Últimas indefectivações

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Um mal menor

"Tenho por princípio respeitar a opinião dos outros, seja ou não próxima da minha. Não posso, contudo, ignorar algumas apreciações negativas apontadas aos benfiquistas que alegadamente celebraram a conquista do segundo lugar. Da minha parte, posso garantir que não houve qualquer tipo de comemoração. Não pela classificação em si, altamente positiva olhando para o contexto da última ronda. Apenas não festejei, porque após quatro anos de algazarra já tinha decidido que não iria festejar caso o Benfica fosse campeão, quando mais não o sendo. Isto de andar sempre na farra não faz bem a ninguém. Devemos ser responsáveis e primar pela moderação. O meu pai bebeu tanto champanhe nas últimas épocas, que se for parado numa operação stop, ainda deve acusar álcool no sangue. O único motivo de verdadeiro entusiasmo neste ano é o facto de o meu pai poder desinfectar o organismo.
Todavia, mesmo não havendo qualquer troféu para erguer, parece-me estranho que um benfiquista se incomode ao ver outro benfiquista satisfeito com a subida ao segundo posto mesmo em cima da meta. Podemos ser infantis e apregoar que somente o primeiro lugar interessava; ou ser racionais e entender que a possibilidade de entrar na Liga dos Campeões, especialmente na próxima temporada, poderá ser determinante na saúde financeira do clube. É óbvio que ficar em segundo é lamentável. Assim como é óbvio que ficar e segundo é melhor do que acabar em terceiro. É também por ter alternado entre essas duas posições nas últimas nove épocas que o Benfica respira saúde. Nas nova anteriores, o Benfica tinha sido campeão uma vez, dois segundos lugares, três terceiros, dois quartos (!) e um sexto (!!).
Eu não tenho saudades."

Pedro Soares, in O Benfica

Ficaram os dedos

"Não é próprio do Benfica festejar segundos lugares. A nossa matriz é ganhar, e só nos contentamos com títulos. Por isso, a época de 2017-18 não pode deixar de se considerar falhada. Nenhuma dúvida quando a isso.
Com este pano de fundo, importa perceber que o segundo lugar, desta vez, tinha uma importância acrescida. Depois de vários anos, Portugal voltou a colocar apenas dois clubes na principal competição europeia,  e, paralelamente, a UEFA aumentou os prémios financeiros a atribuir aos participantes. Ficar fora da Champions League, além de um golpe na tesouraria, seria também comprometer, desde já, uma parcela da próxima temporada desportiva. No fim das contas o Benfica assegurou esse segundo lugar, e a possibilidade de entrar mais uma vez na elite do futebol internacional. Há oito anos consecutivos que estamos entre os melhores e é lá que esperamos manter-nos.
Repôs-se alguma justiça, pois foi a nossa equipa que mais luta deu ao FC Porto na corrida ao título. Foi também a nossa equipa que, no confronto directo com o Sporting, mostrou maior qualidade. A vitória que escapou em Alvalade acabou por ser compensada na última jornada. Foi o mínimo que este campeonato, bastante cruel para o Benfica, acabou por nos deixar. Perdidos os anéis, ficaram os dedos, ou seja, a possibilidade de olharmos para a próxima época de frente e com alguma tranquilidade.
Fica agora um enorme desafio: preparar duas importantes eliminatórias, disputadas em ano de Mundial (com tudo o que isso acarreta), e conciliá-las com outros compromissos já assumidos para a pré-temporada."

Luís Fialho, in O Benfica

Futsal e voleibol

"As semanas vão passando, e as conquistas não páram. No passado fim de semana, duas equipas do Sport Lisboa e Benfica escreveram páginas brilhantes na história do nosso Clube. A extraordinária equipa de futsal feminino voltou a deixar a sua marca, em Gondomar, ao conquistar a 4.ª Taça de Portugal, após ter batido, sem apelo nem agravo, o Sporting e a Novasemente. Já escrevi várias vezes sobre o projecto da nossa equipa de futsal feminino, e a única palavra que encontro é sempre a mesma - excelência. Temos um plantel notável, com 15 atletas dedicadíssimas, uma capitã exemplar, a melhor guarda-redes do mundo e uma equipa técnica competente. Como acontece em todos os projectos vencedores, chegará o dia em que a equipa liderada por Bruno Fernandes não irá vencer. A verdade é que esse dia parece nunca mais chegar e ainda bem! A forma como as nossas jogadoras se batem em cada jogo é arrebatadora. Nunca se cansam de ganhar e a ambição de vencerem ainda mais e mais é a verdadeira mística do SL Benfica.
Destaco ainda a nossa equipa de juniores de voleibol, que conquistou o Campeonato Nacional, 18 anos após a conquista do último título. Na fase final, batemos o CD Marienses, o SC Espinho e o Castêlo da Maia. Aliás, esta nossa equipa venceu todos os jogos do Campeonato que disputou - 17. Estes resultados provam que estamos no caminho certo, apostando cada vez mais na formação. Neste momento, temos 12 equipas, desde os seniores B masculinos ao mini voleibol. Temos equipas em todos os escalões masculinos e femininos, à excepção dos seniores, com cerca de 250 atletas."

Pedro Guerra, in O Benfica

Reconquiste o futebol!

"Futebol é sempre futebol! Seja corrido com força atlética ou esbaforido com a vontade a dar o máximo e o corpo cansado para lá dos limites. Sofrido ou prazenteiro, futebol é sempre futebol. É o jogo preferido na infância e continua na juventude e para lá dela, até poder. O futebol está lá quando somos filhos, depois, também, quando somos pais e continua lá quando a natureza nos promove à condição de avós. Está sempre lá, mas vai mudando paulatinamente para cada um, diminuindo a velocidade com que o praticamos e aumentando impiedosamente a nossa condição de adeptos espectadores.
A verdade é que, para a maioria, à medida que o vigor juvenil abandona o corpo, começa-se a andar para manter a linha e a saúde e, uma vez terminada a caminhada, vai-se ao estádio ou liga-se a TV para matar a sede de futebol que não diminui nunca.
É assim, talvez para a maioria, as pode deixar de ser assim para si com o Walking Football e a sua regra fundamental que proíbe os jogadores de correr. Dessa forma os níveis de esforço físico e os impactos da prática do futebol diminuem, ficando novamente acessíveis aos menos jovens que podem prolongar por toda a vida a possibilidade de jogar o grande jogo das paixões.

Por isso, se tem mais de 50 anos, homem ou mulher, e adora futebol, atire-se sem pensar mais e reconquiste o lugar do futebol na sua vida!"


Jorge Miranda, in O Benfica

Estabilidade

"A estabilidade representa um inestimável bem imaterial que tanto pode sustentar organizações poderosas como estruturas frágeis, da mesma forma que pode equilibrar personalidades delicadas ou temperamentos mais inquietos. Da sua imaterialidade nascem, geralmente, práticas e resultados palpáveis na vida própria dos indivíduos e na existência comum da sociedade dos homens, das instituições, das empresas ou dos clubes desportivos. Se um indivíduo permanece centrado em si mesmo, focado no seu trabalho e nos seus objectivos, com a segurança e a tranquilidade que lhe permitem exercer o seu mister e também ressarcir-se física e psiquicamente dos esforços entretanto despendidos, tudo corre bem.
Da mesma forma, quando, no plano interno, um qualquer organismo, ainda que enriquecendo pela diversidade - dispõe das convenientes condições de laboração e da harmonia e da serenidade relacionais, mais resultarão os bons resultados dos esforços colectivos.
O caso, ou melhor, a sucessão de absolutas vergonhas que têm acontecido nos últimos tempos ali, no Campo Grande, constituí o exemplo mais extremo do que alguma vez terá acontecido no futebol português, em resultado da instabilidade - o pólo contrário do equilíbrio, da constância, da perseverança e consistência estrutural - que há longo tempo se instalou e progressivamente tem ferido de morte lenta uma instituição histórica como aquela. Estamos felizes com a bestialidade e a selvajaria a que chegaram? Não. Não podemos estar. Tanto mais que se adivinha que a escalada dos selvagens instigados por um irresponsável não terá um fim próximo.
Ele e eles não sabem - nem querem saber - que jogar e disputar um desafio ou uma competição, mesmo nos torneios dos desportos individuais, sempre será ganhar, empatar ou perder. Quem joga, quem compete, nunca está sozinho em campo.
Mas que nunca esqueçamos que - sabendo respeitar as nossas próprias diferenças - nos mantermos sempre juntos e solidários entre nós, tanto nos momentos da derrota como nas ocasiões festivas da vitória, constitui o inequívoco principio da estabilidade que continuará a nos fazer cada vez mais fortes e cada vez mais vitoriosos."

