Últimas indefectivações

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Chama Imensa... a palhaçada continua!

Investigação em prol da verdade



"A Sport Lisboa e Benfica – Futebol SAD informa que no âmbito de um processo de investigação em curso com base numa denúncia anónima efetuada no Porto, foi hoje recolhida informação junto da SAD do Clube por parte de uma equipa da Polícia Judiciária, ao mesmo tempo que foram fornecidos todos os esclarecimentos solicitados.
A Sport Lisboa e Benfica – Futebol SAD reitera a sua total disponibilidade em colaborar com as autoridades, no sentido de um profundo e cabal esclarecimento deste processo em investigação, em prol da defesa e bom nome e da reputação da nossa instituição, encarando com serenidade todo o conjunto de diligências necessárias ao apuramento da verdade.
O Benfica reafirma a todos os seus Sócios, adeptos e simpatizantes - que a exemplo do provado em recentes processos com decisões finais - sempre pautou a sua conduta por um escrupuloso respeito da legalidade."


PS: Estas respostas do Benfica têm que mudar. Existe claramente uma acção concertada entre denúncias pífias, feitas pelos Corruptos, com elementos do MP, da PJ e mesmo Juízes de direito...!!! Com a intenção de manchar o nome do Benfica, condicionar tudo e todos, e ao mesmo tempo, ter acesso a informação privada do Benfica... (sim, tenho a certeza que a informação recolhida hoje na Luz, amanhã o mais tardar, estará escancarada à frente do Insolvente, para poder manipular e truncar à vontade)!

Alvorada... do Bernardo

O avô rico de José Alvalade e as contas por pagar do Sporting

"Ter capitais próprios negativos é razão suficiente para um auditor emitir um alerta tão dramático para uma eventual falência da SAD? A história das contas do Sporting, que começou com um avô rico.

A PwC é a empresa que faz a auditoria às contas do Sporting e esta semana surpreendeu meio mundo ao afirmar que a onda de rescisões dos jogadores mais valiosos do clube constitui uma “ameaça concreta em relação à continuidade das operações da Sporting SAD”.
“Ameaça à continuidade das operações da Sporting SAD” é um eufemismo, no jargão dos revisores de contas, para avisarem que a empresa corre o risco de falir.
Perante as rescisões das estrelas do Sporting como Rui Patrício, Bas Dost, Gelson Martins ou Bruno Fernandes, a PwC refez as contas e reviu em baixa o valor dos ativos da SAD em 16,5 milhões de euros, o que naturalmente faz baixar o valor dos capitais próprios em igual montante. Se, a 31 de Marco, os capitais próprios eram de 7,5 milhões de euros, agora são de 9 milhões de euros negativos. 
A PwC retirou 16,5 milhões de euros à rubrica dos “Ativos intangíveis – Valor do plantel”.

Chegar à conclusão que os capitais próprios passaram de positivos a negativos é razão suficiente para um alerta tão dramático por parte da PwC? Não, não é. Metade das empresas do país têm capitais próprios negativos e a outra metade viola o artigo 35 do Código das Sociedades Comerciais (capital próprio igual ou inferior a metade do capital social). Mesmo no futebol, há clubes grandes que fecharam o ano com uma situação líquida negativa. É o caso, por exemplo, do FC Porto com mais de 33 milhões de euros negativos.
Então qual a razão para tamanha dramatização por parte da PwC em relação às contas da SAD do Sporting? É um exagero? É excesso de zelo? É birra de auditor? Não gosta de Bruno de Carvalho? Não, é algo mais.
Este alerta da PwC só se consegue perceber se consultarmos as últimas contas auditadas da SAD, referentes ao primeiro semestre da época desportiva 2017/2018. Neste documento, na última página, existe uma nota do mesmo auditor (uma ênfase, em linguagem jurídica) em que a PwC alerta para a enorme discrepância do passivo corrente que supera largamente o valor dos activos correntes.
A PwC diz que o passivo corrente (164,8 milhões em março) é muito superior ao ativo corrente (36,6 milhões).

No entanto, a auditora dá o ‘ok’ às contas já que considera que “as demonstrações financeiras foram preparadas com base na continuidade das operações [o tal jargão], a qual se encontra dependente:
i) do apoio financeiro dos acionistas;
ii) da rentabilidade futura das operações;
iii) e do cumprimento do plano de reestruturação financeira contratualizado em novembro de 2014 com os bancos financiadores”.
Em linguagem simples, o que a PwC está a dizer é que os ativos da SAD não conseguem libertar cash suficiente a curto prazo para pagar os compromissos mais imediatos que são em valor muito superior. Então porque é que o auditor “aprovou” as contas? Precisamente porque assumiu que a verificação desses três pressupostos vai ajudar a equilibrar as contas no futuro, na tal lógica de continuidade.
Ao afirmar agora que a “continuidade das operações da Sporting SAD está ameaçada”, é porque a PwC acha que um (ou, eventualmente, todos) dos pressupostos não vai ser cumprido. E se calhar tem razão. Vamos a eles.

i) apoio financeiro dos acionistas;
Nesta altura de turbulência, que investidor é que vai injetar dinheiro no clube? Recorde-se que, no plano de reestruturação combinado com a banca, o Sporting já deveria ter encontrado um investidor que injetasse 18 milhões de euros. Não encontrou, – ainda numa altura em que a situação do clube era calma e serena – e o Novo Banco resolveu adiantar os 18 milhões a troco de um juro simpático de 1%. Até agora ainda não aconteceu o tal aumento de capital para devolver o dinheiro ao Novo Banco.  
ii) rentabilidade futura das operações;
Sendo um clube desportivo, a rentabilidade futura naturalmente depende dos sucessos desportivos e da capacidade de monetizar esse sucesso, seja através de bilheteira, venda de jogadores ou participações em provas como a Liga dos Campeões. O problema é que nesta altura os nove jogadores que o Sporting perdeu têm um valor de mercado que ronda os 150 milhões (Fonte: Transfermarkt), ou seja, cerca de 63% do valor do plantel. E ao rescindirem não podem jogar (e contribuir para o sucesso desportivo) e não podem ser vendidos (contribuindo para o sucesso financeiro).
Bruno de Carvalho, à CMVM, diz que apesar das rescisões, a SAD “continua a dispor de direitos desportivos e federativos sobre um leque considerável de jogadores profissionais de futebol”. Ou seja, perde qualidade, mas garante que tem quantidade.
Além disso, o presidente da SAD tenta acalmar os sócios e accionistas, dizendo que “é expectável que tais rescisões […] determinem uma descida acentuada dos gastos com pessoal”. Ou seja, perde os jogadores, mas também já não tem de lhes pagar os salários. Esta é a lógica de alguém que acaba de perder a casa num terramoto, mas que está aliviado porque já não vai ter de pagar a conta da água e da luz.

iii) cumprimento do plano de reestruturação
O plano de reestruturação prevê, entre outras coisas, que a SAD reserve parte do dinheiro que conseguir com a Liga dos Campeões e com a alienação de atletas para recomprar os VMOC (dívida à banca que foi transformada em valores convertíveis em acções).
Aliás, todo o balanço da SAD está alavancado nestes VMOC que estão a “tapar” anos e anos consecutivos de prejuízos.
São os VMOC que impedem que a SAD tenha um capital próprio negativo superior a 100 milhões. 

Ora, tendo em conta que o Sporting ficou fora da Champions e que já não tem os jogadores mais valiosos para vender, lá se vai o pé-de-meia para pagar os VMOC.
Toda esta turbulência financeira está a acontecer numa altura em que a SAD não está a conseguir sequer ir ao mercado para vender 15 milhões de dívida para gastos de tesouraria e muito menos emitir os 35 milhões de euros de novas obrigações para reembolsar os credores em Novembro, correndo assim um risco de default.
O futuro da SAD do Sporting está assente neste tripé – i) apoio financeiro dos accionistas; ii) rentabilidade futura das operações; e iii) cumprimento do plano de reestruturação financeira – que está a tremer como varas verdes. Aqui chegados, creio que se percebe por que razão é que a PwC se assustou com as contas do Sporting.
Reza a história que em 1906, um senhor, de seu nome José Alvalade, abandonou a associação desportiva Campo Grande Foot-Ball Club e fez a seguinte promessa: “Vou pedir dinheiro ao meu avô e ele me dará dinheiro para fundar um outro clube”. E assim nasceu o Sporting.
Bruno de Carvalho também tem um avô rico?"

