Últimas indefectivações

sexta-feira, 9 de março de 2018

Vale tudo

"Com o campeonato a entrar na recta final e as duas equipas mais fortes a mostrarem do que são feitas, vão começar os números de malabarismo e de contabilidade criativa. Aqueles que se assumem sempre como candidatos, mas que nunca chegam a lado nenhum já apontam a mira a uma improvável conquista europeia no futebol. Diz-se 'areia para os olhos' quando assim acontece. É a melhor forma de desviar atenções de cerca de 20 milhões de euros desbaratados em três épocas numa equipa técnica que não alcançou o objectivo de um clube que vai para 17 anos de jejum no campeonato nacional. Já para não falar do circo do 'quero, posso e mando' que aconteceu na mais recente reunião geral do rebanho desta quase igreja circunstancial do reino da fantasia. Do lado do ainda líder da tabela classificativa começam os problemas. O banco de suplentes está cada vez mais curto devido a surtos gripais colectivos e lesões de fadiga - mas a equipa médica do SL Benfica é que está sempre sob escrutínio.
No outro banco, o do departamento financeiro, já ninguém sabe o que fazer quando, no fim desta época, perceberem que não terminam (pelo quinto ano consecutivo) no primeiro posto da Liga. E, para piorar a situação, as dívidas surgem de todos os lados. É que nem a meio de um jogo de futebol eles podem estar sossegados, tal a urgência de liquidar uma dívida a um clube amigo. A meio do jogo estavam a perder, no intervalo desembolsaram 784 mil euros, e no final, já estavam a ganhar. Isto, sim, é engenharia financeira ao mais alto nível. Daquela a que já nos habituaram em cheques para pagar viagens a árbitros com nomes mascarados ou quando assobiam para o lado sempre que a UEFA fala em fair play financeiro. Não perdem pela demora."

Ricardo Santos, in O Benfica

O segredo de uma vida saudável: Jonas

"Peço desculpa desde já ao estimado leitor, que naturalmente se está borrifando para os meus agradecimentos pessoais, mas não resisto a aproveitar-me deste espaço no jornal O Benfica para proclamar a minha eterna gratidão a duas nobres pessoas, certamente abençoadas em algum momento das suas vidas por uma mão divina: Ismael Oliveira e Maria Luiza Gonçalves Oliveira. Para quem não sabe, são os pais do Jonas. A evolução da medicina tem o dedo destes dois senhores.
Como é do conhecimento público, o conselho de qualquer bom médico no que diz respeito ao acto de contemplar as habilidades do Jonas e ao simples acto de dormir é exactamente o mesmo: devemos fazê-lo entre 7 e 10 horas por dia. Cumprir estes dois mandamentos é meio caminho andado para uma vida recheada de saúde. Gerir os compro do dia-a-dia no tempo que sobra até pode ser complexo, mas a saúde é como o Benfica: tem de estar sempre em primeiro.
A baixa esperança média de vida que se verificava até bem perto do final do século XX é simples de justificar. Cumprir um exemplar horário de sono era fácil, no entanto, como podiam as pessoas apreciar um bom drible do Jonas de Ele ainda nem sequer era nascido? É evidente que, volta e meia, o mundo era afligido pela peste negra e outra epidemias.
Agora é possível tomar precauções. Observar o Jonas fortalece o sistema imunitário. Produz paz de espírito, controla o açúcar no sangue e dá vitamina C. Eu descobri este remédio há quatro anos e, desde então, não há gripe que me assuste. Quando é que o Sr. Ismael e a Sra. Maria Luiza recebem o Nobel da Medicina?
Até para a semana, se Jonas quiser."

Pedro Soares, in O Benfica

Vê-lo jogar

" 'Eu vi-o jogar!' Muitos benfiquistas enchem o peito, e dizem orgulhosamente este frase referindo-se a Eusébio. Eu poderia aplicá-la, por exemplo, a Chalana. Um dia mais tarde, se por cá andarmos, também iremos falar assim de Jonas. É de facto um privilégio ver este craque no relvado da Luz, de Manto Sagrado, a jogar, a marcar e a encantar. E qualquer adjectivo elogioso que se possa acrescentar ao seu nome será, neste momento, uma redundância. Fiquemo-nos pelos números: com 118 golos em quatro temporadas, e uma correspondente média de 29,5 golos/ano, Jonas é já o segundo artilheiro da história do Benfica, só atrás do Rei Eusébio (32,1) e à frente de José Águas (29,2) e Óscar Cardozo (24,7). Tendo nove partidas por disputar em 2017-18, o astro brasileiro ainda vai certamente melhorar este já espantoso registo. Não fosse ranking do campeonato português, e Jonas estaria a liderar a corrida à Bota de Ouro. Penalizado por um coeficiente de 1,5, face ao 2,0 das cinco principais ligas, o nosso avançado está, ainda assim, na luta por esse prestigiado troféu individual. E por muitos e bons jogadores que haja no Brasil, não me parece lógico que não venha a caber nos 23 escolhidos por Tite para o Mundial da Rússia. A história prossegue amanhã.
Nós vimos jogar Jonas!