José Nuno Martins, in O Benfica

«Obviamente, não me demito»

"Foi sem surpresa que Bruno de Carvalho declarou, ontem à noite, que não se demite. Rodeado pelos derradeiros irredutíveis da sua governação, o presidente do Sporting colocou em prática uma agenda que tem apenas um ponto: manter o poder. Pelo caminho, independentemente dos apelos de pessoas que lhe são próximas e das demissões em série de membros dos órgãos sociais, Bruno de Carvalho manteve-se hirto e firme como uma barra de ferro no cadeirão da presidência, alheio ao que ia acontecendo, por exemplo, nos tribunais do Porto e do Barreiro. E, pelo caminho, ainda foi capaz de ignorar olimpicamente os jogadores, vítimas do ataque a Alcochete, ao mesmo tempo que dava mais uma alfinetada a Jorge Jesus (que depois de ter dado a alma pelo projecto do Sporting também teve de dar o corpo) lembrando o nível salarial por ele auferido.
A dois dias da final da Taça de Portugal, a paz social ficou ainda mais longe do Sporting e o caminho da confrontação parece ser o único possível. Em Alvalade, a fuga para a frente de Bruno de Carvalho - cuja presidência está inexoravelmente comprometida - vai agudizar uma crise que pode desaguar numa catástrofe sem precedentes, que levará muitos anos a superar.

PS1 - No meio de tanta coisa desagradável no futebol nacional, uma boa notícia: Iker Casillas vai continuar no FC Porto, contribuindo para uma maior visibilidade da Liga portuguesa.

PS2 - Fernando Santos divulgou as suas escolhas para o Mundial-2018. Por mais que o seleccionador que há em cada um de nós pudesse fazer, pontualmente, diferente, a hora é de dizer: Força Portugal!"

José Manuel Delgado, in A Bola

Valores perdidos

"Ao longo destes últimos anos temos assistido a uma degradação generalizada dos valores fundamentais de uma competição desportiva. O respeito pelos adversários foi desaparecendo, chegando ao ponto de não o termos pelos nossos próprios jogadores, funcionários e adeptos. Os dirigentes no futebol profissional chegam ao topo e apenas lhes interessa ganhar, seja de que forma for, para manterem a posição. O argumento clássico, populista, de que o importante são os adeptos, cria uma manta protectora que provoca divisão, entre estes, suficiente para os manter seguros. A desilusão da derrota, a frustração de não se ter conseguido melhor prestação, o reconhecimento das capacidades de adversário, mas também o sabor da vitória, o golo aos 90 minutos, o desesperar pelo apito final, sempre com o coração a bater em ritmo acelerado, fazem parte de um processo de educação desportiva fundamental para se respeitar os intervenientes no jogo. Falta educação e cultura desportiva no futebol português. Quem não defende de forma fanática um dos três maiores clubes corre o risco de ser considerado inimigo pelas suas próprias gentes. Os adversários são agora inimigos, mesmo que alguns não o digam abertamente, cultivando esse ódio de forma mais subtil.
O clima de violência está instalado há muitos anos, seja nos estádios ou na comunicação social. Vale tudo para defender o clube e o presidente, vale tudo para acusar adversários e seus dirigentes, que passam a ser os causadores principais de todos os males do futebol. os responsáveis por este estado de sítio são muitos, começando pelo poder político, que ao longo dos anos tem medo de se intrometer em matérias que são de interesse público, mas que queimam, invocando o direito ao livre associativismo. Ridículo e cobarde. A cumplicidade dos agentes desportivos com estas situações também não fica atrás. Temos sempre uma desculpa para justificar este clima de ódio. Mas chegou a hora de nos unirmos e dizer basta."

José Couceiro, in A Bola

Nem Luis Buñuel

"Luis Buñuel foi um cineasta espanhol que deixou marca na história do cinema moderno como um mestre do surrealismo. «Um dos seus objectivos foi produzir uma arte que, segundo o movimento, estava a ser destruída pelo racionalismo», pode ler-se na descrição dos fundamentos desta filosofia artística. O que se passa no Sporting é surreal mas está à beira de ultrapassar todos os limites.
Bruno de Carvalho anunciou com pouca pompa mas com toda a circunstância que não se demitia. Nem ele nem o restante Conselho Directivo. O presidente dos leões tem legitimidade estatutária para o fazer, uma vez que o órgão ainda tem quórum e, para todos os efeitos, as eleições no clube foram há menos de um ano. No entanto - e aqui há muitos no entanto - os outros dois órgãos sociais, Conselho Fiscal e Mesa da Assembleia Geral, já se demitiram; o Conselho Directivo também já sofreu baixas, não tem relação com o plantel profissional nem com o treinador; a sua base de apoio mediática caiu toda, e três apoiantes de sempre - José Eduardo, Eduardo Barroso e Daniel Sampaio - já o exortaram a sair; já disse que vai processar o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues; criticou o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o governo, liderado por António Costa; viu o clube ser implicado num escândalo de alegada corrupção e tem uma largíssima franja de adeptos contra si.
Mas há algumas questões que me ousa a deixar: quando olha para o lado, que é que Bruno de Carvalho vê a seu lado? Até quando vai insistir na tese da cabala para o demitir? Qual será a reacção do plantel à sua presença no Estádio Nacional? Se uma boa fatia do plantel rescindir alegando falta de condições de segurança e psicológicas para representar o clube, quem será responsabilizado por esse dano? Eu, confesso, não consigo encontrar respostas para estas questões. Nem eu nem talvez Luis Buñuel, se ainda fosse vivo. Porque até o surrealismo tem um limite."

Hugo Forte, in A Bola

Isto não é futebol

"1 - Os adeptos do Sporting, e quem gosta de verdadeiramente de futebol, estariam longe de imaginar que chegássemos a uma situação destas. Aquilo a que o país assistiu na passada terça-feira, com um ato de vandalismo que culminou em agressões a jogadores e staff técnico dos leões, é inadmissível. Há que juntar todos os esforços para se colocar um travão aos sucessivos casos de violência que temos assistido.
Se a violência entre adeptos já era (e é) um problema de gravidade crescente, verificar que isto ultrapassou todos os limites e chegou a jogadores e treinadores obriga-nos a uma profunda reflexão. Isto não é futebol. Deixar alimentar um clima de medo, com agressões a membros de uma equipa profissional, os verdadeiros artistas da modalidade, não é, de todo, o caminho.
Nos últimos tempos, o Sporting viveu momentos de instabilidade interna, com a visível tensão existente entre presidente, treinador e jogadores, a agudizar-se. E este mau estar ganhou contornos ainda maiores com os sócios a ficarem do lado dos jogadores.
Depois do momento crítico que foi a derrota com o Atlético Madrid, na capital espanhola, as 6 vitórias consecutivas que se seguiram e o empate caseiro com o Benfica, que colocava os leões no 2º lugar da liga, pareciam ter apaziguado as hostes. No entanto, surgiram novas declarações a envolverem o presidente e Jorge Jesus, entrevistas, a derrota na Madeira e reuniões tensas que terão gerado suspensões que depois foram desmentidas. O ar tornou-se irrespirável. E um bando de energúmenos resolveu perpetrar um ato criminoso (que deve ser punido severamente).
Para o Sporting, é o momento de os sócios voltarem a ter a palavra. São eles que devem dizer se querem ou não continuar a ser liderados por Bruno de Carvalho. Devem analisar que condições existem para que o clube volte a ter estabilidade e com que pessoas isso pode ser feito. O actual presidente foi, até há bem pouco tempo, um líder incontestado. É bom não esquecer. Mas alguns comportamentos recentes não foram bem aceites nem compreendidos. E perante tantas demissões, o apoio ao presidente, inclusivamente dos accionistas, é hoje menor. É necessária uma solução para a crise.
Relativamente aos actos de violência, os incidentes de Alcochete são mais um episódio que se junta a outros que infelizmente temos assistido. Os agentes políticos e desportivos garantiram alterações de lei e castigos "doa a quem doer". Há que responsabilizar todas as partes. Como alguém já disse, se os atos de vandalismo nas proximidades dos estádios custassem pontos aos clubes e as penas fossem mais pesadas, a legalização das claques seria um processo mais fácil e os prevaricadores seriam afastados de recintos desportivos até pelos clubes. Haverá disponibilidade de todos os agentes para esta tolerância zero?

2 – A final da Taça de Portugal, que se realiza no domingo, fica marcada pelos acontecimentos desta semana atribulada. Apesar de não terem preparado o jogo da melhor forma, e de não estarem com as melhores condições anímicas para o mesmo, os jogadores do Sporting vão marcar presença no Jamor. Do outro lado, será um dos dias mais marcantes da história do Desportivo das Aves. Que seja, dentro do possível, uma festa bonita.

3 – Estão escolhidos os 23 jogadores que o selecionador Fernando Santos vai levar ao próximo Mundial na Rússia. É uma tarefa sempre difícil, porque ficam sempre elementos preciosos de fora. Mas a partir deste momento, são estes os atletas que vamos apoiar, acreditando que a Selecção tem qualidade e talento para fazer uma boa prestação na prova.