Gelson Martins e Bruno Fernandes no Benfica? Não, obrigado

"Se o Benfica resistir a contratar os jogadores que rescindiram com o Sporting e o fizer com convicção e não por oportunismo, manter-se-á fiel à sua matriz, dará um grande exemplo e marcará a diferença

Alguns dos meus amigos benfiquistas e grande parte do universo Benfica exulta com a possibilidade da contratação do Gelson Martins e do Bruno Fernandes, ainda para mais a “custo zero”.
Muitos até – a começar pelo Presidente LFV – falam em “vingar” o Verão quente de 1993, em que todos nos recordamos da maneira infame como o nosso eterno rival se aproveitou das nossas dificuldades para nos dar um golpe que julgava mortal, e que só não foi maior graças ao verdadeiro benfiquismo de alguns dos abordados, como Rui Costa, que nunca vacilou, ou João Pinto, que vacilou (pressionado) mas não caiu.
Lembro-me bem do pavor com que abordava a banca dos jornais de manhã para verificar, pelo canto do olho, com medo do que ia encontrar, qual a humilhação do dia, qual o craque que tinha partido.
E lembro-me bem de pensar que só a inveja, o ressentimento e a raiva ao Benfica podiam determinar aquela atitude dos então dirigentes sportinguistas. E de pensar, com orgulho no meio do desespero, quão diferente é o glorioso Sport Lisboa e Benfica, que trilhou sempre o seu caminho contra todas as dificuldades, mas sempre sem espezinhar ninguém, congregando em vez de desunir, através do valor e suor dos seus atletas e com um sentimento tão forte de crença e comunhão clubística – não é por acaso que a sua divisa é et pluribus unum – que fizeram dele um clube ímpar sem necessidade de inimigos externos para se impor no panorama desportivo nacional e até internacional.
E ímpar especialmente nas atitudes dos seus dirigentes. Durante muito tempo o Benfica foi o modelo, o exemplo a seguir e é assim que devemos continuar a ser.
É por isso que me choca a ideia da “vingança”, agora que o adversário está de rastos, dirigido por um lunático. Não se esqueçam os benfiquistas que vivemos um fenómeno parecido há não muito tempo. 
A verdadeira “vingança” serve-se dentro do campo, e manifesta-se mostrando a nossa superioridade moral de não fazermos aos outros aquilo que eles premeditadamente nos fazem e que atenta contra a boa ética desportiva e uma sã rivalidade. Só assim não seremos como eles, só assim faremos a diferença e daremos o exemplo.
Afinal, como aconteceu naquela época de 1993-94 em que todo o sofrimento que todos nós benfiquistas passámos foi redimido pouco tempo depois, da forma e no local próprios. Dentro do campo, na casa do adversário, e pela arte e orgulho de todos os nossos jogadores, as nossas papoilas saltitantes. Com aqueles 6-3 em Alvalade, numa noite gloriosa do João Pinto, o Benfica mostrou, uma vez mais, a sua raça, a sua têmpera de que é feito desde a sua criação e serviu, a quente, a sua vingança. Da única forma desportivamente admissível.
Mas convém ainda recordar que o episódio do verão de 1993, foi apenas mais um, e no fim de uma série de outros, todos no mesmo sentido.
Tudo começou em Maio de 1907, quando sete ou oito dos nossos valorosos jogadores, à míngua de campo para jogarem e de condições para se equiparem e desequiparem, resolveram ir à sua vida, optando alguns deles por ingressarem no recém constituído SCP, que para além de campo próprio, tinha também balneários (e chás dançantes).
Há que reconhecer que não se tratou de um ato hostil daquele que viria a ser o nossa maior rival, até porque então mais rival era o CIF, que integrava jogadores ingleses, em contraste com o então Sport Lisboa que se orgulhava de só fazer alinhar jogadores portugueses, tradição que conseguiu manter por mais de setenta anos.
Eram os primeiros tempos do pontapé na bola, de desorganização, da baliza às costas e ainda sem a clubite, os jogadores só queriam era jogar. Daí a debandada.
Mas não deixa de ser sintomático e revelador que este primeiro episódio inicia a tradição do trânsito dos jogadores entre Benfica e Sporting se fazer sempre num só sentido, e na maioria das vezes (como em 1993) ao arrepio dos mais elementares deveres de respeito pelo adversário, de boa conduta e sã rivalidade.
E não deixa também de ser revelador da têmpera benfiquista, que haveria de moldar toda a nossa vida associativa, a resistência a tal debandada, sob a batuta de Cosme Damião e Félix Bermudes, a ponto de o SLB ter conseguido congregar o número necessário de jogadores para, com espanto geral, se conseguir inscrever no campeonato de Lisboa, época de 2007-2008.
Seguiu-se em finais de 1914 a contratação pelo Sporting de Artur José Pereira em episódio que convém recordar: Artur José Pereira, considerado o melhor jogador dos anos 10 a 20 do século XX, sentia-se, por esse facto, dispensado de cumprir o plano de treinos imposto pelo Clube. Após tensão e alguma polémica, foi AJP suspenso pela Direcção do Benfica pelo prazo de seis meses. Pois bem, a Direcção do Sporting, mesmo depois de ter sondado qual a situação do jogador e de saber que o mesmo estava suspenso por motivo disciplinar, não hesitou em contratá-lo, dando-lhe mesmo uma retribuição mensal de 36$00 e o privilégio de banho quente depois dos jogos. AJP foi assim o primeiro jogador remunerado, em plenos tempos de amadorismo que haveriam de se manter por muitas décadas.
O mesmo aconteceu com Boaventura da Silva, jogador que estava suspenso por falta de pagamento de quotas e que acabou no Sporting depois do CIF, sabendo da sua ligação ao Benfica, o ter, por essa razão, recusado.
A estes dois juntou-se ainda um terceiro jogador titular da equipa principal do SLB, Augusto Paiva Simões.
É necessário dizer que na altura era prática comummente aceite não se recrutar jogadores de outros clubes sem o assentimento destes e que, por essa razão, pouco tempo antes o Benfica havia recusado contratar Jaime Cadete, Sebastião Campos e Artur Augusto, jogadores do Sporting.
Foi este episódio, em finais de 1914, que marca verdadeiramente o nascimento da forte rivalidade entre Benfica e Sporting. E repare-se como na sua génese estão as contratações, contra todos os princípios de boa-fé e de ética desportiva, de dois futebolistas.
Mas também aí a “vingança” do nosso Clube foi servida dentro do campo: no primeiro jogo entre as duas equipas a seguir àquelas contratações – em que o Sporting teve o impudor de cometer a braçadeira de capitão a AJP, o Benfica ganhou por 3-0.
Novo e semelhante episódio em 1918: Alberto Rio, um dos melhores jogadores do Benfica, foi também suspenso por seis meses, por faltar sem justificação a alguns jogos do Clube. Mais uma vez, o Sporting, sabedor desse facto, não hesitou em contratar o jogador. O escândalo foi tal que no primeiro jogo em que AR apareceu equipado à Sporting o público indignou-se de tal forma que ele teve que abandonar o campo. E a verdade é que a sua estrela empalideceu, nunca mais foi o jogador que tinha sido e acabou por sair para, juntamente com AJP, fundar Os Belenenses em 1919.
Foi de tal forma indigna a atitude do Sporting, que um dos seus mais prestigiados Directores, Mário Pistachini, se demitiu em desagravo e escreveu uma carta à Direcção do Benfica a pedir desculpa.
Em 1919 e 1920 o Benfica haveria ainda de sofrer as sangrias no seu plantel causadas pela fundação do Casa Pia – onde logo ingressou Cândido de Oliveira — e do Belenenses, mas continuou o seu caminho, sem desforras ou desagravos, sem “vinganças”. E esteve muito anos afastado dos títulos (só em 1932 voltaria a ganhar o Campeonato de Lisboa), mas não quebrou desportivamente nem violou os seus princípios e a sua forma de estar.
E é esta uma das matrizes do Benfica, o respeito pelos outros e pelos adversários, para além da sua enorme democraticidade e popularidade. Ignorar isto e contratar Gelson e BF é dar um pontapé no património histórico e na cultura do clube, em troca de uma mesquinha e pouco digna vingança. 
Nunca o Benfica em condições semelhantes se prevaleceu da situação débil dos seus principais adversários para contratar jogadores ou ex-jogadores destes. E não se diga que as situações são diferentes pelo facto de Gelson, Bruno Fernandes, ou qualquer outro, ter previamente rescindido.
E seria inaceitável fazê-lo agora por populismo, para agradar às massas e tentar fazer esquecer a má época futebolística.
Se o Benfica conseguir resistir a contratar os jogadores que agora rescindiram com o Sporting, e o fizer com convicção e não por qualquer oportunismo, manter-se-á fiel à sua matriz, dará um grande exemplo e marcará a diferença pela elevação da sua atitude, e, não temos duvidas, lançará sementes para um futuro melhor dirigismo, que tanto tem faltado ao futebol português."

