Últimas indefectivações

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Manipulação

"A programação desportiva na TV portuguesa parece ter o estranho condão de perseguir o clube mais popular do País, procurando, de variadas formas, limitar o seu peso, adulterar a sua mensagem, a atacar os seus propósitos.
O programa 'O Dia Seguinte' é apenas um exemplo. E a forma como trata os casos de arbitragem, um verdadeiro manual de mistificação e manipulação, que caberia bem num capítulo das obras de Noam Chomsky sobre comunicação de massas. Quando o Benfica é prejudicado, o tema é abordado com ligeireza. Quando é minimamente beneficiado, temos a totalidade do programa a repetir, até à exaustão, uma falta a meio-campo, um fora-de-jogo posicional, uma mosca poisada no relvado, ou qualquer coisa que sirva para lançar a confusão. Agora temos também análises às arbitragens das provas europeias, só para demonstrar que o FC Porto também é, de quando em vez, prejudicado. O nosso representante faz um trabalho notável, enfrentando dois adversários sistematicamente alinhados. Mas quando é o próprio alinhamento editorial do programa a vestir a camisola, não há como resistir. Resta-nos apenas... desligar a televisão."

Luís Fialho, in O Benfica

Três sportinguistas

"O confronto entre o Porto e o Benfica deixa sempre os adeptos do meu clube numa situação difícil. Há, perante isto, três tipos de sportinguistas: os tácticos, os automáticos e os éticos Os tácticos fazem contas. Estão contra o que estiver melhor na tabela ou mais ameaçar uma determinada posição do seu clube. Os automáticos estão sempre contra o Benfica. Os éticos, a não ser que razões pragmáticas ditem o contrário, estão contra o Porto.

O Benfica é seguramente o principal adversário do Sporting. O mais irritante dos adversários, na verdade. Fanfarrão por natureza. Vivendo à sombra das glórias passadas, sem que o presente pouco brilhante perturbe a sua injustificada autoconfiança. E estão, para os sportinguistas de Lisboa, demasiado próximos. São vizinhos, amigos, familiares. São eles que nos dizem, contra todas as evidências, que apoiam o maior clube do Mundo.

Mas, ainda assim, incluo-me seguramente na terceira corrente, muito minoritária entre os sportinguistas. Porque o Porto não é um adversário. É, com a bonomia e ausência de ódio que o futebol exige, o que de mais próximo há de um inimigo. Contra o Benfica move-nos o futebol. Contra o Porto move-nos a civilização contra a barbárie. Os portistas não são nem melhores nem piores do que os outros. Mas a sua direcção é de natureza diferente. Move-se pelo tráfico de influências, a batota e métodos inaceitáveis num Estado de Direito. Baseia a sua paixão num bairrismo provinciano, que se mistura facilmente com o ressentimento contra Lisboa.

Por isso, e sem sequer me dar ao trabalho de fazer contas, estarei pelo Benfica este fim-de-semana. Por mais que isso choque os que, sportinguistas como eu, ainda vivem de rivalidades antigas."