O Craque – A equipa do Sporting
É difícil imaginar o que terá passado pela cabeça de jogadores, treinadores e staff do Sporting, durante aqueles minutos de terror que viveram na Academia de Alcochete. Uma equipa de bons profissionais, que deram sempre o seu melhor e que, esta temporada, estiveram a lutar por todas as competições em que o clube esteve envolvido durante mais tempo do que qualquer outra formação portuguesa. Os resultados nem sempre são aqueles que os adeptos esperam e o Sporting até pode vir a ter um saldo de 2 troféus conquistados. Nada justifica aquele caos. Uma palavra de solidariedade para toda a equipa.

A Jogada – Deixar a justiça funcionar
A semana viu ainda surgir mais um caso a envolver o Sporting, com um alegado esquema de corrupção no andebol e no futebol. Tal como noutros processos que estão actualmente a ser investigados sobre o Benfica, há que assumir sempre a presunção de inocência dos envolvidos e deixar a justiça funcionar, com as autoridades a fazerem o seu trabalho. Se vierem a ser comprovados factos ilícitos, que sejam punidos os infractores. O ideal é que tudo se esclareça e a verdade venha ao de cima. Levantar um dedo acusador na praça pública, e tentar tirar proveito disso, não fica bem a algumas entidades.

A Dúvida – É preciso agir
As suspeitas permanentes que se levantam sobre os jogadores das equipas mais pequenas, afectando a honra e dignidade dos atletas, colocam em causa o normal funcionamento das competições e justificam uma acção dura da Liga e da FPF. Tal como disse ontem, Joãozinho, jogador do Tondela: "alguém tem de por mão nisto. Nenhum jogador quer vir para Portugal. Se erra é porque está vendido. Se acerta está comprado pelos outros clubes." Se os próprios jogadores sentem isto, justifica-se ou não uma tomada de posição? Estão criadas condições para que a próxima época decorra com normalidade?"

O choque selectivo da classe política

"Quando Bruno de Carvalho pôs deliberadamente jornalistas em perigo, a indignação tirava votos  

Algumas das reacções públicas ao ataque a Alcochete têm um lado patético, em particular as que derivam da política. O lado patético, para começar, vem das súbitas indignações para com o presidente do Sporting por ter, de alguma forma, motivado as agressões aos jogadores da sua própria equipa. Não sei se motivou ou não. Mas sei que, em Fevereiro, pôs deliberadamente em risco a pele dos jornalistas (a mesma criatura permeável às barras de ferro, com gémeos menos desenvolvidos) que cobriam uma assembleia geral e nenhum político reparou nisso, como não reparou nos excessos e indignidades que Bruno de Carvalho foi cometendo com regularidade suíça. Depois, até o convidaram para a Assembleia da República. A diferença está num ponto bem claro: defender os jogadores nesta situação é fácil e traz simpatias; defender os jornalistas em Fevereiro hostilizava eleitores. No entanto, teria sido bom que, durante estes cinco anos, algum político tivesse sacrificado uns milhares de votos na tentativa de abrir os olhos aos sportinguistas, em vez de se refugiarem nas generalizações inúteis sobre "o estado do futebol", "o clima" e "os directores de comunicação". A outra parte do lado patético das reacções é a condenação da FPF e da Liga. Os mesmos fulanos que se sentaram a almoçar com Bruno de Carvalho depois do episódio de Fevereiro; que ignoram alegremente as palhaçadas do Instituto do Desporto; que não sabiam, por exemplo, que, por causa deles, a polícia não tem forma de verificar se os adeptos banidos ficam em casa - são essas pessoas que querem a FPF e a Liga a prevenir crimes em vez do Estado?

Nota: isto não significa que os clubes façam o mínimo. No caso do Sporting, correr com a claque Juve Leo do estádio, evidentemente."

Cláusulas de rescisão

"1. Vale a pena ter cláusula de rescisão (CR)?
Esta é uma pergunta bastes vezes colocada, tanto a nível particular como pela generalidade da opinião pública quando uma CR é acionada, como sucedeu na mudança de Neymar para Paris ou poderá vir a suceder com Griezmann para a cidade condal. Já Dybala e a Juventus parece terem prescindido duma disposição desta natureza. Que fique claro: em Portugal não é obrigatório apor no contrato uma CR. A lei permite que jogador e clube possam acordar o direito de este antecipar o termo do contrato mediante o pagamento de uma indemnização. Para o atleta, poderá ser benéfico para evitar as chamadas sanções desportivas caso pretenda antecipar o termo do contrato durante o chamado Período Protegido. Para o clube será sempre uma forma de alertar a concorrência e estipular ‘a priori’ a compensação pela saída de um activo.

2. Qual o teor de uma cláusula de rescisão?
Em Portugal, a cláusula de rescisão deve cumprir os requisitos mínimos legais para que seja considerada uma verdadeira CR. É essencial que seja determinado ou determinável o montante da indemnização em função de critérios estabelecidos para o efeito. Ademais, o teor pode ser mais ou menos definido, consoante o objectivo e se as perspectivas são de curto, médio ou longo prazo. A liberdade não é plena, na medida em que o Tribunal pode reduzir esse valor se for manifestamente excessivo, algo que mais que uma vez sucedeu na vizinha Espanha (se bem que aqui ao lado o regime legal não é exactamente o mesmo). Importa por isso prestar atenção ao teor da CR, bem como às cláusulas com esta interligadas, nomeadamente ao pacto atributivo de competência e à legislação aplicável. Em suma, não basta definir uma CR, sendo conveniente saber de parte a parte o que se pretende proteger e quais os objectivos a atingir."

Alcochete e a lota de Matosinhos

"O essencial da crise no Sporting é que não é uma crise do Sporting (que me desculpem agora os sportinguistas, por lhes tirar também isto). Nem sequer é uma crise do futebol.

No meu artigo da semana passada, a propósito da questão da habitação, defendi que é necessário desconcentrar a Administração Pública central. A título de exemplo, referi que talvez o Instituto Português do Desporto e Juventude pudesse mudar-se para Braga. Quero aqui, desde já, pedir desculpa aos bracarenses por ter sugerido enviar-lhes uma entidade aparentemente ineficaz. Assim de repente, é isso que se pode concluir da intenção do Primeiro-Ministro em criar uma autoridade nacional contra a violência no desporto.
Claro que, pensando um pouco melhor, lembramo-nos que em Portugal esta é a forma típica de “resolver” problemas: arranja-se um novo organismo (naturalmente, em Lisboa) para dividir responsabilidades. Como diz o Nuno Garoupa, “o princípio estruturante do reformismo português [é] mexer no acessório para que o essencial possa prosseguir sem grande sobressalto”.
Ora, o essencial da crise no Sporting é que não é uma crise do Sporting (que me desculpem agora os sportinguistas, por lhes tirar também isto). Nem sequer é uma crise do futebol. Desenganem-se aqueles que acham que o desporto é um mundo à parte. O que nele acontece simplesmente espelha a sociedade que temos (tal como as redes sociais). Eventualmente, com maior veemência; certamente, com mais tempo de antena. Na substância, os acontecimentos desta semana em Alcochete não diferem dos da lota de Matosinhos em 2004.
Uns e outros são fruto de um país que, volvidos mais de 40 anos, ainda não aprendeu a ser democrático na acepção mais genuína da palavra. Ou seja, lida mal com o pluralismo, confunde crítica com ataque pessoal e é incapaz de ter um debate centrado nas ideias e no esgrimir de argumentos. Infelizmente, as claques e a sua violência não estão confinadas aos complexos desportivos.
Segundo Maquiavel, “aquele que abandone o que se faz por aquilo que se deveria fazer aprenderá antes o caminho de sua ruína do que o de sua preservação”. Um pouco nesta senda, Bruno de Carvalho disse que tínhamos de nos habituar a que o crime faz parte do dia-a-dia. Não, não temos. Não podemos, aliás. Mas agradeço a afirmação, que explana tão bem aquele que é o pensamento de muita gente, o de que a nossa atitude perante as injustiças do mundo deve ser a de aprender a viver com elas. Há até um ditado popular que nos recomenda que nos juntemos a quem não conseguimos vencer. E isso é capaz de explicar umas quantas coisas. Que tenhamos aguentado uma ditadura durante meio século, por exemplo.
Agora que muitos renegam o Presidente do Sporting (fazendo lembrar outros repúdios), talvez possamos enjeitar igualmente o seu apelo ao conformismo e não nos ficarmos apenas pela recusa de tareias a jogadores. Não nos habituemos à corrupção, à inimputabilidade, à pobreza, à discriminação, aos ataques à liberdade de expressão e, de um modo geral, a tudo quanto acharmos que não deveria suceder. Deixemos de ser maquiavélicos."