#sporting. Sonhei que o Bruno de Carvalho ainda ia ganhar isto

"Eu tive um sonho. Sonhei que o Bruno de Carvalho (BdC) ainda ia ganhar isto. Sonhei que, num tempo não muito longínquo, ele ia ser campeão. Nesse que era o dia mais feliz da sua vida, BdC estava sozinho no centro do relvado. Como em todas as 33 jornadas anteriores, nenhuma equipa comparecera para defrontar o Sporting Clube Bruno de Carvalho, que assim vencia a tão desejada Liga Bruno de Carvalho. A liga que ele próprio criara, com as suas regras. E ali estava ele, campeão. Ahhhh, o doce sabor da vitória? Por fim.
No palanque montado no centro do relvado, BdC, presidente da Liga BdC, entregou a BdC, presidente do Sporting Clube BdC, a tão desejada Taça BdC para o vencedor do campeonato. Antes de se soltarem os confetes e a música dos Queen, BdC, presidente da Liga, ainda entregou a BdC, o futebolista, o prémio de melhor jogador e melhor marcador do campeonato, sem ter marcado um só golo ou disputado um só jogo. Que dia aquele! Onde estavam agora os críticos? Iriam curvar-se perante a sua glória?
Desceu do palco montado no centro do relvado quando se começaram a ouvir as primeiras notas de “We Are The Champions”. Estava na hora da tão sonhada volta olímpica ao estádio, um gesto que tinha ensaiado vezes sem conta no tempo em que ainda nada ganhava no futebol sénior masculino. Desta vez, não havia ninguém para o assobiar nas bancadas. Ninguém apareceu para o consagrar, nem mesmo os amigos da Juve Leo que sempre estiveram com ele nas horas mais difíceis. Ninguém. Era ele e só ele, como tantas vezes sonhara.
BdC correu para a sala de imprensa para contar a sua vitória ao mundo, mas não havia ninguém à sua espera. Nem uma câmara, nem um microfone. Bandidos! Não precisava deles. Pegou no telemóvel e abriu a sua página no Facebook. Ali, pelo menos, não havia quem lhe fizesse perguntas incómodas. Tinha eliminado um a um todos aqueles que o questionavam, até que acabou só ele, na sua página, a falar sozinho.
Um tonto tinha dito um dia que o presidente do futuro era o presidente-adepto. O presidente do futuro era ele, era o presidente-adepto-treinador-jogador e tudo mais. Ali estava ele, no futuro, a celebrar o dia mais feliz da sua vida e não havia ninguém a estragar-lhe a festa. Nem Jesus, nem Rui Patrício, nem Marta Soares, nem jornalistas. Ninguém. Era ele e só ele. Só. Como merece."

O VAR no Mundial: uma mudança de paradigma demora algum tempo

"O arranque do Campeonato do Mundo tem mostrado a quem gosta de futebol as duas grandes verdades em torno da vídeo-tecnologia. As mesmas, aliás, que todos nós já tínhamos constatado no último ano da sua fase de testes, na Primeira Liga portuguesa:
- Trata-se de uma ferramenta indispensável e de grande mais-valia para a arbitragem e para a verdade desportiva; - O homem que a comanda precisa de mais tempo, mais treino e mais competição, porque as arestas por limar são ainda mais do que muitas.
O que é que isso significa, na prática?
Significa que universalizar conceitos não é fácil. Nunca é fácil. Sobretudo quando a base do ensinamento centra-se numa filosofia de "usar apenas em casos extremos", que é como quem diz, só intervir quando o erro em campo for gigante, maciço e visto da lua.
O Mundial da Rússia tem nos árbitros a maior de todas as equipas. Ao todo, são noventa e nove juízes, oriundos de quarenta e seis países distintos.
Trocando por miúdos, estamos a falar de trinta e seis árbitros (dos quais treze na função exclusiva de VAR) e sessenta e três árbitros assistentes, assim distribuídos:
- Dez da UEFA (europeus), seis da CONMEBOL (sul-americanos), seis da CONCACAF (centro e norte-americanos), seis da CAF (africanos) , seis da AFS (asiáticos) e dois da OFC (Oceania).
Se é justo sublinhar que alguns deles têm experiência adquirida em matéria de vídeo-arbitragem (os seus países marcaram presença na fase de testes), convém também não esquecer que muitos outros estão apenas agora a ter o primeiro contacto oficial com esta realidade. É que esta tecnologia ainda não chegou ao Senegal, Nova Zelândia, El Salvador, Gâmbia, Haiti ou Etiópia... apenas para citar alguns.
Uma mudança de paradigma demora algum tempo. E uma mudança radical de paradigma demora ainda mais.
Os árbitros habituaram-se, durante muitas e muitas décadas, a tomarem decisões sozinhos. Dentro do campo. Decisões em movimento. Dinâmicas. Com base no que viam, ouviam e intuiam. Com base na voz tímida dos seus colegas de linha. Com base na sua experiência, sensibilidade e autoridade.
De um momento para outro, passaram a ter um colega - confortavelmente instalado numa sala e em posição (muito) privilegiada - a dizer-lhes que, se calhar, erraram. Que aquele lance na área era mesmo penálti ou que o vermelho que exibiram, afinal, era só para amarelo.
Por outro lado, quem desempenha a função de Vídeoarbitro também sente o desconforto de ter de corrigir o colega que está em campo.
Mais. Sente o peso, a responsabilidade de ter que alterar a história de um jogo através de uma intervenção à distância.
Se é verdade que todos eles - todos sem excepção - querem dar o seu melhor, não deixa de ser verdade também que alguns poderão sentir-se algo limitados, condicionados, por força dessas partidas do subconsciente.
Como se esse obstáculo "mental" não fosse suficiente, ainda têm que cumprir, com rigor, as instruções que recebem da FIFA: nunca podem intervir a menos que o lance seja absolutamente evidente. Mais. Não se podem meter em nenhuma situação que o protocolo exclua. Mesmo que vejam, sem margem para qualquer dúvida, que o árbitro errou, de forma grosseira.
É ou não é pedir muito, em tão pouco tempo?
Os erros que temos assistido nestes primeiros dias de "Copa" são elucidativos.
A falta clara e evidente do Diego Costa sobre o Pepe ou o empurrão de Zuber a Miranda (que deu o empate aos suíços, na partida de ontem com os brasileiros) teve imagens e clareza mais do que suficiente para merecer a vídeo-intervenção. Mas não mereceu.
Tal como não mereceram a carga ilegal (na área) de Hummels sobre Hernández ou a estalada de Prijovic num costa-riquenho (se bem que ali o erro foi do árbitro que, mesmo revendo as imagens junto ao relvado, entendeu que o amarelo era castigo suficiente para uma agressão).
Por muito que a FIFA se tenha esforçado (e esforçou-se) para dotar os árbitros com os melhores e mais capazes recursos tecnológicos - não esqueçamos que há trinta e três câmaras e quatro VAR em cada jogo - esqueceu o princípio mais elementar: a humanidade de quem comanda esses meios.
E essa varia, lá está... em função da experiência adquirida, da competência e sensibilidade para a função, da serenidade e... da coragem. Da coragem para intervir e para aceitar a intervenção. 
A video-tecnologia é poderosa, útil e inegável no que traz e poderá trazer ao futebol, mas o seu percurso depende sempre do homem. E esse é um caminho que só agora está a começar.
É o preço a pagar por querer na maior das montras um diamante fantástico... que ainda está em bruto."

O contraciclo de Pepe

"Terão, porventura, reparado como este Mundial é exemplar no que diz respeito ao fim das guedelhas ao mais alto nível. Mais alto nível que o de um campeonato do mundo de futebol não há nem pode haver e o que também não há, porque deixou de haver, são cabelos compridos ou quaisquer espécies de melenas em campo. Desde que o futebol passou a ser uma indústria global tão avassaladora nos seus milhões, os futebolistas de elite, muitos deles ultra-milionários, descartaram automaticamente aquelas velhas irreverências de um passado não muito distante. O cabelo, hoje, quer-se curtinho. O futebolista que ambiciona o respeito ao público e que deseja impor o seu estatuto individual entre os companheiros deverá entregar o seu cabelo nas mãos de um barbeiro munido de máquina zero. Admite-se, como já se viu, uma sugestão de poupa como a do polaco Lewandowski, um traço minimal a verde a descolar da testa como o do nigeriano Troost-Ekong ou uma pequena coroa capilar em tons de louro como a do costa-riquenho Kandall Waston mas guedelhas compridas é que já não se aceitam, por amor de Deus. Cabelos curtos, sim, mas com um toque individual que exige sempre muito do barbeiro por mais do que óbvia falta de material. Penteia, cada um a seu gosto, o pouco pelo que houver para pentear e, assim, se afirma o carisma do futebolista moderno. Terá sido Cristiano Ronaldo a lançar a moda? É bem provável que sim.
O desalinho apenas aparente dos cabelos do brasileiro Marcelo e do egípcio Salah é a excepção permitida a indivíduos francamente especiais porque, ninguém duvide, requer grande descaramento mandar às malvas as convenções do momento e persistir num volume e, sobretudo, num despenteio que é todo ele uma proeza. Entre os nossos também não se registam devaneios neste capítulo. Bruno Alves esconde com elásticos todos os cabelos que tem a mais. Surpreendente apenas a decisão de Pepe, fabulosamente a contraciclo, que decidiu deixar crescer o cabelo quando os demais o decidiram cortar. Foi, portanto, com alguma melancolia que se assistiu ao afastamento do Perú tendo em conta que o seu treinador, o argentino Ricardo Gareca foi o único sujeito que se apresentou de cabeleira longamente escorrida nos palcos da Rússia mantendo-se fiel ao corte e ao estilo com que se estreou como jogador do Boca Juniors no já distante ano de 1978.
Que este relambório sirva – como se deseja – para fazer a vontade ao novo treinador do Sporting, o senhor Mihajlovic, que acha que as mulheres não devem falar de futebol. Ora isto não é futebol, é história das tendências na cultura popular no século XXI."