Daniel Oliveira, in Record

Pragmatismo do Dragão

"O próximo jogo no Estádio do Dragão, independentemente de ser ou não decisivo, vai condicionar o percurso da nossa equipa na Liga Zon Sagres, Acredito que um resultado negativo pode deitar por terra muito das nossas ambições na revalidação de título, restando a consolação de garantir o aceso à Champions através da obtenção do segundo lugar. Um empate com FC Porto colocaria a fasquia de confiança num patamar razoável, facto que nos permitiria continuar a lutar pelo objectivo traçado no início da prova. Uma vitória relançaria definitivamente o campeonato. Os índices de confiança e motivação sairiam altamente reforçados e, estamos em crer, que seria por uma questão de dias que chegaríamos ao topo de tabela classificativa.
Pois bem, o passado recente diz-nos que vencer no Dragão não é fácil. O ambiente de terror que normalmente é criado em redor do jogo, as arbitragens tendenciosos que costumam condicionar o jogo do Benfica e influenciar o resultado, a agressividade e o ódio com os nossos jogadores têm de se confrontar, as guerras de bastidores... tudo isto, não deixa antever nada de bom.
Resta-nos a satisfação de saber que o Benfica tem vindo a crescer qualitivamente. Antes quebrar do que torcer terá de ser o lema para o Dragão, e com uma equipa solidária e coesa podemos atingir claramente os nossos objectivos. No leme estará um Jorge Jesus mais atento que nunca às vicissitudes da táctica e nas bancadas (ou não), milhares de adeptos a torcer por um Benfica dominador, encantador e pragmático, pois só um resultado positivo interessa.
PS: Fazemos sinceros votos para que a viagem de amanhã, para o Norte do País, corra com toda a normalidade, sem incidentes ou arremesso de objectos contundentes contra o nosso autocarro. Sabemos igualmente que o estadia da equipa do Benfica, muito provavelmente no centro da Cidade Invicta, poderá ser alvo de muita inquietação, para os adeptos portistas. Esperamos uma atenção redobrada das forças policiais para que a comitiva 'encarnada' possa chegar ao Dragão em total segurança e sem ter de se ver confrontada com as habituais cenas lamentáveis, que caracterizam a chegada da equipa ao túnel de acesso ao Estádio."

Luís Lemos, in O Benfica

As horas do futebol

"Tem razão o treinador do Sporting Paulo Sérgio quando criticava a imposição televisiva dos horários dos jogos e a dificuldade das equipas em programar a actividade das equipas. E temos nós, espectadores, quando nos vemos em palpos-de-aranha para planear um fim-de-semana entre o prime time futebolístico e as diferentes preferências familiares. É que semana a semana. calha-nos o jogo preferido umas vezes ao sábado, outras ao domingo, quando não a uma sexta-feira de vésperas ou a uma serôdia segunda-feira. E quanto à hora vespertina, há para todos os gostos. Então nas semanas europeias, é fartar de vilanagem: jogos todos os dias e todas as horas!Receio até que, a prazo, de tanta fartura, se possa depreciar a genuinidade do produto.
Não nego o meu saudosismo pelos tempos que ir a um estádio às três da tarde de domingo constituía liturgia de amizade e tertúlia de boa disposição. Um tempo em que a tarde antes, durante e depois do jogo tinha uma métrica horária inigualável e em que a «defesa da tarde» não era à noite como agora...
Mas compreendo que estas de jogos televisonados são a consequência dos tempos. É que o futebol há muito perdeu o romantismo para se instalar como um negócio-espectáculo, onde se movimenta muito dinheiro e se digladiam fortíssimos interesses. As antes clássicas quotizações dos associados assumem agora uma invisível expressão monetária quando pagamos a parte da promoção publicitaria incluída no preço de certos bens e serviços. Por isso, se Paulo Sérgio - um sensato e bom profissional - tem razão nas queixas, também sabe que é em função destas novas e imperativas regras que muitos técnicos ou atletas podem ter remunerações muito além do que há anos aspiravam."
Bagão Félix, in A Bola