PS: Infelizmente, o Hóquei em Patins português continua uma farsa. Clubes profissionais coexistem com uma federação amadora e arbitragens ostensivamente tendenciosas. Em Valongo tivemos mais um um exemplo, com o inqualificável Joaquim Pinto a retirar-nos dois pontos. Até quando vão continuar a maltratar esta belíssima modalidade?"

Luís Fialho, in O Benfica

Futebol Andante

"É de estranheza a primeira reacção ao Walking Football, mas essa reacção logo dá lugar a um quase espanto de 'como é que não pensei nisto antes?', quando nos apercebemos de que, apesar da idade, o jogo da infância está ali de novo à mão de semear, não para ser visto, mas para ser jogado, de novo!
Só podia ser futebol: que outra coisa no mundo mistura gente de todas as qualidades e idades tão diferentes acima de 50 anos? O que tem a Maria, de 93 anos, reformada (mas não retirada), em comum com o José, de 55, ainda a trabalhar pelo bem comum no Exército Português? Por incrível que pareça, jogaram juntos no sintético da Luz, e a equipa trouxe da Holanda um fantástico troféu 'Fair Play' conquistado em pleno campo do SBV Vitesse. Foi uma ocasião especial, na realidade os dois jogam regularmente em equipas separadas: a Maria num grupo mais heterogéneo em que a camaradagem e o desporto espalham saúde e combatem a solidão e as agruras da vida. O José numa equipa competitiva, que evoluiu a cada treino e exige aos atletas que façam o mesmo a andar que os jogadores a correr em campo: jogar, dar espectáculo e marcar golos.
E desengane-se quem ficar a pensar que não há futebol nisto, só porque é a andar e o campo, como as balizas, é menor. Há futebol, sim, senhor... E muito!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Serenidade

"Os ataques ao Sport Lisboa e Benfica e à idoneidade dos seus profissionais e dos seus dirigentes não param. Já todos percebemos que está a valer tudo para travar o grande desígnio de 2017/18 - a conquista do Penta. Os autores destas investidas torpes são conhecidos. Primeiro, foi o presidente do Sporting que disse que o SL Benfica comprou árbitros e observadores com vouchers e teriam sido essas práticas que permitiram conquistar os títulos que conquistámos. Rapidamente o caso foi esclarecido pelos órgãos próprios da justiça desportiva e, como era de prever, foi tudo arquivado, com os árbitros o observadores a garantirem que nunca lhe foi pedido nada em troca do 'Kit Eusébio'. Depois, surgiu em cena o patético director de comunicação do FC Porto. Num ataque feroz e criminoso, inventou a tese do que o SL Benfica foi tetracampeões porque urdiu um esquema de corrupção que passava pela compra de árbitros. O 'caso dos e-mails' continua em investigação e, passados tantos meses, não foi detectado nenhum caso de corrupção desportiva. Resultados viciados em jogo do SL Benfica? Zero! Recentemente, um empresário de futebol fez denúncias graves, com nomes e práticas, incluindo a abordagem por parte de um administrador da SAD do FC Porto para mentir sobre resultados viciados. Estranhamente, nada aconteceu! Nesta semana somos brindados com mais uma denúncia anónima sobre uma eventual violação de segredo de justiça que terá sido cometida por um director encarnado a troco de bilhetes e de camisolas.
Tudo isto dá vontade de rir! A nossa preocupação deve ser a mesma de sempre - união."