A bem do Sporting

"Bruno de Carvalho não se demite. Perdeu a Mesa da Assembleia Geral. Perdeu o Conselho Fiscal e Disciplinar. Perdeu quatro elementos do Conselho Directivo. Mas a bem do Sporting não se demite. 
O Sporting tem um plantel que já não consegue ver o presidente à frente. Vai à final da Taça de Portugal com um treinador que está despedido. Um director desportivo detido e acusado de 18 crimes de corrupção. Uma massa associativa incrédula com tudo o que se está a passar. Mas a bem do Sporting Bruno de Carvalho não se demite.
O maior investidor individual do Sporting, a Holdimo de Álvaro Sobrinho, pede a demissão imediata de Bruno de Carvalho. Eduardo Barroso, companheiro de sempre e amigo de todas as batalhas, pede a demissão de Bruno de Carvalho. José Eduardo, fiel escudeiro na guerra com Marco Silva, pede a demissão de Bruno de Carvalho. Daniel Sampaio, o homem que teve a coragem de fazer cair Godinho Lopes e um papel activo até há dias, pede a demissão de Bruno de Carvalho. Mas a bem do Sporting Bruno de Carvalho não se demite.
A ideia de Bruno é ganhar a Taça de Portugal, lançar o empréstimo obrigacionista e passar incólume a AG que o tentará destituir. A bem do Sporting, que o povo fale bem alto."

Bruno de Carvalho e o mesmo fim de Jake LaMotta

"À semelhança d’“O Touro Enraivecido, parece evidente que Bruno de Carvalho e os seus capangas vão acabar mal, até porque a justiça vai querer fazer do acontecimento um caso exemplar. Até para que não se repita.

uma cena memorável no filme “O Touro Enraivecido” que me persegue até hoje. A personagem de Jake LaMotta, interpretada magistralmente por Robert De Niro, depois de ter sido campeão do mundo e de ter tido o mundo a seus pés, acaba na miséria, fruto da porcaria que tinha feito. Rico e mau, Jake ia esmurrando tudo e todos, principalmente a mulher, e não tinha respeito por ninguém, nem pelo dinheiro. Quando estava na miséria, como comediante de um bar que podia ser no Cais do Sodré do final dos anos 80, Jake encontra, salvo erro, o irmão e pergunta-lhe por que razão este nunca lhe chamou a atenção para as suas brutalidades e devaneios. Penso que o irmão lhe virou as costas sem lhe dizer nada, já que não tinha feito outra coisa no passado que não fosse repreendê-lo e chamá-lo à razão.
Vem esta conversa toda a propósito de Bruno de Carvalho: não sei se os seus defensores lhe foram chamando a atenção para onde caminhava, o abismo, ou se lhe davam palmadas nas costas. Certo é que o presidente do Sporting cavalgou uma onda completamente louca – nem na Nazaré existem desse tamanho – e agora é certo que irá chocar com as rochas quando se aproximar da terra.
O que se passou em Alcochete seria impensável sem o consentimento, nem que fosse velado, de Bruno de Carvalho. Os trogloditas que invadiram o balneário onde estavam os jogadores do clube nunca teriam hipótese de o fazer se a direcção não lhes tivesse dado gás e não lhes tivesse escancarado as portas da academia. Digamos que os adeptos agressores se portaram como os arruaceiros que acompanhavam Jake LaMotta quando este ainda tinha dinheiro e espalhava o terror. À semelhança d’“O Touro Enraivecido, parece evidente que Bruno de Carvalho e os seus capangas vão acabar mal, até porque a justiça vai querer fazer do acontecimento um caso exemplar. Até para que não se repita.

P. S. Os defensores de Bruno de Carvalho bem podiam pedir desculpa às vítimas do presidente que foram achincalhadas ao longo de cinco anos. Ficava-lhes bem."

A responsabilidade dos políticos

"Os nossos virtuosos políticos, em vez de manterem uma saudável distância que a dignidade da sua função exige, atropelam-se uns aos outros para ver qual mais ostenta o seu particular amor clubístico. 

Com a idade, uma pessoa apanha-se a achar cada vez menos graça às criaturas que gostam de passar por malucas e a ter mais medo daquelas que o são de facto. Não sei, nem quero saber, a qual das categorias pertence Bruno de Carvalho, o presidente do Sporting. O que sei é que, voluntária ou involuntariamente, criou uma trapalhada muito mais grave do que as usuais trapalhadas do futebol, que, Deus sabe-o, são muitas. E, aparentemente, não se deu ainda conta disso. Porque alguém que comenta o que se passou em Alcochete, dizendo que foi “chato”, mas que “o crime faz parte do dia-a-dia”, manifestamente não percebeu aquilo que foi feito aos jogadores e à equipa técnica. Já agora, e depois de dois dias a ver televisão, não me parece que Jaime Marta Soares, o presidente da Mesa da Assembleia Geral, tenha igualmente estado particularmente bem. Com a agravante de ele ser também presidente da Liga dos Bombeiros. Não tranquiliza.
A corrupção no futebol nunca me preocupou muito, incluindo aquela de que agora o Sporting é agora acusado. Há outras corrupções mil vezes mais graves, como se sabe, e a imaginação não dá para tudo. A violência é outra coisa completamente diferente. Dir-se-á que a selvajaria no futebol, generosamente distribuída pelos vários clubes, conheceu já momentos de violência extrema. Claro, mas a imagem dos membros daquela delegação sportinguista do Hamas a aproximarem-se de Alcochete leva-nos a patamares diferentes. Uma imagem que nos faz dar graças por ninguém ter sido morto por aquelas bandas.
O que é que isto diz de Portugal? Não nos diz, creio, nada de particularmente novo sobre os adeptos portugueses. A barbárie de muitos deles é há muito conhecida e não constitui, para o bem e para o mal, nenhuma originalidade nacional. Dirá alguma coisa sobre o eventual fanatismo de gente mais pacata? Duvido. O futebol é um domínio onde, se a coisa se limitar ao convívio privado, a parcialidade, a indiferença para com a objectividade e até, e sobretudo, a alegria maligna com as desgraças dos outros, não fazem mal a ninguém. Dantes (sou do Porto) divertia-me imenso com os azares do Benfica. Hoje em dia é-me tudo muito mais indiferente, mas claro que não me reprovo retrospectivamente. Tenho é saudades desses pequenos prazeres fáceis.
A culpa será dos programas televisivos de meta-futebol? Disparate. Admito que haja entretenimentos mais saudáveis do que ver pessoas crescidas a irritarem-se umas com as outras por causa da bola ou a perorarem solenemente sobre a “verdade desportiva”. Mas, bem vistas as coisas, não é por aí que vem grande mal ao mundo. Além disso, em certas noites menos felizes até diverte. Saudades da antiga “Bancada Central” da TSF.
Claro que se pode dizer que uma cultura que fomenta um interesse desproporcionado dos indivíduos por algo que não depende deles (a vitória do clube A ou B) tem algo de desrazoável. Bom era as pessoas preocuparem-se muito mais com com aquilo que depende delas, que é a condição primeira do exercício da deliberação, um exercício que é quase um outro nome da liberdade. Mas isso tem a ver com a nossa condição antropológica presente e não se pode mudar a cultura inteira por decreto.
Há, no entanto, uma classe que mais verosimilmente se candidata a responsabilidades em matérias de delinquência futebolística, a classe dos nossos virtuosos políticos. Em vez de manterem uma saudável distância que a dignidade da sua função exige, atropelam-se uns aos outros para ver qual mais ostenta o seu particular amor clubístico. A coisa é sem dúvida pagante em termos de votos, mas a atitude geral tem provavelmente uma mais profunda razão de ser: o gosto espontâneo pelo folclore e pelo namoro com o que pensam que é o povo, além da secreta suspeita que o que eles fazem é menos importante, para o povo em questão, do que aquilo que faz a gente do futebol.
Vê-los por estes dias a proclamar a sua indignação pelo episódio de Alcochete provoca um certo sentimento de irrealidade. Porque a prática sistemática de um populismo que não ousa dizer o nome cria uma boa parte das condições para que se crie uma cultura permissiva em relação às ilegalidades várias do futebol. Claro que isso não conduz de forma directa à violência e menos ainda à violência extrema de Alcochete. Mas faz alguma coisa para a contrariar? Certamente que não, até porque traz consigo uma palpável perda de autoridade. E a classe política não tem, desde há muito, a responsabilidade fundamental de a contrariar? Certamente que sim."

