"O extremismo nasce e cresce na revolta, como erva daninha nos viveiros da injustiça e da pobreza. Alimenta-se de si mesmo, avoluma-se e produz mais e mais revolta, mais e mais extremismo, até que, um dia, salta das palavras para fora e exige acção, castiga o mundo, ou o que dele está mais exposto e explode em violência, por vezes literalmente.
Tem sido assim desde sempre na história, mas o século XX, com a escala da indústria e o poder da tecnologia, mostrou que o extremismo entrou no novo século com uma dimensão civilizacional. Ora, uma chaga social desta magnitude não pode combater-se apenas com repressão, como uma doença grave e profunda se não pode tratar apenas combatendo sintomas. É preciso ir às causas profundas e actuar sobre elas. E essas causas não são apenas de ordem económica ou política, mesmo que a concentração de riqueza e a sua imperfeita e injusta distribuição no mundo sejam um reprodutor de pobreza e de imobilidade social que se transforma numa verdadeira armadilha dos povos.
É preciso espreitar bem mais fundo, para a diferença, a identidade e os sistemas de crenças e valores. Entramos no domínio da civilização e da cultura que veste a biologia e a nossa percepção colectiva como ordem do mundo e sanciona-a mutas vezes com a religião. A única forma de combatermos a divisão entre os povos e a segregação é através do diálogo intercultural em todos as suas formas e patamares. Por isso as Nações Unidas são uma instituição tão valiosa e insubstituível, nascida da convicção da humanidade de que os grandes conflitos globais não podem voltar a repetir-se, tendo de ser evitados pelo diálogo entre as nações. Desafios como o terrorismo e o extremismo escapam a este diálogo, porém a ONU sabe o que divide os povos, como sabe, como ninguém, que o desporto é uma das únicas actividades humanas que têm o poder de os unir. Sabe como sabia Mandela que o desporto tem o poder de 'fazer nascer a esperança onde antes havia só desespero'. Os grandes clubes, como o Benfica, são cada vez mais, com as suas fundações sociais, as fábricas dessa esperança."
Jorge Miranda, in O Benfica