Bruno de Carvalho: o confronto como modo de vida

"Bruno gosta do conflito e por isso vai levá-lo até às últimas consequências

Ninguém diria, mas passou apenas um mês e picos desde que o Sporting foi derrotado na Madeira e perdeu a possibilidade de acesso à Liga dos Campeões. Desde então, os acontecimentos em Alvalade sucederam-se em catadupa, numa escalada de tensão e de conflito que mergulhou o clube na crise mais grave da sua história.
Bruno de Carvalho, o responsável máximo, curiosamente nada fez para atenuar essa crise. Pelo contrário, quando não a provocou, contribuiu decisivamente para agravá-la, ao assumir uma estratégia de confrontação permanente – com os jogadores, com os adversários internos e externos, com a comunicação social, com a justiça, etc., etc. – que conduziu o Sporting para o abismo e acabou por levar, como era inevitável, à sua própria queda.
A páginas tantas era Bruno de Carvalho e os seus apoiantes contra o resto do mundo. E ai de quem ousasse contrariá-lo! Por exemplo, os membros do conselho directivo que escreveram um artigo de opinião a explicar porque se demitiam foram apodados de “ratos vendidos”, “traidores”, “vendilhões do templo” e “cobardes”. Esta passagem merece ser transcrita: “Três pessoas que deixem de considerar limites éticos, civilizacionais, de respeito pelas pessoas […] não devem ter esse estatuto de pessoas mas sim o de ratos”. Que me lembre, nunca a linguagem de um alto dirigente desportivo tinha chegado a tais níveis de agressividade.
Mas, depois de confirmada a destituição, Bruno conseguiu ir talvez ainda mais longe – ou mais baixo. Numa espécie de carta de despedida, chamou “tristes e fracos de espírito” a todos os sócios do Sporting “que puseram uma cruz no sim à destituição”. Assim se vê o seu respeito pela diversidade de opiniões. Afirmava também: “Podia impugnar esta AG por todas as ilegalidades cometidas: sim. Mas não o vou fazer”. E garantia que ia afastar-se de vez.
Dali a umas horas, porém, dizia precisamente o contrário, que ia impugnar a assembleia-geral e recandidatar-se à presidência. O tom era ameaçador, como habitual: “Querem guerra. Eu compro!”. 
Em que ficamos? Uma coisa parece certa: Bruno gosta do conflito e por isso vai levá-lo até às últimas consequências. Talvez seja mais do que gostar: para ele o confronto tornou-se um modo de vida. O presidente destituído já não sabe viver de outra maneira."

O pequeno Hitler

"Bruno de Carvalho é um homem doente – e o Sporting é um clube em perigo. Porque, atenção: o Sporting ainda não está livre de Bruno de Carvalho

Sou bastante insuspeito no que respeita a Bruno de Carvalho, pois defendi-o em várias ocasiões. Mas, como diz o povo, ‘tudo tem limites’. E Bruno de Carvalho ultrapassou os limites todos.
A partir de certa altura entrou-se noutra dimensão. Parecia estarmos a assistir a uma peça de teatro. Bruno de Carvalho, já totalmente fora da realidade, entrincheirado num mundo inventado por ele, representava um papel inverosímil. Não respeitava as decisões da Justiça, tanto dizia uma coisa como o seu contrário, mentia descaradamente com o maior à-vontade, insultava toda a gente, contratava treinadores e jogadores estando já suspenso do cargo, etc.
Agia de uma forma tresloucada, paranóica – e já só aparecia em público rodeado dos seus fiéis, uns desgraçados de ar submisso e cabeça baixa, e de seguranças de físicos medonhos e cabeças rapadas. E os que o aplaudiam eram grupos de arruaceiros que amedrontavam quem ousasse discordar do chefe.
Tudo aquilo era patético e assustador: o que ele dizia, o que ele ameaçava fazer, os que o rodeavam e os que o aplaudiam.
Em ponto pequeno, a tragédia sportinguista imitava a Alemanha nazi no estertor: Bruno de Carvalho, qual pequenino déspota, fechado no seu bunker, inventando uma realidade paralela, meio louco, acompanhado de fiéis dispostos a morrer com ele.
E, mesmo assim, Bruno de Carvalho teve 30% dos votos contra a sua destituição! E isso é que é espantoso! Até porque esses 30%, em termos de pessoas, representam muito mais – visto que os sócios mais antigos têm mais votos.
Este resultado mostra que parte da massa adepta do Sporting está tão fanatizada, tão traumatizada (talvez pelos insucessos no futebol), que é capaz de votar num homem que é o inverso do que se recomenda para presidente de uma instituição. Supõe-se que o lugar deve ser desempenhado por uma pessoa ponderada, racional, que age com a cabeça e não com o coração. Ora Bruno de Carvalho era o completo oposto disso.
Bruno de Carvalho é um homem doente – e o Sporting é um clube em perigo. Porque, atenção: o Sporting ainda não está livre de Bruno de Carvalho. Com os seus 30% garantidos, se nas próximas eleições houver vários candidatos – e, portanto, uma grande dispersão de votos –, ele pode voltar a ganhar. Ou a ‘oposição’ se junta numa candidatura única, ou Bruno de Carvalho pode regressar à presidência.
E ele já percebeu isso. No dia da destituição disse que não voltaria a pôr os pés em Alvalade e ia pedir a “suspensão vitalícia de sócio”, mas ontem já dizia que será de novo candidato. Ninguém pode acreditar no que ele diz.
Bruno de Carvalho é uma pessoa completamente imprevisível, de quem se espera tudo. É capaz de fazer as coisas mais inacreditáveis. Portanto, os sportinguistas cuidem-se: ou os potenciais candidatos se juntam ou arriscam-se a tê-lo de novo como presidente. E se ele ganhar as próximas eleições é que nunca mais de lá sai."

É tempo de estancar a infeção em volta do Sporting — com o Mundial em fundo

"O ex-presidente do Sporting fala na língua da agressão permanente. É a linguagem dos ultras do futebol, limbo a que pertence. Explora as insatisfações e ressentimentos, para as converter em ódio. 

chega de tempo ocupado com a verborreia infecciosa de Bruno de Carvalho. Agora, quando já deixou de ter a representatividade de presidente da direcção de um clube com dezenas de milhares de associados, não há que continuar a ligar ao que diz e às chantagens que faz. Que envenene o que quiser no círculo dele, mas o que a criatura diz, salvo alguma improvável declaração com valor consistente, deixa de ter relevância para interesse público, portanto, não é notícia. O que ele tem procurado é apenas propaganda. Há que evitar propagar o envenenamento que tem pretendido.
Não deixam, porém, de merecer atenção os modos rufias de alguns arruaceiros que algumas vezes o acompanham. Os relatos sobre atitudes na assembleia do SCP no último sábado mostram inquietante e intolerável derrapagem para fora do campo do respeito e da tolerância. Os insultos a quem tem opinião contrária e as tentativas de agressão a quem é visto como opositor evidenciam que há ali gente perigosa. É gente como aquela a que invadiu a sessão de treinos em Alcochete, com agressões à equipa de futebol, jogadores, treinadores e técnicos de apoio.
O ex-presidente do Sporting fala na língua da agressão permanente. É a linguagem dos ultras do futebol, limbo a que pertence. Explora as insatisfações e ressentimentos, para as converter em ódio. 
As sociedades democráticas distinguem-se por darem voz e voto a toda a gente, mesmo aos ultra-populistas. O voto já resolveu a questão da legitimidade: os associados, a tanta gente que é o Sporting, já decidiu com clareza que não o quer a dirigir. Agora, há que filtrar, no espaço público da decência, a voz que, sem introduzir algum valor relevante para as pessoas, propaga veneno.
A criatura aparece-nos irresponsável, diz e faz de manhã o que desdiz à tarde. Nada do que diz é, portanto, para levar a sério. Mas serve para inflamar gente pronta para a arruaça.
Vale ter em conta a experiência de Itália, onde ultras de claques de “tiffosi” se tornaram sementes de movimentos políticos violentos, geralmente na extrema-direita. O relatório de 2017 do Osservatorio Nazionale sulle Manifestazione Sportive, em Itália, analisa os comportamentos de 328 claques consideradas como activas em Itália. 151 são classificadas como orientadas politicamente: 40 são de extrema-direita, 21 de esquerda radical. Na Lazio de Roma há uma claque, poderosa, que assume ideologia neofascista e que cultiva acções conjuntas com claques irmanadas na ideologia, como as dos búlgaros do Levski Sofia e os polacos do Wisla Cracóvia. Vale analisar se os últimos meses de alguma gente que se veste com cores do Sporting poderá ter sido a tentativa de engordar um movimento extremista com intenção política anti-sistema e, sobretudo, com práticas de intolerância e de violência.
Um positivo dado de confiança nestes dias: a eficaz acção de segurança da polícia em volta da inflamada assembleia do Sporting no último sábado. A polícia foi sóbria nos métodos mas maciça e atenta na presença. Toda a gente relata que deu confiança num lugar com a instabilidade de núcleos de provocadores. Com uma porta-voz que soube ser clara e, também, eficaz.