Do pior que se pode imaginar

"O presidente do FC Porto não é um literato, nem um actor, nem um historiador, nem nada que se pareça com uma figura de intelectual ainda que lhe gabem muito, no círculo provinciano onde pontifica, os méritos de recitador de poesias.
Em momentos de maior deslumbramento, o presidente do FC Porto já produziu alguns recitais que foram vistos em todo o país graças à invenção da televisão. Tratando-se de um amador, sem outras credenciais que não sejam a da sua celebridade como dirigente desportivo, deve poder dizer-se que como declamador de poesia o presidente do FC Porto é, para quem nunca tenha assistido, do pior que se possa imaginar.
Mas não é justo criticar alguém por não exibir qualidades que não são tecnicamente as suas. No entanto, já é digno de nota o descaramento com que se abalança a essas exibições confrangedoras e muito aplaudidas no seu tal círculo restrito de admiradores.
Não sendo também um literato nem um historiador, no último fim-de-semana o presidente do FC Porto abalançou-se, com o mesmo descaramento que o leva a recitar como um inapto em público, a proferir uma palestra histórica sobre a conquista de Lisboa pelo nosso primeiro rei, primando pelas calinadas que, até ao momento, ficaram por corrigir.
Procurando uma analogia tão lamentável quanto serôdia entre a conquista de Lisboa e a rivalidade futebolística entre o seu clube e o Benfica, disse o presidente do FC Porto a uma plateia como sempre rendida, enfim, sem massa crítica: «Em 1134, o bispo do Porto, D. Pedro Picoas, exortou os cristãos a juntarem-se para ir a Lisboa para conquistar os mouros e expulsá-los de Portugal. Para além de um Santo, D. Pedro Picoas foi também um grande sábio.»
Ore o presidente do FC Porto não só não é um sábio como também é um pequeno ignorante atrevido, campo em que não está sozinho e até estará muitíssimo bem acompanhado por gentes com outras e maiores responsabilidades intelectuais, se é que isso serve a alguém de consolo.
A conquista de Lisboa não foi em 1134 mas em 1147, exactamente treze anos mais tarde do que a data catedraticamente apontada pelo presidente do FC Porto.
Mas este é um erro que se justifica vindo do presidente do FC Porto. Nem é bem um erro, é mais um vício, um tique compulsivo. É que também a data de fundação do FC Porto sofreu um desvio de 13 anos e, por bula papal, recuou de 1906 para 1893 sem que houvesse sequer discussão.
Quanto ao nome do bispo do Porto, a verdade é que não se chamava Pedro Picoas, como o presidente do FC Porto afirmou, mas sim Pedro Pitões, sendo que Picoas é um nome de uma estação do metropolitano (subterrâneo) de Lisboa – Linha Amarela – e sendo que Pitões até seria um nome bastante fácil de memorizar pelo presidente do FC Porto, um clube de futebol, visto que pitões são aqueles grampos de plástico ou em alumínio que se enroscam nas solas das botas dos jogadores para lhes dar maior estabilidade e tracção.
Mais importante do que este singelos reparos factuais, que mais não visam do que impedir de chafurdar alegremente na ignorância, nas trevas, aquela fatia significante de povo que, presumivelmente, só lê jornais desportivos e despreza os nossos romancistas e trovadores, trata-se aqui de dar razão a Vítor Baía que ainda há bem pouco tempo lamentou publicamente que o FC Porto tivesse uma «cultura muito para dentro, muito fechada».
Baía não estava, obviamente, a referir-se a questões de cultura geral, como se costuma dizer, nem às eventuais calinadas presidenciais quando envereda pelo discurso erudito. Nada disso. Baía, que é um rapaz de bom senso, estaria simplesmente a lamentar o anacronismo de um espírito medieval que reclama limpezas étnicas e expulsões do país em nome de uma bola de futebol e de umas quantas chuteiras.
Com pitões, naturalmente.