Pedro Guerra, in O Benfica

Perversidade

"De um ponto de vista teórico, a função arbitral representará, porventura, a mais nobre missão num cenário desportivo ideal. O árbitro representa a autoridade decisória perante o desempenho competitivo dos atletas e das equipas, em todos os momentos e em quaisquer incidências de um desafio. Tendo previamente frequentado exigentes programas sequenciais de formação e de treino técnico, físico e psicológico adequados, hoje em dia e em qualquer modalidade, disciplina ou escalão, um árbitro conhecerá de modo profundo, as leis do jogo e as práticas próprias da performance. Por princípio, o árbitro de um jogo estará mais apto e apetrechado do que algum dos praticantes, a fazer respeitar em campo a aplicação daquele conjunto de normas próprias que regem uma competição específica e até, mais genericamente, o torneio da sua especialidade. Ser-se árbitro de um desporto federado, nos dias que vivemos, é uma função cada vez mais difícil e desgastante. O ritmo dos desafios e a cadência das competições exigem esforço, performance e resistência física excepcionais. E no plano intelectual, não são menos necessários os índices extraordinários de percepção e acuidade, de capacidade de raciocínio e decisão em pleno esforço, perante as miríades de incidências características da disputa atlética. Tudo isto, de per si, ou num mix de recursos conjugados, constitui matéria tanto mais indispensável quanto, por exemplo, à medida em que se exacerbam as manifestações dos espectadores nos anfiteatros, a própria capacidade de contenção temperamental do indivíduo-juiz, caso a caso, no campo do jogo, tem de ser dialecticamente compatibilizada com a firmeza e com a frieza de raciocínio, em cada momento do jogo. Mercê do desenvolvimento mediático hoje dominante na sociedade humana, a circunstância, a entourage e o ambiente competitivo expandiram-se a limites outrora inimagináveis, o que ainda acentua mais as características de excepcionalidade que agora se tornaram absolutamente indispensáveis à personalidade de um árbitro para arbitrar um qualquer desafio desportivo. Com esse perfil um árbitro deveria merecer o inquestionável respeito dos jogadores e das bancadas. Mas, na verdade, tudo aquilo não basta. Um árbitro só pode merecer respeito e consideração se, além de patentear todos os atributos que enunciei, se conservar sempre imparcial e neutro em todo o seu desempenho, durante todo e qualquer jogo que arbitrar. E este acaba por ser o factor essencial e decisivo para o correcto desempenho do árbitro. Ora, há anos, há demasiado tempo, que isto não se verifica praticamente em nenhum jogo do campeonato da primeira divisão de Hóquei em Patins em que participe a equipa do Sport Lisboa e Benfica. Há muito que, talvez por mera perversidade, os árbitros escalados para arbitrar as nossas equipas do Hóquei deixaram de se manter neutros e imparciais."

José Nuno Martins, in O Benfica

Francisco J. Marques, os teus e-mails são meus

"«Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito à protecção da lei»

Como não sou exibicionista, vou poupar pormenores sobre aquilo que se pode encontrar na minha caixa de e-mail profissional:
- alguns e-mails de pessoas que me deram informação sob anonimato;
- Um ou outro secretário de estado; e penso que até um ministro antes de o ser - pouco mais de uma dezena de mensagens onde descomponho alguém que me pareceu incompetente na hora de me dar informação e um pouco mais de uma dezena de e-mails em que essas pessoas justamente me retribuem na mesma moeda;
- alguns poemas ridículos que me hão de envergonhar até ao último torrão de terra cair sobre o meu caixão; - cartas para os meus filhos e para a mãe dos meus filhos;
- confirmações de serviços online relacionados com o fornecimento luz, gás e sei lá que mais;
- cópias de comprovativos de morada, transacções, números de contribuinte e cartão de cidadão que enviei no passado para alguém que agora não interessa mencionar;
- um número indeterminado de piadas enviadas por amigos ou colegas de redacção – algumas dessas piadas são escabrosas e têm palavrões;
- um ou outro e-mail com uma foto de uma miúda que notoriamente só se tornou motivo de interesse pela sensibilidade, a delicadeza, a profundidade intelectual, a simpatia e o arrojo artístico;
- várias mensagens em que critico e/ou insulto o governo, a oposição, o Isaltino e o Medina, colegas de profissão, uma pessoa que me desiludiu, chefes, a concorrência, o capitalismo selvagem e até a humanidade em geral;
- Incontáveis e-mails em que proponho reportagens, procuro notícias, tiro dúvidas, pergunto por nomes mal redigidos, troco imagens e cumprimentos;
- Um número indeterminado de convites para almoço de trabalho que em 90% dos casos não aceito;
-Um número indeterminado de convites para jantar que enviei no passado e que, invariavelmente, me são devolvidos com respostas negativas das destinatárias. Minto: num ou noutro caso não houve sequer resposta; e uma das interlocutoras chegou mesmo a responder: «ahahahaha, a sério?»;
- Dezenas de milhares de comunicados e sei lá quantas tentativas de me convencer a escrever sobre alguma coisa – tudo com contactos pessoais e moradas bem legíveis;
- Um chorrilho de coisas que as pessoas que têm família, amigos, inimigos, colegas, entrevistados, tempos de lazer, obrigações e trabalho costumam ter na caixa de correio electrónico.
Terminada esta descrição resumida, é chegada a hora de invocar o homem a quem dou honra de título nesta crónica para lhe colocar uma questão: Francisco J. Marques, achas mesmo que tens o direito, a legitimidade, ou apenas a moralidade para usar a minha caixa de correio eletrónico, e desatar a ler os meus e-mails num programa de TV?