Também hoje, com o futebol em fundo:
Portugal, Espanha e Irão decidem hoje quem segue em frente no Mundial. O apuramento em primeiro lugar no grupo B coloca no caminho para a final selecções como a da Rússia (oitavos-de-final), provavelmente a Croácia ou a Dinamarca (quartos de final) e a Bélgica ou o México apenas nas meia-finais. A equipa que sair do grupo B em segundo lugar tem pela frente, depois do Uruguai (oitavos-de-final), um pelotão de potenciais finalistas: França (quartos-de-final) e Alemanha, Brasil, Inglaterra e (talvez) a Argentina (meias-finais).
Brasil-Alemanha, a final mais prognosticada deste Mundial pode ser puxada já para os oitavos-de-final. Bastante provável. Capricho do calendário e das surpresas na qualificação: tendência para, num dos percursos para a final, estarem oito equipas que somam 14 taças de campeões do mundo, e do outro lado estarem oito equipas sem alguma vez terem ganho o Mundial (Portugal estará deste lado se sair em primeiro lugar no grupo B).
A segunda jornada do Mundial fechou neste domingo com uma barrigada de golos: 14. Há que contar com Harry Kane, o furacão inglês, melhor marcador (5 golos), após dois jogos para todos. Foi no último fôlego, com o extraordinário golo de Kros, que a magna Alemanha se agarrou à continuidade neste Mundial – mas com a Suécia, cheia de razão, a queixar-se da arbitragem.
A Europa política está frágil como há muito não se sentia, mas a Europa continental do futebol é potência dominante neste Mundial: nove selecções europeias têm boas oportunidades de estarem entre os 16 apurados para a fase seguinte. Decepção neste campeonato: a já eliminada Polónia e o seu ponta-de-lança Lewandowski.
Duas selecções africanas com as quais há que contar neste Mundial: Nigéria e Senegal. Marrocos merecia ter tido melhor sorte e pontaria. Desilusão, o Egipto de Salah.
Uma questão: faz sentido que uma selecção com futebol minúsculo como a do Panamá esteja na fase final de um Mundial que deixa de fora colossos como a Itália, a Holanda e o Chile?
Neste Mundial ainda vamos poder ver o talento de Messi? E o de Neymar? Argentina e Brasil vão despertar?
O resultado que – ainda bem! – ficou ausente das duas primeiras jornadas nos primeiros 10 dias de Mundial: 0-0."

A Cor do Dinheiro - Lagartada na Sexta!!!

Impactos do Campeonato do Mundo de Futebol

"Sem dúvida que o desanuviamento Rússia/Ocidente sai um pouco melhorado deste campeonato. Mas quem vai beneficiar mais? A Rússia ou os outros países?

1. Ideias gerais
Quando se olha para um grande evento desportivo mundial ou mesmo europeu ou cultural tipo Expo, na disputa pela sua organização aparecem numerosos países candidatos e desenha-se uma grande influência no sentido de conseguirem captar a sua realização.
Decorre um período de lobbying, mais ou menos longo, onde vale quase tudo. Desde o lobbying legal (promoção) até ao uso indevido de formas e métodos menos próprios, onde a grande corrupção tem campeado. Exemplos bem recentes na FIFA e UEFA provam isso mesmo. Muitos “aliciantes” têm de estar presentes para que este processo ocorra sob esta maneira.
Vamos pensar nos impactos do evento em si e nos respectivos e variados interesses. Há a separar duas grandes vertentes: os efeitos propriamente ditos nos países e o tipo e qualidade dos efeitos.
Os efeitos nos países variam consoante o elo deles com o evento. Assim, os impactos serão muito diferentes consoante se considere: o(s) país(es) anfitrião(ões); os países participantes; os terceiros países, ou seja, os não participantes.
Quanto ao tipo de efeitos, há vários a equacionar, muito mais relevantes no país anfitrião, devido aos grandes investimentos sobretudo em infra-estruturas mas sem deixar contudo de atingir os países participantes e variando consoante o grau de progressão no campeonato, sobretudo nestes últimos. Quanto mais longe for o país, maiores os efeitos.
Há um estudo sobre Portugal para o actual campeonato do mundo de que falaremos mais adiante. 
Talvez possamos arrumar os efeitos em quatro grandes grupos: económicos, políticos, socioculturais e de natureza ambiental. Estes efeitos têm origem diferente consoante o país é anfitrião ou só participante.
Por exemplo, o país anfitrião teve de preparar, como já se referiu, as infra-estruturas onde se vão realizar os jogos, ou seja, os estádios, mas quantas vezes os acessos, a construção de hotéis, etc., até o reordenamento dos espaços. Ora, aqui há todo um tipo de efeitos anteriores à realização do evento, por vezes exigindo grandes investimentos e financiamentos, e requerendo muito trabalho (empregos), com muito tempo de preparação e construção.
Depois há o período de realização do evento em si que exige tantos outros serviços de planificação, organização, segurança, controlos variados, todo o tipo de transportes, alojamentos, ligações internacionais, licenças de entradas e saídas, acreditação dos meios de comunicação social, enfim, uma panóplia nada simples porque diversificada de serviços que têm de ser identificados, programados, calendarizados ao pormenor e disponibilizados. 
Finalmente, muitas destas infra-estruturas terão uso futuro, a considerar também nos impactos. 
Quando se vai comparar os custos realizados com as receitas recebidas, terminado o campeonato, pode ter acontecido (acontece de certeza) que as receitas não dêem para cobrir as despesas de investimento realizadas.
Assim, o projecto deve ser equacionado desde início em toda esta globalidade, pensar mais longe. Por exemplo, a dez anos ter-se-á retorno financeiro? E que outros retornos?
Mas, eventualmente, o país realizador ou os seus dirigentes políticos e económicos pensam mesmo longe, independentemente da forma mais ou menos ajustada em termos de benefícios para o país. 
Que outros benefícios para além dos económicos e financeiros poderão estar subjacentes? Admito que, em muitos casos, esses outros “benefícios” sejam bem determinantes nas decisões de opção dos políticos e agentes económicos. E este problema tem suscitado diversas polémicas nos países organizadores, com o aparecimento de vozes discordantes e oponentes a essa realização.
Pois há quem entenda e, com muita razão, por vezes – sobretudo quando este esforço de investimento é feito em detrimento de outros, por exemplo na educação ou na saúde – porque entendem que esses mesmos investimentos trariam mais benefícios para a sociedade no presente e no futuro.
Desconheço se esta questão se levantou na Rússia, mas, em anteriores campeonatos, esteve sempre na baila. Por isso, os efeitos económicos sendo muito importantes não esgotam a questão. Daí que a visão sobre os impactos deva atender às diferentes componentes e aos interesses do país.
Não tenho dúvidas de que o Euro 2004 em Portugal, apesar de várias “megalomanias” em estádios à primeira vista perfeitamente dispensáveis porque quase nunca utilizados depois (Algarve, Leiria, Aveiro), trouxe mais-valias a longo prazo ao país, nomeadamente na projecção externa da imagem de Portugal e de que ainda hoje colhe retorno sobretudo no turismo.
Poder-se-á questionar. Não se poderia ter racionalizado alguns investimentos? Certamente, embora admita que discussão sobre o número de estádios não seja linear. Teria Portugal vencido a candidatura com a construção de um número muito inferior de estádios?
Há sempre a componente política que fica, sobretudo quando o desempenho é positivo. É a imagem externa e interna que se consolida e os governos retiram benefícios dessa situação, e são também os contactos políticos que se estreitam.
Sem dúvida que o desanuviamento Rússia/Ocidente sai um pouco melhorado deste campeonato. Mas quem vai beneficiar mais? A Rússia ou os outros países? Estas são questões complexas a não minorar numa discussão séria e objectiva.
Há pois muitas respostas possíveis aos impactos e quantificá-las é uma façanha desmedida. Mas são exercícios sempre úteis porque permitem uma maior ponderação. Há modelos, há métodos mas quase sempre limitados aos impactos económicos e financeiros.