Confissões de um adepto arrependido

"Não me preocupei com o facto de as autoridades desportivas e o poder político continuarem a reflectir sobre a violência no desporto sem tomarem medidas concretas

Sou do Sporting desde que me lembro de ser gente. Adoro o jogo chamado futebol.
Vibro com as vitórias do meu clube e fico triste com as derrotas. Tudo normal, portanto.
Hoje, no entanto, decidi reflectir sobre a condição de adepto. Inspiro-me num conhecido poema de Brecht que começa assim: “Primeiro levaram os negros mas não me importei com isso. Eu não era negro.”
Pois bem. Também eu não me importei quando o meu clube ganhou com um golo ilegal.
Não me importei quando o árbitro assinalou um penálti que não existiu e nos deu a vitória. Não me importei, e até achei graça, quando os argentinos celebraram aquele golo do Maradona que ficou na história como “a mão de Deus”.
Também não me importei quando as claques do meu clube começaram a usar cânticos que insultavam os adversários.
Não me importei quando vi dirigentes de claques ostentarem sinais de súbita prosperidade.
Não me importei com episódios de violência gratuita.
Não me importei com as tochas atiradas para a relva.
De repente, um adepto é barbaramente assassinado ao ser atropelado intencionalmente. Fiquei um pouco preocupado.
Ainda assim, não me preocupei com o discurso agressivo de alguns dirigentes do futebol, incluindo do meu clube.
Não me preocupei com os inúmeros debates circenses emitidos nos canais de notícias das diversas televisões e que dizem ser sobre futebol.
Não me preocupei quando indivíduos de outras claques ameaçaram jogadores dos seus clubes. Eles não eram do meu clube.
Não me preocupei com o facto de as autoridades desportivas e o poder político continuarem a reflectir sobre a violência no desporto sem tomarem medidas concretas.
Agora, meia centena de criminosos invadiram a academia de treino do meu clube, agrediram jogadores e treinadores e destruíram instalações.
Agora fiquei preocupado. Mas talvez já seja tarde. Citando de novo Brecht, “como não me preocupei com ninguém, ninguém se preocupa comigo”."

O futebol já não é deste mundo

"O futebol tornou-se um mundo aparte, onde as leis e as regras não se aplicam. É por isso que, por vezes, parece que Alvalade fica na Venezuela e Alcochete na Síria.

Deve ter sido por volta de 1949, numa palestra radiofónica, que o capitão Jorge Botelho Moniz avançou esta tese (cito de memória): se em 1910 já houvesse um campeonato de futebol, como havia nos anos 40, nunca teria acontecido a revolução republicana em Lisboa. O seu raciocínio era este: em 1910, o republicanismo na capital arrastava para comícios, discussões e zaragatas o tipo de pessoas – caixeiros do comércio, trabalhadores das oficinas e serviços urbanos, empregados de escritório, etc. – que, trinta anos depois, iam aos estádios e discutiam e brigavam, não por causa da monarquia e da república, mas por causa do Benfica e do Sporting.
Esta teoria seria perfilhada muito seriamente pela oposição anti-salazarista, que sempre viu no futebol, ao lado do fado e de Fátima (os três F), um dos instrumentos da ditadura para distrair as massas dos seus deveres revolucionários. A multidão lisboeta que a 1 de Maio de 1974 saiu à rua a vitoriar o MFA, ainda umas semanas antes, a 31 de Março, festejara entusiasticamente Marcello Caetano no estádio de Alvalade, durante um Sporting-Benfica. Tinha sido preciso um golpe militar para quebrar o encanto.
Esta semana, não sei o que diria o capitão Botelho Moniz. A sua teoria está confirmada, no sentido em que é à volta dos clubes que as pessoas se permitem hoje em dia experimentar emoções fortes, como o tribalismo e o facciosismo outrora associado à política, à religião ou à aldeia no tempo das lutas de varapau. Mas precisamente por disso, aconteceu algo não previsto na teoria: o futebol tornou-se também uma das vias pela qual, contra a educação e a propaganda dos regimes em que vivemos, esses instintos fatais arranjaram modo de persistir e de regressar. De modo que é agora por causa do futebol que estamos à beira, não digo de uma revolução, mas de alguma comoção de Estado.
Ainda não tivemos uma guerra com pretexto num jogo de futebol, como as Honduras e El Salvador em Julho de 1969, mas já temos “terrorismo”, como se viu no assalto militarizado às instalações do Sporting em Alcochete. É nas claques do futebol que aqueles que gostariam de ser guerreiros de uma tribo do Amazonas hoje encontram a sua floresta. É também no futebol, que políticos de segunda linha, empresários suburbanos, ou advogados anónimos têm a sua oportunidade de fazerem de Césares com os seus circos.
A mania de ver no futebol uma espécie de nova religião não ajuda, porque manifestamente inibe as autoridades. Todos receiam mexer no novo ópio do povo. Assume-se, por isso, que nada pode acontecer a um clube de futebol, aos seus dirigentes e adeptos. É essa impunidade que explica como, de repente, temos demagogos a presidir a clubes, mafias a organizar jogos, e adeptos que são terroristas. Há obviamente, em qualquer sociedade, por mais bem formada, gente cuja vocação é ser demagogo, mafioso, ou terrorista. Se não fosse no futebol, seria em outra coisa qualquer. A questão está na possibilidade que o futebol lhes dá para serem tudo isso impunemente. Por isso, parece por vezes que Alvalade fica na Venezuela e Alcochete na Síria.
O futebol tornou-se um mundo aparte, onde as leis e as regras não se aplicam. Há quem, por essa razão, queira agora mudar Portugal, o mundo e a natureza humana. Não digo que não desse jeito. Mas antes disso, experimentem este remédio mais simples: sujeitem o futebol à lei, com todo o rigor. A primeira vez que um clube fosse dissolvido por dívidas, despromovido por batota, ou banido por causa da violência dos seus adeptos, fosse esse clube grande ou pequeno, voltaríamos talvez a ter apenas um desporto."

Sou do Sporting até morrer, mas jamais morreria pelo Sporting

"Com o tempo, fui percebendo que ser do Sporting não é querer ganhar sempre. Bem pelo contrário, ser sportinguista é acreditar que fazemos parte de algo que é maior que nós próprios

Sou do Sporting, adepto e sócio, o meu pai é adepto do Benfica, a minha mãe é sportinguista, a minha avó materna é do FC Porto, os meus falecidos avôs eram também, ambos, portistas. O meu sogro é do Belenenses, tal como outros bons amigos meus, e o avô da minha mulher é do Atlético. Tenho pelo menos um grande amigo sócio bastante activo do Boavista, conheço um par de pessoas adeptas, à séria, do Braga e tenho um amigo muito próximo que é um conhecidíssimo comentador desportivo do Benfica. Sei bem o que é respeitar a diferença.
Não sou o adepto que vai sempre ao estádio. Gosto de ir ao estádio, mas também gosto do sofá e da Sport TV lá de casa. Sofro com o Sporting, mas tenho o discernimento suficiente para saber que só um idiota é que se zanga com as outras pessoas por causa de futebol. No fundo, sou aquilo a que se pode chamar um adepto normal. Essa espécie que parece cada vez mais rara. Muitas vezes, enquanto vejo futebol, dou comigo a pensar qual será a razão para ter escolhido o Sporting.
Muito provavelmente foi influência dos meus tios, maternos e paternos, todos eles adeptos fervorosos. Mas acho que isso não explica tudo. Não explica o facto de ter crescido praticamente sem ver o meu clube do coração ser campeão e, mesmo assim, começar sempre cada nova época crente de que “este ano é que é”. Não explica ter nascido e vivido toda a infância e adolescência no norte do país, vendo o FC Porto ganhar tudo e mais alguma coisa, enquanto passava o dia rodeado por orgulhosos jovens portistas.
Com o tempo, fui percebendo que ser do Sporting não é querer ganhar sempre. Bem pelo contrario, ser sportinguista é acreditar que fazemos parte de algo que é maior que nós próprios. É acreditar que vale a pena ganhar menos vezes para fazer parte de uma família especial. É acreditar que o desporto é muito mais que o futebol e que um grande clube não pode menosprezar as suas modalidades. É saber que ser sportinguista não é querer ser igual aos benfiquistas ou aos portistas.
O que se passou na passada terça-feira não é sportinguismo. Está muito longe da maneira de estar no desporto que define um adepto do meu clube. É um grave caso de polícia, mas é também o culminar de um clima de ódio que nos últimos tempos parece ter invadido a nossa família. Pior do que isso, é o culminar de um clima de ódio que nos últimos anos tomou conta do mundo desportivo português.
Até quando vamos permitir que este clima de medo e raiva impere? Até quando as televisões e os jornais vão compactuar com isto? Até quando os clubes vão continuar a incentivar este tipo de atitudes?
Mais cedo ou mais tarde, alguém terá de dar um murro na mesa e dizer basta. O desporto é saudável e é capaz de unir os povos de uma forma absolutamente única e, tantas vezes, comovente. Mas o desporto não é, nem pode ser, este tipo de atitudes. É hora de os adeptos normais, de todos os clubes, darem um cartão vermelho ao fanatismo e dizerem em uníssono: sou do meu clube até morrer, mas jamais morreria pelo meu clube."

O desporto sem rei nem roque

"Temos uma espécie de repetição do momento "afinal, Sócrates era um patife", mas desta vez com o desporto-rei. Provavelmente, a seguir, vamos ver a ex-mulher de Bruno de Carvalho vir dizer que ele enganou toda a gente.

