas Europa. E ainda mais uma Taça da Liga, aquela em que falhou em 2013. Em poucas palavras, o paraíso.

A miséria, sempre a miséria. Diz-se que foi a tal miséria impendente que obrigou ao recentíssimo movimento de contra-revolução na Liga de modo a garantir um futuro próspero a todos os clubes associados mais aos seus benévolos parceiros comerciais.
A bem da nação futeboleira, salvem-se os clubes, salvem-se os patrocinadores e salve-se a Olivedesportos se é verdade, como constou, que estavam quase à beira da ruína.
Que se salve tudo isto e o triplo, se for necessário. Haja dinheiro em caixa para todos. Saúde-se a renascida fartura e as renascidas concórdias. Vem aí uma nova época dourada do futebol português. Douradíssima. 
Mas, interrogo-me, se com tantas notas a entrar à catadupa nas devidas tesourarias, com tanta fortuna em emolumentos e em sentimentos, com tanta reestruturação, modernização e êxito empresarial, não conseguirá a renovadíssima Liga dispensar uns trocos para investir em sprays para os árbitros, pobres deles, não terem de perder tempo a discutir com os jogadores o lugar exacto onde se forma uma barreira?
Tempo é dinheiro, não é? E é absurdo o tempo que se perde nos jogos da nossa Liga nas marcações dos livres directos com o passinho à frente e com o passinho atrás, com o árbitro a voltar costas e a ser enganado, com o público pagante a impacientar-se à falta de tempo útil de jogo, isto sim, é que é uma real miséria.
A ver, portanto, se há uma alma caridosa, lá das altas esferas destas organizações, que se lembre de facilitar as tarefas dos árbitros e de corresponder aos legítimos anseios dos espectadores. Para tal, basta perder o amor a uns poucos euritos, agora que até há de sobra graças à nova gestão, e encomendar uma dúzia de sprays de bolso para que nos jogos da nossa Liga a cada livre directo não corresponda 2 minutos de tempo perdido.
Mais protagonismo para o spray e menos protagonismo para os árbitros é uma excelente solução, já internacionalmente aprovada nos palcos dos acontecimentos mais chiques da modalidade.
Faz alguma confusão que em Portugal, um país apaixonado por modernices, tarde a ser implementado este utensílio tão eficaz e tão alcance das bolsas mais modestas.

O Bayern e o Arsenal querem o Gonçalo Guedes, lê-se. Peter Lim, o dono do Valência, quer o Gonçalo Guedes, lê-se. Nós também queremos o Gonçalo Guedes. Se faz favor."

Leonor Pinhão, in A Bola

Unidos e Crentes

"Este é o momento para estarmos juntos. Não merecíamos uma derrota em Braga. O momento exige de todo os benfiquistas um forte sentido de união. Estamos num momento decisivo da 1.ª Liga: é fundamental voltar à rotina das vitórias e a um ritmo de consistência táctica, quer na Liga, quer na Champions.
Esse não é, no entanto, apenas um esforço que deve ser feito pelos jogadores e pela equipa técnica: é um esforço que Sócios e adeptos devem acompanhar com um apoio incondicional e uma confiança redobrada no Benfica. Continuamos a ser líderes. Na pontuação, na concretização, na consistência de jogo e no espectáculo. Continuamos a encher estádios, em casa e fora. A somar a tudo isto, uma extraordinária inconsistência dos nossos adversários directos, impossível de passar despercebida: um Sporting que se agiganta com os grandes e leva a cabo exibições sofríveis com os clubes mais modestos e um FC Porto que ficou de tal maneira obcecado com a relatividade que deixou de ter cultura de jogo. Temos, por isso, todos os motivos para continuar a acreditar que a liderança do Benfica é para durar, para chegar ao Natal e ao Verão de 2015, quando estaremos já na posse do 34.º título.
Quanto à Champions, nenhuma equipa se reequilibra de uma época de transferências agressiva de forma natural e imediata. É preciso tempo, construir hábitos de jogo e entranhar cultura táctica. Muito já tem feito Jorge Jesus. O caminho não é fácil de ser percorrido. Mas é possível e está ao alcance do sonho que sempre nos guiou. A palavra acreditar é, aqui, fundamental. Quer os jogadores, quer os Sócios ou os simpatizantes, quer o próprio Jorge Jesus têm de acreditar que voltar a erguer uma Taça dos Campeões Europeus está ao alcance do Benfica como renovar o título de Campeão Nacional ou voltar à final da Liga Europa.
A desistência e o cepticismo são, muitas vezes, os inimigos derradeiros da nossa equipa. Ultrapassar esta barreira é, logo à partida, deixar qualquer adversário nesta Europa a tremer de medo."

André Ventura, in O Benfica

Encarnado é o Vermelho-amor (diagnóstico... com omissão!!!)

"A primeira derrota do Campeonato aconteceu domingo, amarga como alguns remédios que tomávamos na infância, injusta como o Futebol é às vezes, revoltante por ser com um clube que se tornou tão anti-benfiquista.
Apesar de sabermos que era um jogo exigente, não acreditava que a derrota pudesse acontecer diante do Sporting de Braga. E ocorreu porque o futebol é assim mesmo, quem não mata, morre. Bem cedo poderia o Benfica ter resolvido aquele jogo. Depois o cansaço de uma quarta-feira europeia pesou nas pernas dos nossos jogadores e não conseguimos manter a pressão e os níveis físicos e, em consequência, o Braga afastado da baliza de Artur. Os do SC Braga e do FC Porto (dos muito que lá havia com a camisola do Braga) estavam mais fresquinhos e disso tiraram partido na segunda parte.