2. Estimativa para Portugal de impactos do actual campeonato do Mundo de Futebol
O Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM) realizou um estudo onde estima o impacto de 678 milhões de euros na economia portuguesa de uma vitória de Portugal no Campeonato do Mundo de Futebol, na Rússia.
O estudo distribui os vários tipos de impactos por consumo em casa, que ascende a 35 por cento, restauração (15%), publicidade (22%), apostas “online” (6%) e o prémio monetário (Prize Money) do desempenho (6%).
Como se vê o estudo cingiu-se ao impacto económico apenas. Mas, como se referiu antes, há muitos outros efeitos que perduram até a longo prazo. A imagem do país e o turismo, sem deixar de fora a diplomacia, por exemplo, em que o encontro do Presidente de Portugal com o Presidente da Rússia se encaixa.
Mas o estudo foi mais longe e analisa o impacto do pior resultado possível para a selecção, o de não passar a fase de grupos – o que parece não vir a concretizar-se, pois até com a vitória bem sofrida sobre Marrocos deu um passo em frente. Neste caso, o impacto seria de 333 milhões de euros.
Ainda, segundo o IPAM, as receitas serão auferidas por vários sectores e entidades, “como a Federação Portuguesa de Futebol, agências de publicidade, agências de meios, empresas de catering, transportes, hotelaria, cafés, restaurantes, segurança, limpeza, polícia, empresas de apostas, meios de comunicação social, gasolineiras, marcas desportivas, cervejeiras, hipermercados, entregas de comida ao domicílio, tabaqueiras, agências de viagens e hotelaria”, entre outros.
De acordo com a ficha técnica do estudo, coordenado por Daniel Sá, director executivo do IPAM, o documento teve por base o modelo de previsão económica desenvolvido pelo UKSport, sendo que “a fiabilidade das previsões originadas com este modelo tem variado entre os 64 e os 79% dos valores reais”, uma margem de erro muito assinalável.
Agora, ter-se uma visão dos impactos para o país anfitrião, a Rússia, é uma tarefa impossível. Só mesmo um trabalho a realizar por uma equipa pluridisciplinar com grande recolha de informação no próprio país. Mas admito que a candidatura tenha assentado em factores bem mais políticos que económicos, e que “os ganhos” para Putin e Rússia sejam de facto compensadores."

O populismo, a “nação sportinguista” e a outra Nação

"Que as tropelias vividas num clube de futebol em que os sócios elegeram um louco demagogo que não olha a meios para atingir os fins possa servir de exemplo e de alerta para o fenómeno na política. 

Nas últimas horas li e ouvi vários sportinguistas reclamarem para si o serviço exemplar que acabam de prestar à democracia ao votarem em assembleia geral a destituição do presidente do seu clube. Invocam o ensinamento dado que, defendem, deve ser levado para outros campos da nossa vida colectiva, nomeadamente a política.
Acho que esses sócios empenhados estão a ser modestos. Sim, o seu exemplo deve ser visto, analisado e até ensinado às gerações actuais e futuras. Mas, e a sua humildade está aqui, não apenas no que fizeram no último par de dias, quando apontaram a porta de saída a Bruno de Carvalho. A lição a tirar tem que começar lá muito mais atrás, quando elegeram e confirmaram por cerca de 90% de votos o presidente que agora despediram e em tudo o que se passou entretanto, sobretudo nos últimos meses.
Se queremos fazer disto um exemplo de como os populistas e os proto-ditadores actuam temos mesmo de começar pelo princípio.
A parte boa é que o país assistiu – e, com azar, vai continuar a assistir – a uma experiência real dentro de portas, largamente mediatizada, acompanhada, comentada e documentada e que interessou directa e indirectamente milhões de pessoas mas que ocorreu numa zona que tem pouco impacto para o nosso destino colectivo. É um clube de futebol e, no essencial, o mal e o bem que aí acontecem têm impacto sobretudo na instituição. Os aficionados que me perdoem mas, a este nível e tirando os péssimos exemplos para a sociedade que com frequência dali chegam, o que é mau para o Sporting – ou para o Benfica, ou para o FC Porto ou para qualquer outro clube – é largamente irrelevante para o país.
Mas daqui podem tirar-se então algumas lições para áreas da vida pública que são decisivas e a todos devem interessar, como a política.
A primeira é que o populismo, tal como a ditadura, entra, por regra, pela porta da democracia. Os seus protagonistas fazem-se eleger de acordo com as regras do jogo.
E se o conseguem é porque se reúnem condições que o permitem. Uma delas é o desinteresse colectivo de largas fatias de eleitores – sejam eles sócios de um clube, filiados num sindicato ou cidadãos de um país -, que deixa campo aberto para os mais militantes, fanáticos ou com interesses particulares. Outra é, muitas vezes, a falta de comparência de opositores credíveis com respostas sérias para as dificuldades que se colocam às instituições e para os descontentamentos legítimos que possam existir.
Um populista é, entre outras coisas, alguém que apresenta respostas fáceis, rápidas e baratas para problemas que, por regra, são complexos, de resolução demorada e que exigem opções que têm custos relevantes. Se estamos no reino do futebol, a promessa de sucesso desportivo está na primeira linha. Já na política, o emprego, mais salário, prosperidade abundante, segurança e qualidade de vida são as promessas da praxe. Tudo para todos e a preço de saldo.
Comum é, também, a nomeação clara de inimigos externos ou internos a “abater”, por estes alegadamente atentarem contra os interesses da instituição ou do colectivo. Esta é uma fase decisiva para “arregimentar tropas”, cerrar fileiras e criar um instinto de defesa e de sobrevivência. No futebol, a regra são os dois ou três clubes rivais, que supostamente dominam o “sistema” e a arbitragem, e a comunicação social. No combate partidário, são grupos de interesse bem definidos, podem ser os estrangeiros, é o outro campo ideológico e a comunicação social. Na governação de um país, são outros países, algumas grandes multinacionais e, claro, a comunicação social. Um populista é sempre alguém que luta incessantemente e com enorme altruísmo contra inimigos maléficos que querem destruir a nação, seja ela a sportinguista ou a venezuelana.
A intimidação pela força ou, no mínimo, pela ameaça, é outra característica. Seja com milícias saídas de claques organizadas ou usando forças do Estado, seja no decurso de processos eleitorais ou já durante a governação, o medo é uma arma poderosa. E estamos, por regra, a falar de gente sem princípios, para quem os fins justificam todos os meios, mesmo os mais escabrosos. Alcochete demonstrou-o sem margem para dúvidas, como outros presidentes de outros clubes já o tinham feito de forma menos evidente – a propósito, o sobressalto público que se seguiu a Alcochete já nos passou sem que alguma coisa de fundo tivesse mudado, certo?
E depois há a tentativa de alteração das regras do jogo para a perpetuação no poder. O populista só é um democrata até ao preciso momento em que assume os comandos. A partir daí, a sua democracia passa, preferencialmente, a ter as regras que lhe permitem o exercício do poder com pouco ou nenhum escrutínio, sem oposição e com elevada manipulação de procedimentos. Tudo com o objectivo de se prolongar nos cargos porque a sua força está nessa condição, tal é o lixo que já foi empurrado para debaixo do tapete que os próximos se encarregarão de destapar.
Esta tentativa de dar o golpe por dentro é, por regra, um enorme teste ao funcionamento das instituições e à eficácia dos mecanismos legais e formais que podem ser accionados para o evitar.
No Sporting, discutiram-se estas questões durante semanas, houve recurso a tribunais e a decisões judiciais e foi necessário envolver vários órgãos que têm como função supervisionar o funcionamento de outros para se devolver a palavra aos sócios.
Por regra, tendemos a desprezar estas questões que nas empresas se chama “governance” e nos sistemas políticos de “freios e contrapesos” e passa pela separação de poderes e pela vigilância cruzada que uns fazem dos outros.
Que este laboratório vivo a que temos tido direito, com as tropelias vividas num clube de futebol em que os sócios elegeram um louco demagogo que não olha a meios para atingir os seus fins, possa servir de exemplo e de alerta para o fenómeno na política. É fácil colocar um populista aos comandos do barco. O problema é depois tirá-lo de lá sem danos colectivos."

A falta de ética no futebol

"Terminadas as competições nacionais de futebol, importa analisar os tristes acontecimentos que marcaram esta época e que nada têm que ver com a prática desportiva desta modalidade. Estes acontecimentos tiveram especial relevo no que respeita às constantes suspeitas de corrupção que foram recaindo sobre uma parte substancial das pessoas e entidades ligadas à prática profissional desta modalidade em Portugal, bem como à violência perante jogadores, equipas de arbitragem e adeptos.