Depois de um adepto assassinado junto ao Estádio da Luz, estádios com bancadas que ameaçam cair e afinal são sólidas, cânticos de alegria sobre mortos por "very-lights" e aviões com equipas que deviam ter caído, invasões de campo e agressão a jogadores, visitas da PJ a vários estádios, programas de TV com ameaças físicas, claques ilegais, e de um grupo de trinta adeptos encapuzados, em Janeiro, ter invadido o treino do Vitória de Guimarães e agredido vários profissionais do clube, finalmente, após o nojento ataque a Alcochete e aos jogadores do SCP, praticado por 50 bisontes ligados à Juve Leo, o Governo acordou para o estado do futebol português. Temos uma espécie de repetição do momento "afinal, Sócrates era um patife", mas desta vez com o desporto-rei. Provavelmente, a seguir, vamos ver a ex-mulher de Bruno de Carvalho vir dizer que ele enganou toda a gente.
Em pouco tempo, falaram Marcelo, Costa e Ferro Rodrigues. Só faltou falar o Salvador Sobral e teríamos as mais altas figuras do país a comentar o caso.
O presidente da AR, Ferro Rodrigues, disse que não ficaria surpreendido se a final da Taça de Portugal se realizasse à porta fechada ou em Vila de Aves e responsabilizou Bruno de Carvalho pelos incidentes: "Põe em causa o país." Que pena não ter sido tão rápido a julgar Sócrates. Imagino que se Bruno de Carvalho fosse deputado e tivesse dado a morada de Alcochete para receber subsídios de deslocação, Ferro Rodrigues diria "nunca alinhei, não alinho e não vou alinhar em dinâmicas que apenas visam diminuir a representação democrática com julgamentos éticos descabidos e apressados".
Já o PM, António Costa, admitiu criar uma autoridade nacional para a violência no desporto. Esperemos que corra melhor do que com os incêndios. Uma coisa é certa, sabemos há uns tempos que António Costa anda a pensar nisto da segurança no desporto. Talvez por isso tenha pedido bilhetes para ficar na tribuna de honra no Benfica-Porto (ao lado do maior devedor do Novo Banco que tinha sido vendido no dia anterior, por tuta-e-meia devido às imparidades) - porque é o local mais seguro do estádio.
Também o Presidente da República veio falar do caso, mostrando-se chocado e exigindo que os suspeitos do ataque sejam rapidamente levados à justiça, até porque neste caso podemos estar à vontade dado que, segundo se sabe, não há nenhum cidadão angolano envolvido na invasão que possa atrapalhar as nossas relações com Angola.
O Presidente também acrescentou que ainda não sabe se vai assistir ao jogo da final da Taça. Marcelo, segundo as notícias, está incomodado com a possibilidade de se sentar ao lado de Bruno de Carvalho. Se calhar, o melhor é o nosso PR convidar o Salgado para o jogo no Jamor e sentar-se ao lado dele, como fazia no Estoril Open. Assim, já não sente incómodo.
Imagino que, de agora em diante, depois do ataque a Alcochete e com o futebol tão mal visto, os políticos vão deixar de pedir bilhetes para a bola e começar a meter cunhas a pedir camarotes para a ópera ou o teatro. É um final feliz."

O perigo dos jornais não é escreverem, é calarem-se

"Quase sempre as notícias sobre os grandes casos acabaram por se confirmar, mas sempre que surgem informações sobre uma nova investigação aparecem de imediato as teorias da conspiração a pôr em causa os interesses dos jornalistas e dos média que as escrevem. Porque não se dá o benefício da dúvida aos jornais na mesma proporção que se invoca a presunção de inocência para os suspeitos? Evitavam-se muitas mudanças de posição por parte de quem começa por pôr as mãos no fogo

Todos os grandes casos têm começado com um culpado claro: a imprensa. Os jornais, que querem sangue para com isso vender. Os jornalistas vendidos que lançam boatos para favorecer A ou B.
A maioria desses casos, no entanto, chegam ao fim confirmando muito do que se escreveu e disse. Eu interrogo-me quase sempre: porque não se deu no início um benefício da dúvida aos meios de comunicação social proporcional à presunção de inocência que se invoca para pessoas que nesses casos são suspeitas dos mais graves crimes económicos? Que se critique a violação do segredo de justiça, claro, mas que se descredibilizem profissionais e instituições dizendo que se trata de falsidades escritas por vendidos não se pode aceitar (só se tal se provar no final).
Sempre que estão envolvidas diversas facções, os trabalhos jornalísticos são elogiados pelos que se querem aproveitar do mal alheio e atacados pelos visados e quem os apoia.
Quem não se lembra do caso Sócrates e das tantas e tantas vezes que a imprensa foi acusada de mentir, de expor a vida de um ex-primeiro-ministro sem motivo e de com isso querer apenas vender? Quantas e quantas vezes muitos dos que o apoiaram durante anos vieram a terreiro atacar a imprensa com os argumentos do visado, dizendo que os jornalistas estavam a cometer crimes e a servir a direita. Depois mantiveram que era a justiça que estava a cometer crimes e a servir a direita. Houve também, obviamente, quem se aproveitasse, porque dava jeito à sua facção.
Mas o certo é que é cada vez mais claro que os factos existiam mesmo. E, agora, até muitos dos que defendiam o ex-primeiro-ministro se insurgem contra o seu modo de vida – que até há alguns meses viam como normal.
É interessante perceber como em Portugal somos dados a teorias da conspiração em relação aos média. Tudo isto vem a propósito do que está a acontecer no mundo do futebol. Recordo-me das críticas à imprensa quando surgiram as primeiras notícias sobre o caso dos emails do Benfica – colando a “Sábado” ao FC Porto – e dos ataques a cada informação sobre inquéritos em curso a visar responsáveis do Sporting e do Porto.
A imprensa só era elogiada por aqueles a quem dava jeito determinada notícia. E, enquanto assim for, a sociedade não pode reclamar do jornalismo, porque cada um de nós vive inclinado, cego e sempre pronto para duvidar de tudo o que é tornado público e vai contra as nossas emoções ou paixões. Nós somos assim, temos sido assim. E só sendo assim é que se pode explicar que alguns tenham aplaudido a iniciativa de Bruno de Carvalho quando este pediu aos sportinguistas para só verem a Sporting TV, para ignorarem o jornalismo.
Neste momento, tal como noutros grandes casos, já não se põem em causa muitas informações que foram divulgadas na imprensa sobre o Sporting. Outras ainda levarão algum tempo a deixarem de ser consideradas produto de jornais vendidos – lembro-me daquilo que o “Sol” noticiou em dezembro sobre uma investigação a responsáveis do FC Porto e do Sporting por alegadas ameaças e pressões a árbitros de futebol – informação na altura confirmada pela Procuradoria-Geral da República, mas amplamente criticada. O mesmo em relação ao Benfica e às ligações às operações E-toupeira e Lex – investigação que está em curso e que levou inclusivamente a buscas à SAD do Benfica.
Não sou dos que acham que não há nada a mudar no jornalismo e na forma como é feito hoje – há, claro –, não sou dos que pensam que todos os jornalistas são sérios – não, não são. Mas o verdadeiro perigo dos jornais não é escreverem (expondo-se ao contraditório e arriscando que a verdade os desminta), é calarem-se, omitirem informações de interesse público."


PS: Concordo, com quase tudo... o importante é o jornalista, ter cuidado em distinguir propaganda, de notícia! Copiar comunicados de imprensa de uma das partes envolvidas não é jornalismo, isso qualquer computador faz... Investigar, verificar a credibilidade da informação, permitir o contraditório... e no final usar o bom senso...!!!

A fogueira das verdades

"As vitórias no futebol, em Portugal, são uma boa desculpa para a falta de ideias. Bruno de Carvalho é só a ponta do icebergue do que é o futebol neste país.

