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sexta-feira, 18 de maio de 2018

As consequências poderão vir a ser (muito) “chatas”

"Os resultados da fuga unilateral de talento seriam catastróficos. Se o Sporting perder 80% do activo, centrado em 20% dos jogadores com mais mercado, entrará de imediato em falência técnica com um endividamento de 117%.

A vida de uma Sociedade Anónima Desportiva, sobretudo em Portugal, depende directamente da vida dos seus jogadores de futebol. Eles constituem o seu maior património. Por exemplo, o valor da Sporting SAD medido através do seu ativo é de 316 milhões de euros, dos quais 60 milhões estão contabilizados como valor do plantel (19%). Nestes, não são contabilizados os jogadores formados na casa, como sejam os casos de Rui Patrício, William Carvalho, Gelson Martins, entre outros. Simultaneamente, o passivo da Sporting SAD é de 311 milhões de euros, ou seja, a Sporting SAD está endividada em 98% do seu valor.
A partir do momento em que a dívida for maior do valor da própria SAD, considera-se a empresa desportiva tecnicamente falida. Por último, os resultados financeiros anuais da Sporting SAD demonstram uma forte dependência da transacção de jogadores. Concretamente, a SAD apresenta um prejuízo de 17 milhões de euros se não contabilizarmos as transacções de jogadores: é a venda dos seus contratos (93 milhões de euros) que faz com que o resultado anual final seja positivo.
A invasão ao centro de treinos do Sporting Clube de Portugal e a agressão aos jogadores por parte de um grupo de 50 adeptos do clube, classificada como ‘chata’ pelo seu presidente, colocam a SAD numa posição de elevado risco financeiro. De acordo com o Código de Trabalho, os jogadores do Sporting poderão alegar rescisão unilateral do seu contrato desportivo com base na falta culposa de condições de segurança e saúde no trabalho (artigo 394º, nº 2, alinea d). Isto faria com que a SAD perdesse o passe do atleta para o próprio atleta sem qualquer contrapartida financeira.
Do seu lado, o jogador estará duplamente motivado para fazer com que isso aconteça: primeiro, porque libertar-se-á de um local de trabalho caracterizado por um clima adverso, e segundo, porque o valor de transferência para outro clube reverterá na íntegra em prémio de assinatura para si próprio. Hipoteticamente, o Nápoles deixará de pagar 20 milhões de euros à Sporting SAD pela contratação de Rui Patrício, pagando apenas 50% desse valor directamente ao atleta.
Esta situação é benéfica para todos, excepto para o Sporting. E num mercado altamente concorrencial como o Futebol, é legítimo pensar que um directo rival esteja já em terreno a montar uma operação jurídico-financeira-desportiva, no sentido de replicar o verão quente de 1993, quando Pacheco e Paulo Sousa mudaram de lado da 2ª circular alegando ordenados em atraso para a rescisão unilateral do contrato desportivo.
Os resultados da fuga unilateral de talento futebolístico seriam catastróficos. Se o Sporting perder 80% do activo (centrado em 20% dos jogadores com mais mercado), entrará de imediato em falência técnica com um endividamento de 117%. E anualmente não teria jogadores para transaccionar, acumulando sucessivos prejuízos. Ou seja, a tendência dos anos conseguintes seria aumentar o endividamento pela acumulação de capitais próprios negativos.
Perante este cenário de risco, urge perguntar que investidor irá, ainda este mês, comprar dívida da Sporting SAD por intermédio do empréstimo obrigacionista (EO) recentemente emitido com dividendos de 6% (a 5 anos). E é urgente para a Sporting SAD vender entre 45 a 60 milhões de euros para reembolsar o EO anterior…
A fuga de talento futebolístico pode ter ainda consequências sistémicas igualmente catastróficas para a operação extra jogadores de futebol. Sem atletas de qualidade, a Sporting SAD pode (i) comprometer sem prazo definido os 15 milhões de euros/ano de receitas da UEFA, (ii) afastar os 11,6 milhões de euros/ano em patrocínios, tendo em conta os danos reputacionais infligidos à sua marca, e (iii) ver revisto o contrato de direitos de transmissão televisiva celebrado com a NOS no valor de 50 milhões de euros/ano.
A dúvida maior neste momento já não é saber se Bruno de Carvalho sai ou não sai, mas antes se os sócios notáveis do Sporting Clube de Portugal irão a tempo de reverter toda esta situação."

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