Importa realçar que, na presente crónica, não pretendo abordar quaisquer suspeitas de corrupção que estejam em investigação, ou em julgamento pelas entidades competentes, o que não retira importância à cabal investigação que deve ser realizada a todas as suspeitas de irregularidades que, caso se confirmem, devem ser punidas. Na verdade, tenciono apenas analisar a forma como o comportamento de alguns agentes ligados ao futebol profissional (na minha opinião, pouco ético ou profissional) contribui para os referidos acontecimentos. Assim, nesta análise, proponho olharmos para a actuação dos clubes profissionais, da comunicação social especializada e dos órgãos reguladores da modalidade.
No que respeita aos clubes profissionais de futebol, e em especial aos seus dirigentes e treinadores, parece-me ser altamente irresponsável a forma como actuam, tal como:
- O facto de se ter tornado uma táctica comum o desviar da atenção social dos falhanços desportivos de uma equipa, pela respectiva desculpabilização através de constantes críticas a equipas de arbitragens e aos demais clubes concorrentes (promovendo as suspeitas de corrupção generalizada, não investigadas, como dados consumados). Esta tendência tem escalado de tal forma que as críticas públicas já chegaram a focar publicamente os jogadores do próprio clube que tece as referidas críticas; ou,
- A manutenção de apoios financeiros e logísticos a grupos organizados de adeptos, ou a claques, muitas vezes associados a actividades criminosas e que são sensíveis a campanhas inflamatórias contra outros clubes. Este apoio é geralmente dado pelos clubes com a justificação que a presença destes grupos nos estádios anima o espectáculo desportivo, quando na realidade me parece que apenas afasta outros adeptos dos estádios, pela violência que frequentemente geram.
Assim, questiono se estas atitudes irresponsáveis deveriam ser publicitadas pela comunicação social e permitidas pelos órgãos reguladores do futebol e se, quando ocorrem, não deveriam ser severamente punidas?
No que respeita à comunicação social, e não me parecendo criticável o elevado tempo de antena atribuído ao futebol, pela sua popularidade junto da generalidade da população portuguesa, parece-me, por regra,ser altamente criticável a qualidade deste tempo de antena, já que:
- São focados até à exaustão temas altamente populistas e subjectivos, tal como a promoção de constantes críticas às arbitragens (pelos clubes e seus representantes nos órgãos de comunicação social), ou o tratamento de suspeitas de corrupção como dados consumados (muitas vezes em espaços supostamente noticiosos); e,
- Salvo raríssimas excepções, apenas são considerados como relevantes, pela comunicação social,os denominados 3 clubes grandes, desconsiderando e desrespeitando os restantes clubes, sendo que, na verdade,e sem que os demais clubes consigam ser competitivos, não me parece possível, ou sustentável, existirem clubes portugueses (ou mesmo a selecção nacional) a jogar continuadamente de uma forma competitiva nas competições internacionais. Para tal, considero apenas os factos de que as competições internas regulares são a forma de uma equipa manter o ritmo competitivo ao longo da época e de se poderem desenvolver os jogadores que não conseguem um lugar nos plantéis dos clubes grandes.
Logo, questiono se não têm estes órgãos o dever de informar de forma isenta? Questiono se não seria responsável que os órgãos de comunicação social revissem a sua atitude perante o desporto, de modo a promover positivamente o futebol e os seus protagonistas, não discriminando qualquer clube, em vez de promover a discórdia e a violência entre adeptos e para com as equipas de arbitragem?
Por fim, no que respeita aos órgãos reguladores do futebol (considerando a Federação Portuguesa de Futebol, a UEFA e mesmo a FIFA):
- Em especial face aos pontos anteriores, e atendendo a que uma das principais funções destas organizações é a de promover o futebol e a respectiva prática, deveriam proteger a integridade da modalidade e dos respectivos intervenientes, pelo que não me parece razoável que estejam meramente expectantes perante os tristes comportamentos que temos verificado;
- Adicionalmente, e considerando a violência que tem sido visível, em especial perante as equipas de arbitragem (fruto dos comportamentos referenciados), não me parece razoável que estes órgãos não obriguem a que as críticas dos clubes (em especial a equipas de arbitragem) sejam devidamente tratadas nos bastidores, e não na praça pública, de modo a proteger a integridade física e moral de todos os envolvidos;
- Parece-me ainda importante referir que as regras impostas por estes órgãos, tal como as supostas regras de fair play financeiro, que também me parecem não fazer sentido, já que parecem favorecer injustiças e os clubes grandes. Por exemplo, um clube pode ser penalizado por investir demasiado na aquisição de passes de jogadores, não sendo penalizado um outro clube que tenha sido alvo de um perdão de dívida bancária (cumprindo as ditas regras por este motivo).
Assim, julgo ser claro que a actual má imagem do futebol profissional é fruto directo de comportamentos não éticos e desregulados que são promovidos pelos respectivos intervenientes. Neste sentido, parece-me que o impacto desta situação na sociedade é relevante,pela publicidade que lhes é atribuída (fruto da popularidade deste desporto), o que pode acabar por normalizar comportamentos não éticos que incentivam a violência e o desrespeito entre adeptos e para com equipas de arbitragem.
Deste modo, questiono se, para o bem do futuro deste desporto, das pessoas que o acompanham e da sociedade em geral, não deveria existir uma regulamentação ativa dos comportamentos permitidos e a punição dos comportamentos desviantes? Não estará na hora de nos focarmos na prática do futebol?"

O melhor e o pior do futebol

"O jogo em si é, de facto, sublime. Mas uma parte substancial do que anda à volta desse jogo é execrável

“O futebol não é uma questão de vida ou de morte. É muito mais importante que isso...” 
Bill Shankly

Há exactamente quatro anos, decorria o campeonato do mundo de futebol disputado no Brasil, de má memória para nós, portugueses, escrevi, aqui no i, esta crónica:
“Ludopédio significa jogo com os pés.
O termo futebol associou-lhe a bola.
E aqui está, minhas senhoras e meus senhores, o maior espectáculo do mundo. Calcula-se que existam 300 milhões de praticantes federados em todo o planeta. Em Portugal são cerca de 150 mil.
O futebol é hoje muito mais do que um jogo. É uma poderosa indústria que movimenta muitos milhões.
O jogo é sublime. O envolvimento é total quando se gosta de futebol, como é o meu caso.
No dia em que vamos estar a torcer pela selecção, vale a pena reflectir sobre a razão desta verdadeira ‘união nacional’.
Para que se sinta o futebol, há que tomar partido. Deixar a razão à porta do estádio e puxar pelo coração. Sermos ‘nós’ contra ‘eles’. E, assim, já estamos a jogar, mesmo que não saibamos dar um pontapé na bola.
Podemos todos ser treinadores. Dar palpites e tácticas. Arrasar as opções do verdadeiro treinador num minuto e colocá-lo nos píncaros no minuto seguinte.
Podemos ser contraditórios, totalmente parciais, gritar e até insultar.
Quando saímos do estádio, felizes ou zangados, regressamos ao mundo real.
Voltamos a ser racionais, procuramos a imparcialidade, a razoabilidade nas decisões.
Voltamos, frequentemente, a esconder as emoções.
E é por isso que gosto tanto do futebol.”
Passados estes quatro anos, quando a selecção de Portugal está bem melhor colocada, não retiro uma linha ao que escrevi, mas acrescento alguma coisa.
O jogo é, de facto, sublime. Mas uma parte substancial do que anda à volta desse jogo é execrável. 
Basta olhar para o estado a que chegou o futebol em Portugal para não ser difícil chegar a esta conclusão.
Os artistas são uns bons artistas, como diria Herman José numa das suas rábulas mais felizes, mas os verdadeiros donos do jogo não prestam.
O problema é que a bola é redonda, jogam 11 para cada lado e, no fim, quem sai sempre a ganhar?"

O campeonato do Mundo da falta de preparação

"2018 ficará conhecido como o ano em que o produto futebolístico na televisão faliu intelectualmente.