A sério?
Então por que não fazes o mesmo com a tua caixa de correio electrónico? Fico a aguardar pela resposta, mas digo-te já: enquanto não disponibilizares a tua caixa de correio electrónico - e do plantel, equipa técnica e administração do FC Porto, por que não? - para bodo da populaça num canal de TV, nunca vou acreditar que realmente achas que aquelas descrições de e-mails de dirigentes do Benfica, possivelmente obtidas após intrusão informático, são legais e merecem uma ida ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.
Mas antes de tomares uma decisão mais drástica quero explicar-te uma coisa e fazer uma declaração de interesses, porque sei que estou a falar com alguém do futebol e tenho de eliminar à nascença o argumento obtuso do 'só dizes isso porque é do clube x ou y': eu sou do Sporting. Quase maluquinho, admito, mas não sou parvo. Acho que o FCP vai mesmo ganhar esta noite e é a equipa que joga melhor no campeonato. E também não sou parvo para achar que a rivalidade futebolística chega para suprimir liberdades e garantias de um cidadão, seja ele do Benfica, do Sporting ou do Alguidares de Baixo.
Por isso, era bem capaz de fazer este mesmo texto com o nome dos teus congéneres do Sporting ou do Benfica, se um desses senhores tivesse o desplante de anunciar que iria ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos queixar-se de que a justiça portuguesa aceitou, em segunda instância, uma providência cautelar interposta por outro clube para impedir os programas semanais com a revelação de correspondência alheia. (Eu sei que é um aparte escusado, mas nunca percebi por que é que não fazem o programa junto a uma lareira para dar uma aura mais intimista. É apenas uma sugestão...).

Antes de comprares os bilhetes para Estrasburgo, peço-te que atentes nas seguintes frases: «Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito à protecção da lei».

Este excerto consta na Carta Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1948, quando a GESTAPO já se finara, mas a STASI, a KGB e a CIA trocavam galhardetes e espiões e a PIDE passeava-se sorridente sem receber insultos dos transeuntes. Sim, há uma discrepância entre serviços secretos que se intrometem em tudo e as garantias previstas com a aprovação da Carta Universal dos Direitos Humanos, mas basicamente o princípio sobreviveu até aos dias de hoje - ao contrário da PIDE e da STASI.

Sou um sonhador, mas quero acreditar que, se foi assim, é porque o princípio da inviolabilidade da correspondência é um direito humano importante numa democracia.

É de resto a importância desse mesmo princípio que leva a crer que, no passado, um qualquer jurista verteu para a nossa legislação os seguintes artigos:

«Artigo 193.º
Devassa por meio de informática
1 - Quem criar, mantiver ou utilizar ficheiro automatizado de dados individualmente indentificáveis e referentes a convicções políticas, religiosas ou filosóficas, à filiação partidária ou sindical, à vida privada, ou a origem étnica, é punido com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias.
2 - A tentativa é punível.

Artigo 194.º
Violação de correspondência ou de telecomunicações
1 - Quem, sem consentimento, abrir encomenda, carta ou qualquer outro escrito que se encontre fechado e lhe não seja dirigido, ou tomar conhecimento, por processos técnicos, do seu conteúdo, ou impedir, por qualquer modo, que seja recebido pelo destinatário, é punido com pena de prisão até 1 anos ou com pena de multa atée 240 dias.
2 - Na mesma pena incorre quem, sem consentimento, se intrometer no conteúdo de telecomunicações ou dele tomar conhecimento.
3 - Quem, sem consentimento, divulgar o conteúdo de cartas, encomendas, escritos fechados, ou telecomunicações a que se referem os números anteriores, é punido com pena de prisão até 1 anos ou com pena de multa até 240 dias».

Os dois artigos estão presentes no decreto-lei 48/95 que está actualmente em vigor. Diria que estas frases seriam suficientes para qualquer juiz te impedir, caro J. Marques, de publicar os e-mails do rival do teu clube, mas a verdade é que houve um juiz de primeira instância que considerou que terias legitimidade para divulgar correspondência privada de outra pessoa, através de um canal de TV liderado pelo FC Porto, cujo estatuto editorial desconheço.
Talvez as leias que transcrevi aparentem apenas estar em português, quando eventualmente estarão num jurisdiquês que eu não entendo; ou o juiz de primeira instância tenha indeferido a providência cautelar interposta pelo Benfica por ter sido usado o ridículo argumento de concorrência desleal, quando o que estava em causa eram direitos fundamentais de pessoas (acredita J. Marques, os benfiquistas também são pessoas, tal como os portistas ou qualquer adepto de outro clube).