Mas, em meu entender, a derrota deveu-se sobretudo por duas falhas que passo a explanar: o Benfica não tem, até ao momento, um verdadeiro número 6, um trinco que equilibre a uma equipa tão ofensiva; um trinco que encoste aos centrais e defenda como este. Bem sabemos que será Fejsa a ocupar esta posição, pois o Benfica precisa dele mais do que de qualquer outro jogador, e, enquanto não recupera, não conseguiremos ter o alto desempenho de que nos habituamos naquela zona do terreno; a outra falha é a da concretização. Podíamos, e deveríamos, ter marcado três ou quatro golos, que para isso tivemos oportunidades de sobra. Mas Lima ainda desafinado (embora mantenha toda a raça e qualidade) e as bolas não entram nas balizas contrárias, principalmente, nos jogos mais exigentes. Jonas está quase aí e Jorge Jesus terá de se decidir se joga com dois avançados ou continua com Talisca a apoiar o único que vai a jogo. Mas Jonas faz-nos falta!
Logo que Fejsa recupere e Jonas esteja na sua plena forma, este Benfica será diferente. Será o Benfica mais próximo da ideia de Jesus: raçudo, veloz e mortífero. Até lá, resta-nos apoiar todos os que vestem o Manto Sagrado."


Carlos Campaniço, in O Benfica

PS: O diagnóstico interno até está acertado... mas a omissão 'dourada' era escusada !!!

Reagir

"Costuma dizer-se que ganhar e perder faz parte do desporto.
Poderá ser assim em muitos quadrantes onde existam provas desportivas, por este país e por esse mundo. Em modalidades várias, na alta, média ou baixa competição, em encontros de amigos ou de rivais, em quase tudo. Porém, quando se fala de Benfica, quando falo de Benfica, apenas admito um resultado: a vitória.
Um século de história gloriosa, e em particular o legado de Eusébio, ensinou-nos a ser assim. As últimas temporadas, em que a dupla Vieira-Jesus recolocou o Benfica no seu devido lugar, quer no panorama português, quer no panorama europeu, devolveram-nos também esse grau de exigência, que na transição do milénio quase havíamos hipotecado. Hoje, deixámos de conseguir encaixar uma derrota. E a de Braga doeu. 
Independentemente de podermos felicitar os vencedores, de lhes devermos respeito dentro e fora dos campos, admitir uma derrota não pode jamais constar da nossa matriz identitária. Temos de exigir de nós próprios, e de todos no clube, uma espécie de revolta interior, que não permita olhar, nem por um segundo, para as derrotas como coisa natural. Para o Benfica, perder não é normal.
Não pode ser normal. Após uma pré-temporada complexa, e a meio de uma Liga dos Campeões pouco entusiasmante, a vantagem pontual com que o Benfica liderava a classificação do Campeonato (principal objectivo da época) era a almofada onde a família benfiquista repousava a sua confiança.
Perder em Braga, naquele que era tido como o primeiro grande teste à equipa encarnada, representou um rude golpe nesse sentimento de confiança. Hoje, há nova partida do campeonato. E na terça-feira joga-se o futuro europeu. O que se espera de todos é um grito de revolta face ao que aconteceu no Minho. A mesma revolta que os adeptos sentiram ao ver fugir três pontos, ao ver a vantagem classificativa reduzir-se à sua mínima expressão, ao ver os rivais directos recuperarem ânimo e tranquilidade, numa luta que não permite falhas, hiatos ou hesitações."

Luís Fialho, in O Benfica

Portugal, UEFA e Platini

"Portugal atingiu, no ranking das competições europeias de clubes, o 5.º lugar. Pelos resultados obtidos pelo Benfica e Porto. Ultrapassou a França de Michel Platini e está (esteve) perto da Itália. Mesmo assim, continua a pertencer ao 'clube dos remediados' para a UEFA. O recente caso do prejuízo que a arbitragem provocou ao Sporting na Alemanha é uma elucidativa amostra. Como o foi o empurrão escandaloso (mas infrutífero) dado à Juventus em Turim nas meias-finais da Lida Europa da passada época, logo vingado pela fraudulenta arbitragem na final contra o Sevilha. Fosse um dos tubarões europeus ou simplesmente um clube gaulês e outro galo cantaria.
Já aqui me referi, por diversas vezes, àquelas figurinhas vestidas como árbitro que estão a fazer ginástica nas linhas de cabeceira das competições da UEFA. Às vezes estão a um ou dois metros das jogadas, mas conseguem uma de duas coisas: ou não ver o que toda a gente viu (lembro-me de uma mão de J. Terry do Chelsea na Luz, dos penáltis por marcar no Benfica-Sevilha, ou ainda nos metros bem à frente de Beto na marcação das penalidades do desempate) ou - mais grave - conseguem ver o que não existiu e ninguém viu (foi o caso do penalti a favor do Schalke 04 no último minuto do jogo contra o SCP).
Entretanto, o fogoso Platini - que detesta portugueses - criador destes (des)ajudantes e que pôs em marcha o 'fair-play financeiro', achará, por certo, que é só uma coincidência, a UEFA ter como um dos sete patrocinadores oficiais da Champions League a russa Gazprom, que, por acaso, também patrocina o Schalke 04 e que o árbitro do jogo com o Sporting foi também, por acaso, russo..."

Bagão Félix, in A Bola