Bem vindos a 2018. Bem vindos à Era da informação. Não é de agora, há vários anos que estamos nela. À Era em que há sempre alguém, algures, a ler-nos ou a ouvir-nos (não, este não é um texto Orwelliano), que saberá sempre mais do que aquilo que transmitimos. Que é mais competente do que nós no nosso próprio trabalho. Sem ironia. Há mesmo.
2018 é também o ano de novo Campeonato do Mundo e o ano em que se percebeu, definitivamente, que o atual modelo televisivo futebolístico está esgotado. Este é, também definitivamente, ao fim de mais de uma dúzia de jogos, o Campeonato do Mundo da falta de preparação. Quem será o Campeão do Mundo? A luta vai bem lançada. Todos os dias alguém parece esforçar-se para oferecer o maior desconhecimento possível sobre aquilo que se vai jogando na Rússia. E isso não é fácil.
Um pouco por todo o Mundo as críticas repartem-se. Em Espanha ninguém consegue ouvir José António Camacho a comentar jogos de futebol. Por Inglaterra, cujo modelo até tem sido tão elogiado recentemente, poucos são os que consideram que os analistas televisivos a trabalhar para o Mundial oferecem mais do que um barrigudo de 50 anos de Peterborough.
Perante uma competição onde o que impera é o futebol e onde não existem vouchers, providências cautelares e denúncias anónimas que compensem o que realmente importa, se percebe a falência do modelo televisivo português. Se percebe o quão formatado está o produto futebolístico em Portugal e o quão difícil está a ser para a esmagadora maioria dos comentadores falar, realmente de futebol e acrescentar algo mais, servir como mais valia. Porque... ver? Ver (quase) todos vemos. Ouvir, (quase) todos ouvimos.
Algures, seja onde for, alguém sabe mais do que eu. Isso é certo. Numa era em que a análise e todo o futebol possível está à distância de um clique e, não mais, de um comando de televisão, não faltam especialistas. Não faltam nichos. Facilmente haverá alguém que sabe tudo sobre o futebol da Arábia Saudita. Sem ironia. Há mesmo. E o Mundial de 2018 que vai sendo disputado na Rússia deixou a nu que a televisão portuguesa não está preparada para a época que vivemos. O produto futebolístico há muito faliu em Portugal e é quando o acessório não entra em campo que isso realmente se percebe. 
2018 pode ser, ainda assim, um ponto de viragem. Assim se espera perante tamanho espectáculo confrangedor que praticamente três vezes ao dia nos entra casa dentro. Em 2018 prepara se para entrar no mercado português a Eleven Sports que, ao longo dos últimos dias, tem adquirido parcelas importantes do mercado futebolístico como a Liga dos Campeões, a Liga Espanhola ou a Liga Alemã. Não se sabem ainda os moldes em que a Eleven Sports irá entrar no mercado. Preferivelmente, a criação de um novo canal televisivo seria, à partida, uma desvantagem para o consumidor, mas uma possível melhoria significativa à qualidade da oferta existente actualmente, porque a concorrência sempre foi a principal razão para a melhoria dos serviços prestados.
Para a memória vai ficar o facto de, 2018, ter sido o ano em que se jogou o Campeonato do Mundo da falta de preparação. O ano em que grande parte das transmissões falharam em acrescentar valor. Não tenho dúvidas. Houvesse, como na BBC, botão para retirar o som dos comentários e houvesse forma de medir a "audiência" de tal possibilidade facilmente o público faria sentir a sua insatisfação. Em 2018 quer-se mais. Muito mais. Quer-se maior entendimento, mais profissionalismo e mais preparação. Porque ao contrário do que se vai vendo em campo, fora dele, aos microfones, a lição está longe de estar bem estudada. Felizmente é 2018. Há alternativas."

O grito da solidão

"O solitário deu um murro na mesa, violento. E gritou como um possesso orgulhoso: “Comigo é assim!”

Moscovo – No Clube Beta, no início da noite paira no ar a mágica senhora das paixões. Os homens dispersam-se entre elas e ela, e ela é apenas a bola. Há quem esteja na dúvida, trocando os olhos; há quem tenha tomado a sua opção como um tipo, na minha frente, sentado ao balcão, de olhos fixos na televisão. Percebe-se que lhe agradam mais as formas da perfeição redonda do que as curvas das outras perfeições, se calhar para ele não tão perfeitas. Subitamente, no ecrã, há o remate bruto, certeiro. Golo da Suíça. Ele grita. Esquece a neutralidade dos suíços e coloca-se a seu lado. Um golo do quilé, diria o grande Assis Pacheco. O homem levanta o copinho de vodca e brinda: “Haraxó!” (Muito bem!) Está contente consigo próprio. Envaidecido mesmo.
E eu recordo uma história velha, acho que contada pelo Duda Guennes, figura injustamente caída no olvido, dono de um humor empolgante. Também sobre um homem sozinho, sisudo, numa mesa escondida de um tasco no qual todos se excitavam com um jogo do Brasil, pouco importa contra quem. Brasil de Pelé, Tostão e Jairzinho e Rivelino e o diabo a quatro.
O Brasil ataca, mas nada de golos. A rapaziada enerva-se, discute, solta palavrões, insulta o árbitro até à quinta geração, porteira, mulher-a-dias e tudo. Sinistro, no seu canto, o homem mantém-se num silêncio obtuso. O olhar fixo, quase demente.
Foi quando Pelé esqueceu os companheiros e fez tudo sozinho, driblando meia equipa adversária, contornando o guarda-redes, chutando vitorioso para a baliza vazia.
Então, o solitário deu um murro na mesa, violento. E gritou como um possesso orgulhoso: “Comigo é assim!”"

Cronicazinha ligeiramente moscovita

"Se as menininhas de Moscovo não quisessem que lhes fizessem olhinhos às perninhas bem feitinhas, bastava que não usassem calções tão curtinhos

Moscovo – Muitas menininhas se passeiam pelas ruas de Moscovo! Loirinhas, branquinhas, lavadinhas como se tivessem passado por uma barrela de sabão azul e branco. Muitos cãezinhos trazem pela trela as menininhas loirinhas de Moscovo: eles aos saltinhos, elas compenetradas com os seus bichinhos, fazendo-lhes festas nos focinhos.
Algumas das menininhas de Moscovo preferem cavalinhos: é vê- -los, a elas e a eles, trotarem pelos passeios, alegres e certinhos, os cavalinhos soltando as suas poias que nos obrigam a pisar o chão com todo o cuidadinho.
Muitos soldadinhos há nas ruas de Moscovo! Impecavelmente fardadinhos de camuflado para se distinguirem dos polícias, esses mais sozinhos. Já não há, como outrora, os generais velhinhos que faziam tilintar no peito um nunca mais acabar de medalhinhas.
Muitos vizinhos vão à pesca nos laguinhos do Parque Gorki! Pacientemente agarrados às caninhas enquanto outros, menos certinhos, se deitam na relva agarrados a garrafinhas de vinho à espera que o sono chegue com a brisa que se põe pela tardinha.
As menininhas, loirinhas, branquinhas, lavadinhas, atraem os olhares cobiçosos dos estrangeiros libidinosos que viram os pescoços, doidinhos para lhes seguirem as passadas atrevidas, convidativas, apertadinhas.
Ora bolas! Se as menininhas de Moscovo não quisessem que lhes fizessem olhinhos às perninhas bem feitinhas, bastava que não usassem calções tão curtinhos. Como diriam as nossas avozinhas em tempos que já lá vão, tivessem juizinho. Cá por mim, nessas coisas não alinho. E sigo o meu caminho. Mas pelo beicinho..."

“Otchi Chórnié”

"Moscovo - Há muitos anos, em Samarcanda, encontrei uma guia que se chamava Natalia. Nada de particularmente inusitado: na antiga URSS e na atual Rússia há tantas Natalia (Natacha) como príncipes nos livros de Dostoievski. Na brincadeira costumava sussurrar-lhe com voz cava: “Nathalie, uprajninié numer vosiem.” Era ridículo que chegue porque significava apenas lição número oito, resquícios das minhas aulas na Rua Pau da Bandeira. Ela levava a sério: “Não digas isso, recorda-me um namorado que tive em Paris.” E eu provocava: “Era o Gilbert Bécaud?”
Natalia talvez tivesse idade para ter andado ao colo de Bécaud, mas sem nenhuma malícia pelo meio. Quanto a mim, trauteava--lhe:
“Et quand la chambre fut vide
Tous les amis étaient partis
Je suis resté seul avec mon guide/ Nathalie.”
Agora encontrei outra Natalia. Empregada de bar, gorduchinha como uma matrioska e com alma de matrioska: abre-se e há mais Natalias lá dentro, escondidas.
De cada vez que servia uma mesa, regressava ao balcão passando pelo piano. Sentava-se e tocava “Otchi Chórnié”, “Ne Speshi”, “Katioucha” ou “Kalinka”. Não sei se Natalia, no seu jeito risonho, entregava cervejas e vodcas e pratos com batatas fritas plena do mesmo entusiasmo que lhe saía dos dedos e da voz quando os seus olhos negros brilhavam ao cantar “Otchi chórnié/ Otchi zguchié/ Otchi strasnié e preskrasnié” (Olhos negros/ Olhos que queimam/ Olhos apaixonados e lindos), mas perguntei-lhe porque não deixava o raio do avental e se dedicava à música. Respondeu: “É demasiado tarde...”
Aí, sim, vi tristeza no espelho dos olhos que queimavam. Desmentindo o sorriso largo, muito branco. E lembrei-me de uma frase que li de Isabelle Adjani: “Rio-me muito, como todas as pessoas tristes...” "

Esclarecimentos do Fanha