Desapareceu há dias Tom Wolfe, o autor de "A Fogueira das Vaidades", olhar clínico e único sobre a ascensão de queda de um "broker" de Wall Street na chamada época de ouro do capitalismo financeiro, na década de 1980. Wolfe era um verdadeiro "dandy", símbolo do "novo jornalismo" (a designação para uma série de autores que utilizava as técnicas do jornalismo para escrever obras que cruzavam reportagem e ficção, e donde surgiram nomes como Truman Capote, Norman Mailer ou Gay Talese). Fã de Balzac ou Dickens, que retrataram como poucos as sociedades de Paris e Londres, ele fez o mesmo ao "american way of life". Era um provocador.
Faz falta alguém como Wolfe que retrate estes longos anos de promiscuidade entre dirigentes do futebol, políticos e alguns empresários. Falta uma "Fogueira das Verdades". É por isso que soa a um grande vazio a declaração de António Costa de que se vai avançar para uma alta autoridade contra a violência no desporto. Pergunta-se: para quê? Os problemas estão identificados. As opções para os combater são óbvias. Isto só sucede porque o Estado abdicou da sua acção (basta ouvir o secretário de Estado do Desporto, a dizer o óbvio, para se perceber isso), e a Liga de Clubes é um trapézio de equilíbrios que não conduzem a lado algum (basta ver a rábula da repromoção do Gil Vicente).
Há alguns anos, o Sporting pareceu anunciar um novo mundo ao futebol indígena. Os seus dirigentes, pioneiros em Portugal nesta estratégia, vestiam os fatos de executivos e diziam que tinham um "projecto": tornar o clube um projecto empresarial. De mercearia iria transformar-se numa SAD. Era uma profecia que iria causar um tremor de terra no futebol português. Todos ficaram à espera de encontrar ali a solução para os vírus que contaminavam a actividade desportiva. Os clubes iriam finalmente transformar-se em sociedades anónimas, os presidentes em empresários, os jogadores em "activos".
O Sporting parecia ter descoberto o caminho marítimo para um futuro radioso. Apostou em jovens craques que, depois de colocados no mercado, pagariam o exercício e investir em escolas de formação. Mas, com o passar dos anos, a que fomos assistindo? O "projecto" foi-se desmoronando. Os presidentes sucederam-se, quase sempre escolhidos por quem na sombra ia financiando os "projectos", como o foi o de Bruno de Carvalho. Espanta agora ver alguns dos que criaram Bruno de Carvalho estarem a pedir-lhe que se demita porque "mudou nos últimos seis meses". Se isto não é uma anedota, não se sabe o que será. Percebe-se o desconforto de Marcelo Rebelo de Sousa sobre ir ao Jamor no domingo: como se pode sentar ao lado de Bruno de Carvalho? Era o desprestígio final do Estado democrático.
O que custa é que toda esta tragédia tem a ver com a cumplicidade política com os dirigentes do futebol, porque isso traz votos e fotografias ao lado de craques. As vitórias no futebol, em Portugal, são uma boa desculpa para a falta de ideias. Bruno de Carvalho é só a ponta do icebergue do que é o futebol neste país. Onde o populismo reina e ameaça o Estado democrático. E isso só acontece porque este se demitiu de ultrapassar clubismos e actuar a sério para fazer regressar a moralidade a um mundo que parece viver fora da lei. Em Alcochete, mas não só. E que criou uma cultura de ódio que atravessa toda a sociedade."

Bruno, o Irmão Metralha

"Nas famosas histórias aos quadradinhos que a Disney eternizou existia uma quadrilha de ladrões, trapalhões e maldosos que davam água pela barba ao Tio Patinhas, Mickey e Coronel Cintra mas que acabavam sempre com resultados frustrantes e inócuos. É também esse o caso de Bruno de Carvalho. Referi aqui, há uns meses, que tal qual o Manifesto Anti-Dantas de Almada Negreiros, se Pedro Guerra era do Benfica, eu queria ser de outro clube qualquer. Chega-nos, por isso, agora, em formato “cereja em cima do bolo”, o cheiro fétido daquilo em que se tornou o futebol português: uma autêntica lixeira a céu aberto.
Parece-me, no entanto, que ainda vamos no princípio da novela e muitas cenas do enredo estarão ainda por contar. Parece-me, contudo, estranho, mesmo com todas as ameaças que sei estarem a ser feitas, só agora a restante direcção e órgãos do clube estarem a acordar do estado de letargia reinante. Ficarão, por isso, muitos deles, por muito que saltem agora do barco, indissociavelmente ligados a toda esta vergonha nacional. Deixarem chegar a este estado não tem qualquer tipo de desculpa perante um personagem que ficará para sempre ligado ao lado mais negro do Sporting Clube de Portugal e do desporto do nosso país. Não sejamos ingénuos: a falta de carácter e as atitudes abjectas deste escroque sentem-se ao longe, por isso mesmo não venham agora dizer que foram enganados. 
Caem assim as últimas bandeiras de um clube que pouco tem ganho mas que se arrogava ser o campeão da transparência e da verdade desportiva e com uma massa associativa educada, culta e pacífica. E é um verdadeiro nojo ver o que este presidente fez a tantos e tantos adeptos que amam verdadeiramente o clube e que sofrem com tudo isto, que se sentem enganados por terem acreditado num mitómano e nos seus capangas, num arruaceiro sem nível que se vai agarrar ao poleiro como última tábua de salvação e a quem auspicio um fim nada agradável de se ver. Porque a História mostra--nos que quando alguém cai, desaparecem muitas das mãos que o sustentavam e que a mesma boca que serviu para o defender servirá, dentro de pouco tempo, para “lhe cuspir” em cima sem dó nem piedade.
Iremos dentro de pouco tempo perceber quem este ser sem escrúpulos levará no barco com ele, porque isto não irá acabar aqui e porque os esquemas de corrupção, a serem provados, supostamente irão desaguar no presidente. Será por isso fácil descortinar que o Irmão Metralha estará destinado a ver, também ele, o céu aos quadradinhos dentro de pouco tempo. É que, segundo sei, ainda muito estará por se saber. O Sporting, esse, irá passar um mau bocado, mas jamais acabará. Porque os grandes são movidos pela paixão e por uma força interna que não é do domínio das palavras. Sente-se e pronto.
Urge, por isso, começar a reconstruir o que se estragou, e que sirva de lição para o futuro. Que se faça de vez uma limpeza neste e noutros clubes porque a dinâmica está toda errada e estarão todos envolvidos de uma forma ou de outra.
É tempo de respeitarem mais quem sofre por este desporto apaixonante, sobretudo os milhares de crianças que adormecem todos os dias com o equipamento vestido e que choram pela sua cor. Está na altura de mudarem as mentalidades e os costumes. Parem de chafurdar na lama, que o exemplo não pode ser este. Quanto ao Bruno, “é chato” mas vai embora para nunca mais voltar. Se queria ficar com o epíteto de maluco, perdeu-se pelo caminho. Fica com o de burro que teve tudo e não soube aproveitar."

O dia em que Portugal assistiu à barbárie

"O bárbaro ataque ao centro de estágio do Sporting não pode ficar sem consequências criminais. Um dos instigadores destes actos selvagens é o presidente de uma empresa cotada em bolsa, que ainda não foi destituído.

As cenas de terror a que assistimos no centro de estágio de Alcochete, com uma horda de bárbaros a invadir o recinto, a intimidar jornalistas, seguido de um ataque selvagem a jogadores e corpo técnico, num balneário, são actos imperdoáveis. Danificam a imagem de um clube, ameaçando mesmo o seu nível competitivo, com graves prejuízos financeiros, além dos criminosos ataques à integridade física das vítimas. O futebol é das indústrias mais relevantes em Portugal, no contexto externo. Não é por acaso que os actos de selvajaria foram notícia em todo o mundo, nos jornais de referência, o que coloca este país no rol dos destinos exóticos com adeptos fanáticos e perigosos, ainda pior do que a Turquia. A imagem de um país de brandos costumes, um dos mais seguros do mundo, saiu penalizada por um acto irresponsável de meia centena de "hooligans".
Mas estas cenas condenáveis não teriam existido se antes não tivesse havido a instauração de um autêntico clima de guerra civil por parte do presidente do clube e da SAD. Bruno de Carvalho lidera uma empresa cotada em bolsa e é o presumível autor moral deste ataque. Numa empresa normal, os accionistas já o teriam destituído. Como já escrevi a propósito de uma (outra) recente crise leonina, a liderança da SAD depende do controlo do clube. Os restantes elementos da direcção compactuam com Bruno de Carvalho, porque, tal como ele, na sua maioria dependem do emprego no clube ou nas sociedades participadas pelo Sporting. Na prática, são funcionários que têm nas suas mãos o destino de uma centenária e prestigiada instituição, que eles próprios enlamearam. Só a assembleia-geral pode destituir esta trágica equipa liderada por um populista que se tenta agarrar ao poder.
Como empresário, Bruno de Carvalho criou um mito que está muito longe da realidade. O Sporting deu-lhe poder e um modo de vida generoso, com cartão de crédito que paga os luxos. Por isso não desistirá, a menos que seja destituído à força pelos sócios, ou, se houver matéria criminal, detido pelas autoridades judiciais.
Mas além do impacto económico negativo para o clube, para a indústria do futebol e para o país, estes incidentes revelam também sementes perigosas na sociedade portuguesa.
As autoridades e os dirigentes desportivos têm pactuado com actos criminosos. Toda a gente sabe como fé o financiamento das claques e dos seus cabecilhas, que enriquecem com actividades ilegais. Estas hordas são uma ameaça ao Estado de direito, por isso se exige mão pesada da justiça a estes suspeitos que são mais do que violentos adeptos de futebol. São verdadeiros "gangsters".
(...)"