Claro que poderias alegar o interesse público desta divulgação. Só que há um pormenor insuperável: tu não és jornalista, Francisco J. Marques (já foste, e dos bons, mas agora não és, lamento). Além disso, as passagens dos e-mails que costumas ler não são sujeitas a contraditório - e ninguém garante que não são extraídas sem contexto. Até posso admitir que aquela informação possa ter indícios de corrupção, mas acho que só um magistrado pode fazer esse juízo. Também podes argumentar que há treinadores e jogadores de equipas rivais que são obrigados a responder aos flash interview dos jornalistas da Benfica TV, e até podes questionar o facto de haver profissionais da Benfica TV com carteira profissional de jornalista - e, nesses casos, concordarei contigo. Trabalhar numa TV de um clube deveria ser motivo suficiente para a entrega da carteira de jornalista - mas não nos vamos afastar do tema da privacidade que não é a Benfica TV que está em causa nesse texto.

Voltemos ao apito dourado. Lembras-te como é que tudo acabou? Eu ajudo: Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do FC Porto, foi absolvido porque as escutas realizadas pela Judiciária e lideradas pelo Ministério Público foram consideradas ilegais. Nota bem: foram as autoridades do Páis que fizeram as escutas - e mesmo assim foram consideradas ilegais.

Presumo que até um defensor da liberdade de expressão, como tu, sabe disto, mas de qualquer modo aproveito para relembrar: é por uma questão de sanidade democrática social e política que a lei nacional exige que buscas e escutas sejam feitas a preceito e precedidas por mandado de juiz - e não possam derivar apenas de um link qualquer que se encontra no Facebook depois de um qualquer hacker colocar na Net todo os GB dos e-mails da direcção do Benfica.

Também podes argumentar que há jurisprudência de 2013 que não penaliza quem descarrega ficheiros privados em links públicos - mas basta ler notícias que dão conta do bloqueio de sites que disseminam imagens de pessoas abusadas ou de jovens que se suicidam depois de situações bullying para perceber que esta jurisprudência tem mais buracos que a rede de uma baliza. E dificilmente pode ser levada a sério: até porque se eu me apoderar de uma carta alheia que os correios me entreguem posso estar a cometer um ilícito e eventualmente acontecerá o mesmo se colocar uma tabuleta na rua a dizer «venha aqui ver os e-mails impressos do Benfica»-

Por que é que ter um link que direcciona para uma violação de correspondência ou descarregar essa correspondência não foi considerado crime ou ilícito pela tal decisão de um juiz português em 2013 é algo que me escapa, confesso. Ok, é sempre possível dizer que, na Internet, são tantos os downloads e olhos indiscretos que se torna impossível punir os infractores. E eu respondo: acontece o mesmo com as beatas dos cigarros e não passa pela cabeça de ninguém legalizar o lançamento da beata, pois não? E acrescento ainda: hoje temos um memorando de entendimento para o bloqueio de música pirata, mas a lei não proíbe o acesso e a promoção da divulgação da correspondência privada?

Bem sei que não és juiz, J. Marques, mas uma coisa te garanto: também não és Julian Assange. Bem sei que, à semelahnça do líder do Wikileaks, sentes a tentação de publicar o que alguém esconde. Mas olha bem: Assange e Wikileaks; J. Marques e Porto Canal. Vês semelhanças?"

Comunicado...

"A Direcção do Sport Lisboa e Benfica e o Conselho de Administração da Benfica SAD vêm comunicar aos seus sócios, adeptos, parceiros e colaboradores o seguinte:
- Após tomarem conhecimento da notícia pública da decisão proferida no passado dia 7 de Março pelo Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, reuniram no dia de hoje;
- Depois de analisada toda a informação disponível, reuniram com o Departamento Jurídico e posteriormente com os advogados do Sport Lisboa e Benfica.
Realizadas as referidas diligências, deliberaram, por unanimidade, manter a sua integral confiança em Paulo Gonçalves, aguardando com serenidade a conclusão do processo e reiterando uma vez mais a sua total colaboração para com as autoridades judiciais."

Alvorada... do Fanha

Conversas à Benfica - Esp. Modalidades: Ricardo Solnado

Conversas à Benfica 34

Benfiquismo (DCCLXXI)

Três grandes...

Aquecimento... Futebol