O FC Porto – Benfica da época de 1953/54 teve a precedê-lo um ambiente bem menos medieval. No seu último número de Dezembro de 1953, O Porto, jornal oficial do clube nortenho, exortava os seus adeptos a receber condignamente os rivais que haveriam de chegar de Lisboa:
«Portistas, vem aí o Benfica. É claro que vamos receber como ele merece: à moda do Porto. Os encarnados do Sul vêm de longada até à Cidade Invicta encher de alegria os olhos dos desportistas tripeiros. Que vença, Deus o permita, o nosso glorioso clube. É legítimo. Que os bravos benfiquistas nos perdoem a tripeira fraqueza… Nada de hipocrisias porque os dois baluartes do futebol nacional já habituaram de tal maneira os seus adeptos à exibição plena das mais nobres virtudes da ética desportiva.»
E FC Porto venceu o Benfica por 5-3 sem ter havido registo de qualquer incidente, tal como o jornal O Benfica, órgão oficial do clube, relataria na sua edição de 14 de Janeiro de 1954:
«Ganhou o Porto! Foi naquela tarde o melhor. Mas também soube pôr na vitória o timbre de firmeza e educação que só os atletas de elite possuem. Perdeu o Benfica! Mas nem por isso saiu diminuído da contenda. Deixou no belo Estádio o perfume da sua categoria de grande equipa, grande na maneira de jogar, enorme na forma como soube aceitar a derrota.»
É impressionante o que o país tem evoluído nestas últimas longas décadas…


O chileno Valdés marcou os dois golos com que o Sporting venceu a equipa principal da União de Leiria no último domingo. Lendo os jornais de terça-feira vislumbra-se um ameaço de crise em Alvalade… A quem se deve e explosão de Valdés?
Para este jornal A BOLA, o autor do milagre foi Paulo Sérgio, o treinador, que disse ao chileno antes de entrar em campo: «Concentra-te nas coisas simples!» e ele concentrou-se mesmo.
Já para o Correio da Manhã, o mágico de serviço foi Costinha, o director, que disse ao chileno antes de entrar em campo: «Acredito muito no teu potencial» e ele acreditou mesmo.
Isto a continuar assim não haja dúvida que promete.


VENCENDO o Lyon, o Benfica garantiu praticamente a qualificação para a Liga Europa. Quanto à qualificação para a fase seguinte da Liga dos Campeões ainda está longe de estar garantida. Faltam dois jogos e duas vitórias, ou seja, falta muito."
Leonor Pinhão, in A Bola

O Benfica e a icterícia

"DETIVE-ME há dias na estatística dos cartões até à 8.ª jornada da Liga. Talvez porque se aproxime o jogo do Benfica no Porto e porque havia quatro jogadores encarnados no limiar da suspensão (lá se safaram…).

E que vi eu? Uma lista encabeçada pelo clube do meu distrito, o Beira-Mar (10 admoestações) e fechada pelo meu clube de coração, o Benfica com 32 cartões amarelos, num verdadeiro estado de icterícia! E pus-me a pensar, no que lhe terá acontecido para, tão destacadamente, ser a equipa mais indisciplinada. Logo pensei no juiz Olegário e no jogo em que só o roupeiro não foi alvo do seu gesto exibicionista de levantar o cartão. E também me lembrei de outros jogos e, por associação, de uma frase de alguém que classificou a equipa encarnada como «um bando de caceteiros» (e à qual, a Direcção do Benfica bem respondeu com um olímpico silêncio), talvez sugerindo uma orientação para os árbitros sempre que lhes calhasse em sorte o SLB.

Ao fim de 8 jogos já dá para fazer uma média. O Benfica com 4 cartões por jogo, o Porto e o Sporting com 2 cartões. Quem viu os jogos consegue encontrar uma lógica nesta diferença? Haverá batalhas campais quando o Benfica joga? Será que o Cardozo quando chuta um décimo de segundo depois do apito merece ser admoestado e outros que, nas mesmas circunstâncias, prosseguem paulatinamente as jogadas são apenas surdos? E como se explica a diferença quando olhamos para os poucos cartões na Liga dos Campeões?

Por fim nesta digressão estatística, veio-me à memória uma Supertaça quando o juiz Pratas fez, em marcha-atrás, o campo todo em amena cavaqueira com toda a equipa do Porto, sem que nada acontecesse no campo disciplinar. É que nestas coisas de icterícia, há fígados e fígados.

P.S. (depois do Lyon) – Roberto, deixa-te de ‘verdismos’. Volta ao branco!"

Bagão Félix, in A Bola