"Frente à Áustria, mudança para 4-3-3 (Nani e Quaresma vincadamente extremos)? Ou 4-4-2 alterado para versão losango (Nani no vértice dianteiro)? Sai 1 médio e... abram gás!
Luís Filipe Vieira deu uma grande entrevista... à concorrência! Tão grande que se dividiu em duas grandes entrevistas, publicadas em dois dias, nas quais o Presidente reafirma a sua estratégia, para um Benfica ainda maior.
Não posso deixar de elogiar a sua capacidade de pensar o futuro do Benfica, de forma inteligente, coerente e ambiciosa, sem nunca esquecer o sentido de responsabilidade, enquanto Presidente.
Não foi, por isso, surpreendente que, após o tricampeonato, tenha feito referência à sua aposta no treinador.
Rui Vitória foi - já aqui o escrevi - uma escolha ponderada, pois serve os interesses do Benfica, sendo, como agora reafirmou Luís Filipe Vieira, um excelente gestor de recursos humanos, característica fundamental para o projecto global do Benfica, que passa, obviamente, pela formação.
Em oposição clara ao que tivemos durante alguns anos (mais do que suficientes, aliás, para perceber que o caminho não era aquele).
Luís Filipe Vieira antecipou isso, acumulando legitimidade para, agora, poder relembrar a protecção que, nalguns maus momentos, conferiu a um treinador que queria ir noutro sentido, quando o normal teria sido despedi-lo, face aos títulos perdidos em série, num determinado período.
Sublinhe-se, também, a lucidez de Luís Filipe Vieira, ao afirmar que, no Benfica - pese embora o acidente de percurso no passado recente - não existe o «eu ganhei». Aqui «quem ganha é sempre o clube», porque ninguém está acima do Benfica.
Por outro lado, a entrevista ajudou a esclarecer os mais distraídos - ou, apenas e só, os mal-intencionados - sobre a forma como se pôs fim à relação profissional com o antigo treinador, ou melhor, sobre quem efectivamente entendeu sair. Com isso, Luís Filipe Vieira conseguiu esclarecer sobre o que pensa de quem acha que, sozinho, consegue ser campeão, porque, no futebol como na vida, ninguém ganha sem o apoio de muitos.
Outro ponto abordado foi o da transferência de jogadores.
E Luís Filipe Vieira sabe o que o espera: uma cobiça permanente de grandes clubes e a consequente tentação de muitos jogadores do plantel.
Por isso, julgo não ser exagero do Presidente quando diz que poderá, a qualquer momento, durante este verão quente de transferências, ou no do ano seguinte, sem já falar no período de inverno, existir um recorde de venda de jogadores e, com isso, atingir-se o valor que chocou tanta gente - os tais 200 milhões.
Pelas ofertas dos clubes que têm existido, oriundas dos mais variados campeonatos, inclusivamente das novas paragens do futebol mundial, com três ou quatro jogadores do plantel actual, esse valor não é irreal, embora essa não seja a realidade dos restantes clubes... portugueses.
Luís Filipe Vieira saberá conduzir a situação de forma a defender os interesses do Benfica, não vendendo tudo e não se dando ao luxo - ainda - de nada vender.
O Benfica precisa de continuar a prosseguir o caminho das vitórias, embora se saiba que vender alguns jogadores é, essencialmente, uma questão de necessidade e não uma opção estratégica.
Para que um dos objectivos do seu próximo mandato seja a concretização da grande ambição de extinguir o passivo - algo impensável até há pouco tempo, mas cada vez mais possível com a celebração de grandes contratos.
Luís Filipe Vieira sabe melhor do que ninguém que terá de rentabilizar o plantel com algumas vendas, para que as possa conjugar com a mais-valia da formação.
Tudo isso, também, para que, daqui a uns anos, se possa não vender nada, mantendo o clube equilibrado financeiramente.
E pensando - seriamente - em ganhar, de novo, títulos na Europa.
Um obrigado especial com um sonho. Apesar do 1-1 com a Islândia
Independentemente de começarmos como quase sempre começamos, agora com a Islândia (e de já quase andarmos de calculadora na mão), ninguém ficou indiferente à recepção que Portugal teve em França.
À semelhança do que sempre defendi em relação ao Benfica, também o digo relativamente à Selecção: o apoio dos adeptos será fundamental ao longo de todo o Europeu.
Para que todos os jogadores sintam essa energia que vem das bancadas, que faz com que joguemos em casa.
A recepção da equipa na sua chegada a França foi bem a prova disso.
Sendo esse apoio fundamental para o desempenho das equipas, não se percebe porque se impede que os jogadores confraternizem com os adeptos, tanto ao nível dos clubes, como da própria Selecção.
De facto, não é por alguns minutos de convívio - e de demonstração de apoio e carinho - que os jogadores deixarão de estar concentrados.
Percebeu-se, também, nessa calorosa recepção, que cada jogador será responsável quer pela esperança que reside em cada português, quer pela afirmação de um País, de pertença a um Povo, a uma Nação, enquanto demonstração pública do reconhecimento de uma identidade.
Terá, por isso, de existir uma entrega total por parte dos jogadores.
Acreditando que a História terá de se reencontrar connosco, que chegará o dia em vamos ganhar até à própria França.
Está na hora de ganharmos um título, tendo essa (longa) caminhada começado - esperemos, apesar do 1-1 - na terça feira passada, frente à Islândia.
Ultrapassando todas as dificuldades com base na nossa superioridade em relação a grande parte das equipas em competição.
Porque temos excelentes jogadores, porque temos uma estrutura sólida e porque temos um grande seleccionador, exemplo ímpar de carácter.
Deixemo-nos de modéstias!
Assumamos, de uma vez por todas, algum favoritismo e, com isso, a natural candidatura ao título no Campeonato da Europa.
Para que finalmente possamos acabar com o facto de sermos uma das grandes selecções que nunca conquistou nada.
Está na altura de Portugal se assumir e declarar, aos quatro ventos: «Sim, queremos sair daqui como Campeões da Europa».
Será pedir muito ou exigir muito a quem tem Cristiano Ronaldo e que vai ter - vão por mim - Renato Sanches, apesar dos invejosos detractores, por ele ser do Benfica. Penso que não (apesar, não me esqueço, do 1-1 a começar).
Eu acredito e quero!
Como português!
A fechar: Três 'recados' a Fernando Santos
Fernando Santos, um grande seleccionador nacional, com um grande carácter como eu sei bem que ele tem:
a) não pode levar as mãos à cabeça, depois de um golo do adversário;
b) tem de ter coragem de não contar mais com Ricardo Quaresma, depois deste o ter desmentido após o jogo com a Islândia;
c) não pode deixar de colocar Renato Sanches a jogar de início, apesar da feroz oposição do lobby anti Benfica.
Por si e por nós, por Portugal!"
Rui Gomes da Silva, in A Bola