Não à final da taça de Portugal

"O governo tem de intervir no futebol

Utilizando uma expressão que a nível de cálamo não é mais correcta, apetece-me, contudo, dizer que escrever sobre futebol “é coisa que não me assiste”. Não por mera sonsice, pois é curioso que, pese embora quase toda a gente goste de futebol, se ache, grosso modo, que falar do mesmo, é, em certos círculos, sinónimo de brejeirice. Não o considero.
Futebol é desporto e, como tal, pode ser abordado com a mesma elevação com que se aborda qualquer outro tema.
Nesta medida e, depois de um ano em que o futebol foi autenticamente o cancro da sociedade portuguesa, é chegada a hora de dizer basta. Um basta convicto e, até, se necessário, violento na sua aplicação, doa a quem doer. Como já se referiu, depois de um ano em que os maiores clubes de futebol nacionais se envolveram, todos contra todos, em contendas que mais não fizeram que incendiar a sociedade, ou, pelo menos, grande parte dela, contribuindo para uma loucura generalizada, intolerável num qualquer país decente, esta semana, como expectável, tudo acabou em concretas vias de facto. Tal é intolerável e o futebol tornou-se, neste momento, na vergonha do país. Ou por outra. Talvez o mais correcto seja frontalmente dizer que essa vergonha são alguns dirigentes futebolísticos que se o não fossem, não teriam sequer dignidade para, a exemplo, limparem esgotos. É mau de mais. E é por ser mau de mais que se escreve com esta veemência.
O futebol tem de ser alvo de uma séria e musculada intervenção governamental. Mas sem medos. Sejam eles quais forem, pois nas últimas décadas este desporto, que era suposto ser uma festa, um espectáculo até familiar, tornou-se autenticamente numa quase indústria criminológica. Tal tem de acabar. O governo tem efectivamente de intervir e, quando se fala em intervir, essa intervenção, deve passar por uma interrupção imediata do futebol. No campeonato nacional, tal não fará naturalmente sentido porque o mesmo já terminou, mas no próximo domingo, dia em que está marcada a final do Jamor, não existem condições para que a mesma seja disputada. Sobretudo quando um dos clubes que a disputa, está envolvido nos tristes episódios desta semana.
O governo tem de dar um sinal de força porque é também para isso que existe. Não bastam as intervenções de Marcelo Rebelo de Sousa ou Ferro Rodrigues apelando à calma e puxando indirectamente as orelhas a este ou a outro Não basta a mansidão de um secretário de estado frouxo a falar para o boneco. Há que agir. Podem perguntar-me: “Mas será justo que um adepto educado e respeitador se veja privado do futebol pelas condutas criminais de outros?” Eu respondo: Não, não é certamente justo. Porém, este problema atingiu uma dimensão tal, que mesmo assim, numa lógica de zelo pelo bem superior do interesse público, há que travá-lo. Tal deve passar pela proibição imediata da final da taça.
Estamos num Estado de Direito, e é o Direito que tudo rege. Não é o futebol e, sobretudo, muito menos, qualquer elemento da sua estrutura. É hora de agir e quem tiver de ser punido que o seja severa e rapidamente."

Títulos...

Alvorada... do Júlio

Convocatória com vitamina

"Independentemente de uma ou outra preferência que possamos ter, a lista de Fernando Santos é bem elaborada na sua imagem final. E é bem elaborada porque manifesta sensibilidade na conjugação dos vários factores que são tidos em conta nesta história: qualidade e forma individual, adequação ao sistema táctico e ideia de jogo dominantes, possibilidade de ter opções para variação de estilo e regeneração de curto prazo.
A ideia geral que fica, tendo como termo de comparação a comitiva de França, é a de uma convocatória com vitamina de ataque, enriquecida com a adição de gente que traz estilos mais alternativos e complementares da linha do meio-campo para a frente, pensando em Bernardo, Gelson, Bruno e Manuel Fernandes, Guedes e André Silva. Logo aí, FS ganha mais utensílios para expandir o jogo em ataque, podendo torná-lo mais completo, adaptável e ligeiramente menos padronizado nas projeções ofensivas de pouca duração.
Rony Lopes era o meu ‘wishful thinking’, confesso. Adorei a época que o médio-ala fez no Mónaco e achei teria uma vaga para a novidade nos 23 se Fernando Santos, mediante a ausência anunciada de Danilo, pensasse em Adrien como possível penso-rápido na função de médio-centro mais protector caso William ficasse indisponível por lesão ou castigo durante o torneio. Não me enganei na segunda premissa, pelo menos. E há dois ou três pormenores que justificam, por exemplo, a ausência de Rúben Neves, que era tido como um dos prováveis para cobrir a vaga directa de Danilo, o trinco.
Em primeiro lugar, Rúben Neves também não é alguém para jogar em permanência à frente da defesa. Podia fazê-lo, mas, em Wolverhampton, ele alterna os avanços e recuos no tandem com Saiss, no eixo. Tendo em conta o aparecimento de um centrocampista tão versátil e utilitário como Bruno Fernandes, Adrien, unidade fundamental a condicionar o jogo do oponente, até pode ser mais vezes pensado para um papel diferente, mais tempo posicionado à frente da defesa. Por outro lado, FS explicou, com clareza, ontem, na sala de imprensa, a questão dos “seis” e dos “oitos”.
Na verdade, a Seleção tipificada por FS não joga verdadeiramente com um “seis”. Até pode haver um médio que fique mais vezes atento às coberturas quando o outro se libertar em ataque. Mas no sistema-base de “4-4-2 linha” de Santos, em fase defensiva, os dois médios-centro jogam normalmente alinhados, lado a lado, não tanto em duas camadas com um atrás do outro.
Em todo o caso, compro bem a inclusão de Manuel Fernandes. No Lokomotiv, foi jogando como médio-ofensivo do lado esquerdo e foi um dos melhores intérpretes da liga russa. Aqui também o pode fazer em alternativa a João Mário. A grande qualidade de João Mário é que deriva da ala para o meio no tempo certo para contribuir para a ligação e favorecer as triangulações, que é como quem diz: dar mais opções de passe e qualidade na progressão da equipa com a bola. Raciocina e sabe quando o deve fazer, na busca pela superioridade numérica e posicional na zona central. Com João Mário, Moutinho, Bernardo, André Silva e Cristiano, imagina-se mais a tabela e a combinação segura com bola no chão, como se viu contra a Suíça, em Lisboa. E aí que acho que esta Seleção pode subir um degrau relativamente aos campeões de 2016.
Falando em João Mário, nunca me passou pela cabeça a sua ausência desta lista por motivos técnicos. Só se ele tivesse uma lesão. É um dos melhores jogadores portugueses da actualidade, embora a sua lucidez de jogo não tivesse encontrado correspondência da parte de Spalletti, que também descontextualizou Banega pela mesma ordem de ideias, em prol da luta, promovida com Gagliardinis e Vecinos. Rafinha já faz um bocadinho de diferença, entretanto.
Uma das questões mais delicadas prende-se com Nelson Semedo. O lateral-direito do Barça, que já não tinha estado no Euro 2016 (foram Cedric e Vieirinha), jogou geralmente bem nesta época e só não participou mais vezes e com mais relevância no onze do Valverde porque também havia Sergi Roberto à mistura. Em cada uma das laterais, Santos levou um homem que já tinha estado em França (Cedric e Guerreiro) e compreendo que se pretenda jogar com o facto de ser aconselhável manter o máximo possível da base do Europeu, excepto em relação àqueles cuja situação foi de inequívoca desilusão na temporada, como André Gomes, Renato, Nani e até Éder, remetido à condição de suplente de Farfán, ao contrário dos meses anteriores ao Euro, quando andava a marcar golos a torto e a direito no Lille.
Resumindo o tópico dos laterais-direitos: Ricardo, o único representante do Porto, é incluído na lista. Pode, no limite, jogar na esquerda, se faltarem Guerreiro e Mário Rui. E não há dúvidas que tanto Ricardo como Cedric têm nível para lá estar. E nem falei de Cancelo, que, no Meazza, está a jogar o melhor futebol da carreira. Mas Semedo é o melhor de todos os laterais-direitos do panorama português e a convocatória fica estranha sem ele.
Rúben Dias, o único pertencente ao Benfica, está longe de ser um nome-surpresa nos 23. Ele e Pepe são actualmente os dois melhores centrais portugueses. Já escrevi sobre a obrigação de o defesa do Benfica aprender a dosear o nível de agressividade, mas a verdade é que há poucos que consigam proteger tão bem a grande área e a baliza como ele. Não o inferiorizo por não ter internacionalizações-A. Primeiro, porque tem um percurso vasto nas selecções jovens e o “choque térmico” não deverá, em teoria, ser dos mais acentuados. Depois, porque quando a capacidade e a estaleca existem, como no caso de Rúben Dias, o resto é secundário. Contem quantas presenças tinha Umtiti na Seleção-A francesa antes de jogar contra a Islândia, nos “quartos”, em pleno Euro. Eram zero, já para o caro leitor poupar tempo de pesquisa.
É difícil passar por Rúben em 1v1 e a sua corrida mais rápida em distância prolongada permite controlar melhor a profundidade defensiva, assegurando com mais compostura as situações em que Portugal quiser avançar a linha defensiva para se instalarem em ataque organizado, de maior duração, na metade do campo adversária. Em caso de recuo mais pronunciado, Bruno Alves serve muito bem. Fonte está na lista, mas tem mesmo de se recompor depois daquele jogo com a Holanda.
Numa leitura abrangente, e apesar de um outro retoque que cada um de nós pudesse ter em mente, a lista de Santos é sensata e gosto até da ideia de contemplar Guedes para emparelhar com Cristiano numa dupla mais centrada de atacantes, caso André Silva tenha um arrefecimento durante o torneio. E continua a haver o detalhe e o génio de Quaresma."